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Delito de Opinião

Presidenciáveis (54)

Pedro Correia, 25.05.15

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António Capucho

 

Já ambicionou ser presidente da Assembleia da República. Na altura - corria o mês de Junho de 2011 - Pedro Passos Coelho trocou-lhe as voltas, preferindo Fernando Nobre para tal função, que acabaria afinal por ser confiada à inconfundível Assunção Esteves.

Foi um "inconseguimento frustracional", como diria a própria Assunção. António Capucho não perdoou a Passos esta desfeita. A partir daí ultrapassou a oposição nas críticas ao Governo liderado pelo partido que ele ajudou a fundar em 1974 e onde detinha um dos mais vistosos currículos. Foi secretário-geral nos tempos pioneiros de Sá Carneiro, vice-presidente social-democrata, ministro, líder parlamentar, eurodeputado, conselheiro de Estado, autarca no feudo laranja de Cascais.

Ao trocá-lo por Nobre, Passos comprou uma guerra inútil. E arranjou um inimigo: Capucho tornou-se demolidor na contestação ao executivo PSD-CDS, chegando a apelar publicamente ao Chefe do Estado para dissolver o Parlamento em Julho de 2013 - com o País ainda sob intervenção externa, sem acesso aos mercados financeiros e ameaçado por taxas de juro proibitivas. Na altura percorreu os canais televisivos a defender tal tese, à qual Cavaco Silva fez orelhas moucas.

Concorreu às autárquicas desse ano em Sintra, como candidato à Assembleia Municipal, numa lista independente que se opunha à do PSD. E nas europeias de 2014 apelou ao voto no PS de António José Seguro, transmitindo a sensação de andar com o passo trocado. Marchando em qualquer direcção, desde que fosse contra Passos.

Este capricorniano de 70 anos acabou por ser expulso do PSD - sancionado em função dos estatutos aprovados no tempo em que era secretário-geral.

Permanece desde então à espera de uma vaga de fundo que o recupere para a política. Não faz segredo: nada lhe  agradaria tanto como uma corrida presidencial. "Tenho perfil para o lugar de Presidente da República", assegura com a singular imodéstia que sempre o notabilizou.

 

Prós - Foi um dos raros ministros portugueses que já ocuparam a mais cobiçada das pastas governamentais: a da Qualidade de Vida. É o candidato ideal para captar votos ao centro: ninguém faz hoje a menor ideia se ele é de esquerda ou de direita. António é o nome mais comum dos Presidentes portugueses. Já houve cinco: António José de Almeida, António Óscar de Fragoso Carmona, António Sebastião Ribeiro de Spínola, António dos Santos Ramalho Eanes e Aníbal António Cavaco Silva. 

 

Contras - O precário estado de saúde que em Janeiro de 2011 o levou a renunciar, por esse motivo expresso, à presidência da Câmara de Cascais. Diz-se ainda social-democrata mas qualquer socialista lhe serve: votou "em consciência e em coerência" no PS de  Seguro e prepara-se para votar no PS de Costa, de quem tem "boa impressão enquanto político e enquanto pessoa". Já quis ser presidente da Cruz Vermelha, algo que afugentaria o voto dos mais fervorosos laicistas.

Presidenciáveis (53)

Pedro Correia, 22.05.15

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 Luís Figo

 

Agora que anunciou o fim da corrida à presidência da FIFA, a uma escassa semana de ir a votos, aquele que foi considerado o melhor futebolista do mundo em 2001 - hoje um empresário de sucesso, ao que rezam as crónicas mundanas - poderia fazer uma ligeira inflexão de rota, candidatando-se a Belém. Numa finta de corpo igual àquelas que tantas vezes exibiu em campo, para alegria dos adeptos em Portugal, Itália e Espanha.

Desporto e política não se misturam? Isso é paleio de quem recusa encarar a realidade. O próprio Luís Figo demonstra o contrário: a carreira política dele começou aliás num fotografadíssimo pequeno-almoço num hotel à beira-Tejo, a dois dias das legislativas de 2009. Apareceu ao lado de José Sócrates nesse evento, que terá custado uma pequena fortuna aos cofres socialistas. Pelo menos da fama de pesetero o craque não se livrou...

