A importância de falar claro
«A esquerda atingiu um patamar tal de auto-suficiência que já só trata dos seus temas privativos. Por exemplo, o salário mínimo. O salário mínimo é uma preocupação da esquerda, uma questão nacional importante num país onde infelizmente demasiados dos nossos concidadãos auferem ao fim do mês o salário mínimo. Mas nunca há um momento em que digam: "Porque é que o salário mínimo é este?"
Esta é a questão essencial da vida portuguesa. Estão no atira-culpas sem perguntarem por que o salário mínimo não atingiu valores que a economia portuguesa não pode pagar. Nunca há uma oportunidade para se discutir esta questão. Porque é que temos uma economia que não permite pagar um salário mínimo decente? Porque é que temos uma economia que põe um terço dos trabalhadores a receberem o salário mínimo?
Este tema nunca atravessa o debate. Parece um leilão de bondades. Como se não existisse uma coisa chamada realidade. E como se não existisse uma realidade chamada economia portuguesa. Isto é absolutamente espantoso.
Já no debate [de António Costa] com Rui Tavares era a mesma coisa: "Porque é que não somos a Suécia?" Mas é preciso explicar porque é que não somos a Suécia? Primeiro, porque o modelo dos comunistas, sejam eles do PCP, do Bloco de Esquerda ou do Livre, nunca foi a Suécia social-democrata. Nunca foi. Em segundo lugar porque em Portugal, infelizmente, temos entre metade e um terço da Suécia. Mas nestes debates da esquerda o tema da economia portuguesa, no seu modesto desempenho comparativo, nunca consegue encontrar caminho.»
Sérgio Sousa Pinto, deputado do PS, na CNNP (terça-feira)