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Delito de Opinião

O Velhismo

jpt, 11.03.23

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vai vigorando um pensamento algo "lite", pois psicologista, que quer reduzir a desvalorização de uns quaisquer outros ao "medo" sentido diante do "diferente", da "alteridade": o machismo como receio do vigor das mulheres, qual síndrome fálico; o elitismo como temor da pujança das massas, vera obsessão de condomínio; o racismo como pavor diante das gentes ditas "outras", assim impuras, como se compulsão higiénica. E até a heterossexualidade, agora dita heteronormatividade - mas nunca heterossexualismo -, tende a ser desvalida como vil sublimação do homoerotização.
 
Nas lutas contra essas desqualificações, punitivas, instalou-se uma atenta crítica dos discursos e termos, sob a ideia de que a realidade se constrói na "fala" - até crente que as palavras têm valor facial, cristalino, e que compelem a reacções unívocas. Enfim, uma simplificação do que alguns pensadores chama(ra)m "construtivismo" - a ideia de que isto que somos e vivemos se construiu e vai construindo nos afazeres do quotidiano até impensado. E - nessa visão mais militante, agora dita "activista" - que nós todos não apreendemos essa "construção", suas ambivalências, rugosidades, polissemias, dela sendo meros reflexos. Ou seja, que seguimos "alienados", como se dizia quando eu era mais novo e os agora "pós-"marxistas eram marxistas...
 
Por isso esta actual generalizada adesão à infectologia lexical e semântica, exigindo a vacinação universal contra os "preconceitos" (no sentido de ideias negativas preconcebidas), estes quais miasmas transmitidos por termos, solitários ou associados em frases. Os mais recentes exemplos disso são os anúncios da desinfectação dos livros de Dahl, a serem purgados de violências como "feio" e "gordo", e de Fleming, a serem amputados de racializações menos adequadas ao pulsar actual... São esses os exemplos públicos, mas que se querem traduzidos em obrigações pessoais, sendo todos nós convocados não só a um exercício democrático de cidadania mas também a uma extrema ponderação na locução, a um "dobrar a língua", nas (tão necessárias) invectivas, no humor, até nas meras descrições, nos espantos e saudações. Pois, ao que parece aos tais "construtivistas", cada vez que falamos estamos a "construir"... malevolências, está visto, pois vivemos num inferno. Ou, vá lá, para ser mais bíblico e actual, num "vale de lágrimas".
 
Isentos desta protecção, desabrigados diante do tal "medo" alheio, vítimas do referido "construtivismo" verbal, seguem (seguimos) os velhos, verdadeiros "trapos" diante da indisciplina lexical e semântica dos "construtores" e "restauradores" deste mundo de malévolos preconceitos, de todos esses cultores do velhismo, o desprezo, até ódio, pelos vistos de medo feito, face aos mais antigos.
 
Na internet isso vê-se muito - mostram-no todos esses (pseudo-)artigos elencando as belezas cinematográficas ou da moda, comparando-lhes o aspecto (radioso) do auge das carreiras com o actual, evidente modo de nos convocar o pesar, até resmungo, mesmo aversão às ditas (ex-)beldades e aos da sua classe de idade. Pois se entre esses "ricos e famosos" há quem mantenha o ar jovial e belo (ainda ontem vi a deusa Julia...., que nariz!!) muitos outros pura e simplesmente... envelhecem - e há os desgraçados que se esticam e/ou se insuflam, algo que tende a tétrico.
 
Encontrei hoje um exemplo maior dessa despudorada agressão velhista: o grande Gene Hackmann reformou-se do cinema há já 19 anos. Retirou-se na sua quinta onde vem escrevendo ficção (já publicou pelo menos 5 livros). Há meia dúzia de anos fez narração de dois documentários - e rezam as crónicas que vai tendo alguma vida cultural lá no Novo México onde vive. Mas, acima de tudo, segue confortável na sua "reclusão". Ou seja, na sua vida pessoal.
 
Foi agora fotografado. Sozinho ao volante do seu carro. E saindo de um um snack-bar após comprar um take-away. Como é raro ele aparecer as fotos correm mundo. Nota-se que envelheceu, que perdeu massa muscular, que está algo curvado. Decerto que não será apenas pelo hábito de escrever, a postura diante do computador. Pois tem 93 anos! Ou seja, o nonagenário pega no carro, sai da quinta, vai à cidade, compra qualquer coisa para comer ou beber... Fotografam-no e publicam-se as fotos. 
 
Pois o que se comenta nos "sítios" que as divulgam é arrepiante. Sim, há muitos admiradores a saudarem-no. Mas há também imensa gente, sem rodeios, sem "correctismos" ou "wokismo", a verter fel, caústico, sarcástico, ofensivo, diante do corpo naturalmente velho do Grande Gene Hackmann. Repugnam-se, repugnam-no. E nisso seguindo imunes a críticas...
 
