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Delito de Opinião

Nivelar as expectativas

João André, 16.09.14

Vi o jogo de Portugal na semana passada a partir de um quarto de hotel em Würzburg usando um dos muitos serviços de streaming que andam pela internet. Quis depois escrever algo sobre o assunto, mas não tive tempo e por isso não me foi possível fazer uma ténue defesa de Paulo Bento. Agora é tarde: Portugal está sem seleccionador. Paciência.

 

Claro que agora começa a música onde cada um canta o seu nome preferido e apresenta as razões. Há ainda quem mude um pouco o registo e acuse a federação. Aquilo que não vejo, seja lá de onde for (talvez seja problema meu) é a reflexão sobre as origens deste problema.

 

Vejamos: Paulo Bento não foi um mau seleccionador. Teve um registo de resultados quase igual ao de Scolari e conseguiu duas qualificações (uma com dificuldade e outra onde salvou o mau começo). Teve um excelente desempenho no Euro'12 e um desempenho medíocre no Mundial'14. Foi o único seleccionador até agora que soube construir uma equipa em torno de Ronaldo. Foi também teimoso nas escolhas, preferindo os de sempre e tacticamente muito pouco flexível. O resultado da semana passada foi vergonhoso, mas andava à espreita. Uma equipa construída em torno da estrela será sempre menos que a soma das partes quando essa estrela está ausente.

 

Agora há que escolher outro treinador. Antes de o fazer há também que nivelar expectativas. Uns 15 anos de algum sucesso deixaram-nos mal habituados. Portugal não é uma grande potência mudial de futebol. É um país de nível médio que teve uma belíssima fornada de jogadores e que, importantísimo, tiveram espaço nos clubes para se poderem desenvolver. O panorama actual indica que Portugal estará novamente no patamar médio a nível mundial. Suficiente para em tempos de torneios insuflados se poder qualificar mas, uma vez neles, sair do grupo será já algo de bom.

 

E é essa a realidade actual. O próximo seleccionador, seja ele qual for, não pode ser sobrecarregado com expectativas pouco realistas. A renovação é desejada, mas os jogadores disponíveis são de qualidade inferior aos anteriores, até porque recebem um nível de treino diferente. Um Ricardo Horta tem um nível diferente no treino de um Adrien. Quando os jogadores portugueses hoje em dia não recebem apoio e são esmagados pela voracidade de Jorge Mendes, não é possivel esperar que haja grandes desenvolvimentos.

 

A única reflexão que faço aqui sobre a identidade do seleccionador é esta: não pode ser de maneira nenhuma Fernando Santos. Um treinador de clube tem 6 ou 7 dias por semana e uns 10-11 meses por ano para trabalhar com os jogadores. Um seleccionador tem de 3 a 7 dias e talvez dois jogos de dois em dois meses. Um seleccionador que não se pode sentar no banco é um risco. Alguém que não o pode fazer por vários jogos (2, 3 ou 8 é igual) é inútil.

Rua!

Luís Menezes Leitão, 07.09.14

 

Se há coisa que é típica dos portugueses é a facilidade com que aceitam a continuação de situações pantanosas. Depois de ter apresentado uma selecção de coxos no Mundial do Brasil, Paulo Bento deveria ter sido sumariamente despedido. Foi o que o Brasil fez a Scolari, que conseguiu resultados muito melhores no Mundial. Mas a irreformável Federação Portuguesa de Futebol decretou a sua continuidade, com os resultados que estão à vista. Depois do que se passou hoje Paulo Bento não tem outra alternativa que não seja ir-se embora. E de caminho pode levar com ele os que o apoiam na FPF. 

Contas.

Luís Menezes Leitão, 23.06.14

 

Já Vasco Pulido Valente tinha aqui referido que "qualquer indivíduo com mais de seis neurónios pode ver que a aventura da selecção portuguesa duplica em miniatura a aventura do défice e da dívida. Primeiro, o silêncio, até cairmos sem remédio no fundo do poço. A seguir, o espanto fingido ou a corajosa afirmação de irresponsabilidade. E, no fim, acusações sobre acusações, para disfarçar o facto de que toda a gente colaborara no desastre. Nós, como Ronaldo, somos manifestamente os “melhores do mundo”. Só que, de quando em quando, nos cai a Alemanha na cabeça ou uma dívida inexplicável, que levará a pagar 30 e tal anos". Eu acrescento algo mais. Depois do desastre, começamos a fazer contas, julgando poder obter o impossível, seja ele a qualificação para os oitavos-de-final ou o pagamento da dívida. Da mesma forma que os partidos do arco da governação, com Cavaco Silva à cabeça, acham que conseguimos reduzir a dívida para 60% do PIB em 2035, bastando para isso, imagine-se obter um saldo primário do PIB de 3% em todos esses anos, na selecção anda-se agora a fazer contas para o apuramento para a fase seguinte.

