A decadência do PCP
Seis dias depois, tanto quanto sei, ainda ninguém abandonou o PCP em protesto contra a posição oficial do partido perante a criminosa agressão russa à Ucrânia. Nem um cartão de militante rasgado, nem um sonoro protesto na praça pública.
Pelo contrário, há ali até quem aplauda o agressor, que quer riscar a Ucrânia do mapa e ameaça o resto da Europa com ogivas nucleares. Gente como o antigo deputado Miguel Tiago, que se atreve a a bramar barbaridades como esta, torturando os factos: «Quem não queria negociar era a Ucrânia e não foi a Rússia. A Rússia estava a pedir para negociar desde o primeiro dia.» Isto quando, como noticia o Le Monde, o Tribunal Penal Internacional anuncia a abertura de um inquérito às atrocidades cometidas pelo tirano de Moscovo na Ucrânia desde 2014.
Quando o mesmo partido, então liderado por Álvaro Cunhal, se apressou a aplaudir a invasão de Praga pelos blindados do Pacto de Varsóvia, em 1968, registaram-se muitas demissões nas suas fileiras, ainda na clandestinidade. Agora, em pleno século XXI, esta justificação do "direito de pernada" de Putin num Estado soberano é acolhida com mansa resignação nas bases do PCP. Incluindo artistas, actores, jornalistas, desportistas, autarcas, sindicalistas: permanecem todos em silêncio, como se aquela abjecta posição não lhes dissesse também respeito.
Se alguma coisa isto comprova, é a decadência da militância comunista. Já esquecida do que Friedrich Engels ensinou: «Não pode ser livre um povo que oprime outros povos.»