Talvez seja o tal omnipresente "medo", agora o do envelhecimento. Mas é o puro Velhismo, recorrente, constante, indisciplinado, agressivo, imune a críticas. É tempo de clamar "Old is beautiful!". (E, mais privadamente, "dá-lhe gás, Gene...!").

O carrilhão

jpt, 25.02.23

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Custou-me mas já me habituei a isto de o corpo se ir tornando menos capaz - ainda que por vezes me surpreenda com alguns cometimentos havidos. Mas sim, foi-se impondo isto do calcanhar resmungão se em longas caminhadas, do arfar de fumador durante as escadarias, do esvaecer dentário, talvez pior ainda esta breve hesitação ao despertar, e mesmo do adormecer no sofá enquanto o Sporting joga, da parcimónia loquaz, já para não falar da crescente frugalidade à mesa - que a essa vou disfarçando com paleios gastronómicos - e até outras, próprias ao sossego desencantado do celibato perpétuo.
 
Mas que a mente feneça, no primado da desconcentração e, mais sonante ainda, na atrapalhação da memória? São muito mais assustadores os sinais, sinto-os como temidos sintomas. Nem digo isso de esquecer o nome do filme distraidamente visto na véspera, coisa normal desde há muito, ou do título do livro diante do "o que é que estás a ler?", pois faço-o a vários ao mesmo tempo, sei lá o que responder... Mas esquecer pessoas, não as reconhecer? A aflição instala-se.
 
E ontem foi dia disso, do primado da angústia. Atrevera-me a investir a Norte, cruzando o estuário, com o intuito de ouvir uma conferência de alguém que me foi marcante. Esperei o início da sessão esfumaçando no adro. E nisso um tipo avançou para mim, saudando-me num sorridente "como está, professor?" - e eu atrapalhando-me, incapaz de o situar para além da sua assim óbvia nacionalidade. Passei eu 15 anos a leccionar anunciando, mas também gabando-me, que "fixo as caras mas não consigo recordar os nomes de todos!", algo nada desrespeitoso quando se têm sucessivas levas de dezenas ou centenas de alunos por semestre. Mas agora, naquele malvado ontem, tudo se desvanecendo - e só face ao seu nome, muito peculiar se ouvido em Maputo (pois de matriz Shona, se se quiser facilitar) me veio à memória.
 
Mas pior se seguiu. Indulgente, e nisso sorridente, o simpático antigo aluno agora cá estudante conduziu-me até a uma sua professora, que ali o acompanhava, a qual também desconheci, para seu espanto, pareceu-me vislumbrar. E para meu pavor imediato, pois confrontando-me com ser a senhora não só minha colega, que conhecera há meia dúzia de anos, como também mulher muito bonita - e não me venhais com apodos avessos àquela "heteronormatividade tóxica", paleio que é desses "rebeldes com causa" que nada mais são do que amanuenses do intelecto, pois sempre tendi (e nisso não vou nada sozinho nem malévolo) a mais recordar a formosura impressiva do que a mediania, por até injusto que isso possa ser.
 
Enfim, lá me sentei para ouvir a palestra. Acabrunhadíssimo, na dolorosa consciência de que não só já esqueço os antigos alunos como também as senhoras bonitas. O carrilhão da Angústia soava a rebate no anúncio da senilidade...
 
Bem mais tarde sobre isso conversei com a Margot, e terá sido ela que invocou Churchill: estarei a viver o "fim do princípio". E seguiu-se a insónia.
 
(Postal no meu Nenhures)

Uma mão de vaca em Palmela

jpt, 10.02.23

foto principal da receita de Mão de vaca com grão

Isto de andar na vida tem que se lhe diga. Por isso, e para minha defesa, procurei balizar-me por alguns princípios, morais se assim se lhes quiser chamar. Mas, entre as minhas abissais fraquezas e os "imponderáveis do quotidiano" (citando um célebre anglo-polaco que não era o Conrad), a quase todos esses princípios fui traindo, para minha desengraça espiritual. Agora, às portas do sexagenarismo, sobreviviam dois desses axiomas morais,"resilientes": jamais comer pezinhos de porco; nunca comer mão de vaca.

Acontece que ontem me estreei no restaurante Dom Rodrigo, sito ao centro da Palmela nova... Simpática sala, boa decoração alheada do estilo neo-pequeno-burguês que tanto vai vigorando, preços módicos, serviço simpaticíssimo - atento, gentil e sábio, nisso nada importuno. E comida simples, sem ademanes, mas de cuidada confecção, saciável quantidade e adequada apresentação. Ora o prato do dia era a tal celerada "mãozinha de vaca", que logo o meu correligionário comensal encomendou. 

