A caminho do 26J (II – parte 2) - Partido Popular
Seis meses de gestão
Vistos os resultados das eleições de 20 de Dezembro de 2015, todos os partidos se recusaram a celebrar um pacto com o PP ou mesmo a viabilizar a posse de um governo Popular no parlamento – o Ciudadanos chegou a admitir essa hipótese, mas não com Mariano Rajoy na liderança do partido. Aliás, generalizou-se a ideia que Rajoy é “o” problema e que a sua saída facilitaria a resolução do impasse político. A ser verdade, é difícil explicar o como e o porquê de afastar alguém que ganha eleições e que o faz nas condições mais adversas.
Sabendo que não dispunha dos apoios necessários para ser investido, Mariano Rajoy recusou a indigitação oferecida pelo Rei Filipe VI. Passou então a bola para o campo da oposição. O resultado foi um impasse político motivado pelas razões que escrevi aqui. As conversações entre PSOE, Ciudadanos e Podemos, e em particular as guerras à esquerda, sequestraram por completo o espaço mediático, o que ofereceu a Mariano Rajoy a possibilidade de não ter que entrar em despesas políticas.
No entanto, os problemas não desapareceram. Os processos judiciais que envolvem militantes do PP tiveram novos desenvolvimentos (todos pouco edificantes) e Mariano Rajoy perdeu um ministro da sua confiança pessoal ao ser revelado que este tivera contas na offshore do Panamá.
Chega o mês das eleições. Segundo as sondagens, o PP repete a vitória, embora continue a faltar a maioria que permite governar sem depender de terceiros. Rajoy é mal amado, lidera um partido popular apenas de nome, enfrenta condições extraordinariamente adversas, mas continua a ser o líder mais votado. Haverá uma componente de mistério nestes resultados, mas é possível elencar algumas das razões que explicam os números favoráveis do PP: (i) o eleitorado dos Populares é – junto com o eleitorado do Unidos Podemos – dos mais mobilizados para o acto eleitoral; (ii) o PSOE, adversário tradicional do PP, não acerta com a mensagem e não fixa os seus eleitores; (iii) Rajoy, ainda que sem carisma, é visto como alguém simpático, simples e acessível, o que contrasta com os desvarios de alguns quadros do PP envolvidos em processos judiciais; (iv) o radicalismo do Unidos Podemos parece assustar o centro, votantes que ainda decidem eleições; (v) Rajoy não entrou na arena de insultos e de tensão que caracteriza a pré-campanha, preservando assim uma imagem de serenidade e de sentido de Estado que é útil a quem quer convencer os espanhóis de estar em melhores condições para liderar o país.
O tom da campanha
Esta segunda-feira o PP divulgou o seu vídeo de campanha eleitoral. Simples, original, com sentido de humor e com uma mensagem positiva. Numa frase, a ideia é a seguinte: sabemos que somos impopulares, sabemos que uma parte importante do eleitorado está cansada de nós, mas não votem nos outros apenas para nos penalizar pois está em jogo o futuro do país. A frase central, "A Favor", é um apelo à responsabilidade dos cidadãos, mas é igualmente um recado para os partidos da oposição, especificamente para o PSOE e para o Ciudadanos. Ou seja, é um estender de mão a estes dois partidos, convidando-os a abandonar as linhas vermelhas e as acrimónias pessoais.
Para já, não resultou. Todos continuam com o PP na mira. O Unidos Podemos, cuja razão de ser é o sorpaso ao PSOE e disfarçar a perda de votos sofrida pelo Podemos, esconde estes propósitos inconfessáveis em público sob a capa de desinstalar a direita do poder. O PSOE, acossado pela sua esquerda, tenta conquistar o centro e recuperar alguns dos votos perdidos para o Unidos Podemos, mas sempre defendendo que a mudança só e possível com um governo progressista de esquerda. Ou seja, tem como alvo o PP. O Ciudadanos admite negociar com todos, sendo no entanto taxativo na recusa em chegar a um acordo com Rajoy – Albert Rivera, presidente do Ciudadanos, chegou a dizer que se estivesse Pablo Casado na liderança do PP tudo seria mais fácil. Mas a campanha ainda vai no adro.
[A primeira parte deste texto pode ser lida aqui]