O jogador que deu os primeiros toques na bola no modesto Pastilhas - agremiação de bairro da Cova da Piedade - e teve formação de excelência no Sporting, onde venceu uma Taça de Portugal, é mais persuasivo no relvado do que fora deles: Sócrates perdeu aquela eleição. Mas aos 42 anos este nativo de Escorpião está muito a tempo de experimentar a política, desta vez não como apoiante mas como protagonista. Muitos antes dele fizeram o mesmo: Pelé foi ministro do Desporto, Romário é senador federal,  George Weah candidatou-se a Presidente da Libéria.

Não teria hipóteses de ganhar? Muitas vezes a política é tão redonda como uma bola. E os melhores prognósticos fazem-se sempre no fim.

 

Prós - Habituou-se muito cedo a superar desafios: aos 18 anos sagrou-se campeão mundial de sub-20, no campeonato de 1991, disputado em Portugal. Morar num palácio com vista para o Tejo lembrar-lhe-ia um dos melhores negócios da sua carreira pós-futebol: os 750 mil euros recebidos do Taguspark por uns vídeos destinados à promoção do parque tecnológico de Oeiras. Helen Svedin, como primeira dama, daria o maior contributo ao estreitamento das relações luso-suecas desde a instalação da Ikea em Portugal.

 

Contras - Ameaçava bater Blatter, mas o remate saiu-lhe ao lado. Tendo sido um jogador manifestamente destro, suscitaria poucas simpatias no espectro ideológico situado mais à esquerda. "Sócrates é uma pessoa séria, honesta e profissional", declarou Figo na campanha eleitoral de 2009 sem aludir ao filósofo grego nem ao avançado brasileiro que se celebrizou no Mundial de 1982.

Presidenciáveis (52)

Pedro Correia, 21.05.15

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José Gomes Ferreira

 

António José de Almeida, um dos políticos mais conceituados dos anos iniciais do regime republicano, exerceu o jornalismo - a tal ponto que em 1911 chegou a fundar o vespertino República, jornal que atravessou todo o período da ditadura como o principal órgão da oposição ao salazarismo e viria a morrer, por amarga ironia, em tempos de liberdade ainda precária. O sequestro pela extrema-esquerda, em 1975, apressou-lhe o fim. E confirmou o seu último director, Raul Rêgo, como um intransigente lutador contra os extremismos de todas as cores - ele que também foi um jornalista seduzido pela política, ao ponto de ter sido ministro da Comunicação Social do I Governo Provisório, logo após o 25 de Abril, e deputado do PS durante longos anos.

Serve este intróito de enquadramento à proto-candidatura presidencial de José Gomes Ferreira, um dos mais populares jornalistas portugueses dos nossos dias, presença regular nos ecrãs televisivos a descodificar as atribuladas contas da nação, seja no Jornal da Noite seja como apresentador e entrevistador no programa Negócios da Semana.

Aqui há uns tempos surgiu até um movimento espontâneo nas redes sociais para o impulsionarem a dar o passo - às vezes muito curto - que separa o jornalismo da política. Este nativo de signo Virgem, nascido há meio século numa aldeia do concelho de Tomar, fez logo constar que não estava interessado. Mas nunca se sabe: talvez um dia a tentação seja mais forte.

 

Prós - Tem nome de escritor, o que ajudaria a mobilizar os intelectuais. Em contas ninguém o supera: tal como Cavaco Silva, faz questão em distinguir a boa moeda da má moeda. Pouparia muito dinheiro na campanha eleitoral: basta-lhe aparecer no ecrã a explicar o que significa "risco sistémico" ou "espiral recessiva" para os taxistas dizerem aos seus clientes: "Aquele homem da SIC é que percebe disto."

 

Contras - Um candidato natural à Presidência da República seria o próprio patrão da SIC, Francisco Pinto Balsemão, o que talvez suscitasse algum conflito de interesses lá para as bandas de Carnaxide. Clara de Sousa e Rodrigo Guedes de Carvalho deixariam de poder tratá-lo por tu quando o entrevistassem. Não faltam jornalistas mal sucedidos quando decidem fazer o teste das urnas - de Manuela Moura Guedes a Vicente Jorge Silva, que mal chegaram a aquecer os lugares no Parlamento, passando por Paulo Portas, que fundou e dirigiu O Independente, ou Carlos Carvalhas, que foi director do Notícias da Amadora.

