A dieta que funciona
Dizem que os algoritmos captam títulos sonantes, por isso resolvi dar a este texto um título que o tornasse apelativo aos mais cépticos, aos menos curiosos e aos que se estão nas tintas.
Se ainda estão a ler, não fiquem desiludidos porque não vou falar de dietas, ou de alimentação saudável, porque não tenho formação na área e não quero iludir ninguém, vou apenas especular um pouco sobre vários conceitos que acho interessantes e que estão relacionados com o comportamento alimentar.
Quando eu era criança a regra era comer, e se não comesse era um verdadeiro sarilho, porque barriga cheia era sinal de saúde e o contrário não, a falta de apetite era logo sinónimo de doença. Entenda-se ainda por comer, não comer pouco ou o suficiente, mas o chamado comer bem, ou seja, comer muito. Em termos de diversidade alimentar tudo estava bem desde que se fosse alternando religiosamente entre peixe e carne.
Com o passar dos anos muita coisa mudou, a roda dos alimentos ajustou-se a novas realidades, surgiram doenças associadas a hábitos alimentares e a certo tipo de alimentos, e difundiu-se uma forma de comer mais natural, por oposição aos muitos descuidos alimentares que uma sociedade em desenvolvimento, principalmente tecnológico, fomenta por nos roubar tempo para os tachos.
O leque de opções actuais é vastíssimo e vou enumerar apenas algumas das que conheço: vegetarianismo, veganismo, plant-based, paleo, mediterrâneo, entre muitas outras. Há quem não queira colocar a si próprio o rótulo, mas opte predominantemente por um estilo de alimentação, e depois há as pessoas que comem de tudo, mas que não comem alimentos com glúten, ou lactose, ou processados, e por aí fora.
Uma das ideias que mais confusão me fazem, e esclareço desde já que é apenas a minha opinião, baseada na minha experiência, é a questão do jejum intermitente. Percebo a ideia de que a redução de calorias, por saltar uma ou várias refeições e ter o cuidado de não compensar nas seguintes, promove o emagrecimento, mas não entendo os benefícios defendidos pelas pessoas que o praticam. Em termos de comportamento alimentar parece-me um risco, porque exige uma auto-disciplina muito grande e um esforço físico e mental que não são sustentáveis a médio e longo prazo, porque não proporcionam equilíbrio. Esta ideia é ainda completamente antagónica da que defende que não devemos saltar refeições, que o pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia, que não almoçar e depois comer muitos snacks ou um jantar pesado faz mal, entre outras.
Por tudo isto, defendo que a melhor dieta é a que funciona para cada um. Gosto da expressão reeducação alimentar e acho que faz sentido. Acredito que o melhor de tudo é o equilíbrio, escutar o nosso corpo e comer o mais natural possível, com respeito e harmonia por nós, pelos outros e pelo planeta. Claro que nem sempre é possível e está tudo bem, desde que a consciência esteja sempre presente nas escolhas que fazemos, que aceitemos que há dias e fases menos boas, mas que depois podemos voltar ao nosso ritmo, com tranquilidade. Eu tenho fases em que podia comer o pequeno-almoço ao almoço e ao jantar, fases em que não consigo comer peixe, nem carne, em que podia comer só fruta. Tenho fases em que cozinho tudo de raiz e outras em que coloco no forno pizzas, rissóis, croquetes, ou então como apenas uma torrada. Acredito que o que faz bem é o que me faz bem a mim e não aos outros, por isso aceito quem só bebe líquidos, quem não come, quem se mata a fazer exercício físico para queimar calorias, porque este templo que nos deram para cuidar só depende de nós e, ainda que o partilhemos, nascemos e morremos com ele e a responsabilidade é inteiramente nossa.