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Delito de Opinião

A taça é nossa

jpt, 26.05.19

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É só futebol mas vivo-o (it's only rock 'n' roll, but I like it). Até demais ... E é, como disse, clarividente, o Francisco José Viegas, um antídoto contra a solidão.

Ontem, aqui na tasca vizinha, tamanha me foi a comoção final que a pressenti, à ceifeira, seu hálito e até seu afago: mais uma destas e ainda me dá o treco! E depois?, qual seria o problema? Que interessam os desconseguimentos, as interrupções, o desfeito e o infeito? Que mais será de pedir nisto do que o enfeite  do final feliz?

 

Já vai sendo tempo

Pedro Correia, 30.04.19

O Pedro Boucherie Mendes chama aqui a atenção para um facto que tem passado totalmente à margem dos titulares encartados do comentário jornalístico: vai agora fazer um ano, foram detidos cerca de 40 indivíduos ligados a claques do Sporting por terem invadido as instalações da academia leonina e agredido jogadores, funcionários e elementos da equipa técnica do clube. Repito: há quase um ano. Continuam em regime de prisão preventiva, ignorando ainda se serão deduzidas acusações contra eles, bem como a data em que poderão enfim submeter-se a julgamento.

Como adepto e sócio do Sporting, critiquei sem a menor reserva este inadmissível acto criminoso, que projectou pelos piores motivos o nome do meu clube além-fronteiras, com as imagens da invasão de Alcochete dando a volta ao mundo. Mas é inaceitável este abuso da prisão preventiva: sem acusação formal, todos estes indivíduos já cumprem pena. E cito o Pedro, justamente perplexo contra o tempo e o modo de funcionamento da justiça portuguesa: «Presos há quase um ano sem culpa formada, ninguém liga, ninguém quer saber. Podia ser uma série da Netflix, mas é aqui, em Portugal, com gente verdadeira. Fizeram mal em invadir Alcochete? Claro, mas digam-lhes quanto devem à sociedade. Um mês, um ano, 5 anos, 500 anos? O que for, mas digam-lhes. Já vai sendo tempo de a Amnistia, os partidos políticos e as mil e umas ONGs que vivem penduradas na indústria dos subsídios abrirem o bico.»

Sim, caramba, vai sendo tempo.

O esgoto estatal

jpt, 01.12.18

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Um antigo presidente de um clube desportivo é sujeito a um interrogatório, no âmbito de uma investigação ampla, ainda em curso. Depois o Estado (uma sua secção, chamada "ministério público") entrega as gravações desse interrogatório à televisão estatal e autoriza-a a transmiti-las: aqui, um programa da RTP com excertos das declarações de Bruno de Carvalho, anunciando a sua reprodução como autorizada pelo tal "ministério público".

Decerto que há um qualquer quadro legal que permite isto, safando os funcionários públicos e fazendo medrar esta mentalidade. Mas isto é inqualificável. O estado do Estado é um descalabro. Uma cloaca a céu aberto, onde engorda esta gente.

Mourinho

jpt, 08.11.18

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(Postal para o És a Nossa Fé

 

Juventus-Manchester United, no palco global da “Champions” o jogo entre as equipas dos dois portugueses mais conhecidos do mundo, pelos seus extraordinários méritos. Também por isso eles alvos de tanta raiva nacional, mostra desse traço cultural constante, a inveja dos patrícios com sucesso “lá fora”, tão paradoxal e desprezível num país que foi colonial (e abominou os seus colonos) e é de emigração (e menospreza os seus emigrantes). A abjecta reacção generalizada, isenta daquilo chamado “dúvida”, às acusações de uma acompanhante de luxo a Cristiano Ronaldo, é um caso extremo disso. Mas é algo continuado, há uns anos (2012, 2013?), num treino da selecção antes de um jogo particular em Guimarães o público gritava “Messi, Messi” para espanto do CR7. Pois porquê aquilo? Tal como a constante maledicência sobre Mourinho – há quantos anos, 10?, se lêem inúmeros comentários e opiniões na imprensa sobre o estar ele “ultrapassado”? – disso é prova.

Ontem o confronto (também) entre eles. Algo que connosco fala, sportinguistas, sobre o nosso clube. O CR7 orgulho máximo da nossa formação, encabeçando o trio maravilha de três décadas gloriosas, Futre-Figo-Cristiano. Talvez o melhor jogador do mundo, e cada vez mais isso se evidencia (Messi como o génio trabalhado, Ronaldo como o trabalho genial). E Mourinho, o técnico em actividade com mais vitórias relevantes, em tempos recusado pelo Sporting (um dos três erros históricos do clube, junto aos com Eusébio e Futre). Negado, julgo recordar (ou sonho a memória?), quando o actual director do futebol do Sporting, então capitão, se armou em Sérgio Ramos e torpedeou em público essa vinda, associando-se aos sábios espectadores, esses sempre armados de vigorosos lenços brancos, que clamaram inadmissível que um treinador transitasse do Benfica para o Sporting. Pois desde há décadas que os fungões espirram …

Enfim, vem isto a propósito do final do jogo de ontem. Mourinho, que em Manchester e Turim foi azucrinado pelos adeptos italianos, jogou bem e triunfou. A Juventus é melhor, ganhara soberbamente fora e em casa tinha o jogo na mão. CR7 fez um jogo magnífico, um golo espantoso e deu outros a marcar, desperdiçados por pés Quadrados. Mas Mourinho pensou bem, substituiu melhor, e teve a sorte (essa grande jogadora) por ele. E fez a reviravolta, mesmo no fim. Jogo épico.

