A derrota de Putin em França
Vladímir Putin foi derrotado em França. Por interposta candidata. A que se apressou a reconhecer a anexação ilegal da Crimeia, recebeu financiamento russo e a 8 de Fevereiro - contra todas as evidências - afirmou sem hesitar: «Não acredito que a Rússia queira invadir a Ucrânia.» O que diz tudo sobre a sua falta de clarividência em política internacional. E sobre o seu servilismo face a Moscovo.
Os eleitores concluíram - e muito bem - que esta candidata não era digna de chefiar o Estado francês. Para resumir tudo numa palavra, Marine Le Pen é inapresentável. Emmanuel Macron emerge deste escrutínio como óbvio vencedor, com mais 18 pontos percentuais do que a adversária, contrariando aqueles que vaticinavam uma disputa «taco a taco», cheia de «incertezas até ao fim». Balelas.
Apesar dos brutais constrangimentos económicos e sociais impostos por dois anos de pandemia, França apresenta hoje uma das melhores taxas de crescimento na Europa (7% em 2021) e regista uma redução quase histórica do desemprego. Daí este triunfo claro, superior em percentagem ao que o carismático general De Gaulle alcançou em 1965, quando enfrentou François Mitterrand nas urnas: venceu com 55% na segunda volta. Agora Macron obtém 59%.
Escrevo estas linhas com imensa satisfação: como aqui escrevi na sexta-feira, se fosse francês teria votado em nele.
Há 20 anos que nenhum Presidente era reeleito em França: esta é uma proeza suplementar, também no plano simbólico, do inquilino do Eliseu. E que inaugura uma tendência que vai registar-se a partir de agora em todas as eleições na Europa: quanto mais um candidato estiver conotado com Putin, menos hipóteses terá de vencer. Pela rejeição visceral que isso provoca nos eleitores - de Lisboa a Riga, de Estocolmo a Trieste. Ninguém quer a pata russa em cima.
Parabéns a Macron, o homem que Putin queria ver longe do poder. O ditador enganou-se: os franceses mostraram muito mais clarividência do que ele imaginava. Tal como os ucranianos demonstram, em todas as horas de todos os dias, uma tenacidade e uma resistência que ele jamais supôs.
É uma excelente notícia. Não só para França, pois abre uma luz de esperança também na Ucrânia: se Le Pen tivesse vencido, como algumas luminárias anteviam, isso seria um pesadelo acrescido para aquele martirizado povo.
Os franceses ficaram servidos em matéria de colaboracionismo: não precisam de nenhum outro. Já lhes bastou o decrépito marechal Pétain, ajoelhado perante Hitler entre 1940 e 1944.