Devastado pelas agruras da vida mais uma vez cedo, deixo-me quebrar um dos meus últimos redutos: provei a tal Mão Visível. E muito apreciei, à tal manápula, até ululei na anuência.

Fico assim na vida "preso por um fio", suspenso apenas por um último Valor, a tal refutação do pé suíno. Mas voltarei, e amiúde, ao restaurante Dom Rodrigo, na altaneira bela Palmela. Pois casa que me "veste bem", mesmo que homem desprovido de princípios siga já eu...

(Postal para o meu Nenhures mas que aqui replico muito devido ao que Maria Dulce Fernandes nos acaba de informar sobre o dia de hoje)

Como se quiséssemos o sol só para nós

Pedro Correia, 01.02.23

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Queremos mudar o mundo, queremos mudar o sistema, queremos mudar a sociedade. Tudo seria mais fácil se começássemos por mudar a nossa relação com os outros. Se adquiríssemos o talento de unir o que vemos fragmentado, de congregar o que está disperso. Se soubéssemos ir ao encontro de quem nos rodeia.

Às vezes basta um gesto apaziguador, uma palavra amável, um sorriso que se rasga na face sempre sisuda. «Na superfície das coisas vê-se a essência das coisas», escreveu Saul Bellow em Ravelstein.

A sociedade, o sistema, o mundo não mudam se não começarmos por mudar também algo de essencial na nossa relação com os outros. Nos actos mais singelos do quotidiano.

Escrevo estas linhas enquanto o sol vem espreitar-me da janela: é quanto basta para sentir-me grato por este dia. Penso nos que sofrem sob o mesmo sol que me aquece e me inspira e me ilumina. E questiono-me o que poderei fazer para atenuar a angústia ou aliviar a dor de alguém. Não da Humanidade em abstracto, como me sugerem os demagogos de plantão, mas de uma pessoa em concreto.

Uma palavra, um sorriso, um gesto, um abraço, um olhar. Às vezes só isto é necessário. E somos incapazes de dar esse passo. Como se quiséssemos o sol todo só para nós.

Umas chamuças no Carvalhal

jpt, 31.01.23

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Ontem avancei até ao mar, ali ao novo Algarve, este que olha a Arrábida. Acobertado por um dia soalheiro, acolhido por areal deserto e águas azulíssimas. Aportado à praia do Carvalhal lá ouvi um bar veraneante, típico: caro será ao que me dizem, que nem entrei pois tão estridente era a banda sonora. Escutar o mar?, coisa em desuso para aqueles tardo-adolescentes já quarentões que povoavam a esplanada.
 
Impulsionados pela minha companheira de andanças, a melhor companhia a que poderei almejar, avançámos areias afora, bordejando a maré enchente, até à do Pego, um bom trajecto para um sedentário quase sexagenário, e nele a encher-me de ânimo, este advindo do Sol, maresia e companhia. Depois retornámos via estrada, uns 5 kms, do "Pego ao Carvalhal" trauteei eu... Um belo passeio logo tornado visita de estudo, a descobrir o que não imaginava, o como está tudo aquilo - obras constantes, todos os talhões remanescentes a serem construídos, casas térreas (vá lá...) a germinarem, num afã do aglomerado, como se num culto do atravancado, dito "urbanização". Ainda vislumbrei alguns habitantes, os pobres, claro, ainda ali "resilientes" mas que decerto em breve partirão. De resto ninguém, ainda a "vilória fantasma" do turismo. "Daqui a uns anos passarás por aqui, se calhar até com os teus filhos...", "e lembrar-te-ás deste nosso passeio, e contarás, repetir-te-ás, como eu, com as minhas histórias sempre as mesmas": "um dia vim aqui com o meu pai e não havia nada disto, era completamente diferente", culminei eu, já diante do carro, anunciando-lhe a algarviada mansa que ali virão a chamar cidade.
 
Esfaimados parámos no Carvalhal, a aldeia mesmo. Abancámos num pequeno café-restaurante. Nas minhas costas o dono assomou à esplanada e falou com a outra parca clientela. Logo reconhecemos o sotaque. Não resisti e perguntei-lhe de onde vinha, "lisboeta" disse-se... Mas na hora de pagar insisti, num "você vem de onde mesmo?, não leve a mal mas é o seu sotaque...". E o mais-novo, simpático risonho, diz-me "da Ilha de Moçambique, vim em 1974". "Claro!!", clamei, rindo-me/nos, e cinco décadas passadas não lhe fizeram perder o sotaque ganho em criança, e tão suave, afável, ele é...
 
"Então é por isso mesmo", completei, "que as chamuças são tão boas"!, "receita de lá, com condimentos especiais" logo afiançou o patrão. E isso posso eu comprovar, chamucista encartado que sou: as chamuças do Pica peixe são mesmo muito boas. Por elas se justifica ir ao Carvalhal... antes da tal cidade que aí vem.
 