Presidenciáveis (51)

Pedro Correia, 20.05.15

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João Proença

 

Mesmo nos tempos mais duros da austeridade, manteve abertas as vias de contacto com o Governo. E em Janeiro de 2012 não hesitou em dar luz verde às reformas laborais impostas pela tróica no âmbito do programa de assistência financeira de emergência a Portugal. Isto granjeou-lhe rasgados elogios do ministro da Economia: Álvaro Santos Pereira chamou-lhe  "patriota". Mas também críticas ferozes da esquerda comunista: o Avante!, órgão oficial do PCP, associou o seu nome à palavra traição.

João Proença, nativo do signo Touro nascido há 67 anos no concelho de Belmonte, está habituado a dividir águas - mesmo dentro da área política a que pertence. Filiado no PS, foi deputado deste partido e seu dirigente nacional antes de ascender à liderança da segunda maior central sindical portuguesa, onde permaneceu como secretário-geral entre 1995 e 2013. E à frente da União Geral de Trabalhadores assinou acordos de concertação social com governos de esquerda e de direita. O mais recente valeu-lhe  críticas do fundador da UGT, Torres Couto, porventura já esquecido do precedente que ele próprio abrira em 1992, quando brindou com o primeiro-ministro Cavaco Silva ao acordo sobre política de rendimentos e preços, selado com festivos cálices de Vinho do Porto.

Após o pacto de 2012 um conhecido comentador do jornalismo económico sugeriu que fosse erguida "uma estátua a João Proença". Manifesto exagero. Mas talvez este engenheiro químico, hoje retirado da frente sindical, não se importasse de morar numa casa com vista para uma estátua - a de Afonso de Albuquerque, situada a poucos metros do Palácio de Belém.

 

Prós - Tem reputação de jogar sempre pelo Seguro. O facto de ser conterrâneo de Pedro Álvares Cabral ajudaria a estreitar as relações luso-brasileiras. Com os anos acumulados de experiência sindical, habituado a negociações difíceis, conseguiria certamente atribuir um salário mais condigno a si próprio enquanto inquilino de Belém, poupando os portugueses à reedição das lamúrias de Cavaco Silva, que optou por duas pensões de aposentação, cuja soma é superior aos 6523 euros atribuídos ao Presidente da República como remuneração mensal.

 

Contras - A profissão de engenheiro químico parece pouco propícia aos ares de Belém: Maria de Lourdes Pintasilgo, única candidata presidencial com esta formação académica, recolheu apenas 7,4% dos votos em 1986. Os filiados na CGTP não votariam nele: Arménio Carlos acusa-o de ter  "lesado os trabalhadores com os acordos que assinou". João, sendo o nome masculino mais popular em Portugal, tem muito mais conotações monárquicas do que republicanas: houve seis reis com esse nome e apenas um Presidente, o remoto almirante João Canto e Castro, que permaneceu menos de dez meses ao leme do Estado, entre 16 de Dezembro de 1918 e 5 de Outubro de 1919 (e ainda por cima era monárquico). 

Presidenciáveis (50)

Pedro Correia, 18.05.15

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Alexandre Soares dos Santos

 

Num país onde tantos se pronunciam a meia-voz, ele destaca-se por dizer aquilo que realmente pensa. Falando do alto do seu império familiar, que dá cartas no sector da distribuição, Alexandre Soares dos Santos vai lançando anátemas sobre políticos da vida real à hora a que metade dos portugueses se entretêm a ver telenovelas.

Já livre de responsabilidades directas na administração do grupo Jerónimo Martins, agora liderado pelo seu filho Pedro, poderia sentir-se impelido a exercer "magistratura de influência" num palácio cor-de-rosa à beira-Tejo onde alguns inquilinos se limitaram até hoje a ver passar navios.

Não seria certamente o caso deste empresário nascido há 80 anos sob o signo Balança. Soares dos Santos gosta de chamar as coisas pelos seus nomes, sem vender gato por lebre. Por vezes as suas palavras podem até conter um Pingo Doce, mas deixam um travo amargo ao Estado a que isto chegou.

 

Prós - Alexandre, nome de imperador, fica sempre bem num candidato mesmo que Portugal já tenha perdido o império. Haveria um previsível reforço das relações entre Portugal e a Holanda, para onde o grupo Jerónimo Martins transferiu parte dos dividendos, que ali beneficiam de maior benevolência fiscal. Poupado nas viagens, ninguém o veria noutro Continente.

