A grande ilusão.
Perante a vitória mais que previsível do Syriza, imensos comentadores esforçaram-se por salientar que iria ficar tudo na mesma, com Angela Merkel a continuar a mandar na Grécia e Alexis Tsipras a vergar-se às posições alemães. No fundo é a repetição do velho TINA (There is no alternative) que até na Alemanha levou à criação de um partido radical Alternativ für Deutschland, que defende a saída imediata da Alemanha do euro. Parece-me um colossal erro de perspectiva. Tsipras é ambicioso, tem convicções ideológicas marcadas, tanto assim que até deu ao filho o nome do Che, e não vai querer ficar na história como o Hollande grego. Se seguir um padrão, será o de Lenine, que não hesitou em repudiar os compromissos russos, alegando que o novo estado soviético não tinha que os cumprir. E não me parece que neste momento os gregos encarassem mal uma declaração de bancarrota, pois provavelmente chegaram ao ponto em que acham que nada pode ficar pior do que já está. Os primeiros sinais que chegam, com Tsipras a proclamar que a austeridade acabou, e os eurocratas habituais a dizer que a Grécia tem que cumprir os seus compromissos levam a concluir que a ruptura é inevitável. Desiludam-se assim aqueles que julgam que tudo vai ficar na mesma.
Outros julgam, porém, que a bancarrota grega e a saída da Grécia do euro pode até ser positiva para os outros Estados-Membros que já se resguardaram para esta situação. Mais uma grande ilusão. A bancarrota grega terá um impacto mundial tão elevado que fará a queda do Lehman Brothers parecer uma brincadeira. E o resultado, a curto ou a médio prazo, será o descrédito do euro, com muito especulador a apostar qual é o próximo país a sair, com Portugal em excelente lugar na lista de apostas.
Dir-se-á que tudo isto é irracional e que uma negociação séria permitirá limar arestas. Mas a verdade é que o comportamento dos Estados nem sempre é racional. Em 1914 ninguém de bom senso acreditaria que um crime político pudesse arrastar o continente europeu para uma guerra, mas de um momento para outro foi isso o que se passou. Em 2015 corremos o risco de assistir a uma bancarrota grega com ondas de choque inevitáveis em todo o continente. E julgo que agora é tarde para a evitar.