(Antes colocado no Nenhures)

Ano Novo, Vida Nova

jpt, 02.01.23

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The Byrds - Eight Miles High - 9/23/1970 - Fillmore East (Official)
 
As mudanças de ano aparentam que há ciclos conclusos e simulam o advento de reinícios, apenas a ilusão da regeneração, a própria e a colectiva. Por isso tendemos a preencher a quadra festiva com rescaldos, os rores das maleitas havidas e a ultrapassar. E proclamações, queridas como sínteses iluminadoras do tal rumo novo a que nos aprestamos. E sempre róis de decisões, acções a cumprir, promessas que são purga para que se cumpra a nossa ascensão. Nisso o Ano Novo, Vida Nova...!
 
Assim o tornei a fazer, ainda iludido disso de que ontem algo se acabava e de que hoje será um novo dia. Como (me) é devido fui cáustico no rescaldo. E conciso nas decisões, apenas uma, de tão ambiciosa: uma ecdise, libertar-me desta carapaça atrofiadora, e afunilar-me, nunca facilitar, concentrar-me, focar-me, e que nem seja durante um mero mês, que não de mais precisarei, libertar-me dos pendentes, esmagadores até... E neste passo moral alijei o peso nos ombros, saí ao campo de sorriso lesto para concluir o meu trapalhão 22.
 
E nisso, ao fim da tarde, já na senda deste urgente "focar-me", lá cruzei o estuário, numa via de 60 kms rumo à casa de belo amigo, cozinheiro de mão-cheia, ontem aniversariante. Repasto farto, convívio agradável, a meia-noite cruzada, ecos do fogo-de-artifício, o espumante bebericado. Pelas duas da matina seguiu-se o regresso a casa, os tais 60 kms.
 
À chegada, saindo do carro, noto que esquecera o telefone. Coisa nada, sei-o, mas que enraivecido "f...-se, só faço m.....!", nesta evidência que 22 não acabou nem acabará, e nem sequer terá começado. Pois isto é apenas um longo e perene bordejar, de rumo esconso e leme desfocado. E não há brindes, nem mesmo o saudoso "yô-yô e uma garrafa de rum", que o iluminem. Resta vivê-lo com uma boa música, às vezes com o bom Rock. Deitar-me com os velhos Byrds, como hoje... Nada começa, nada reinicia. Dá para aguentar.

Na passagem de ano

jpt, 31.12.22

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Aconteceu-me que em pleno dia de Natal, indo a caminho da casa da minha irmã para as tradicionais celebrações, estreei-me em acidentes rodoviários após 39 anos de condução. Estraguei o meu dia, incomodei a minha filha, que lá me esperava, a qual padece deste pai. E sofri uma fractura exposta no osso orgulho. Para além um derrame na conta bancária, que seria letal não fora o caso desta estar já ligada à máquina, em condição dita irreversível.

Atendendo à data festiva, e concomitantes folgas, tive de esperar umas horas pelo reboque. Era já início de noite quando chegou, levando-me da via rápida verdadeiramente fronteira ao Trancão até à planície nas cercanias do Sado. Simpaticíssimo o motorista, e basto falador - tentando (e conseguindo, justiça lhe seja feita) animar-me, macambúzio que me encontrou, culminando ambos (e logo na Vasco da Gama) num quase nada estóico "foi só (pouca) chapa e plástico" "que se lixe!", isto que sobre angústias monetárias não me deixei espraiar...

E nisso o homem foi-se alongando, confirmando-me que são estes dias, os das Festas, de muita azáfama. Pois poucos colegas de serviço e muita gente a ter problemas, "no Natal saem da casa das famílias com um copito a mais...", no "Ano Novo vêm das festas...". Às vezes cenas dramáticas - e algumas contou mas tenho pejo de as convocar - mas a maioria das vezes pequenas coisas, toques, choquezitos, a perturbarem ou mesmo a magoarem mesmo que felizmente não irremediáveis. Aquele copito de vinho a mais no Natal, só mais, só mais um brinde de Ano Novo - "Feliz" terá ele de ser -, até com o raisparta do espumante, ou mesmo a saideira seguida da abaladiça, e nisso já se está num registo mais desengonçável...

Enfim, lá me largou ele diante da oficina onde parqueei o carro (emprestado, ainda por cima). E agora, antes do reveillon de tantos, ou da "passagem" de outros, nem sequer tenho de me lembrar daqueles inícios dos 80s, antes da instauração do "balão" e das campanhas - nem o cinto de segurança era prescritivo -, das loucuras acontecidas, dos amigos perdidos... Lembro-me só da conversa desta semana com o loquaz motorista de reboque, a desmontar-me a ideia de que após tantas décadas passadas, tantas campanhas feitas, as coisas ao volante tinham mesmo mudado.

