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Delito de Opinião

A direita má

Luís Naves, 02.11.18

Neste artigo, o uso da linguagem é instrutivo. David Dinis considera que só há duas direitas, uma má e outra boa. A má é soberanista, nacionalista, anti-imigração (aqui na paróquia quer a vingança de 2015), além disso tem programas ideológicos, discursos identitários, detesta o politicamente correto e promove a divisão.

A direita boa, além de liberal, não é muito caracterizada no artigo; presume-se ser contrária a tudo o que é mau, entre outras, as ideias de soberania, de nação e de identidade. A direita boa será talvez patriota e europeísta, defensora das decisões burocráticas de Bruxelas, das limitações de soberania, tendo elevada consideração pelo politicamente correto. As crispações políticas não são apreciadas, nem os discursos identitários. Para se pertencer à direita civilizada, é obrigatório ser pró-imigração ou não ter opinião sobre o tema.

Este é, em resumo, o único espaço de direita que se pode ocupar em Portugal. Tudo o resto é o horror. Na Europa, as coisas são um pouco diferentes, pois o centro-direita está dividido em relação a duas possíveis estratégias e há discussões sobre a melhor escolha a fazer.  

A mudança política em curso tem na sua raiz a rebelião eleitoral contra os partidos tradicionais, a irritação dos eleitores com os meios de comunicação, o descontentamento com a globalização e com políticas de imigração incompetentes, que atingiram os mais pobres e estão a causar um poderoso descontentamento entre as classes baixas.

Nas duas décadas anteriores à crise, os partidos conservadores deslocaram-se para o centro e tentaram assumir a identidade liberal, mas os eleitores agora discordam, sobretudo devido ao choque da grande recessão e da crise migratória. É evidente que o eleitorado se radicalizou, que está provavelmente a virar à direita, aceitando hoje argumentos que, nos anos 90, os conservadores consideraram fora de moda e deixaram ao abandono, o que foi aproveitado pelas então minúsculas formações da extrema-direita ou pelos populistas, que agradeceram e engordaram.

Ou seja, aparentemente não existe nenhuma guerra, há um dilema: o centro-direita pode continuar a sua caminhada para o centro, para se aliar a partidos liberais (a aliança franco-alemã é basicamente isso) ou tenta reocupar o espaço da direita, voltando às suas origens de nacionalismo, valores tradicionais, conservadorismo social (o modelo austríaco). Na primeira opção, os partidos da direita moderada deixam crescer a extrema-direita; na segunda, têm de perder os tiques de elitismo e arriscam-se a enfrentar a hostilidade feroz dos meios de comunicação. O que acho menos saudável neste artigo é quando este liberalismo coloca tudo em termos de sim ou sopas, de tudo ou nada, não deixando qualquer espaço para discutir, antes pelo contrário, diabolizando uma direita possível, que quer ficar fora da ortodoxia da época.

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