 

Contras - Era capaz de pôr o País a trabalhar no 1º de Maio, como fez na sua rede de distribuição, e lá ia mais um feriado parar ao baú de recordações. A CGTP acamparia no jardim fronteiro a Belém, em protesto permanente contra o "patronato reaccionário". O velho Museu dos Coches, que em tempos foi picadeiro real, poderia ser transformado num hipermercado.

Presidenciáveis (49)

Pedro Correia, 15.05.15

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Nicolau Breyner

 

Os americanos tiveram um astro de Hollywood, Ronald Reagan, como um dos seus líderes mais carismáticos. Em França, um popular comediante - Coluche - chegou a rivalizar com François Mitterrand na corrida de 1981 ao Palácio do Eliseu. Joseph Estrada foi vedeta do cinema antes de ser Chefe do Estado das Filipinas. Porque não há-de um actor concorrer à Presidência da República em Portugal? Algo inédito neste país tão conservador nos costumes políticos, contribuiria certamente para mobilizar o eleitorado.

Entre os actores que têm revelado vocação política destaca-se Nicolau Breyner. No Verão quente de 1975, assegurou a segurança nos comícios do PS. Mas foi já com os ânimos mais arrefecidos que encabeçou uma candidatura autárquica pelo CDS no Alentejo profundo. Em Serpa, seu concelho natal. Neste município que sempre votou maioritariamente nos comunistas levou em 1993 os democratas-cristãos ao segundo lugar, conseguindo 26,3% e dois lugares na vereação.

Seria este benfiquista de signo Leão, hoje com 74 anos, um possível Reagan português capaz de transformar Belém num palco à medida dos seus dotes histriónicos? Pioneiro nas telenovelas portuguesas, como co-autor e intérprete do camionista João Godunha em Vila Faia, poderia ser um pioneiro também nisto. Porque se cada político é actor, também um actor tem todo o direito de ser político.

 

Prós - Herman José daria uma ajudinha na campanha recriando com o candidato o célebre duo Senhor Feliz e Senhor Contente. Num país com graves carências financeiras, daria jeito ter como supremo magistrado alguém que se notabilizou na peça Esta Noite Choveu Prata. Fernando Mendes, seu ex-parceiro em Nico d' Obra, tornar-se-ia conselheiro financeiro de Belém, ajudando a estabelecer o Preço Certo

 

Contras - A esquerda radical recusaria um Presidente com apelido germanófono, saindo à rua para o mandar à Merkel. Um homem que se fartou da rotina do teatro por recusar declamar sempre o mesmo papel noite após noite aguentaria estar cinco anos em cena? Dizem que os alentejanos são lentos a chegar mas podem ser rápidos a partir: o último, o general António de Spínola, durou apenas quatro meses em Belém, entre Maio e Setembro de 1974.

Presidenciáveis (48)

Pedro Correia, 14.05.15

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Manuel Monteiro

 

Quando chegou à presidência do CDS, que logo se apressou a baptizar como Partido Popular, não tinha ainda idade mínima para candidatar-se ao Palácio de Belém: com menos de 35 anos ninguém se senta no cadeirão agora ocupado por Aníbal Cavaco Silva.

Olha-se hoje para Manuel Monteiro e conclui-se que o tempo passa mesmo muito depressa. O rapaz magrizela de 29 anos que sucedeu ao histórico Adriano Moreira como dirigente máximo dos democratas-cristãos já é cinquentão e fala com a pose senatorial que criticava nos veteranos de outros tempos.

A política é a arte de bem gerir o tempo. Mas o jovem Monteiro, apressado, não soube aguardar que a locomotiva do poder passasse à sua porta. Se fosse uma pessoa mais paciente, talvez já tivesse chegado a vice-primeiro-ministro num governo de coligação.

Alcançado um prematuro brilharete nas legislativas de 1995, em que viu duplicada a votação do CDS e triplicado o seu grupo parlamentar, este nativo de Carneiro confirmou com pasmo como a observação de Churchill conserva plena actualidade: os adversários estão fora, os inimigos estão dentro.

Eurocéptico antes do tempo, com um discurso anti-Bruxelas uma década antes de se tornar moda, abandonou o partido em que militava desde a adolescência, fundou outro condenado à irrelevância desde o berço e retirou-se enfim para um recatado percurso académico. Aos 53 anos, amadureceu o suficiente para perder muitas ilusões mas é demasiado jovem para escrever as suas memórias, sentado na varanda ou à lareira.

«Quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino», ensinou outro Adriano, revisitado por Marguerite Yourcenar. Nunca os ventos foram tão propícios para a direita soberanista que encontra Manuel Monteiro como um dos arautos em Portugal. Terá o "golpe de loucura" suficiente para correr rumo a Belém?

 

Prós - Manuel é nome muito presidenciável: já houve três inquilinos em Belém com este nome (Manuel de Arriaga, Manuel Teixeira Gomes e Manuel Gomes da Costa). Permanece um espaço por preencher à direita, que não se revê na actual coligação e poderia ser desviado da abstenção com a sua candidatura.  Paulo Portas, irrevogavelmente, não votaria nele.

 

Contras - A imagem de pós-adolescente a que muitos ainda o associam. O seu errático percurso pós-CDS: a Nova Democracia não tardou a tornar-se velha. Transmite a sensação de que tem hoje pela política uma alergia que nenhum anti-histamínico consegue combater.  Paulo Portas, irrevogavelmente, não votaria nele.

Presidenciáveis (47)

Pedro Correia, 12.05.15

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Manuel Alegre

 

Há sempre alguém que diz não. Mas muitos militantes socialistas, e até eleitores que nem costumam votar no PS, gostariam que Manuel Alegre dissesse sim. Alguns notáveis que lhe viraram as costas noutras ocasiões - começando por Mário Soares, com quem entretanto reatou antigos laços de fraternidade socialista - consideram que o autor da Senhora das Tempestades merece uma terceira oportunidade, após ter sido derrotado duas vezes nas urnas por Cavaco Silva, em 2006 e 2011.

Agora que Cavaco não pode recandidatar-se e nenhuma figura da esquerda se impõe naturalmente na próxima contenda presidencial, por que não uma terceira oportunidade a quem escreveu A Terceira Rosa? Aos 79 anos, que festeja hoje, este benfiquista nativo de Touro - um signo de gente determinada e persistente - parece ter-se desinteressado de corridas. Mas com um poeta inspirado pela musa da política nunca se sabe qual será a resposta definitiva ao vento que passa. "O mundo é do tamanho que os homens queiram que o mundo tenha". Frase nada triste de Alegre.

 

Prós - A sabedoria popular costuma dizer que "à terceira é de vez". Sendo do Benfica, merece a simpatia de sportinguistas que muito apreciaram a sua "Flor de Verde Pinho", vencedora de um Festival da Canção, e até da eterna deputada verde, Heloísa Apolónia. Sampaio da Nóvoa, a conselho de Soares, talvez desistisse a seu favor numa sessão "unitária" com muito mais cravos do que rosas.

 

Contras - Gosta de pronunciar a palavra "pátria", que continua a provocar urticária a muita gente que se diz de esquerda. Os numerosos defensores dos direitos dos animais detestariam ter um Presidente amante da pesca e da caça. Os escassos amantes da mutilação ortográfica em curso encontrariam nele um firme opositor ao extermínio das consoantes mais desfavorecidas.

Presidenciáveis (46)

Pedro Correia, 11.05.15

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Ana Gomes

 

Dêem-lhe um palco e logo o discurso lhe brota, torrencial como nos verdes anos em que era militante vermelha e para ela ninguém parecia melhor que Mao. Sobre submarinos e aviões, sobre estaleiros e sobreiros, sobre o Iraque e a Líbia, ferve a todo o momento de indignação. E vai à luta nas pantalhas, qual padeira de Aljubarrota contemporânea, erguendo os decibéis como principal arma de combate frente a qualquer antagonista de circunstância.

Aquariana de 61 anos, Ana Gomes distinguiu-se nos dias de chumbo da ditadura indonésia como defensora intransigente da causa timorense. Adoptando uma diplomacia de tacão enquanto alguns colegas mais cautos lhe recomendavam o conforto da pantufa. Subiu aos píncaros da fama enquanto o País cantava "Ai Timor" e vitoriava Xanana Gusmão como o Mandela da lusofonia.

Transitou para a militância activa no PS e mantém-se há três intranquilos mandatos como deputada no Parlamento Europeu, que lhe vai proporcionando doses de adrenalina política, como sucedeu nos controversos voos da CIA. Jamais incólume a polémicas, que com ela viajam sem cessar de um caso a outro.