Mas o que é mesmo magnífico é a sua reacção. Provocatória, deselegante, desnecessária, digam o que disserem. Mas é uma delícia. Porque é futebol. Mas ainda mais do que isso, porque é completamente portuguesa. Não exactamente o gesto da mão na orelha, algo mais comum. Mas é aquele trejeito da boca, “hâânnn?”, “dígam lá agóra!!”. Algo, ricto e óbvio som, tão nosso, tão português de rua, bairro, popular, tão “tuga”, tão treinador da bola, como se fosse ali aqueles técnicos dos tempos de antes, os do Aliados do Lordelo ou do Montijo a ganharem à Sanjoanense ou ao Amora, assim a fazer o mundo pequeno e igual quanto às mesuras que se lhe (não) deve, e nisso também tão eu, tão nós, os que não temos nem vergonha de ser portugueses nem abominamos os nossos que ganham alhures. Vejo-o ali na tv e rio-me, gargalho, “ah g’anda Mourinho, meu patrício”, meu e nosso orgulho amanhã. Saídos à rua, entre nós e com os outros, “hâânnn?”, “dígam lá agóra!!”. Nós povo, rindo, que hoje no fim do dia tragaremos o “petit verre”, escorropicharemos o bagaço branco, e irei eu até à rua, à porta da “petite restauration”, a tasca daqui, a fumar o cigarro e, se necessário, no choque com o frio, assoar-me-ei aos dedos, sacudindo o ranho para o chão, e se calhar ainda terei que cuspir, na azia do álcool. E, entre nós, riremos, com desprezo mas também mágoa, desses invejosos lá na terra. E ainda mais, com gargalhada mesmo, com alguma amarga piada sobre essa paneleirage, tão amaricada, sensíveis coitadinhos, a agitarem os lencinhos brancos, arrebitados em meneios no “olhem para mim”, que é para isso que lhes servem os trapos.

G’anda Zé Mourinho, g’anda patrício. E viva também o CR7, o melhor do mundo.

Presidente Varandas

Pedro Correia, 09.09.18

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Contados os votos num dia histórico no Sporting, confirma-se a vitória daquele que sempre me pareceu o candidato mais preparado. Aquele que conhece bem o desporto-rei, que serviu o clube como competente director clínico durante sete anos, que trabalhou no departamento de futebol leonino e foi ali o primeiro a avançar corajosamente contra o desvario carvalhista, rompendo sem ambiguidades com uma gestão caótica e danosa enquanto outros, cá fora, se resguardavam. Aquele que, com inegável desassombro, soube erguer a voz no momento certo proferindo a palavra "não".

Ganha por margem confortável, com cerca de 42,3% dos votos - superando em 5,5% o seu principal oponente nesta campanha, João Benedito, que se apressou a felicitá-lo com elegância e galhardia. Margem que lhe permitirá gerir este grande clube, concentrando todas as energias e todo o seu talento ao serviço da centenária instituição de utilidade pública que tanto amamos.

 

O mais difícil começa agora. Terá momentos muito complicados no percurso que vai seguir-se. Atravessará horas de extrema solidão. Conhecerá invejas e ingratidões, próprias da natureza humana. Com firmeza e tacto, deverá recompor os cacos a que o presidente destituído em 23 de Junho reduziu o Sporting.

Frederico Varandas conduzirá esta empreitada com sucesso, acredito. Para bem desta incomparável massa adepta que não desiste nem deserta mesmo com prolongados jejuns de títulos. Unir o Sporting - seu lema de campanha - é prioridade máxima do novo presidente. Do meu presidente.

Do presidente de nós todos.

Afinal nunca foi sportinguista

Pedro Correia, 24.06.18

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Sendo as evidências o que eram, e depois de tudo quanto se passou - todos os atropelos à legalidade, todas as aldrabices que se iam acumulando, todas as promessas violadas ao sabor das conveniências, todos os atentados grosseiros à identidade leonina - o que verdadeiramente me espanta é verificar que Bruno de Carvalho ainda conseguiu recolher ontem quase 30% dos votos dos associados leoninos.

Enganados até ao fim pelo homem que, já ia muito adiantada a madrugada de hoje, em nova insónia partilhada com o ecrã digital que lhe serve de mau conselheiro, assume enfim a verdadeira face: afinal nunca foi sportinguista. As expressóes de ódio, ranço e asco ao clube e aos associados que bolçou neste mais recente texto da rede social a que está agarrado revelam bem isso. Expressões indignas de um sportinguista, que só concebemos na boca e na pena de um inimigo do nosso clube.

 

Expressões que recordo aqui, para memória futura:

«Não consigo mais sentir este Clube... Não sou mais do Sporting Clube de Portugal.»

«Hoje deixei de ser para sempre sócio e adepto deste Clube.»

«Esqueçam os associados pois nunca vão mandar neste Clube... Vão ser sempre fantoches desta elite que só permite entrar quem se render aos seus interesses.»

«Vocês não contam para nada neste SCP que é de Viscondes....»

«Não quero fazer parte de um conjunto de cretinos que não valem o ar que respiram. Não me quero mais aproximar de uma elite bafienta e mal cheirosa que sempre dominou o Sporting Clube de Portugal!»

«A minha carta de suspensão vitalicia de sócio segue segunda-feira e nunca mais seguirei sequer os eventos desportivos do Clube.»

