A insuportável birra do derrotado
«Até breve» não, Pedro Nuno Santos: até nunca
Conduziu o PS à maior derrota de sempre, vendo o seu partido ultrapassado pelo Chega. Movido pelo ódio a Luís Montenegro, apostou tudo em derrubar o primeiro-ministro invocando o chamado "caso Spinumviva", que os portugueses olimpicamente ignoraram. Fez orelhas moucas aos avisados conselhos que os membros do seu próprio núcleo duro lhe deram para não precipitar o país em eleições antecipadas que ninguém desejava e que auguravam o pior para os socialistas.
Depois de perder 900 mil votos, 20 pontos percentuais e mais de metade dos deputados em duas eleições para a Assembleia da República em anos sucessivos (o PS tinha 120 deputados em 2022, baixou para 78 em 2024 e só tem 58 agora), depois de ver a AD liderada por Montenegro ultrapassar em assentos no hemiciclo todos os partidos da esquerda, confirma-se desde ontem, com o apuramento dos votos da emigração: os socialistas foram ultrapassados pelo Chega, sendo relegados para um inédito terceiro posto na hierarquia parlamentar.
Nunca antes tinha acontecido - nem com Mário Soares, nem com Vítor Constâncio, nem com Jorge Sampaio, nem com António Guterres, nem com Ferro Rodrigues, nem com José Sócrates, nem com António José Seguro, nem com António Costa.
E no entanto como reagiu Pedro Nuno Santos na noite eleitoral, confrontado com esta hecatombe? Como insuportável menino birrento e mimado. Sem um mea culpa, sem o reconhecimento de um erro, sem admitir que falhou em toda a linha, conduzindo o partido para uma espécie de beco sem saída.
Enredou-se em patéticos auto-elogios. Incapaz sequer de pronunciar a palavra derrota.
Parecia vogar num universo paralelo, escutando apenas hossanas de vassalos e os solos de violino dos aduladores (incluindo vários jornalistas) que o elegeram como campeão dos debates eleitorais nas legislativas em que fracassou. Esta análise detalhada do Pedro Santos Guerreiro não deixa lugar a dúvidas: há uma discrepância cada vez maior, em Portugal, entre quem vota e quem comenta nas televisões.
Vale a pena lembrar aqui, para memória futura, as palavras de Pedro Nuno Santos. Estava tão fora da realidade, na noite de 18 de Maio, que quase parecia ter sido ele a sair vitorioso destas eleições.
Recordo-as nos parágrafos que se seguem.
«Honrei a história do partido.»
«Tenho muito orgulho no trabalho que fizemos.»
«Foi uma campanha alegre, entusiasmada, com a participação dum partido que estava unido, a apoiar-me.»
«Nós não provocámos estas eleições. Fizemos tudo quanto estava ao nosso alcance.»
«Luís Montenegro não tem a idoneidade necessária para o cargo de primeiro-ministro e as eleições não alteraram esta realidade.»
«[Montenegro] lidera um governo que falhou a vários níveis no último ano.»
«Eu nunca poderia ser suporte deste Governo. Acho que o PS também não deveria apoiar alguém que não soube separar a política dos seus negócios.»
«Como disse Mário Soares, só é vencido quem desiste de lutar - e eu não desisti de lutar. Até breve e obrigado a todos.»
Em suma, levou com um piano de cauda em cima da cabeça e mesmo assim parece não ter aprendido nada. Merece, portanto, o que lhe aconteceu. Espero ao menos que no PS tenham aprendido com este fracasso.
Se assim for, terão de começar logo por isto: até breve, não. Até nunca.