A extrema-direita liberal
Com a conquista eleitoral segue o PS viçoso, dir-se-ia que até rejuvenescido, nesta sua condição maioritária. Mas, avisado, nisso não facilita, desde já preparando a maratona dos 4 longos anos. Olha à sua esquerda e, algo clemente, poupa invectivas (e até já preparará a protocolar eulogia) ao exaurido PCP, agora cadáver (menos) adiado. Tal como ao "cadáver esquisito" Bloco de Esquerda, que deixa entregue às irregulares inconsequências que lhe são essência, até porque entretanto este segue entretido nas discussões públicas das suas catedráticas "eminências pardas". Olímpico é também o silêncio que dedica aos afinal inúteis PAN, já entregue à co-incineração que nos foi legada pela tutela do incansável José Sócrates, e LIVRE, o qual ruma atarefado na contratação de um ror de assessores que "não advêm do marxismo", decerto que forma de combater a precaridade que aflige os investigadores científicos.
Assim algo descansado - ainda que nunca relaxado - pois "nada se passa na frente esquerda", o PS observa atentamente as movimentações das forças regulares alojadas à sua direita. Estando o CDS entregue aos intensivistas, os quais mantêm "prognóstico reservado" sobre o paciente - ainda que conste terem estes já, em privado, desiludido a família próxima -, a situação clínica do PSD é encarada com plácida solidariedade humana. Na crença de que a convalescença, a ser bem sucedida - o que não se toma como garantido -, será bem longa, e exigirá duro e enfraquecedor tratamento. Quanto ao pós-neófito CHEGA a estratégia está já delineada: sobre ele cairá algum fogo regular, a hora certa, para manter aquela força irregular em estado de exaltação. O qual será propício à sua emissão de disparates, dada a profusão de locutores encartados que agora nela se impuseram, lestos que assim serão eles a demonstrar a horda irreflectida que constituem, desde vereadoras a traficarem lixo, senadores a clamarem dislates desproporcionados até a anacrónicos "intelectuais orgânicos" a louvaminharem o Estado Novo.
Resta assim, nesses invasores redutos da direita, a pequena força da Iniciativa Liberal. E para não amansar as tropas, nisso relaxando-as, foi este o alvo escolhido pelo PS para pequenas investidas cirúrgicas, por enquanto conduzidas por batedores, rudes e tarimbados, irregulares locutores excêntricos à hierarquia. Acções essas que assim, se violando as tréguas pós-eleitorais, serão ditas como alheias aos ditames da hierarquia. De facto, o intuito deste pequena e marginal campanha é o de manter mobilizada a população na retaguarda, nisso despertada e mui atenta na luta contra o fascismo, o desses hunos que não só cruzaram as fronteiras da república como, ao que consta, investem já contra a paliçada do regime.
De facto, as novas dessas incursões vão promovendo o júbilo entre o povo cristão, aquando congregado em bazares, adros e rossios. Nelas é proclamada a tal Iniciativa Liberal como a verdadeira extrema-direita, o mais perigoso dos arietes fascistas, o satânico inimigo do bem-estar comum, os adoradores do anti-cristo "social". Consta isso nas páginas do boletim "Expresso", partilhado nas homilias e nos pregões. Clamam-no, nos seus palanques, alguns vultos sábios, como Maria José Marques (que eu desconheço) ou a célebre mestra Estrela Serrano, dita a Socratista. E há agora novidades de uma nova investida, particularmente bem sucedida: pois, ainda que já jubilado da sua carreira profissional de sobrinho, o veterano Alfredo Barroso regressou às lides demonstrando ser a tal Iniciativa (Neo)Liberal a reencarnação lusa de Augusto Pinochet, assim augurando-nos - se nos distrairmos - o destino de sermos encerrados em campos de futebol, e neles exterminados, por desígnios do perverso Cotrim.
Mas o relevante é o efeito que estas iniciais investidas estão a ter nas escassas forças liberais. Com efeito, chegam notícias que estas procuram deslocar-se, intentando assentar arraiais no planalto central da frente da batalha. Presumo que nisso procurando camuflar-se, salvaguardando-se de um ataque global, que julgam iminente, às forças do CHEGA - sitas num promontório vizinho - pois temendo com elas serem confundidas.
Não deixo de sorrir, diante destas frustres manobras dos jovens capitães liberais. Lembrando-me que desde há 47 anos as forças do PSD e do PS têm acampamentos limítrofes, nisso se ladeando. E que ninguém os confunde por isso - a vox populi até lhes exagera as diferenças. Não haja dúvida, estes recém-chegados têm ainda muitos montes e vales (de lágrimas) para percorrer. E muita saraivada para receber.