 

Mostrou enfim a verdadeira face. A de um desequiilbrado. A de um mitómano. A de um sociopata. Sai pela porta dos fundos, sem honra nem glória nem dignidade. Insultando o clube que devia ter servido e os sócios a quem jurou lealdade e competência.

Tudo menos Leão.

Só me espanta como é que podia haver ainda tanta gente convencida de que fizesse parte da solução alguém que era o maior dos problemas.

Muito para além do Sporting

jpt, 16.06.18

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(Texto que coloquei há dias, em versão algo diferente, no És a Nossa Fé. Deixo-o aqui por desafio de uma leitora/comentadora de ambos os blogs).

 

Por antipático que isto pareça aos sportinguistas, em especial neste período de exaltação clubística, não "é ao Sporting que devo lealdade e fidelidade", como tantos reclamarão, em registo algo “futebolês”, como factor de legitimidade opinativa e, acima de tudo como invectiva aos trabalhadores jogadores de futebol que estão a rescindir os seus contratos laborais. Devo "lealdade ..." indiscutível à Pátria (ao país, como prefiro dizer), à minha família, ao meu parentesco espiritual (os meus amigos). E devo lealdade a quem me rodeia, como ser humano, e de forma mais explícita no âmbito das relações laborais. [E junto, tipo nota de rodapé, que abomino o conceito de fidelidade, que entre pessoas é o refúgio dos medíocres - deixemos agora de fora a vida conjugal, que cada um a viva como quer].

 

O Sporting Clube de Portugal é um clube, uma associação desportiva, e estas grandes proclamações muito absolutas e grandiloquentes casam bem com a tal exaltação, nos eventos desportivos e nestes difíceis momentos. Mas não, nada mesmo, na normalidade do dia-a-dia. Pois, de facto, confundem valores, mostram até algum vazio de valores. Alguns contestarão isto, reclamarão a sua paixão imorredoira pelo clube. Mas se lhes aparecer um vizinho a dizer, com grande ênfase, jorrando perdigotos, como se falasse de um qualquer Padroado, "eu devo lealdade e fidelidade ao Olivais e Moscavide" ou a um outro qualquer "Santa Marta de Penaguião Futebol Clube" decerto que sorrirão, tal o descabido, até ridículo, da afirmação. Mas é exactamente a mesma coisa com qualquer associação desportiva. Que cada um exerça a paixão clubística à sua maneira, mas que se lhe exija um tino de cidadania, uma perspicácia sobre a relevância relativa daquilo que nos rodeia.

 

O que se passa no Sporting ultrapassa em muito a questão clubística - ainda que esta seja tão sonante e premente que nos monopolize a atenção. No clube, grande instituição nacional, de enorme influência formativa entre os seus adeptos e em toda a sociedade, predomina uma soez cultura anti-democrática.  Bruno de Carvalho despreza a liberdade e pluralidade de opiniões internas (veja-se o enviesado trabalho do sector informativo interno), a diversidade da sociedade ("bardamerda para os que não são do Sporting", clamou aquando reeleito), e o primado da lei (a rábula das assembleias e dos órgãos dirigentes que quer instaurar).

 

Mais repugnante do que isso, mas inserível no mesmo modo de "ver o mundo", é como olha as relações laborais. BdC entende-se patrão, numa concepção que atribui ao patronato o direito ao assédio ("assédio" não é apenas "assédio sexual", essa questão actual) aos trabalhadores, a sobre-pressão, a invectiva, entendendo-a como “motivadora”, o desrespeito, moral e profissional. Mostram-no, de forma radical, o conteúdo das mensagens que envia aos atletas do clube. E sublinha-o, agora, a divulgação de mensagens privadas que com eles troca, um desrespeito total (e ilegal, ao que me dizem, mas isso é matéria de outro âmbito).

 

O assédio laboral é um crime, ilegal e imoral. Indesculpável, em público e pior até se em privado. Quem o pratica é indigno, não merece respeito. Sabemos (“ouvimos dizer”) que é recorrente, sob plurais formas. E ainda que haja procedimentos legais, enquadramentos sindicais, judiciais e associativos, que protegem os trabalhadores, muitos têm constrangimentos que os levam a aceitar inaceitáveis comportamentos de patronato ou de hierarquias laborais. 

 

Alguns dirão que jogadores de futebol muito bem pagos não são credores da nossa simpatia e solidariedade num caso destes. Não é essa a questão. O que se passa é que BdC tem uma visão da realidade, do mundo laboral, do seu papel de administrador (que entende como de patrão "à antiga"), que é inadmissível. E, repito, ilegal e imoral. Retrógrada, contrária ao desenvolvimento do país nas últimas décadas, à sua democratização - com todos os defeitos e insucessos que se lhe queiram assacar. Adversa aos valores sociais, jurídicos, religiosos, políticos, dominantes. E, como tal, inadmissíveis na figura de um presidente de uma instituição com o peso do Sporting, com a sua dimensão formativa. Independentemente dos triunfos nas modalidades desportivas, futebol incluído. Independentemente dos hipotéticos sucessos económico-financeiros. Pois Bruno de Carvalho, com a visão de sociedade que tem, é uma persona non grata num país democrático e civilizado. 