 

Essas contas em ambos os casos não passam, porém, de um sonho de uma noite de Verão. No caso da selecção, era preciso que uma equipa de aleijados, cujos jogadores ficam lesionados aos primeiros minutos em campo, fosse golear por 5-0 uma das equipas mais fortes fisicamente deste campeonato. Mas depois ainda era necessário que a Alemanha ganhasse aos EUA, sabendo-se que a tendência natural dessas duas equipas, que ainda por cima têm dois treinadores alemães, vai ser jogar para o empate, que as apura a ambas, e as poupa para a fase seguinte. Dizer que neste caso o apuramento é possível é tão absurdo como dizer que Portugal vai pagar a dívida, sabendo-se que para isso precisa de um saldo primário que nunca foi obtido e que é apenas 10 vezes o esperado para este ano de 2014. Como dizem os brasileiros, caiam na real.

Faltou-lhes um barbeiro

Sérgio de Almeida Correia, 23.06.14

 

Não há nada como um bom estampanço para o povo voltar à realidade. As fragilidades daquele grupo desconjuntado a que chamam selecção nacional são postas a nu de cada vez que tocam na bola. O jogo contra os EUA confirma a sofrível qualificação para o Mundial e a necessidade do treinador e dos jogadores começarem a frequentar barbearias para homens. Aquelas osgas que hoje se passearam por Manaus, com cortes de cabelo terceiro-mundistas e que só arrancavam quando um mosquito as estimulava, mostraram à evidência que uma equipa de futebol não se constrói na base de convicções e com afirmações patrioteiras e inconsequentes de orgulho nacional. Têm técnica, têm estatuto, têm chuteiras personalizadas, mas continua a faltar-lhes um bom barbeiro. Um tipo que lhes faça a barba e o cabelo numa cadeira das antigas, com uma tesoura bem afiada para lhes cortar as melenas da cagança, e que no fim lhes lave a fronha com aftershave tradicional, daquele com muito álcool que lhes faça arder a pele, antes de lhes esfregarem com um bom creme amaciador e os mandarem para a luta. Enquanto continuarem a tratar a selecção nacional e os seus jogadores como umas meninas finas de casa de alterne para empreiteiros ricos, dando-lhes lençóis de seda, oferecendo-lhes massagens e condescendendo com as suas birras, dificilmente farão na selecção nacional o que já mostraram ser capazes de fazer nos clubes. Por muito que treinem, se não houver um líder com coragem, com preparação, com visão e arrojo, é impossível construir o que quer que seja. Seja na Federação Portuguesa de Futebol, seja na selecção ou no governo do país. A sorte por vezes ajuda, mas é preciso ir buscá-la. E como milagres já não há, sugiro que quando despacharem o Paulo Bento comecem por arranjar um bom barbeiro, para homens, e que saiba de futebol para lhes ir dando umas sabatinas enquanto usa a navalha. Vão ver como eles crescem num instante.

De novo a selecção.

Luís Menezes Leitão, 18.06.14

 

Há uma coisa que me parece evidente depois de comparar o jogo da nossa selecção com o das outras equipas no Mundial. É que, com a excepção de Éder, os nossos jogadores não correm, parecendo andar apenas a passear pelo campo, razão pela qual só fazem passes longos. Ora, a velocidade do jogo é absolutamente essencial para se fazer qualquer resultado positivo no Mundial. Havia um treinador que dizia que antes de tudo queria jogadores que corressem e só depois que soubessem jogar futebol. Aqui o que sucede é que se um jogador português começar a correr, fica logo lesionado. Nem sequer ficamos a saber que futebol ele afinal joga.

 

É por isso que a responsabilidade de tudo isto está essencialmente na escolha dos jogadores feita por Paulo Bento. Efectivamente, ao optar por nomes consagrados, mas em fim de carreira, Paulo Bento conseguiu ter a selecção mais idosa do Mundial e manifestamente sem condição física para disputar os jogos. Alguma vez pode ser normal que um país, no seu jogo inicial do Mundial, perca logo três jogadores por lesão? E já se pensou nos custos, e não apenas desportivos, que isto implicou para o país?