Eu sei que a esta canção é foleira, e o vídeo também. Mas muito mais foleiro é guiar acima dos limites da segurança. Portanto, hoje em especial, "não guies com os copos". Mesmo que seja só aquele "bocadinho" de nada... Esse que se calhar até é o pior, dá aquela sensação de "falsa segurança" que a dra. Graça Freitas e a ministra Temido tanto combatiam - quando nos queriam convencer a não usar máscaras e a não nos testarmos.

Não ir às compras e espairecer

Maria Dulce Fernandes, 27.11.22

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Os perigos de ir às compras são ilimitados. Há mais de seis meses fui com o meu marido às compras a uma grande superfície comercial. Enquanto ele, com as lunetas empoleiradas na ponta do nariz, procurava o 560 nos códigos de barras dos produtos, eu ia seguindo calmamente a dissertar sobre as propriedades e benefícios das bagas goji. Depois de pesar duas beringelas, três courgettes e um pimento de cada cor e enquanto tagarelava alegremente, agarrei-o por um braço e impeli-o na direcção dos escaparates das frutas uns passos mais à frente. Realmente na altura surpreendeu-me bastante a sua relutância e forte resistência em me acompanhar...  
Que raio é que o prendia à caixa dos tomates chucha? Já tínhamos concluído que não eram espanhóis e inclusive pensei que ele já andava com eles na mão, num saco em que os tinha ido pesar. Voltei-me para ele ao mesmo tempo que proferia pespineta: "Então?”... e foi quando dei de caras com um perfeito  desconhecido, completamente atónito por estar a ser arrastado com alguma violência por uma maluca que falava sozinha e lhe perguntava se já tinha os tomates pesados. Alguns metros atrás, o meu marido tinha a cara mais vermelha do que os ditos chucha que trazia no saco, de tanto rir à custa da minha atrapalhação.
Está visto que daí para a frente, em todas as reuniões de família, “Aquilo dos Tomates” passou a ser contado e recontado até à exaustão.
 

Tudo bem, que rir é saudável e é bem feito, porque os devaneios dispersos das senhoras entradotas devem ter um preço, e como diz o ditado "à primeira, qualquer cai; à segunda, cai quem quer," por isso toda a atenção é fundamental se quero manter os meus padrões de pessoa pertinente.

Uns dias antes do meu aniversário, em Agosto, no balcão de reclamações duma outra superfície comercial, confundi um rapazola com o meu genro, filei-o por um braço e disse-lhe "anda, filho." Bem, nem queiram saber a cara que me fez! Um estranho esgar de onde quase se ouvia gritar “Olha olha a velha maluca a ver se me engata! Credo! Eu, uma Cougar, quando o único Cougar que conheço é (ou era) o Mellencamp. 
Aceito sugestões que não passem pela que a minha neta propôs, um colete com o seguinte texto: "Se esta senhora o agarrar, fuja!"
 
(Imagem Google)

A Norte do Trancão (2)

jpt, 08.11.22

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(A Norte do Trancão [2])

"Em Roma sê romano", clamava a sageza republicana, tão avessa à barbárie multiculturalista que tanto, neste depois, viria a ensombrar o Império.

Nessa crença sendo, cruzando o Porto fui conduzido ao Velasquez para proceder à obrigatória "observação-participante": ali, entre ordeiros e satisfeitos grupos provenientes de um bem sucedido encontro futebolístico local, um "dérbi" como sói dizer-se - no qual os vizinhos vindos da industriosa Paços de Ferreira haviam soçobrado -, confrontei-me com a célebre "francesinha", essa avoenga do hambúrguer de queijo disposta em maré viva de gordura. Foi um apreciável acto etnográfico. Agrado que se me sublinhou à saída, na gentil despedida que me foi ofertada, uma "boa estada cá pelo Norte" concedida pelo "colaborador" que nos atendera, a qual me foi logo interpretada como devida não só a ter eu pedido, repetidamente, "uma imperial, por favor" como por o ter feito com aquilo a que aqui chamam, erradamente, "sotaque".

Portugalidade

jpt, 08.11.22

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(A Norte do Trancão [1])

Muitas vezes se ouvem lamentos sobre a perda das tradições, dos férreos valores que sustentam a nossa virtuosa portugalidade. Mas há saudáveis excepções, que nos acalentam a esperança na consistência do futuro...

Estou em trânsito entre capitais de distrito, gentileza de alguém que se lembrou de me convidar para uma sessão lectiva ("dar uma aula" é uma formulação ideológica tão falsária que sempre a refuto, mesmo que neste caso seja literalmente verdadeira). Enfim, para o efeito acabo de apanhar um transporte rodoviário (pelo recomendável preço de 8,99 euros, bem preferível ao do TGV). O autocarro / machimbombo parece um Expresso de Babel, com a habitual predominância do pidgin-english.... Sinal destes tempos, para alguns basto incomodativos.

