A descida de Dante
O terror.
O terror é palpável nas vozes que se apagam.
Não, não é um filme ou uma qualquer obra de ficção.
Se lá voltar, não volto lá.
Nós, os que entrámos, abandonamos toda a esperança de um dia brilhante, após aquela descida aos infernos. O desespero cola-se-nos na pele como um indelével parasita e a leveza do ser torna-se plúmbea e esmaga-se de encontro aquela amálgama de metal retorcido.
Mas são as vozes, as vozes dos que viveram o calvário que, como mãos geladas, nos espremem o alento. Tanto medo, tanto desespero, tanta aflição, tanta angústia. Nós, os conhecedores da peroração, acabamos por sucumbir perante a inevitabilidade que todos eles desconhecem.
E fugimos.
Não queremos ouvir mais, não queremos sentir mais, não queremos sofrer mais aquele sofrimento alheio que se entranha na alma pela osmose do terror.
Se lá voltar, não volto lá.