Nivelar as expectativas
Vi o jogo de Portugal na semana passada a partir de um quarto de hotel em Würzburg usando um dos muitos serviços de streaming que andam pela internet. Quis depois escrever algo sobre o assunto, mas não tive tempo e por isso não me foi possível fazer uma ténue defesa de Paulo Bento. Agora é tarde: Portugal está sem seleccionador. Paciência.
Claro que agora começa a música onde cada um canta o seu nome preferido e apresenta as razões. Há ainda quem mude um pouco o registo e acuse a federação. Aquilo que não vejo, seja lá de onde for (talvez seja problema meu) é a reflexão sobre as origens deste problema.
Vejamos: Paulo Bento não foi um mau seleccionador. Teve um registo de resultados quase igual ao de Scolari e conseguiu duas qualificações (uma com dificuldade e outra onde salvou o mau começo). Teve um excelente desempenho no Euro'12 e um desempenho medíocre no Mundial'14. Foi o único seleccionador até agora que soube construir uma equipa em torno de Ronaldo. Foi também teimoso nas escolhas, preferindo os de sempre e tacticamente muito pouco flexível. O resultado da semana passada foi vergonhoso, mas andava à espreita. Uma equipa construída em torno da estrela será sempre menos que a soma das partes quando essa estrela está ausente.
Agora há que escolher outro treinador. Antes de o fazer há também que nivelar expectativas. Uns 15 anos de algum sucesso deixaram-nos mal habituados. Portugal não é uma grande potência mudial de futebol. É um país de nível médio que teve uma belíssima fornada de jogadores e que, importantísimo, tiveram espaço nos clubes para se poderem desenvolver. O panorama actual indica que Portugal estará novamente no patamar médio a nível mundial. Suficiente para em tempos de torneios insuflados se poder qualificar mas, uma vez neles, sair do grupo será já algo de bom.
E é essa a realidade actual. O próximo seleccionador, seja ele qual for, não pode ser sobrecarregado com expectativas pouco realistas. A renovação é desejada, mas os jogadores disponíveis são de qualidade inferior aos anteriores, até porque recebem um nível de treino diferente. Um Ricardo Horta tem um nível diferente no treino de um Adrien. Quando os jogadores portugueses hoje em dia não recebem apoio e são esmagados pela voracidade de Jorge Mendes, não é possivel esperar que haja grandes desenvolvimentos.
A única reflexão que faço aqui sobre a identidade do seleccionador é esta: não pode ser de maneira nenhuma Fernando Santos. Um treinador de clube tem 6 ou 7 dias por semana e uns 10-11 meses por ano para trabalhar com os jogadores. Um seleccionador tem de 3 a 7 dias e talvez dois jogos de dois em dois meses. Um seleccionador que não se pode sentar no banco é um risco. Alguém que não o pode fazer por vários jogos (2, 3 ou 8 é igual) é inútil.