A coerência dos comunistas
O PCP é muito crítico da Ucrânia, nação violentada, e mantém uma atitude fofinha em relação à Rússia, potência violadora. Entre outros motivos, justificam os comunistas, porque «não se pode ignorar que o regime da Ucrânia suspendeu a actividade de diversos partidos».
Eis, portanto, um motivo que deveria levar o PCP - geralmente elogiado pela sua inabalável coerência - a criticar a República Popular da China, país onde todos os partidos estão proibidos, como no Portugal de Salazar, excepto o partido único, o do poder absoluto, o que governa aquele país com punho de ferro há 74 anos.
Afinal a coerência dos comunistas portugueses é como as ondas na praia: vêm e vão. Por isso lá anda o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, em visita de amizade à China, a convite do partido homólogo. O tal partido único, o tal do punho de ferro, o tal que desde 1949 empurrou toda a oposição para a cadeia, o exílio ou a morgue.
Também em nome da coerência, espera-se que Raimundo faça como o seu antecessor no partido, Jerónimo de Sousa, que numa visita a Pequim em 2013 apelou ao reforço do investimento chinês em Portugal. Não consta que por lá tenha levantado a voz contra a participação chinesa na EDP, através da China Gorges, e na REN, através da Fosun.
O apelo de Jerónimo aos seus camaradas chineses foi escutado: a República Popular da China é já o quinto país estrangeiro que mais investe em Portugal e o maior investidor no nosso mercado de capitais - a tal «economia de casino» a que aludem os comunistas cá no burgo.
Bom tema de conversa entre Raimundo e os seus amáveis anfitriões à hora do chá.