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Delito de Opinião

A caminho do 26J (V) – O debate

Diogo Noivo, 14.06.16

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Ontem à noite, Mariano Rajoy (PP), Pedro Sanchez (PSOE), Albert Rivera (Ciudadanos) e Pablo Iglesias (Unidos Podemos) defrontaram-se no primeiro e único debate entre os principais candidatos a Presidente de Governo de Espanha. Os indecisos rondam os 30%, a maior percentagem desde a transição democrática, e a possibilidade de que um dos quatro partidos obtenha a maioria absoluta é tão real como um unicórnio. O cenário político, embora diferente daquele que saiu das eleições de 20 de Dezembro, continua a ser de bloqueio. O debate era, portanto, decisivo. Tentei resumir as 9 páginas de notas e de rabiscos que fui tirando ao longo das duas horas de debate. Eis o resumo possível:

 

1. Unidos Podemos“No soy tu rival, Pedro”

Pablo Iglesias fez valer a posição de segunda força política nacional que lhe foi outorgada pelas sondagens. Tratou o PSOE com condescendência e ignorou o Ciudadanos, conferindo assim a Mariano Rajoy a condição de único adversário. Falou de igual para igual com o Presidente de Governo em funções. De acordo com as sondagens, só um dos dois poderá chefiar o Executivo, uma ideia que Iglesias explorou à saciedade, tanto na forma como no conteúdo. Defendeu-se dos vários ataques que lhe foram dirigidos por Pedro Sánchez, Secretário-Geral do PSOE, com a frase “no soy tu rival, Pedro”, recentrando dessa forma as baterias em Rajoy e no Partido Popular.

Tendo por base o programa eleitoral do Unidos Podemos, um dos moderadores perguntou a Iglesias se ia a Bruxelas com um Orçamento de Estado onde dispara a despesa pública. Iglesias disse que sim. Acrescentou que há outros líderes europeus a fazer o mesmo, entre os quais “el señor Costas (sic), de Portugal”. Portugal esteve no debate uma única vez e foi na qualidade de exemplo respeitável para o Unidos Podemos

 

2. Partido Popular“Governar no es fácil”

Dos quatro candidatos, Mariano Rajoy é o único candidato com experiência governativa. Por essa razão, o presidente dos populares tentou transformá-la num activo. E foi esse o eixo central das suas intervenções.

Enfatizou os números positivos: exportações, criação de emprego, inflação, entre outros. Defendeu-se como pôde em matéria de corrupção, um tema onde chocou bastante com Albert Rivera e Pablo Iglesias. Para Rajoy, a obsessão dos outros partidos com a corrupção no PP é fruto de uma “mentalidade inquisitória”.  

Rajoy foi atacado por todos, mas não perdeu a pose de estadista. A última legislatura mostra que a imutabilidade do presidente do PP é simultaneamente um defeito e uma virtude. Ontem foi uma virtude. E venceu a guerra das expectativas: não foi tão atacado como se esperava, dividindo o pelourinho com Pablo Iglesias – o que beneficiou o presidente dos populares.

 

3. PSOE“Los extremos no lo permitieron”

Pedro Sánchez estava obrigado a atacar. Tinha dois objectivos indissociáveis a cumprir: constituir-se como a única alternativa viável ao PP; e recuperar a liderança da esquerda. A cada objectivo, Sánchez fez corresponder uma mensagem. Em primeiro lugar, disse não ter formado governo porque foi impedido pelos extremos, leia-se pelo PP e pelo Podemos. Ao colocar Rajoy e Iglesias em extremos opostos, Sánchez pretendia tornar-se o representante do centro moderado. Em segundo lugar, e apesar das inúmeras críticas a Iglesias, o fel do líder socialista foi quase todo dirigido a Mariano Rajoy. Isto é, tentou içar-se ao lugar de principal oponente da direita.

Sánchez não trouxe nada de novo, não foi capaz de surpreender e não explicou as poucas propostas que apresentou. Foi incapaz de perturbar Mariano Rajoy, ao contrário do que sucedeu no frente-a-frente para as eleições de 20 de Dezembro.

 

4. Ciudadanos“Frenar el populismo”

Alert Rivera foi impiedoso com Pablo Iglesias. Entre outros ataques, recuperou um tweet do líder do Podemos a respeito da vitória do Syriza na Grécia - "chegou a mudança: primeiro a Grécia, depois Espanha". Ou seja, não fosse alguém esquecer-se, Rivera lembrou sempre que pôde ao eleitorado que Iglesias é populista e radical. 

O presidente do Ciudadanos foi igualmente duro com Mariano Rajoy, mas deu um passo ao lado. Isto é, deixou de ser explícito na exigência de renúncia, dizendo agora que o líder do PP deveria reflectir sobre a sua permanência na liderança do partido. De forma hábil, afirmou que a manutenção de Rajoy contribui para o crescimento do populismo do Podemos. E não se esqueceu de referir uma sondagem recente onde a maioria dos votantes do PP dizem admitir a saída de Rajoy se isso facilitar os acordos de governo.

Albert Rivera dedicou-se demasiado aos soundbites e às intenções oníricas, adquirindo um tom demagógico que é raro nele.