 

Entre os comentadores deste nosso És a Nossa Fé vejo um pequeno excerto dos que têm apreço por aquele entendimento, alguns com grande iliteracia (talvez fingida no aspecto gramatical, mas óbvia na dimensão intelectual). Tal como noutros blogs e na imprensa se encontram os seus ecos. Muitos dos adeptos desta maneira de ver o mundo, do destratamento nas relações laborais, será gente que está fora das relações laborais institucionalizadas, geridas sob direitos e deveres regulamentados, com instâncias de recurso. Alguns deles, os tais "jovens" de que se falou aquando das prisões entre-claques, integrarão nichos de economia paralela, marginal até, subterrânea. Reforçada no desemprego que grassou no país. Que funciona(rá) com relações laborais, vínculos operacionais, estabelecidos sobre relações pessoalizadas, discricionárias, essas sim apelando à tal "fidelidade". E assim desconhecedores das culturas laborais institucionalizadas. Muito menos violentas, e saudavelmente protectoras dos trabalhadores. Também para obstar a esta pobre visão da sociedade, para compreensão dos direitos dos indivíduos, é importante que grandes clubes não reproduzam os pérfidos valores sociais que gente como Bruno de Carvalho assume.

 

Por tudo isto, por apreço ao país, ao seu desenvolvimento, a todos nós, às nossas liberdades individuais, tem que haver limites. Que são éticos. Questão que se me levanta diante da notícia das rescisões dos jogadores de futebol, trabalhadores do Sporting, na sequência do inadmissível, anti-democrático, repugnante e continuado assédio (bullying) praticado pelo presidente. Quando numa situação destas vejo chamar, com tudo de pejorativo que isso explicita, "refractários" a esse jogadores, isso cruza a linha do admissível. Mostra uma vil concepção de sociedade, de trabalho, de responsabilidade individual. Mostra o quão anti-democráticos são os locutores. O (Um) clube não une quem tem tão diferentes valores, tão diferentes ideias de sociedade, de "lealdade". E, estou certo, não é no meu lado que habita a abjecção moral. Mas no de quem, seja lá qual for o clube com que simpatiza, concorda com esse tipo de invectivas.

 

Não discuto se os jogadores têm “direito” jurídico para rescindirem contratos, isso é matéria para os tribunais. Mas o que discuto é se têm “direito” para o fazer. Muitos contestam esse “direito”, difuso, invectivando-os, clamando que eles traem o “amor à camisola”, aos “vínculos espirituais”. Leio-o e ouço-o entre gente com formação escolar e biográfica mais do que suficiente para uma outra densidade de reflexão. Demonstram, tantas vezes apesar deles próprios, duas dimensões: cegueira sobre a actualidade; adesão ao fascismo.

 

O “amor à camisola”, o “vínculo espiritual”, é essencial no fenómeno clubismo e parte crucial em vários desportos. Mas a sua realidade tem-se transformado, de múltiplas formas. Abordo apenas uma, relativa a esta situação: muitos sportinguistas afirmam que os jogadores da “formação” (as escolas do clube) são “devedores” morais do clube. Entenda-se, os jogadores jovens, das escolas, têm contratos laborais (diz-me um familiar de um jovem jogador do Benfica que aos 14 anos podem assinar contratos até 1500 euros por mês!!). Os clubes investem na formação no intuito de obterem resultados económicos – seja através do exercício quando seniores, seja na venda das licenças desportivas. A própria formação do clube (do Sporting e não só) é entendida como uma actividade produtiva, económica. Como o mostra o “franchising”, o estabelecimento de “academias” pelo mundo (na China, na África do Sul, etc.), que tanto apreço colhe entre os adeptos. É um “business” global, de obtenção de lucros com a “marca” do clube. Esperamos que os putos “sejam” do Sporting, que lhes germine o tal “vínculo espiritual”? Sim. Mas de facto tudo é uma actividade económica, desde a mais tenra idade dos jogadores (o que até levantará questões muito mais abrangentes, que não coloco aqui). E está no cerne da actividade do(s) clube(s). Os jogadores são formados nos clubes, ganham competências para uma profissão? Sim. Mas, repito, fazem-no no seio de uma actividade económica. Assim pensada pela instituição formadora. Assim entendida pelos formandos (e suas famílias). É uma candura, até desonesta, não compreender isso. E exigir uma assimetria no relacionamento. E vir insultar quem, inserido nesta realidade, actua estrategicamente em defesa dos seus interesses.

 

A outra dimensão, a implícita adesão fascista que este discurso mostra, é muito simples e nem me alongarei. O apreço pelo tempo do “amor à camisola”, em que os jogadores estavam longos anos no mesmo clube, dele se tornavam símbolos, a invocação desses “bons velhos tempos” é transversal aos adeptos do futebol, desde o mais empedernido salazarista ao mais pós-moderno pós-maoísta BE. Ou seja, todos eles têm uma nostalgia pelos tempos em que os jogadores de futebol estavam submetidos à “lei do passe” (desportivo): terminado o contrato não eram livres de escolher o seu próximo empregador, pois os clubes tinham a prerrogativa de os manter nos seus quadros. Um regulamento “servil”, “feudal” se se quiser. E por esse intermédio os jogadores ficavam anos a fio, mesmo que tivessem outros objectivos, no mesmo clube. Após o 25 de Abril isso terminou. Passados largos anos, Valentim Loureiro tentou, como presidente da Liga de Futebol, reinstaurar mecanismos legais relativamente similares (sim, um homem de um partido chamado social-democrata; sim, um homem que visitava Guterres em São Bento levando as criancinhas de Gondomar). Muitos, hoje, em nome do seu clubismo, continuam a trautear esse pérfido “ó tempo volta para trás”. Quando os jogadores de futebol não tinham liberdade de escolher o seu empregador. E chamam “amor” a esse seu desejo fascista. É nitidamente uma concepção sado-maso da vida afectiva e sexual. Ou então é pura patetice.

