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Delito de Opinião

A linguagem dos assassinos

Pedro Correia, 29.10.14

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Televisões que se presumem sérias, praticantes de um jornalismo considerado rigoroso, difundiram por estes dias a imagem de um repórter britânico que se encontra cativo do autoproclamado Estado Islâmico, funcionando portanto como porta-voz compulsivo desta organização terrorista.

Mesmo sabendo isto, as televisões emitem esta mensagem adulterada, fazendo-a passar à primeira vista por informação isenta. É um acto de lesa-jornalismo. Pior: é um alto de lesa-civilização. Estamos a recuar perigosamente em matéria de princípios sempre que pactuamos com a violência terrorista, mesmo que seja insidiosa e encapotada, como sucede neste caso.

E o problema não se centra só nas imagens que procuram banalizar o mal. Repare-se na linguagem tantas vezes adoptada para descrever os bárbaros assassínios de jornalistas, decapitados a sangue-frio depois de serem forçados a confessar aquilo que não pensam e noutras circunstâncias jamais diriam: foram "executados", proclamam vozes neutrais na televisão, sem um assomo visível de indignação cívica. Fosse outro o contexto, fossem outros os algozes, falar-se-ia em crime, chacina, massacre. "Execução" tem uma conotação burocrática, quase legal, quase consentida, quase compreensível.

O primeiro erro, aliás, é chamar Estado Islâmico a um movimento inorgânico que utiliza a bandeira do islão como mero pretexto para dar largas ao mais básico instinto sanguinário. Um bando de pistoleiros, mesmo vasto e bem armado, não pode confundir-se com Estado algum. E nenhuma religião deve caucionar a violência homicida, aliás cometida em larga medida, neste caso, contra os próprios irmãos de fé.

Usar a linguagem dos assassinos é o primeiro passo para atenuarmos os seus crimes.

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