Mas lusitano resiliente é o motorista, dando tratos de polé aos passageiros mais jovens, do "tu" altivo ao sarcasmo ríspido, que os atrapalham. E cioso lusófono, quase perdigotando face às pequenas dúvidas dos ignorantes da nossa bela língua, qual evidente e enfastiado "ide para a vossa terra!", E que entretanto se desenrasquem quanto a horários, carreiras, destinos e mesmo lugares disponíveis. E fiquemos cientes de que não está só, o seu colega do autocarro prévio era ainda mais épico face à amálgama atarantada de maçadores clientes.

A este meu condutor mostro-lhe o bilhete. Olha para mim, acena-me com a cabeça para que entre eu, com um laivo de ricto sorridente, até afável. Nisso quase chegando ao "boa tarde". Pois "qu'isto entre nós é diferente", percebo-o. E sigo sossegado para norte do Trancão, assegurado que os pátrios princípios, emanados das terras de xisto, carvalhos e courelas, continuam a enformar a nossa alma.

A Livraria Martins

jpt, 26.08.22

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(Como ontem se inaugurou a Feira do Livro de Lisboa deixo este postal sobre uma livraria que acabo de conhecer)

Vim a Lisboa para a ver, querida e antiga amiga, companheira em Moçambique, ela andarilha lá e no mundo, agora regressada após meses, quase um ano, na "Pérola..." e a calcorrear os "distritos", para minha - até dolorosa - inveja. Abraçamo-nos, eu sigo no defeito da franqueza e "estás óptima", ela riposta, impiedosa connosco num "estou nada, estou velha!", eu rio-me, pois por mim concordo (e muito) mas não nela, que sempre lhe noto o viço do olhar límpido, esse daqueles que ainda se conseguem encantar. Com lucidez...

Sentamo-nos na esplanada, ali junta à Avenida de Roma, as cercanias dela. Encaramos o célebre - pois "dos tempos" - "Cockpit", enfrenta ela um cocktail vistoso, eu a monástica imperial, e juntos depenicamos um qualquer petisco elegante. E mergulho, até sôfrego, no que me narra sobre esse do Niassa ao Maputo que agora voltou a percorrer, dos trâmites do seu enérgico trabalho, e uns laivos (a meu pedido) sobre os amigos comuns. Não vertemos saudosismo - o muito que então nos foi bom assim nos ficou -, ambos isentos do cândido sonho de regressar ao passado. Temos, sim, interesse: o meu nela, e seus passos, e espero que tal lhe seja recíproco, apesar do baço que manco. E sobre o país, daqueles tão enviesados rumos e esdrúxulos discursos, isso tudo que quando por lá até deixamos de estranhar mas que - e felizmente - nunca se entranhou.

 

 

Quotidiano

Maria Dulce Fernandes, 17.08.22

5:45h: O despertador toca e eu, qual cãozinho respondendo ao reflexo condicionado do princípio da torradeira, salto imediatamente da cama. Já me conheço há tempo demais para saber que se me dou mais “aqueles” 5 minutos, então é uma tragédia. Arrasto-me às necessidades matinais e ao duche, ao que se seguem os medicamentos da manhã, para controlar algumas das maleitas causadas pela PDI, e depois é o ritual de betumar a fachada, para a aparência ser pelo menos razoavelmente agradável à vista.

Começo pela aplicação do hidratante; ida à cozinha para tomar um Danacol; aplicação do fond de teint anti-age; nova ida à cozinha tomar um expresso. Lápis corrector, pincel n.º 1 para disfarçar as rugas finas, pincel n.º 2 para mascarar o código de barras que desponta do lábio superior, lápis branco, lápis preto, sombras numa palete de rosa pastel para efeito fumée, masquera, dois ou três toques de pinça para que os pelos aramados de uma barba branca que desponta no queixo não magoe ninguém que eu tenha de cumprimentar, apesar de ser muito pouco ou nada beijoqueira. Segue-se o blush, o batom e o gloss.

Meia dúzia de escovadelas no cabelo de cabeça para baixo e mais meia dúzia depois dum arremesso violento do pescoço para trás. Tem dias em que o cabelo parece um ninho de ratos e faz-se o possível para domar com laca as pontas teimosas, deixando-o consequentemente com uma textura de autêntico capacete de protecção. Três borrifos de perfume et voilà, eis-me pronta para entrar em cena e enfrentar as feras.

De Inverno, ainda consigo aparentar alguma jovialidade e frescura, mas no Verão, naqueles dias em que o calor aperta tanto que nos embaça os pensamentos, a artificialidade exposta ao pico do termómetro tem tendência para derreter, transpirando óleo pelos poros e alterando a conseguida fisionomia agradável, para uma Marie Antoinette depois de decapitada.