 

Enfim, que os jogadores do Sporting, que tantas alegrias e expectativas me deram (podiam ter sido mais ..., raiparta) sigam as suas carreiras com sucesso e saúde. Exercendo o seu livre-arbítrio. E que, se ainda for possível, regressem em muito breve ao Sporting. Se salvaguardadas as condições para o seu exercício profissional, respeitados, enquadrados pelo espírito da lei laboral e do bom viver democrático.

 

E que os meus caros co-adeptos (aqueles que sabem da dignidade humana, não os energúmenos fanatizados, que põem o clube acima da Pátria, da sociedade, do país)  não repitam a espantosa patetice de tantos benfiquistas, há alguns anos autênticas baratas-tontas porque um trabalhador legitimamente saído do seu clube decidiu, pelo "sagrado" (se há coisa que é sacralizável é isso mesmo) livre-arbítrio vir trabalhar para o rival. Tino, é o que nos tem faltado. A mim, e a pelo menos 86% dos votantes na maior eleição de sempre no Sporting. Recuperemos o tino. E apartemo-nos dos refractários à decência civilizada. No clube. E no país.

Apocalipse Já

jpt, 15.06.18

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(Texto escrito para o És a Nossa Fé. É longo, que me desculpem, mas é catarse da tristeza. E forma de suspender o blogar. Pelo menos por uns tempos. Não quero escrever em público neste meu "estado de alma" abalado, sempre propenso a exageros intimistas).

 

Eu era adolescente mas ainda me lembro, de modo algo vago. Há quase 40 anos surgiu uma das melhores campanhas políticas, o dístico “Eu não tenho culpa, não votei AD”. Pois, de repente, no meio daquela crise, ninguém assumia ter apoiado o governo maioritário. Certo, houve uma réplica, o “Eu sou AD, eu trabalho”, outro dístico – antes das redes sociais as pessoas afixavam nas roupas, usando-as como “murais” -, pujante mas com menos sucesso.

 

O que se passa no Sporting Clube de Portugal é um pouco o mesmo. A “crise” não o é mas sim um descalabro. Um Apocalipse, Já. E todos nós vamos organizando a nossa amnésia, numa espécie de “Je ne suis pas Bruno”. Mas a realidade é que Bruno de Carvalho foi reeleito o ano passado, nas eleições mais concorridas do centenário clube, com a maior percentagem de votos de sempre, se em eleições com listas concorrenciais. Foi sufragado pelos sócios, aclamado pelos adeptos. Alguns desgostosos com o seu estilo. Mas poucos, muito poucos, opondo-se ao conteúdo. Crentes, lúcidos, que “a forma é conteúdo” – e refiro o meu querido amigo Miguel Valle de Figueiredo, sportinguista profundo, meu co-bloguista, que desde o surgimento de BdC me causticou pelo meu estuporado apoio à personagem.

 

Explicações para a ascensão do “brunismo” serão várias. As internas ao agora dito “Universo Sporting” são óbvias: o apoucamento do clube nas últimas décadas, a míngua de títulos no desporto-rei, a redução das suas modalidades, e também o desbaratar do património fundiário e a profunda crise económica. E um dado sociológico: num clube popular (e pouco importa se o mais popular, como inventou Sousa Cintra, se o segundo ou o terceiro do país), o “único clube “de Portugal”” como tanto fazemos questão de dizer, notou-se que esta decadência fosse gerida (gerada?) por uma auto-reclamada elite social, os agora ditos “croquettes” (de preferência com os dois “tt”s), a panóplia de “notáveis”, uma espécie de plutocracia, transumante entre o clube e o eixo construção civil-banca. E os efeitos da crise económica, o estrondo na banca nacional e a aflição na construção, apontaram (e devidamente, na minha opinião) o quanto de espantalho tem essa aparente elite, a sua “solidez”, “competência” e “seriedade”. No país, e muito em particular no clube. Daí a ascensão de Godinho Lopes (que, de facto, não pertence a esse meio social). E logo de seguida, ruptura ainda mais radical, o “Bruno”, homem das massas. Ou seja, homem das claques, para falar em termos clubísticos.

 

Tudo isto catapultado pela vontade, até insana, de ganhar títulos. Os quais, o que tanto piora a coisa, tão habituais são nos “outros”, os vizinhos, benfiquistas e portistas, esses sempre “ferindo-nos” com a sua festa cíclica, a sua alegria esfuziante. Invejamo-los, o que nos apouca, amesquinha. Mesmo que não o confessemos.

 

Títulos que são o corpo do ideal de “sucesso”, tão difundido nos finais de XX. E que é desesperante, pois a esmagadora maioria de nós não consegue ter “sucesso”, palpável, festejável, “trofeuizável”, que seja reconhecível, saudado, até invejado pelos outros. Aguentamos a merda do dia-a-dia, uma ou outra alegria, uma festarola, uma pequena promoção, um bónus no salário, uma bela refeição, a praia na Tailândia ou um escaldão na Manta Rota. E, quanto muito, uns laivos de felicidade, um filho que cresce, um neto que encanta, uma mulher que sorri, no acto ou mais ao longe, um qualquer feito, naqueles que gostam do que trabalham ou vão com hóbi. Ou alguma placidez, talvez. Por isso este anseio de títulos da “bola”. Não para esconder algo. Mas para celebrarmos este algo, e que parece pouco, que nos coube.

