A benfiquização do PSD
Luís Filipe Vieira com Fernando Seara
Se há matéria em que tenho genuína esperança de alteração de procedimentos no PSD, com a chegada de Rui Rio à liderança, é na relação entre o partido e o futebol. No seu mandato de 12 anos à frente da Câmara Municipal do Porto, Rio fez frente com sucesso aos poderes fácticos do mundo da bola que contaminam os circuitos políticos e transformaram vários dos seus antecessores numa espécie de valetes do FC Porto.
Em Lisboa, o novo presidente social-democrata deverá acautelar-se sobretudo com a tendência para uma inaceitável promiscuidade entre o PSD e o Benfica, fenómeno que ficou bem patente - com manifesto inêxito - nas recentes eleições autárquicas.
Luís Filipe Vieira e André Ventura
Numa tentativa quase desesperada de recuperação da popularidade pela via mais fácil e demagógica, o partido apostou em várias figuras ligadas ao reduto encarnado. Desde logo, candidatando à presidência da Câmara de Lisboa Teresa Leal Coelho, que foi administradora da sociedade anónima desportiva do Benfica no deplorável consulado de Vale e Azevedo.
O PSD apostou também, para a Câmara de Odivelas, em Fernando Seara, que durante anos representou o clube da águia em programas de debate na RTP e na TVI 24, além de ter sido frustrado candidato à presidência da Liga de Clubes.
Para a Câmara de Loures, não encontrou melhor do que André Ventura, um jurista que transitou da direcção de campanha de Luís Filipe Vieira à reeleição no Benfica para o painel de comentadores futebolísticos da CMTV, disparando impropérios contra sportinguistas e portistas com a mesma desenvoltura que o levou a estigmatizar a população cigana deste concelho.
Em Oeiras, designou como seu candidato Paulo Vistas, ex-braço direito de Isaltino Morais, que em plena campanha eleitoral utilizou desbragadamente o "trunfo" benfiquista numa tentativa infrutífera de caçar votos, ao apresentar um projecto de uma putativa Cidade Desportiva das Modalidades em parceria com o presidente encarnado, Luís Filipe Vieira.
Paulo Vistas com Luís Filipe Vieira
Quatro candidatos pelo distrito de Lisboa, quatro pessoas ligadas ao Sport Lisboa e Benfica, quatro casos de estrondoso fracasso nas urnas.
Espero que o sucessor de Passos Coelho ponha cobro a isto. Pelo menos tão má como a futebolização da política, é a benfiquização dos partidos - neste caso do PSD, o que aliás lhe retira toda a autoridade moral para criticar o ministro das Finanças por se instalar de borla na tribuna presidencial do Estádio da Luz, em possível colisão com o código de conduta aprovado pelo próprio Governo.
Se Rui Rio inverter esta tendência, irá na direcção correcta. Mesmo que possa irritar alguns dos seus conselheiros, que encaram o futebol como uma espécie de prolongamento da política. Basta aplicar em Lisboa - e no País - o mesmo distanciamento salutar que pôs em prática no Porto.