 

O que espanta, no entanto, é que ninguém assuma a responsabilidade disto. Há uns anos o Brasil foi trucidado na final do campeonato do mundo de 1998 pela França, porque Ronaldo foi posto a jogar depois de ter tido convulsões na noite anterior. Obviamente nada fez em campo, parecendo completamente perdido, acabando o Brasil a perder por 3-0. Constou que só tinha jogado porque havia um patrocinador que tinha ameaçado cancelar o patrocínio se ele não jogasse. Todo o Brasil exigiu naturalmente que as responsabilidades fossem apuradas. Aqui o que recebemos é esta mensagem a pedir para os portugueses continuarem a acreditar na selecção. Qual selecção?

Revisitando 2002

João Campos, 17.06.14

Depois de um estágio a anos-luz - em distância e em clima - do país anfitrião do torneio e de uma estreia miserável no Mundial de 2002, tudo o que falta à selecção portuguesa para reproduzir a prestação de 2002 é uma vitória dilatada pela fúria no segundo jogo e um bravo voluntário para esmurrar o árbitro no jogo que a recambiará de volta para este lado do Atlântico. E nem precisamos de nos preocupar com a eventualidade de não contarmos com o nosso caceteiro-mor, Pepe; Bruno Alves ou João Pereira decerto estarão à altura da ocasião.

 

(claro, há ainda aquela história de o seleccionador de 2002 ter perdido uns milhares de euros num casino de Macau, mas nada nos garante que Bento não tenha também dado um salto a Atlantic City)

Partiu o grande capitão

Sérgio de Almeida Correia, 26.02.14

A velha Lourenço Marques vira-o nascer em 6 de Agosto de 1935. A jovem cidade do Maputo viu-o ontem partir. Pelo caminho ficam 57 jogos com a camisola de Portugal, capitaneando a selecção nacional que brilhou no Mundial de 1966. Com um domínio perfeito dos espaços, uma presença física que impunha respeito e uma calma e lucidez que desconcertavam qualquer um, dominava o centro do terreno como poucos. Com a camisola das quinas ou a do Benfica representava na hora de defender a primeira barreira dos adversários. E quando se tratava de construir o jogo ofensivo era o motor que fazia disparar os homens das alas e o foguete Eusébio. O último golo fê-lo no antigo Estádio da Luz, no dia 25/10/1969, numa tarde em que o Boavista saiu da Luz com oito golos no cabaz. Com Mário Coluna vão dez títulos de campeão nacional, mais sete taças de Portugal e duas taças dos campeões europeus, registando-se que marcou nas duas em que esteve presente. Irá agora fazer companhia ao seu protegido e amigo Eusébio, no Olimpo das lendas, deixando por aqui muitas saudades pelo exemplo e pela classe.

As notícias de capa dos jornais no caso de Portugal não se apurar

Rui Rocha, 19.11.13

Jornal de Notícias: Caxinas preparam homenagem a Hélder Postiga.

 

Público: saiba como as políticas da igualdade de género aplicadas na Suécia contribuíram decisivamente para o resultado de ontem.

 

Correio da Manhã: a noite louca de Ronaldo depois da derrota em Estocolmo.

 

Diário de Notícias: Soares acusa governo de massacrar o meio-campo da selecção.

 

I: conheça a história do carteiro de Helsingborg que pedala seis horas por dia, treina duas vezes por semana e derrotou Portugal com um pontapé de bicicleta.

 

O Jogo: Pinto da Costa completamente recuperado.

 

SOL: Durão Barroso na calha para ocupar cargo de seleccionador.

 

Expresso (edição do próximo Sábado): selecção nacional apura-se para o mundial do Brasil - ver desenvolvimento na última página e análise de Nicolau Santos no caderno de economia.

Vai uma apostinha?

Pedro Correia, 14.06.12

Confesso: ando cansado de ouvir falar do Nélson Oliveira. E tenho bons motivos para isso. Na segunda-feira, 48 horas antes do Portugal-Dinamarca, dois diários desportivos puseram o jovem suplente do Benfica em destaque nas suas primeiras páginas. "Estamos de cabeça levantada", dizia o jovem, cujo retrato ocupou praticamente a capa inteira desse dia do diário A Bola. A justificação para o destaque fotográfico, esclarecia o jornal, tinham sido os três golos apontados pelo rapaz... no treino da véspera.

