À dentada
Existe uma faixa da população, daqueles que se podem designar como “os sem voz” que por inerência da designação não têm como ascenderem aos cinco minutos de fama que o Andy Warhol profetizou. É certo que não são poucas as azeiteiras que nos dias de hoje tentam rentabilizar as respectivas amolgadelas perante uma horda de seguidores no Instagram. Não sendo isso mais do que a confirmação da visão da estrela maior da pop art, ainda assim os "sem voz" continuam a existir fora do clarão dos holofotes e continuarão a andar por aí a espernear.
Quis o destino que numa paragem entre duas estafadelas, passasse uns minutos ao lado de um contentor disfarçado de refeitório de uma obra, estacionado sob o abrasador sol de Julho.
Um dos trolhas mais novos que, por entre os demais, por ali espairecia, exibia o incrível super-poder de conseguir abrir garrafas de cerveja com os dentes. Aquilo é uma coisa bonita de se ver. As tampas das garrafas pareciam feitas de folha de alumínio, daquela que uso no forno para resguardar a carne de borrego. É inegável que aquela capacidade lhe garante uma incrível popularidade por entre os iguais. O brilho nos olhos dos seus pares, quase emocionados, só fazia lembrar aquele sketch do Herman em que alguém dizia “este homem é do nuorte, carago!”
Apesar do efeito estético no instante imediato, todos sabemos que aquelas habilidades vão desembocar num tipo, com mau hálito, e de boca aberta a fazer um molde para uma prótese dentária. Mas isso agora não interessa para nada. Hoje é hoje e a mensagem de força que se transmite é que conta.
Quando abandonei aquelas belas companhias, lembrei-me do episódio do anúncio do ex-futuro novo aeroporto pelo ministro Pedro Nuno Santos e achei que aquele miúdo de dentes aparentemente poderosos era o PNS dos trolhas. Os dois confundem a força de vontade com a capacidade.
Vamos ver qual dos dois vai ser o primeiro a ficar sem a cremalheira bocal.