 

Prós - Gosta de partilhar: transforma qualquer causa dela em Causa Nossa. Seria a primeira chefe do Estado português do sexo feminino - e a primeira em regime republicano - desde a morte prematura da Rainha D. Maria II, em 1853. Xanana, de quem se tornou amiga, decerto não se importaria de viajar de propósito a Portugal para abrilhantar os comícios de campanha da ex-embaixadora portuguesa em Jacarta.

 

Contras - A palavra voa-lhe por vezes mais veloz que o pensamento, como quando se apressou a invocar causas "sociais" para o morticínio no Charlie Hebdo. Alguns socialistas, que nunca integraram o seu clube de fãs, assumiriam sem hesitar qualquer outra opção de voto.  Os cristais de Belém sofreriam eventuais danos irreparáveis nos momentos em que a voz dela se elevasse aos patamares característicos de Bianca Castafiore. 

Presidenciáveis (45)

Pedro Correia, 08.05.15

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Eduardo Barroso

 

Há nove anos que não existe um fervoroso adepto sportinguista no Palácio de Belém - quase tanto como o tempo que o Sporting leva sem ganhar o campeonato. Esta lacuna seria bem compensada com a candidatura de Eduardo Barroso, o médico cirurgião hepato-bilio-pancreático mais conhecido do País, que sempre sonhou ser presidente. Da direcção leonina.

Mas não falta quem diga que é mais fácil presidir aos destinos do País do que da nação sportinguista, o que talvez estimule este ex-presidente da Assembleia Geral do Sporting - um aquariano de 66 anos - a trocar o futebol pela política.

 

Prós - É sobrinho de um ex-Presidente da República (Mário Soares) e foi médico de outro (Jorge Sampaio) que poderiam dar-lhe decisivas lições sobre a política, essa "arte do possível" onde tantos festejam empates como se obtivessem vitórias. Teria o voto maciço dos eleitores sportinguistas, embora não necessariamente o de Godinho Lopes. Marcelo Rebelo de Sousa, o seu melhor amigo, diria bem dele na televisão durante um par de semanas.

 

Contras - É rara a vez em que não abre a boca para falar contra os homens do apito no futebol: enquanto árbitro do sistema político, que nomes chamaria a si próprio? A esmagadora maioria dos eleitores do Benfica e do FC Porto não votaria nele, com as prováveis excepções de Fernando Seara e Manuel Serrão. O seu primo Alfredo Barroso poderia regressar a Belém, como chefe da Casa Civil, esquecendo que ninguém deve voltar aos lugares onde já se sentiu feliz. 

Presidenciáveis (44)

Pedro Correia, 06.05.15

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Fernando Rosas

 

Gosta de dizer o que pensa, embora nem sempre acerte no que diz. Como ficou bem patente nas críticas apressadas que fez na televisão ao recém-eleito Papa Francisco por ter colaborado com a ditadura argentina - acusação sem o menor fundamento, ditada pela sua fervorosa fé anticlerical.

Fernando Rosas, historiador e professor universitário, representa o lado plus bon vivant da esquerda chique portuguesa. Na juventude, este nativo de signo Carneiro militou no Partido Comunista. Depois, com um bigode farfalhudo, levantou o punho em defesa do MRPP, "verdadeira voz da classe operária". Findo o flirt com o maoísmo em versão tuga, viria a integrar em 1999 o quarteto de fundadores do Bloco de Esquerda - paradigma da efémera modernidade fin de siècle da qual se mantém, aos 69 anos, como referência patriarcal. Já sem fumar cachimbo mas mantendo os suspensórios que lhe conferem um vago parentesco cénico com o seu amigo Mário Soares.

 

Prós - Adora uma boa polémica, sem meias tintas: no auge do consulado socrático chamou ao então primeiro-ministro "um jovem lobo sem ideologia, puro produto do aparelho [socialista]". É um historiador rigoroso, como têm comprovado as suas obras relacionadas com o Estado Novo. Sobrinho do último ministro das Finanças de Salazar, aprendeu pelo menos uma lição com o ditador: a arte de saber durar.

 

Contras - O seu discurso torrencial perde-se por vezes em circunlóquios como este: «À esquerda ninguém chega a bom porto ignorando as outras energias sociais e políticas em tensão.» Leva o laicismo tão a peito que faz questão de nunca ser visto a menos de 50 metros de um cardeal. Já concorreu a Belém, em 2001: com apenas 3%, só conseguiu superar Garcia Pereira - algo que até o Rato Mickey conseguiria.

