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Delito de Opinião

A mentalidade do não-vale-a-pena

Vivemos no país do queixume permanente, com tudo a empurrar para baixo

Pedro Correia, 22.08.23

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Terreiro do Evangelistas, no Bom Jesus do Monte (Braga)

 

Vivi longe de Portugal em dois períodos e destinos diferentes. Totalizando 12 anos e meio.

À distância temporal, não tenho a menor dúvida em considerar que o balanço é largamente positivo. Falo por mim, mas creio falar por quase todos. Abrimos horizontes, conhecemos diferentes línguas e culturas, fazemos novas amizades, ganhamos arcaboiço para enfrentar o inesperado.

E sobretudo - gostaria de sublinhar isto - saímos de uma atmosfera social que demasiadas vezes nos empurra para baixo. Refiro-me ao desânimo, ao desalento, à mentalidade do não-vale-a-pena, à convicção de que tudo só muda para pior, às certezas de que todos os esforços são inúteis. À atmosfera de crise permanente, do queixume como senha de identidade, da insistência em ver o copo meio vazio mesmo quando está cheio porque o resto da tribo também o vê assim.

 

Enquanto estive fora, na maior época de "vacas gordas" em Portugal, quando cá vinha de férias só ouvia falar em crise. Crise do jornalismo, da televisão, do teatro, do cinema, do comércio, da cultura, da indústria, da economia, das finanças, da política. Como sucedia dez anos antes, como continuou a ser dez anos depois (já com as vacas bem magras, quase esqueléticas).

Encontrei as mesmas pessoas nos mesmos bares, sentadas nas mesmas cadeiras, com as mesmas conversas, dizendo mal de tudo e de todos. Uma década depois.

Disso não tive saudades. Nem voltaria a ter se emigrasse de novo.

 

Falta-nos mentalidade mais positiva, algo que muitas vezes só adquirimos quando saímos, quando vivemos em países de brumas e regressamos com saudades do sol.

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