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Delito de Opinião

A caminho do 26J (II – parte 1) - Partido Popular

Diogo Noivo, 07.06.16

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Mariano Rajoy Brey é um caso raro de sobrevivência política. O seu percurso, sobretudo nos últimos anos, é uma história quase inexplicável de resistência a tudo e a todos (e até a ele próprio). Perdeu duas eleições legislativas consecutivas sem nunca abandonar a liderança do Partido Popular (PP). Depois de oito anos na oposição, obtém uma maioria absoluta e forma governo para ver-se a braços com uma crise internacional, uma crise nacional e uma crise de reputação partidária. Repete a vitória nas legislativas de Dezembro de 2015, embora sem a maioria necessária para formar governo. Passados seis meses de chefia de um Executivo em gestão, Rajoy volta a apresentar-se às eleições generales do próximo dia 26 de Junho.

 

De derrota em derrota…

 

Em 2003, Mariano Rajoy é escolhido para suceder a José Maria Aznar na presidência do Partido Popular e, consequentemente, para assumir o papel de candidato a Presidente de Governo nas eleições legislativas do ano seguinte. À mesa dos mentideros, Rajoy é visto como a consequência da vaidade de Aznar. Zeloso do seu legado político, Aznar terá visto em Rajoy um político tímido e sem carisma. Portanto, alguém que não faria sombra aos oito anos do Executivo “España va bien” por ele liderado. Trate-se ou não de um maquiavelismo mal intencionado de quem conspira nos arrabaldes do poder, a verdade é que suceder a uma figura carismática e forte como Aznar não foi certamente uma tarefa fácil.

Tudo parecia estar de feição para uma vitória do PP nas generales de Março de 2004. Porém, dias antes das eleições, um brutal atentando terrorista, a reacção do PP a esse atentado e a organização de manifestações “espontâneas” contra o governo Popular provocaram um terramoto no sentido do voto dos eleitores. O PP perdeu as eleições para o PSOE de José Luis Rodríguez Zapatero. Rajoy manteve-se na liderança do partido.

Quatro anos mais tarde, em Março de 2008, Rajoy volta a apresentar-se como candidato a Presidente de Governo. Perde novamente as eleições para os socialistas de Zapatero. Rajoy permanece na presidência do PP.

 

…até à vitória aritmética.

 

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Após oito anos de oposição, Mariano Rajoy consegue vencer as eleições de 2011. O PP obtém a maioria absoluta com 186 mandatos (num total de 350) e com 44% dos votos. Mas as razões para festejar rapidamente desapareceram. A crise internacional destapou um conjunto de problemas estruturais do país, em particular no sector imobiliário. Apesar de não ter pedido um programa de resgate formal, o Governo espanhol viu-se obrigado a implementar sérias medidas de austeridade. Como um problema nunca vem só, o espaço público foi invadido por uma torrente de casos de corrupção e de branqueamento de capitais onde estavam envolvidos militantes do PP – um desses casos, porventura o mais célebre, já tem versão cinematográfica. Olhando acriticamente para as notícias, parece não haver no PP um único lugar impoluto: das estruturas nacionais às locais, de militantes de base a altos quadros do partido, nada parece escapar à obscuridade do crime financeiro e do abuso de poder. Pelo contrário, um olhar atento verá que não há uma situação de corrupção endémica, que o PP não é o único partido com problemas com a justiça, e que em muitos dos casos ainda não foi deduzida acusação. Contudo, dos vários partidos, o PP é aquele cuja reputação mais sofre com os sucessivos casos de corrupção e de branqueamento de capitais.  

O contexto político saído destes quatro anos de governação prenunciava uma hecatombe eleitoral sem precedentes. Contra Rajoy jogava ainda o aparecimento de novos partidos, o Podemos e o Ciudadanos, muito críticos do bipartidarismo PP-PSOE, e que foram capazes de mobilizar eleitorado e de demonstrar uma sagacidade invulgar nas suas estratégias de comunicação política. Novos ou velhos, todos os partidos da oposição escolheram o PP como alvo a abater. No dia 20 de Dezembro de 2015, o PP perde votos e mandatos, mas ainda assim é o partido mais votado – o PP obtém 28,72% dos votos, o PSOE 22,01%, o Podemos 21,67% e o Ciudadanos 13,93%.

 

[Publicarei a segunda parte deste texto amanhã]

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