A demagogia do "não nos encostem à parede"!
A fotografia é da manifestação de ontem promovida "contra o racismo", e que teve bastante afluência. A imagem colhida é significante: à frente vem um - muito provavelmente português oriundo de Portugal - decano cabeludo, comunista. Como tal um defensor de regimes genocidas, sociocidas, ditatoriais, sobreexploratórios dos trabalhadores, repressores dos direitos individuais e colectivos, perseguidores de comunidades estrangeiras e imigrantes. A sua inserção nesta acção alheia ao PCP aventa que o proto-ancião pertence ou simpatiza ao arquipélago de grupelhos m-l, tornando-o pior ainda, um abjecto hipócrita que passou a sua já longa vida dizendo-se fiel a princípios exactamente inversos ao que defende. Se é ele uma contradição visual, um careca cabeludo, não o é intelectualmente, mas apenas um aldrabão ideológico. Tal como o são os seus correligionários - eu recordo o que passou despercebido, a actual coordenadora do BE atreveu-se a defender a teoria imperialista de Hitler na televisão e depois foi eleita ao posto de chefe da coligação de grupelhos, demonstrando o grau de abjecção dessa gente.
Atrás dele vêm inúmeros manifestantes cujos fenotipos indiciam serem estrangeiros ou ex-estrangeiros, provenientes do subcontinente indiano. São imigrantes, quase de certeza explorados pelos seus empregadores - alguns portugueses, muitos estrangeiros, até seus compatriotas. Estão ali mobilizados por comunistas portugueses, mais ou menos aburguesados - esta peça da Lusa é antológica, entrevistando o antigo candidato do MDP/CDE (um artista que agora se diz nada advindo do marxismo) Ricardo Sá Fernandes, que se lamenta de ter chegado atrasado à manifestação por ter "estado num almoço que acabou tarde". Este tipo de gente anda há tanto tempo na berlinda que nem tem noção do seu ridículo.
E esse disparatado "manifestante" representa também o sentir dos feixes de "classe média" lisboeta que engrossaram a manifestação. Para esta gente - alguma viverá em condomínios, a maioria nas zonas "gentrificadas" - as preocupações com a segurança são coisa da "extrema-direita" e dos populistas do "Correio da Manhã". São contra a polícia - lembra-lhes "a PIDE" mesmo que nunca a tenham visto e muito menos enfrentado. E são contra a existência de países, mesmo que não o percebam - só isso pode justificar que venham ladeando tipos que dizem "ninguém é ilegal".
Os mobilizados de origem estrangeira estão ali "contra o racismo", irados contra a polícia num processo político iniciado pela célebre rusga da rua do Benformoso. São explorados laboralmente? Por quem? São perseguidos pela legislação portuguesa? Por quais leis e suas interpretações? Pela polícia? Quantas detenções ilegais, quantos espancamentos, quantas violações de direitos, quantos atentados às suas propriedades cometeram os polícias?
Os polícias fizeram uma rusga na tal rua e encostaram os circunscritos à parede? Espancaram alguém, detiveram alguém ilegalmente, destrataram alguém?
1. No fim-de-semana passado aqui nos Olivais, na praça da Cidade do Luso, defronte à Escola Fernando Pessoa e aos dois restaurantes mais populares do bairro, houve uma rusga. Foram ali detidos cerca de 15 indivíduos - oriundos de Portugal, fregueses consabidos. Alguns algemados. Conta quem viu - entre risos - que um deles, personagem conhecida destas redondezas desde os "velhos tempos" da nossa juventude - e sempre arisco à estrita legalidade e às preocupações sanitárias -, tanto protestou que lá foi ... desalgemado. Vamos manifestar-nos aqui no bairro?
2. Há algum tempo um polícia matou um cidadão na Cova da Moura. Um drama, irreparável. E sem qualquer justificação. Seguiram-se "desacatos" (como lhes chamou alguma imprensa) durante dias, com destruição de propriedade pública e, acima de tudo, privada, em protestos contra a polícia devido ao seu racismo generalizado - a vítima era negro, ou mulato ("afrodescendente" no trôpego linguajar de agora). No fim-de-semana seguinte houve uma manifestação em Lisboa, congregando algumas centenas de pessoas, na sua maioria moçambicanos, na sua esmagadora maioria negros - provocada pela situação política no seu país. A reportagem televisiva que vi encontrou-os no final da Av. Fontes Pereira de Melo, entrando no Marquês. Naquele sábado vespertino vinham enquadrados pela polícia - o trânsito automóvel não tinha sido cortado, apenas gerido segundo a passagem da manifestação. À entrada do Marquês os manifestantes entoaram a palavra de ordem "Isto é que é polícia!!!". Nem um jornalista - nem um - pegou no assunto, que não dá jeito para o chinfrim dos esquerdalhos de "classe média".
Ora se alguém quiser ser um abjecto demagogo - como o tal Sá Fernandes, não o Zé mas o mano, ou as Mortáguas ou os Tavares, mais o pateta cabeludo careca da fotografia - poderá dizer "estão a ver, os pretinhos moçambicanos gostam da nossa magnífica polícia". Ou então pode ter a decência de contextualizar os fenómenos (no caso dos manifestantes moçambicanos era uma óbvia invectiva, comparativa, contra a feroz polícia do seu país, contrastante com a - efectiva - urbanidade da nossa).
3. Nem de propósito hoje, no dia seguinte à manifestação, na tal rua do Benformoso - onde parece que a polícia não deve entrar - "dois grupos de estrangeiros" (franceses gentrificadores?, norte-americanos em busca da Comporta?, espanhóis turistas?) envolvem-se em pleno dia numa rixa que originou sete feridos, causadas por "armas brancas" (naifas). Os tugas também fazem merda? Claro. É por isso que há rusgas...
Quanto à "classe média" lisboeta que vai às manifestações dos "bem-pensantes", nem um deles se interrogará sobre si-mesmo, sobre a imbecilidade militante que prossegue. E descansadamente, neste domingo, seguirão ao "El Corte Inglés" (ou, alguns, ao São Jorge...). Pois lá, ao menos - e só aqui entre nós - não há imigrantes...