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Delito de Opinião

A honra perdida do PSD

Pedro Correia, 30.07.20

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Foto: Filipe Farinha / Lusa

 

Rui Rio prepara-se para accionar disciplinarmente os sete deputados do PSD que ousaram votar contra o vergonhoso pacto com o PS para trocar a presença quinzenal obrigatória do primeiro-ministro na Assembleia da República por deslocações bimestrais de Sua Excelência ao hemiciclo.

Tão vergonhoso foi esse pacto que 28 deputados socialistas também votaram contra, incluindo vários ex-ministros e ex-secretários de Estado: Ana Paula Vitorino, Ascenso Simões, Bruno Aragão, Capoulas Santos, Carla Sousa, Cláudia Santos, Eduardo Barroco de Melo, Fernando Anastácio, Filipe Neto Brandão, Francisco Rocha, Hugo Oliveira, Isabel Moreira, Joana Sá Pereira, João Paulo Pedrosa, Jorge Lacão, José Magalhães, Marcos Perestrello, Maria Begonha, Marta Freitas, Miguel Matos, Nuno Fazenda, Olavo Câmara, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Sérgio Sousa Pinto, Sónia Fertuzinhos, Susana Correia, Tiago Barbosa Ribeiro, Tiago Martins. E cinco abstiveram-se: António Gameiro, Diogo Leão, Elza Pais, Rosário Gamboa e Pedro Delgado Alves. Além dos representantes de todas as restantes bancadas parlamentares - BE, PCP, CDS, PAN, PEV, IL e Chega.

 

A diferença entre as duas metades do bloco central é que os socialistas dispuseram da liberdade de voto que Rio cerceou na bancada laranja - apesar de só o PS ser partido de governo e a alteração agora introduzida ao regimento da Assembleia da República apenas beneficiar o primeiro-ministro enquanto lesa os direitos da oposição parlamentar da qual nominalmente o PSD ainda faz parte.

Assistimos, portanto, a este facto extraordinário: enquanto se comporta como serviçal do Governo, Rio dirige a sanha persecutória contra os sete rebeldes do seu próprio partido que agiram em consciência quando se insurgiram contra a honra perdida do PSD no momento da votação - entre eles o novo líder da JSD, Alexandre Poço, e a líder cessante, Margarida Balseiro Lopes.

Procura assim, com esta absurda ameaça de processos disciplinares, quebrar os últimos vestígios de dissidência no grupo parlamentar: 

 

Marcelo Rebelo de Sousa poderia dizer-lhe como se dirige um partido tolerando a autonomia de decisão dos deputados. Quando o actual Presidente da República liderava o PSD, as bancadas socialista e comunista tomaram a iniciativa de apresentar projectos de lei que ampliavam as circunstâncias legais da prática do aborto. Marcelo era contra, tal como a esmagadora maioria dos parlamentares do PSD. Mas não houve disciplina de voto nem monolitismo. Assim, no momento da votação, três deputados - José Pacheco Pereira, José Silva Marques e Rui Rio -  divergiram do líder sem recearem consequências disciplinares.

Foi em 1998. Rio não hesitou então em colidir com o presidente do partido enquanto deputado. Mas agora, na posição que Marcelo ocupava há 22 anos, procede precisamente ao contrário. Prestando assim mais um favor aos socialistas: o de os distinguir, por contraste, como campeões da liberdade individual. 

Um favor que António Costa nem sequer se dará ao incómodo de lhe agradecer.

4 comentários

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    Pedro Correia 30.07.2020

    Você é daqueles que detestariam viver no Reino Unido, onde há sessões semanais - todas as quartas-feiras - de controlo do Governo na Câmara dos Comuns, com a presença do primeiro-ministro.
    Nem sei como é que Boris Johnson consegue arranjar tempo para trabalhar. Partindo dessa lógica que responder aos deputados da oposição não é trabalho.
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    José Gonçalves 31.07.2020

    Precisões:
    eu não disse que detestaria viver no RU, assim como não disse que responder aos deputados da oposição (e da situação, acrescento eu) não é trabalho. Quem o disse foi o Senhor Pedro Correia, opinião de que discordo.
    O que eu expressei foi a opinião de que 15 dias é excessivo. Um mês seria o ideal (disse-o dircordando dos dois meses).
    Há imensas formas de o Parlamento interpelar o Governo, talvez até com mais tempo e com mais minúcia, e os parlamentares, com todo o direito, fazem-no com frequência.
    Respeito a sua opinião de que as audições devem ser quinzenais, reservando o meu direito de discordar dela.
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    Pedro Correia 31.07.2020

    Segundo a sua lógica, os britânicos têm imenso a aprender connosco em matéria de democracia. Eles (que horror!) obrigam o PM a ir todas as semanas à Câmara dos Comuns. Basta que ele lá vá uma vez por mês - ou seja, quatro vezes menos.

    Excelente. Vamos ensinar aos ingleses como funciona a democracia.
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