Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

A coisa

Pedro Correia, 25.03.20

prod_6347156927[1].jpg

 

Há uma coisa chamada Conselho Nacional de Saúde. Estava posta em sossego, sem ninguém imaginar que existia, quando a emergência sanitária a fez despertar da letargia.

Com relutância, a coisa reuniu-se. Ficámos a saber que tem trinta membros, incluindo «seis representantes dos utentes, eleitos pela Assembleia da República», «dois representantes das autarquias, designados um pela Associação Nacional de Municípios Portugueses e outro pela Associação Nacional de Freguesias» e «cinco personalidades indicadas pela Comissão Permanente de Concertação Social, sob proposta das respectivas organizações sindicais e empresariais».

 

A reunião decorreu à margem das mais elementares normas sanitárias, sem que os membros da coisa respeitassem as distâncias de segurança, numa sala apinhada. Ao fim de seis ou sete horas de reunião, os conselheiros deliberaram... recomendar ao Governo que mantivesse abertos os museus e os estabelecimentos de ensino. Por unanimidade

Sem surpresa, António Costa procedeu exactamente ao contrário, marimbando-se para a recomendação da coisa.

 

Um putativo porta-voz da coisa, chamado Jorge Torgal, esmiuçou o seu pensamento desta forma, em entrevista ao jornal Público:

«O quadro global nacional [sobre o coronavírus] é relativamente positivo, face à morbilidade de outras patologias com que convivemos todos os dias.»

«As pessoas agem como se fosse uma doença facilmente transmissível por contacto social e não é. (...) É um quadro muito limitado que não é compatível com todo o alarme social que existe.»

«Fechar as escolas é ajudar e justificar o medo, que não tem razão de ser.»

 

Esta entrevista, note-se, foi concedida já depois de a Organização Mundial de Saúde ter qualificado de pandemia o coronavírus.

E ocorreu seis dias antes da declaração do actual estado de emergência em Portugal.

 

Já a 28 de Fevereiro, o mesmo cavalheiro produzira estas pérolas, em entrevista ao Jornal de Notícias

«[O Covid-19] é menos perigoso que o vírus da gripe! Existe um pânico completamente desproporcional à realidade.»

 «É uma doença que tem tratamento.»

«Em Portugal, em 2014, os casos de legionela em Vila Franca de Xira mataram muita gente e deixarem sequelas em muitas mais. Isso, sim, é preocupante.»

 

Raras vezes tenho visto alguém bolçar uma colecção tão grande de inanidades. Questiono-me se os familiares dos 43 portugueses que faleceram em apenas oito dias, vítimas do Covid-19, não deveriam apresentar queixa judicial contra este senhor.

Indaguei entretanto se a coisa ainda se mantinha em funções. Disseram-me que sim. Sem sequer registar uma deserção, depois de ter ficado evidente, aos olhos dos portugueses, que não serve para nada.

5 comentários

  • Imagem de perfil

    Pedro Correia 25.03.2020

    Trinta mecos sentados à volta de uma mesa a "recomendar cenas" ao Governo que este sabiamente ignora. Eis o Estado português no seu esplendor.
  • Sem imagem de perfil

    Luís Lavoura 25.03.2020

    Não é bem assim.

    Os 30 mecos recomendaram uma linha de ação, o Governo seguiu outra. A conclusão a tirar não é propriamente que os 30 mecos são inúteis. A linha de ação que eles recomendaram até podia, de facto, ser a melhor.

    A conclusão a tirar pode ser que o Governo é mau, porque não segue as sábias recomendações de 30 pessoas que ponderaram o assunto muito bem.

    Se, por exemplo, o bastonário da Ordem dos Médicos sugerir uma linha de ação e o Governo não a seguir, a conclusão que se tira não é, certamente, que o bastonário é um idiota e um inútil. A conclusão que se tira é que há um desacordo entre o bastonário e o Governo.
  • Sem imagem de perfil

    João Lopes 26.03.2020

    Sabendo que a minha opinião não terá certamente grande valor, ela vai inteiramente ao encontro do seu comentário. A alternativa a esta histeria que nos vai colocar na miséria teria sido a imunidade de grupo. É claro que se teria que ter colocado o foco de todas as precauções nos grupos de risco.
    Cada vez mais sinto que esta loucura toda é orquestrada pela OMS (liderada por um sujeito a quem eu nunca compraria um carro), tendo como objectivo algo de muito obscuro.


  • Sem imagem de perfil

    Luís Lavoura 26.03.2020

    Eu não diria que haja aqui uma qualquer orquestração. Essa teoria da conspiração parece-me difícil de sustentar.
    Sinto-me profundamente preocupado com a crise económica que aí vem e com a enorme destruição de vidas humanas úteis que ela vai acarretar. Questiono-me com angústia se não teria sido muito melhor deixar a epidemia seguir o seu curso e matar quem tivesse que matar, mas não estragando as vidas aos sobreviventes.
    Sou pai de filhos e os meus pais já morreram. Preocupo-me comigo e com os meus filhos, não com velhos de 70 ou 80 anos (nem com fumadores, que são as outras grandes vítimas). Eu preferia que os velhos morressem mas eu e os meus filhos não tivéssemos que arcar com a devastação económica que isto vai causar.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.