Presidenciáveis (43)

Pedro Correia, 05.05.15

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António Lobo Xavier

 

Seria um candidato com sólidas credenciais de direita, mas sem perder pontes de contacto à sua esquerda. Ainda por cima com a vantagem de ter uma tribuna semanal com audiência fixa na televisão em que pode exibir o seu discurso muito articulado durante quase 15 minutos sem contraditório (excepto quando é interpelado pelo representante da ala esquerda do painel, Pacheco Pereira).

Lobo Xavier é do CDS desde pequenino: já aprendeu muito e não esqueceu quase nada. Fiscalista reputado, chegou ao primeiro plano da vida política como presidente do grupo parlamentar democrata-cristão no tempo em que a bancada cabia numa cabina telefónica. Mas não tardou a trocar a trepidação da política pelo conforto da vida empresarial, muito mais monótona mas bastante mais bem remunerada.

Há quem jure, no entanto, que este jurista de 55 anos, signo Balança, jamais dirá a palavra nunca se souberem desafiá-lo a rumar em direcção ao Palácio de Belém. Mais a passo do que em corrida, para faz jus à sua fama de homem tranquilo.

 

Prós - Percebe de finanças e consta que tem uma vasta biblioteca. Portista convicto, é um dos raros compatriotas que conseguem pronunciar correctamente o nome de Lopetegui. Está habituado a sair com estilo e garbo de qualquer Quadratura do Círculo. Goza de apoio Público: é membro do Conselho de Administração da empresa proprietária do jornal.

 

Contras - Nas histórias infantis o Lobo é sempre mau. Os seus escassos inimigos asseguram que até o Rato Mickey seria capaz de o derrotar nas urnas. Nunca nenhum Presidente da República teve origem no CDS: o que andou mais perto foi Freitas do Amaral e depois disso não voltou a ser o mesmo. 

Presidenciáveis (42)

Pedro Correia, 30.04.15

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José Silva Peneda

 

Falta alguém com sensibilidade social em Belém? Pois aí têm essa pessoa: o presidente cessante do Conselho Económico e Social, que nesta qualidade assinou alguns dos documentos  mais contundentes contra a austeridade que ficaram a marcar a era da tróica em Portugal.

Conotado com o cavaquismo puro e duro, amigo do ainda inquilino de Belém, José Silva Peneda foi um discreto ministro do Emprego e da Segurança Social em dois governos de Aníbal Cavaco Silva. Mas soube compensar esse período de ausência das manchetes jornalísticas pelas suas mais recentes funções: era rara a semana em que os críticos do Governo PSD/CDS não citavam um parágrafo produzido pelo CES. E quase fizeram de Silva Peneda o seu herói.

Este nativo do signo Gémeos, de 64 anos, está na reserva da república. Mobilizável a qualquer momento, como se dizia no tempo dos nossos egrégios avós.

 

Prós - O mediatismo dos últimos anos: agradou a uma certa esquerda sem desagradar em excesso a uma certa direita conotada com o catolicismo social. Opõe-se ao aborto ortográfico. Silva é um apelido que o liga ao cidadão comum enquanto Peneda lhe confere uma aura de solidez. 

 

Contras - Suavizou o pendor crítico do CES quando começou a constar que figurava na lista dos proto-candidatos a comissário europeu. Na altura, chegou a transmitir essa ambição de forma talvez demasiado franca. Preterido por Carlos Moedas, trocou o CES por Bruxelas, a convite de Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia - um dos ramos da tróica, por sinal.

Presidenciáveis (41)

Pedro Correia, 27.04.15

 

Vítor Constâncio

 

Tem um ar grave e circunspecto, a condizer com os reposteiros presidenciais. O cachimbo fica-lhe bem. E há quem jure que percebe imenso de contas públicas - embora neste caso a doutrina se divida. Nativo do signo Balança, 71 anos. Já foi ministro das Finanças, como sucessor de Medina Carreira, governou o Banco de Portugal em tempo de previsões falhadas e ocupa hoje uma das vice-presidências do Banco Central Europeu. No PS, que contou sempre com o seu aval de especialista em operações de adição e subtracção, encontraria certamente alguns apoios: convém recordar que Vítor Constâncio chegou a ser secretário-geral do partido, entre as lideranças de Mário Soares e Jorge Sampaio.

 

Prós - Resiste incólume às intempéries. O descalabro das contas públicas - portuguesas e europeias - não lhe causou até agora um só cabelo branco.