Tem dias que quando olho para o espelho logo de manhã, fico com vontade de fugir ao ritual. Bolas, nem sempre há pachorra! Mas lá cumpro o meu rito quotidiano, porque fui educada na fé cristã e não quero quebrar o mandamento n.º 5 , assustar  alguém  e incorrer num dos 7 pecados mortais. 

As Portas

Maria Dulce Fernandes, 01.08.22

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Um dia destes, o meu amigo Edmund referiu, muito sabiamente, que criamos muros ou barreiras emocionais como escudo contra as investidas da vida, muros esses que de algum modo também nos impedem de ver o mundo à nossa volta com clareza, deixando-nos emparedados e isolados de tudo o que nos rodeia. É por isso que, neste emparedamento a que nos votamos, seja forçoso haver portas.

Portas que se abrem, portas que se fecham, portas de entrada, portas de saída.

Portas… o meu malogrado Facebuddie, com quem alegremente debatia sobre duas grandes paixões, que ambos partilhávamos: Banda Desenhada e Filmes. Apesar de não cerrarmos fileiras pelos mesmos estandartes, ele sabia ouvir e era exímio em explicar. Fica a saudade.

Portas… The Doors of Perception, do Aldous Huxley… bom livro, meio estranho, onde para mais facilmente se poder atingir um nível de conhecimento superior é necessário haver um agente exterior que nos eleve o espírito para outra dimensão. À falta de mescalina ou payote, comprei meia dúzia de pacotes de batatas fritas com tempero especial… a ver se chego lá.

Portas… a da 5ª Dimensão, onde tudo é irreal, surreal, e ao mesmo tempo tão real, que é difícil realizar se será realmente a realidade.

Portas… expressões do dia a dia: estúpido que nem uma porta, surdo como uma porta, portas meias, bater com a porta, dar com o nariz na porta, quando Deus fecha uma porta abre sempre uma janela.

Portas… Ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros… também a conselho do meu amigo Edmund, eu deveria ser mais polémica nos meus escritos – porque isto de se tentar ser politicamente correcto deixa as postagens um bocado chove-não-molha, por isso introduzir aqui o outro Portas penso que trará polémica qb, nunca deixando cair o tema principal.  As portas que se fecharam na Moderna, as empenadas e com ferrugem, nos Tridentes, e outras mais que estarão perras e arqueadas nos Pandur. Se aqui não houver assaz polémica, daquela que é como o vinho do Porto, quanto mais velha melhor,  vou ali e já venho.

Portas… Os Doors… as portas abertas ao som sublime, aos poemas transcendentais, ao lado de lá… A porta é já ali, break on thru to the other side… Vou decididamente  necessitar mais das tais batatas fritas.

Portas… As portas do 1, 2 3, qual é a porta que escolhe? Escolher sabiamente abre de imediato a porta da fama, onde chovem purpurinas e soa um clamor de vitória acompanhado pelo ruido de consecutivas salvas de palmas… são os tais 15 minutos no topo do mundo. Provavelmente já ninguém se lembra do 1,2,3, da bota Botilde e das portas da sorte, onde brilhava o Sr. Televisão. Foi uma porta que se fechou.

Fuga

Maria Dulce Fernandes, 26.07.22

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Já não há cavernas nem buracos no chão.
Não há gente enclausurada que analisa o mundo através de sombras projectadas por uma fogueira, na solidão imensa duma caverna escura e silenciosa.
 
As pessoas vivem enclausuradas dentro de si próprias. É imperativo fecharem-se, isolarem-se do que as rodeia, se mentalmente lúcidas e ambicionarem manter a sanidade e encontrar alguma paz.
 
Vive-se à mercê de um cata-vento enferrujado, que gira ruidosamente sem quietude nem trégua, a uma velocidade assustadora, vertiginosa, fulminante, que nos arremete contra nós próprios com uma violência inaudita e aterradora.
 
Abre-se a janela a mais um dia e a histeria e a loucura colectiva que se colam à pele das gentes em forma de calor e cheiro a mar e a transpiração, entram de sopetão e atordoam como bombas de vogais e consoantes ásperas, rudes e de sílabas mal colocadas, que rebentam sem lógica nem ordem por todo o lado, num espaço onde o tempo teima em não passar e o vislumbre de uma caverna ou um buraco no chão onde o efeito da onda de choque possa ser mitigado é apenas mais uma miragem, ou o delírio duma mente torturada.
 
A luta é interminável e desesperante, principalmente aquela que se desenrola dentro de nós e nos transforma em coisas, em bichos, em seres sem qualquer razoabilidade, actores secundários num genérico de uma série de ficção de quinta categoria, que de tão eclética é totalmente incompreendida.
 