 

E mais o são num país que se futebolizou, desde os “a geração de oiro” do prof. Queiroz, do Euro-04, tudo catapultado no frenesim da imprensa multiplicada (rádios privadas nos 80s, jornais desportivos diários, televisões privadas nos 90s) e agora histriónica pois moribunda. E a explosão da internet, e das redes sociais (como este blog). Quem vive ou viveu no estrangeiro perceberá bem melhor que tudo isto, todo este futebolismo, não é a regra nem o hábito generalizado.

 

Enfim, tudo isto e muito mais nos trouxe ao “Bruno”. Ao nosso apoio, ao meu apoio, de anos, até há alguns poucos meses. Cri que no clubismo (que não na política) este afrontar, em modo populista, da plutocracia seria positivo. E serviria até como exemplo, aviso, para essa tal política. Para um bem geral, do clube, e português. Engano total. Erro crasso, de avaliação, de reflexão. De cumplicidade, estratégica que tenha sido, com o mal. Pois Bruno de Carvalho é tudo aquilo que anunciava ser, personagem típica que é. Ainda mais ilógico do que será de esperar deste tipo de líderes, populistas abrasivos. Pois em formato incompetente, agora feito cinzas pelas chamas que ateou.

 

O resultado económico e desportivo deste desgraçado período será abissal. As perdas são (e serão) brutais, em cima das enormes dificuldades que o clube vivia. Pior ainda nesta nova era de futebol-negócio. Acabadas de mudar as regras de redistribuição de rendimentos na Liga dos Campeões, algo inserido nesta lenta marcha para uma Liga Europeia de clubes. O fosso entre participantes e não-participantes, entre elite e “pequenos”, cada vez será maior. Ao colapsar agora, ao perder terreno (e tanto) neste preciso momento, o clube compromete, talvez definitivamente, para sossego dos rivais, a entrada nesse universo clubístico. É a estocada final na decadência.

 

Mas ainda maiores serão as perdas morais. Os clubes, mais do que todos os outros grupos, são “comunidades imaginadas”*. Porque a nossa adesão, a dos simples milhões de adeptos, é desinteresseira, deles nada queremos para nós próprios, nem remissão de pecados, nem orientações para a vida, nem entreajudas, e muito menos benesses, remunerações. Queremos comungar, participar, “torcer” por um bem que imaginamos comum, “nosso”. E que é “etéreo”, nada palpável – para além de umas taças e umas medalhas, acumuláveis como mero arquivo -, feito de símbolos, heróis quase divinos (Peyroteo, Agostinho, Lopes, Chana, Theriaga) de que ouvimos os mais-velhos falar ou recordamos de um desvanecido passado.

 

E é essa comunhão imaginada que arde agora. Não só por causa de Bruno e seus sequazes. Mas ao ler os seus inúmeros apoiantes, no seu mural de FB (muito censurado) e em tantos outros locais. Imensa gente, com um português escrito muito básico (o que não é maldade mas é característica), vociferando, repetindo até à náusea teorias da conspiração, teses de campanhas urdidas por um feixe ilimitado de agentes maléficos contra o Sporting, e seu presidente (agora suspenso).

 

Vinte anos de África, e a minha profissão, fizeram-me conviver com ideias muito parecidas: o mal, a falha, a perda, se (a)parece imponderável, inescrutável, inopinado, é dito efeito de feitiço alheio, acção maldosa de algum “vizinho”. Entre nós, séculos e séculos de cristianismo queimaram (literalmente) as crenças no feitiço. Elas subsistem, mas não dominam o quotidiano. Mas esse modo de explicar o indesejável inesperado tem este formato, a crença não num vizinho feiticeiro mas numa panóplia, difusa, esconsa, de agentes coligados para fazerem(-nos) o mal. Não “Foi Deus”, muito menos “o Demo”, nem o “feiticeiro” ou “os espíritos antepassados”. Foram “Eles”, homens vivos, agindo na sombra.

 

E penso, que “comunhão imaginada” posso ter com esta gente? Que assim pensa? Como partilhar símbolos, valores, emoções, se os entendemos tão diferentemente? A estes e, decerto, que a tudo o mais que seja significante. Como manter a ficção, a imaginação? E como manter, ainda mais difícil o é, qualquer comunhão com os nazis, os claqueiros, os boçais holigões, que ululam “Sporting” durante as suas verdadeiras missas de adoração ao Demónio, fazendo do estádio o seu perverso templo. Para nosso gáudio, animados com a encenação e o apoio “à equipa”. Que comunhão ter? Como continuar a imaginá-la? Como crer, aceitar, naqueles que me dizem neste momento de crise, “somos todos sportinguistas”, “há que manter a união”. Em nome de quê?

 

Nestes dias tenho-me lembrado de um homem que conheci vagamente, amigo de amigos. Moçambicano luso-descendente, pertencente àquele núcleo de jovens portugueses que optaram por ficar no país após a independência, tantos deles cheios de esperanças voluntariosas, as próprias da juventude, dos homens e dos países. Há alguns anos, ele já sexagenário, doente e com alguns problemas económicos, segundo me disseram, há muito distante da família, recolheu-se em casa. Estendeu a bandeira na cama, não a moçambicana, não a portuguesa, nem a de algum partido político ou igreja, ou  algum estandarte militar, estes tão típicos daquela geração. Estendeu na sua cama a bandeira do Sporting, sobre ela se deitou, e fez-se adormecer para sempre.