Como não há coincidências, no mesmo dia O Jogo apressava-se a antecipar a presença do jovem Nélson no lugar de Helder Postiga como ponta-de-lança da selecção. A sua inexperiência em jogos internacionais, o facto de nem Jorge Jesus o incluir no onze titular das águias e a certeza de não ter marcado um único golo no campeonato pareciam irrelevantes perante a onda mediática que ia engrossando em torno do seu nome, agigantando-se qual tsunami a chegar à costa. "Nélson Oliveira ganha espaço", titulava nesse dia o Record, tentando não perder a corrida. "Nélson Oliveira é um trunfo para Paulo Bento", dizia a RTP no dia seguinte, citando o treinador Rui Vitória.

Foi preciso Paulo Bento pôr fim a tanta especulação com quatro palavras apenas: "Vai jogar o Helder." Que por acaso até marcou contra a Dinamarca.

Nélson jogou meia hora, como suplente de Postiga. Sem marcar. Mas nem por isso desaparecerá das manchetes. Vai uma apostinha?

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É o melhor sem dúvida ou talvez não

Pedro Correia, 11.06.12

 

Confesso que ainda consigo espantar-me com certos comentadores futebolísticos. E ninguém me espanta tanto como o omnipresente Rui Santos, o homem que anda há vários anos à procura dos pontos finais sem conseguir encontrá-los, motivo que o leva a produzir as frases mais quilométricas da história da TV em Portugal. A necessidade de encher chouriços em televisão é tramada. Só isto explica que o prolífico comentador da SIC Notícias tenha ontem transmitido duas ideias aparentemente contraditórias. Por um lado, emitiu este juízo categórico: «Potencialmente, Nélson Oliveira é já o melhor ponta-de-lança português. Não temos melhor.» Por outro, minutos adiante, foi deixando este judicioso conselho a Paulo Bento: «No jogo contra a Dinamarca eu defenderia um Nani atrás dos pontas-de-lança, que deveriam ser Cristiano Ronaldo e Quaresma.»

Descodifiquem-me este raciocínio, como se eu tivesse cinco anos: como é que num jogo que precisamos mesmo de ganhar o seleccionador nacional pode dar-se ao luxo de deixar no banco «o melhor ponta-de-lança português»? Padecerá o jovem Nélson de alergia aos dinamarqueses, altos e loiros? Não poderia formar ele com vantagem a dupla atacante com Ronaldo? E, sendo tão bom ao ponto de se considerar que «não temos melhor», porque não deixá-lo sozinho à frente? O Quaresma amuaria com tal escolha? Será a lógica uma batata?

Vou reflectir sobre tão magna questão nas próximas 48 horas. Usando, de preferência, frases mentais sem ponto final. Pois do meu ponto de vista a intangibilidade do esférico decorre das sinuosidade tecnico-tácticas adjacentes à linearidade do relvado e a verdade desportiva depende em alto grau e larga medida da disponibilidade de todos os agentes envolvidos na condução do processo dentro das quatro linhas de jogo mas principalmente nas estruturas que enquadram este fenómeno capaz de mobilizar a massa adepta e também os milhões que se acumulam sobre as mesas directivas em razão do qual eu não me calarei e sempre relatarei aqui tudo quanto sei e julgo saber ou talvez nem saiba nada por aí além mas mesmo assim contem com a minha voz que ressoará qual trombeta contra a investida castelhana nos plainos de Aljubarrota naquele ano em que a Ala dos Namorados conquistou a Taça Ibérica.

 

ADENDA: o mocho é um convidado especial, com presença fixa neste blogue

Quem a viu e quem a vê

Pedro Correia, 17.11.10

"Esta equipa é fruto do trabalho do treinador", disse há poucos minutos Helder Postiga, logo após o fim do jogo Portugal-Espanha, em que a selecção nacional goleou os campeões do mundo por 4-0 - a maior vitória de sempre da turma das quinas contra o eterno rival. Postiga, que foi um autêntico leão no estádio, falou tão bem como jogou: esta equipa nacional que se impõe em campo, vence desafios e está a reconciliar os portugueses com o futebol de selecção bem merece dedicar a vitória ao treinador, Paulo Bento, que a tirou do estado comatoso em que se encontrava. Basta anotar que, do onze titular desta noite, seis jogadores portugueses não participaram no recente Mundial de futebol. E três dos quatro golos contra os espanhóis foram marcados por Postiga (dois) e Carlos Martins. Que nem figuraram no lote dos convocados para a África do Sul pelo antecessor de Paulo Bento - alguém cujo nome já esqueci.