(Imagem Google)

Ao Largo da Feira

jpt, 15.07.22

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Não sou muito de doces. Aliás, tenho a ideia - que me é dogma - que homem que é homem não segue dado à doçaria, a esta deixando, em risonho e justificado mansplaining, como monopólio da volúpia do belo sexo. A nós os óleos e banhas da crocante chamuça, do rústico rissol, da bacalhauzada, do entrecosto a roer. A elas - e, vá lá, aos do convento - os açúcares que amainam os espíritos. É certo, é-nos permitida, e até requerida, a mera colher de café do pudim esponsal, sinal da partilha infindável que é o amor, e mesmo a de chá na musse alheia, marca do furor lascivo do amantismo. Mas só isso...
 
Na alvorada de hoje visitei a pastelaria fina da vila. Já lá havia estado, meia dúzia de vezes, "ao pão" e café. Após uma noite insone, encetei-me, em busca de alento para o dia, com uma para mim antiquérrima dupla, a Coca-Cola e a bica. Mas tamanho era o défice próprio que lhe associei - com a impudicícia permitida pela solidão e total anonimato - um "jesuíta", bolo que terei comido com agrado na juventude impúbere.
 
E fiquei absolutamente espantado. O tal "jesuíta" é ali uma verdadeira delícia, única. Um memorável momento... E enquanto o mastigava, surpreendido, lembrei-me de que já me haviam recomendado, com fartos encómios, a pastelaria desta "Largo da Feira", em Palmela.
 
Garanto-vos, vinde ao vinho, vinde ao belo castelo panorâmico, vinde às magníficas tulipas e entremeadas do "Miradouro" virado ao (agora fustigado) Vale dos Barris. Mas passai - até para agrado das Senhoras da vossa vida - pela pastelaria "Largo da Feira" a abastecerem-se dos tais açúcares de fabrico próprio, que estes amainam mesmo os espíritos.

1º de Julho

jpt, 02.07.22

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Na esplanada de Nenhures acabo um dia nulo. Atrás de mim uma mesa festiva, uma vintena de homens, de cinquentões a septuagenários, clientes locais que acolhem, mesa e braços abertos, parceiros hispânicos. As conversas saem-lhes risonhas e múltiplas, afastam-me do velho livro. Alguém tem uma pequena coluna, destas coisas de música da internet. Tocam os cubanos daquele Ry Cooder, os velhos do Buena Vista... Peço mais uma imperial, já em demasia. Pois Julho começou. E há sempre um pouco felicidade a flanar, aspergindo. Mesmo que alheia. 

Cheap Trick

jpt, 16.05.22

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Cheap Trick - I Want You to Want Me (from Budokan!) [Official Video]

A idade é isto, a tendência para resmungar com o que se passa, na desesperança de "isto ir lá", ainda que não saibamos bem para onde, e nisso a perdermos todo o resto. Dito isto, aporto hoje a meio da tarde na "Miradouro", meu local de refúgio quando a Sul do Tejo. Encosto ao pequeno balcão - belíssima imperial, vera "tulipa", face à capitosa oferta do pires do amendoim agregado ao pires do tremoço, essa mescla "comme il faut", e hoje ainda o cúmulo do pires de caracóis, e estes também marcham "malgré moi-même", que em Roma sê romano, única coisa de antropologia de que ainda me lembro, decerto por a ter aprendido bem antes da universidade, em casa-própria (que chega de galicismos). E estou eu ali a atrapalhar os destroços à que chamo dentadura, essa minha "ucrânia", e no rádio toca esta "I want you to want me". Rio-me alto, "o que foi?" perguntam-me detrás do balcão, onde mora um tipo porreiro, "é esta música" desculpo-me, sem lhe dizer o quão omipresente ela foi num antes longínquo, mesmo que rockezito piroso ou talvez mesmo por causa disso... "É dos tempos!" diz-me o mais novo... E mais me rio, na breve memória das festinhas liceais dos finais de 70s. E concluo, neste agora só para mim, que a vida veio a ter menos "charme" (afinal, mais um galicismo) do que imaginei. Mas não seja por isso, sorvo mais um caracol e beberico a bela imperial. E trauteio, juvenilizado, "i want you etc..."

Pelo canto do olho

Paulo Sousa, 18.04.22
Há dias, quase pelo canto do olho, reparei num sem-abrigo sentado no chão.

Estava rodeado por duas senhoras que falavam com ele. O assunto de conversa era o seu fiel animal de companhia. Enquanto uma delas penteava o cão e a outra encetava uma embalagem de petfood, o sem-abrigo respondia às duas, encantado. Pareceu-me que a sua satisfação maior era por ter alguém com quem conversar.

Eu, que sou avisado e observador, ignorei-os e segui à minha vida.