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Delito de Opinião

A descida de Dante

Maria Dulce Fernandes, 11.09.21

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O terror.

O terror é palpável nas vozes que se apagam.

Não, não é um filme ou uma qualquer obra de ficção.

Se lá voltar, não volto lá.

Nós, os que entrámos, abandonamos toda a esperança de um dia brilhante, após aquela descida aos infernos. O desespero cola-se-nos na pele como um indelével parasita e a leveza do ser torna-se plúmbea e esmaga-se de encontro aquela amálgama de metal retorcido.

Mas são as vozes, as vozes dos que viveram o calvário que, como mãos geladas, nos espremem o alento. Tanto medo, tanto desespero, tanta aflição, tanta angústia. Nós, os conhecedores da peroração, acabamos por sucumbir perante a inevitabilidade que todos eles desconhecem.

E fugimos.

Não queremos ouvir mais, não queremos sentir mais, não queremos sofrer mais aquele sofrimento alheio que se entranha na alma pela osmose do terror.

Se lá voltar, não volto lá.