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Delito de Opinião

A esquerda submissa e ajoelhada

Pedro Correia, 11.08.17

 

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O bolivarismo - versão caribenha do socialismo real - andou todos estes anos a contaminar a esquerda clássica europeia, que persiste em nada extrair das lições da história. Jean-Luc Mélenchon, o líder da chamada "França Insumissa", chegou a proclamar que Nicolás Maduro lhe servia de "fonte de inspiração" - a tal ponto que, se desembarcasse no Palácio do Eliseu, prometia transformar Paris numa das capitais da exótica Aliança Bolivariana Pelos Povos das Nossas Américas, de braço dado com o ditador de Caracas. Na Venezuela, o candidato derrotado por Emmanuel Macron nas presidenciais francesas alinha com aqueles que esmagam os insubmissos, incapaz de condenar a repressão.

Do outro lado da Mancha, o mesmo tom. Jeremy Corbyn, o Mélenchon inglês, recusa condenar o regime tirânico do sucessor de Hugo Chávez, que só nos últimos quatro meses já provocou 127 vítimas mortais em protestos de rua contra o endurecimento da ditadura e levou a Comissão de Direitos Humanos da ONU a insurgir-se contra o  "uso generalizado e sistemático da violência e as detenções arbitrárias" de opositores na Venezuela.

Louve-se ao menos a coerência do líder trabalhista, derrotado por Theresa May nas recentes legislativas britânicas: nem mesmo desafiado por deputados e membros do Governo-sombra do seu próprio partido, renega a fidelidade ao regime de Caracas. Em 2013, Corbyn proclamou Chávez como "inspiração para todos quantos combatem o neoliberalismo e a austeridade". No ano seguinte, foi exibido na televisão pública venezuelana por um sorridente Maduro, que o apresentou como seu "amigo".

Submissa afinal, a "verdadeira esquerda". Herdeira directa das esquerdas que durante décadas entoaram hossanas a Estaline, Mao, Brejnev, Honecker, Enver Hoxha e Pol Pot - a esquerda que demoniza as vítimas e glorifica os carrascos, ajoelhando em perpétuo tributo aos piores déspotas que o mundo já conheceu.

4 comentários

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    Pedro Correia 11.08.2017

    Alguma coisa mudou certamente. Se assim não fosse, a Europa não estaria a crescer há cinco anos consecutivos.
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    Vlad, o Emborcador 11.08.2017

    Vá dizer isso aos desempregados que em Portugal chegam aos 10%, em Espanha aos 20%, aos gregos, aos pensionistas e empregados europeus que vêem os seus ordenados/pensões reais cada vez mais reduzidos, aos jovens que entram/saiem das faculdades com perspetivas laborais decepcionantes quando em comparação com os seus pais, etc....acredita no que escreve, ou escreve porque quer acreditar? Essa Europa de que fala não é o meu país e decerto não os países do Sul da Europa, a que se chamam periféricos. Por alguma razão nos querem fazer crer que somos da periferia. Torna-se assim mais fácil fazer-nos acreditar na justiça do viver perifericamente. Uma fatalidade periférica. E esse crescimento é desprezível quando comparado com o crescimento das dívidas públicas
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    Luis Moreira 11.08.2017

    Desempregados mas vivos e com subsidio de desemprego. Na Venezuela há esfomeados e mortos.

    Compare...
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