 

É por isto, por este quase indizível, que há clubes, as tais comunidades imaginadas. Porque são imagináveis. E são-no porque existem, porque são reais. E por serem reais nelas nem todos cabem.

 

E é esta consciência que o “Bruno”, Bruno de Carvalho, me trouxe. E o não ter  percebido tão antes é-me um verdadeiro Apocalipse. Já!

 

O da minha razão, capacidade afinal tão incapaz, coisa para outros pouco importante. E o do clube. No molde que o conheci. O que imenso me entristece.

 

* "Comunidades Imaginadas" é o título de um livro de Benedict Anderson, sobre o nacionalismo. O livro é muito bom e a expressão generalizou-se.

Mais do mesmo

Pedro Correia, 15.06.18

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O costume: insultou jornalistas («vocês não são capazes de dizer a verdade»), destratou comentadores, enxovalhou os sócios («os associados do Sporting podem ter muitos defeitos mas já perceberam que as coisas não são assim como dizem»), fez autênticas piruetas verbais para quase considerar positiva a onda de rescisões de jogadores («se tiramos os jogadores, também há que tirar os salários, ora como os salários são elevados se calhar as coisas não são assim como dizem»), mostrou-se totalmente dissociado da realidade («estamos a negociar com jogadores belíssimos, sem problema nenhum»; «vou garantidamente ter uma equipa para lutar pelo título no futebol sénior masculino»).

Falou do seu assunto favorito: ele mesmo. Dizendo-se perseguido por todas as forças ocultas do universo. Eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu...

 

Nesta conferência de imprensa, que se prolongou por setenta minutos, disparou em todas as direcções sem jamais assumir a menor parcela de responsabilidade neste inédito descalabro do Sporting.

Suavizou de forma quase obscena a inaudita violência de Alcochete, com frases de chocante insensibilidade e de evidente chacota, procurando desvalorizar tudo quanto ali se passou: «No meio dos tremores, [Ruben Ribeiro] ia-me mandando corações verdes e abraços»; «[Rafael Leão] está com tremores terríveis, tremendos.»

 

Nada disse de minimamente credível sobre a decisão do tribunal que  acaba de derrotá-lo em toda a linha - considerando sem fundamentação legal as duas "assembleias gerais" que ele tinha convocado, em flagrante violação dos estatutos leoninos, e ferida de nulidade jurídica a nomeação da putativa "comissão de transição" da irrelevante senhora Judas.

Por ironia do destino, disse tudo isto na sala do Conselho Directivo tendo atrás dele as fotografias dos chamados "presidentes croquetes" que ele tanto odeia e que as turbas mais fanáticas que ainda se deixam guiar por ele tanto abominam.

Vi esta fotografia e não pude deixar de associá-la ao final do célebre romance Animal Farm, de George Orwell. Tanta "revolução" tonitruante para tudo terminar, em termos simbólicos, no ponto de partida.

 

 

Adenda: Faz hoje um mês que o centro de estágio em Alcochete foi invadido por quase meia centena de criminosos, que bateram em quem quiseram e destruiram o que lhes apeteceu. Nunca esqueceremos. Foi a página mais negra da história do Sporting.

Os "inimigos"

Pedro Correia, 09.06.18

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O Sporting é dos sócios. Não é de Bruno de Carvalho.

 

Se é vontade dos sócios convocar uma assembleia geral electiva, como sucedeu em Janeiro de 2013, abrindo caminho ao processo que culminou na eleição de Bruno de Carvalho, a Mesa da Assembleia Geral só tem de cumprir essa vontade no prazo estatutário.
Devolver a palavra aos sócios é sempre uma boa notícia. Só os sócios são soberanos no Sporting. Carvalho - que se imagina um Presidente-Sol - é apenas um assalariado da SAD. Muito bem remunerado, por sinal: recebe o dobro do salário do primeiro-ministro.

 

Claro que existe sempre a hipótese de os sócios do Sporting serem "inimigos" do clube. Não seria de espantar, dado o perfil psicológico do presidente leonino.

 

Primeiro os "inimigos" eram os clubes rivais.
Depois, foi a comunicação social - incluindo a que levou Carvalho em ombros durante anos, arrancando-o do anonimato.
A seguir, também os ex-dirigentes - incluindo quase todos os ex-presidentes vivos - passaram a "inimigos".
Sem esquecer os  ex-membros dos órgãos sociais da era Carvalho que renunciaram por discordâncias várias: todos se tornaram igualmente "inimigos".
E o Conselho Leonino, como é sabido, sempre esteve infestado de "inimigos".

 

Entretanto o "inimigo" chamou-se Marco Silva. Octávio Machado, outro "inimigo" - tanto que até foi desconvidado para o casamento que coincidiu com o aniversário do clube e forçou a alteração da data marcada para a "puta da gala".
Manuel Fernandes começou por ser "inimigo", depois deixou de o ser. Mas aposto que em breve será reposta a normalidade: voltará a sê-lo não tarda nada.

 

"Inimigos" são igualmente todos os actuais membros demissionários dos órgãos sociais: Mesa da Assembleia Geral em peso, Conselho Fiscal e Disciplinar quase inteiro (excepto um) e quatro membros do Conselho Directivo.
Todos "Inimigos".

