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Delito de Opinião

A guerra relevante.

Luís Menezes Leitão, 28.07.16

Neste post, o Diogo sustenta que descrever a actual situação como uma guerra não só é irrelevante do ponto de vista operacional como oferece legitimação política às organizações que pretendemos eliminar. É o argumento típico dos políticos europeus, que persistem em negar a realidade em ordem a continuar a defender políticas inconsequentes. É assim que em toda a imprensa se insiste em falar no "auto-proclamado" Estado Islâmico, como se o mesmo não ocupasse territórios na Síria e no Iraque. Mas os sinais da guerra estão à vista de todos. Quando em França os líderes religiosos exigem protecção armada para os locais de culto ou quando na Baviera a própria população pede a colocação de militares na rua, é manifesto que passámos a fase da mera criminalidade, a que se pode reagir com a simples protecção e investigação policial. Neste momento a Europa está em guerra e a guerra combate-se com exércitos. Negar isso é negar a realidade e deixar a Europa continuar debaixo de fogo.

 

Quem se recusou a negar a realidade foi o Papa Francisco. Numa corajosa comunicação aos jornalistas, acaba de dizer que "a palavra que tem sido sucessivamente repetida é insegurança, mas verdadeira palavra é guerra. Vamos reconhecer a verdade: o mundo está num estado de guerra fragmentada. Agora existe uma guerra. É talvez uma guerra não orgânica, mas está organizada e é guerra. O mundo está em guerra porque perdeu a paz". 

 

Sábias palavras de quem todos os dias assiste ao massacre dos seus fiéis por parte de combatentes fanáticos, sem que nada se faça para combater a ameaça. Após o 11 de Setembro, os Estados Unidos perceberam que tinham sido atacados e por isso tinham que travar uma guerra. A Europa, porém, parece que voltou a 1453, insistindo em discutir o sexo dos anjos enquanto os turcos atacam Constantinopla. Valha-nos o Papa que percebeu muito bem o que está em causa.

5 comentários

  • A diferença de pontos de vista reside apenas em que consideras irrelevante estarmos numa situação de guerra, insistindo nessa retórica da irrelevância do conflito armado em solo europeu. Eu considero que se trata de matéria altamente relevante, e que não pode ser escamoteada. E a guerra não se combate apenas com a resposta militar em território inimigo. Combate-se também pesquisando as quintas colunas que existem no nosso território. Quem se declara combatente pelo Estado Islâmico tem que ser considerado um combatente inimigo, independentemente da sua nacionalidade. E não é com pulseira electrónica que os combatentes inimigos podem ser travados. Como se viu em Rouen.
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    Diogo Noivo 28.07.2016

    O que me parece irrelevante é enquadrar o combate ao terrorismo nos termos de uma guerra. Não lhe vejo vantagens. Aliás, só identifico inconvenientes.
    Salvaguardadas as devidas distâncias, que existem, parte do êxito do combate a ETA passou precisamente por não reconhecer legitimidade política a esta organização terrorista. Os sucessivos governos espanhóis sempre se recusaram a considerar que havia um “conflito” com a ETA (e muito menos uma guerra). Isso não impediu o Estado de recorrer a todos os instrumentos (políticos, policiais, judiciais, e até militares) para combater a ameaça terrorista. De resto, foi precisamente uma estratégia de combate sem quartel e de deslegitimação política da ETA que resultou no (quase) fim desta organização terrorista. E, admitindo novamente que existem diferenças, quando olhamos para o período de declínio da al-Qaeda vemos que a falta de legitimidade política foi essencial para quebrar esta ‘organização’. Em suma, a meu ver, conceder ao autoproclamado Estado Islâmico o estatuto de inimigo legítimo é fazer-lhe um favor político. Podemos combatê-lo sem piedade, mas abstendo-nos de lhe conferir estatuto político. Não é semântica, é estratégia.
  • A Al-Qaeda caiu devido à guerra no Afeganistão e ao ataque a Bin Laden no Paquistão. Quanto à deslegitimação política, ela é irrelevante. Se não fossem combatidos teriam ido muito mais longe.
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    zazie 28.07.2016

    Creio que a Al-Qaeda caiu também devido a uma política americana de controle de contas e pessoas de tal modo a pente-fino que a coisa deixou de ter as mesmas hipóteses que teria se fosse por cá.

    Aproveito para deixar a pergunta, uma vez que não sou de leis, se o facto da UE considerar este terrorismo dentro do seu espaço como uma ameaça de guerra, tal implicaria mudanças gerais de lei.

    Isto por uma outra razão- os Estados funcionam de acordo com aprovações de leis mais amplas e nem uma invasão se pode fazer a um país com um governo internacionalmente reconhecido por todos.

    Foi por isso que os americanos tiveram de contornar a coisa mas fizeram-no por eles, e pediram o aval aos restantes- não fizeram pelos restantes.

    Suponho que agora a coisa toca aos restantes que não têm a mesma "pulsão" defensiva e atacante e se baralham entre acolhimentos humanistas e gritos de "estamos em guerra- estão a atacar-nos" como os tais fossem ETs

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