A casta
Eis um "estado de emergência" à portuguesa: os políticos, em vez de darem o exemplo de respeito pelas normas que impõem aos outros, assumem-se como casta separada do conjunto dos portugueses, preparando-se para comemorar o 25 de Abril em sessão solene da Assembleia da República. Violando assim as regras de drástico confinamento que aprovaram naquele mesmo local.
Voltamos, assim, a ter dois países dentro do País. O país que manda e o país que obedece.
No país que obedece, há cidadãos a ser detidos por "crime de desobediência" - por recusarem levantar-se de um banco público onde estão sentados sem ninguém ao lado, por caminharem solitariamente junto à praia.
No país que obedece, vemos compatriotas submetidos a "cercas sanitárias" impostas por autarcas armados em xerifes ou líderes regionais sequiosos de palco público em concelhos onde existem "dez novos casos" (!) de infectados.
No país que obedece, milhares de pessoas são impedidas de assistir a funerais de familiares e amigos, em nome das drásticas regras sanitárias, e há gente que chora por não ter sido autorizada a despedir-se de um ente querido. Nunca terão segunda oportunidade para o fazerem.
Entretanto, no país que manda, a casta - integrando largas dezenas de pessoas pertencentes a grupos de risco - prepara-se para reunir, à porta fechada, em festiva violação das normas que parecem dirigir-se só aos outros, entre despropositadas e até insultuosas loas retóricas à "liberdade" em pleno estado de emergência. Num momento da vida nacional e mundial que devia ser de recolhimento e luto, não de celebração seja do que for.
Depois lamentem-se de haver por aí muitos "populistas", fartos de verem dois países dentro do País. João Soares foi o primeiro a perceber isto: leiam e meditem no alerta dele.
Leitura complementar:
Pandemia(7): O 25 de Abril é de todos! De Vital Moreira, na Causa Nossa.
Pandemia (9): Democracia celebratória. De Vital Moreira, na Causa Nossa.