Álvaro Sobrinho, o maior accionista privado da SAD, é um notório "inimigo".

Jaime Marta Soares, escolhido duas vezes por Carvalho para liderar a sua lista à presidência da MAG, passou-se para o "inimigo".

Jorge Jesus - o tal treinador que vinha devolver o título de campeão ao Sporting - tornou-se o mais dispendioso "inimigo". Tal como o seu preparador físico, em fuga do clube após ter sido atacado pelos jagunços em Alcochete - ele também "inimigo".

Assim como todo o plantel - com destaque para o capitão Rui Patrício, que apenas tem 18 anos de percurso futebolístico no Sporting e ostenta ninharias no currículo, como ser campeão europeu em título a nível de selecções e ter sido considerado o melhor guarda-redes do Euro-2016 em França.

 

Apoiantes indefectíveis da primeira hora - e de todas as horas -, como Eduardo Barroso e José Eduardo, são reconhecidos "inimigos".
À semelhança de Daniel Sampaio, ex-mandatário nacional da candidatura de Carvalho - outro que se passou para a barricada do "inimigo".

 

Ninguém ignora que o presidente da Assembleia da República, sócio leonino há 68 anos, é um dos mais insidiosos e perversos "inimigos" do clube.

E até o Presidente da República já demonstrou ser "inimigo".

 

"Inimigo", e dos piores, é o até agora director clínico do Sporting, Frederico Varandas, que acompanhou Carvalho em todo o mandato.

 

Só falta, de facto, decretar que os sócios são "inimigos".

E não serão mesmo?

 

Urge entrar em alerta máximo: o Sporting está infestado de "inimigos".

É preciso ter cuidado com os sócios, estabelecer um cordão sanitário em torno deles para não infectarem a solidez das instituições leoninas - isto é, do presidente do Conselho Directivo e os seis que restam acantonados em torno dele.

 

Cautela, muita cautela: cada sócio pode ser um novo "inimigo".
Teme-se o pior se conseguirem impor a sua vontade.
O mal do Sporting é ter sócios. Quase todos potenciais "inimigos". Ou todos mesmo. Devia haver um artigo qualquer no regulamento para pôr-lhes fim. Só deste modo será possível exterminar tantos "inimigos".

 

Publicado anteriormente aqui.

O indeferimento liminar.

Luís Menezes Leitão, 09.06.18

Não tenho qualquer simpatia por Bruno de Carvalho e sempre achei, desde a sua eleição, que seria um péssimo presidente para o Sporting. Apesar de ser benfiquista, tenho pena de ver um clube histórico do nosso país no estado em que se encontra. Agora parece-me que a verdade tem que se sobrepor às mistificações que são apresentadas. Qualquer jurista sabe o que significa ler numa providência cautelar: "Pelo exposto, indefere-se liminarmente o presente procedimento cautelar. Custas pelo requerente". Pelos vistos há muito jornalistas e comentadores que ignoram esse dado elementar.

A perlenga

Pedro Correia, 19.05.18

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Duas horas de perlenga, atacando os jogadores e afagando as claques quatro dias após aquelas indescritíveis cenas em Alcochete: foi das coisas mais obscenas que tenho ouvido desde sempre no Sporting. Agravadas pelo cobarde ataque que fez à ex-mulher na sua "comunicação ao País" - o que demonstra como confunde já o clube, onde se imagina como Presidente-Sol, com a vida familiar. Com grosseiro e chocante despudor.

Esperei todo o tempo que ele dissesse qualquer coisa como isto: «Se vier a provar-se que membros da Juventude Leonina participaram nas agressões aos jogadores e na vandalização do nosso centro de estágio, vamos rever os apoios que concedemos a essa claque e tomar duras medidas punitivas contra os autores materiais e morais destes actos de lesa-desporto, em tudo contrários à ética leonina.»

Naturalmente, esperei em vão.

Num carro sem travões

Pedro Correia, 18.05.18

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Seis membros remunerados do Conselho Directivo do Sporting, contrariando todas as evidências e à revelia do mais elementar bom senso, insistem em agarrar-se com unhas e dentes ao umbral da porta. Quando até os mais exacerbados apoiantes de Bruno de Carvalho - Daniel Sampaio, Eduardo Barroso, José Eduardo, Fernando Mendes, Paulo Futre - apelam à saída do ainda presidente.

É um triste sinal da decadência deste consulado, que terminará os seus dias deixando um Sporting Clube de Portugal dividido como nunca, atingido com dolo na sua honra e no seu orgulho, e alvo de notícias em todo o mundo por motivos que não imaginávamos nos nossos piores pesadelos.

O patético sucessor de Godinho Lopes, rodeado dos últimos fiéis que lhe restam, pensa apenas em si próprio. Se pensasse nos superiores interesses do Sporting, ter-se-ia demitido ao fim da tarde de terça-feira. Assim faz questão de tornar ainda mais penosos estes últimos metros da recta final do seu mandato.

Há minutos, ouvi-o ler um papel onde constavam as expressões "sentido de responsabilidade", "coesão" e "união". Tudo o que este Sporting não tem. Tudo quanto Carvalho é incapaz de oferecer a esta centenária instituição gravemente ferida.

Apareceu sorridente e saiu sorridente, como se não tivesse a mais vaga noção do que sucedeu por estes dias. Veio dizer que continua a ter as mãos no volante, em alucinada fuga para a frente. Faltou-lhe acrescentar que guia um carro sem travões.