A caminho do 26J (I) – A esquerda que sorri e a esquerda que não sabe o que fazer
A coligação entre Podemos e Izquierda Unida (IU), designada Unidos Podemos, consegue o "sorpaso": a avaliar pelas sondagens, será a segunda força política mais votada nas próximas eleições, ultrapassando os socialistas do PSOE pela esquerda, que são atirados para um pálido terceiro lugar. A pouco menos de um mês do acto eleitoral, as sondagens publicadas pelo El País e pelo El Mundo coincidem e dão ao Unidos Podemos cerca de 24% dos votos.
A união entre as duas forças de esquerda não é pacífica, desde logo no seio dos partidos que a constituem. Iñigo Errejón, número dois do Podemos, expressou em público as suas dúvidas, nomeadamente se a união dos dois partidos se traduzirá numa soma dos votos por eles obtidos nas eleições de 20 de Dezembro. Mas mais importante, Errejón acrescentou que o Podemos deve ser um partido transversal. Por outras palavras, deve evitar a tradicional dicotomia esquerda-direita e, à semelhança dos demais populismos que enxameiam a Europa, aferrar-se à lógica novos vs. velhos, reformadores vs. sistema, “los de arriba vs. los de abajo”. Portanto, Iñigo Errejón teme que a aliança com a IU, aos olhos do eleitorado do Podemos, seja interpretada como uma cedência ao “sistema” e, por outro lado, uma inserção deliberada do Podemos no lado esquerdo do espectro político.
Do lado da IU também há dúvidas, embora menos audíveis. Julio Anguita, líder histórico da IU, sempre hesitou bastante a respeito da união com o Podemos. Mas houve um momento em que tudo parecia estar ultrapassado. No evento que oficializou a aliança eleitoral, Anguita deu um abraço emotivo a Pablo Iglesias e chegou a estar prevista a sua entrada nas listas para o parlamento, em lugar não elegível, como figura tutelar que apadrinha a união. No entanto, dias depois, Anguita afastou a possibilidade de fechar a lista do Unidos Podemos em Córdova e não tem participado na pré-campanha. Anguita disse não estar disponível para regressar à política activa, nem de forma simbólica. Observa “con asombro” que, desde que o Podemos propôs a sua integração nas listas “se extiende como un reguero de pólvora la idea de que yo voy a ir en el número seis, cuando nadie desde ese día me ha consultado sobre mi opinión al respecto.”
Perante este quadro, e fazendo fé nas sondagens, o êxito eleitoral do Unidos Podemos é demérito do PSOE. Nas eleições de 20 de Dezembro, depois de quatro anos de políticas de austeridade capitaneadas pelo Partido Popular, o PSOE obteve o pior resultado desde 1977. Passadas as eleições, foi incapaz de formar governo e, segundo as sondagens do El País e do El Mundo, continua a perder votos, agora para o Ciudadanos e para a abstenção. Para rematar o cenário desastroso, note-se que o lugar de segunda força política está em jogo tanto em número de votos, como em mandatos. Para já, é pouco provável que o PSOE seja derrotado pelo Unidos Podemos em mandatos. Por isso, a aliança de esquerda, para além da nova aposta nos sorrisos, avisa diariamente que as eleições são ganhas por quem tem mais votos. O recado é claro. Em suma, o PSOE está há seis meses em maus lençóis e, vendo de fora, parece não saber como resolver o problema.
A confirmarem-se os resultados apresentados pelas sondagens, Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, tem quatro caminhos: (i) viabilizar um governo do PP; (ii) celebrar um acordo pós-eleitoral com o PP para formar governo; (iii) viabilizar um governo do Unidos Podemos; ou (iv) entrar em pacto pós-eleitoral com o Unidos Podemos. O Ciudadanos será uma peça importante no momento em que Sánchez tiver que escolher. Mas seja qual for a opção, o PSOE corre o risco de ser o novo PASOK. E seja qual for a opção, Pedro Sánchez dificilmente permanecerá na liderança do PSOE.