 

Contras - Em 1987, com um lapidar erro de cálculo político, ofereceu de bandeja ao PSD a primeira maioria absoluta de Cavaco Silva: os militantes socialistas dotados de boa memória ainda não se esqueceram disto. Se fosse para Belém, perderia muito dinheiro: tem um salário milionário como vice-presidente do BCE.

Presidenciáveis (40)

Pedro Correia, 24.04.15

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Garcia Pereira

 

Eleição presidencial sem a presença de António Garcia Pereira é tão desoladora como um jardim sem flores. O líder quase-vitalício do MRPP já se tornou imprescindível em campanhas eleitorais - e qualquer uma lhe serve para exibir protagonismo defronte das câmaras.

Este advogado de 62 anos, signo Escorpião, terá presumivelmente mais clientes do que eleitores em termos proporcionais: nunca o seu partido, em quatro décadas de democracia, conseguiu eleger um só deputado para a Assembleia da República. Mas ele é dos que não desistem: a tenacidade, garante quem o conhece, é o seu ponto forte.

Como ensinava o Presidente Mao, um dos seus pensadores de cabeceira, "a revolução não é nenhum chá dançante". Passam os anos mas Garcia Pereira não esmorece na luta contra a burguesia e os critérios editoriais das televisões que ousam conceder ao MRPP um espaço idêntico ao dos votos que vem recolhendo de 1976 para cá.

 

Prós - Tem uma longa experiência na matéria: candidatou-se duas vezes ao Palácio de Belém, encabeçou listas eleitorais à Assembleia da República e até já se candidatou a presidente da Câmara de Lisboa. Presta tributo ao oceano, na senda de alguns dos maiores vultos da nossa história: é proprietário de uma embarcação de recreio.

 

Contras - As anteriores corridas presidenciais não lhe correram da melhor maneira na hora de escrutinar os boletins: obteve menos de 69 mil votos em 2001 (1,59%) e não chegou aos 24 mil em 2006 (0,44%)."Ousar Lutar, Ousar Vencer" - uma frase que lhe serve de mote - também já foi o lema preferido de Durão Barroso.

Presidenciáveis (39)

Pedro Correia, 23.04.15

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Daniel Proença de Carvalho

 

Sempre na sombra do poder, sempre ao centro, umas vezes ligeiramente mais chegado à direita outras vezes milimetricamente mais encostado à esquerda, aquele que é supostamente o advogado mais poderoso do País não se sentirá enfim tentado a trocar a penumbra dos bastidores pelas luzes da ribalta?

Beirão de 73 anos, signo Virgem, com um longo percurso como causídico que o levou a defender personalidades tão diferentes - mas nunca indiferentes - como António Champalimaud e José Sócrates, Daniel Proença de Carvalho não falhou nenhum evento importante em Portugal das últimas quatro décadas. Foi ministro, presidiu à RTP, comandou a campanha presidencial de Freitas do Amaral, apoiou Cavaco sem deixar de ser grande amigo de Soares. Já dirigiu jornais. Hoje é administrador de alguns.

Sempre com uma leveza surpreendente. Sempre com aquele meio sorriso que se tornou sua imagem de marca e diz muito da sua personalidade, nunca destituída de algum mistério. Aparece como se ninguém o visse. Eclipsa-se como se continuasse a estar. Permanece mesmo estando ausente.

 

Prós - O grupo mediático que lidera seria um poderoso aliado na campanha. Contaria com uma comissão de apoiantes proporcional ao número de assentos em órgãos sociais de grupos empresariais em que até hoje já tomou assento. José Cid, com quem chegou a tocar na juventude em Coimbra, poderia compor-lhe o hino da candidatura.

 

Contras - Não consegue libertar-se de um certo rótulo mefistofélico que os seus esconsos inimigos lhe colaram, com apreciável sucesso. Os eleitores de esquerda julgam-no de direita e os eleitores de direita julgam-no de esquerda, estando provavelmente todos equivocados.

Presidenciáveis (38)

Pedro Correia, 21.04.15

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Boaventura Sousa Santos

 

E porque não um candidato à esquerda da esquerda tradicional - um daqueles que consideram o PS de direita sem no entanto aceitarem a submissão à ortodoxia e ao jargão do Partido Comunista?

Boaventura Sousa Santos, talvez o mais mediático professor da Universidade de Coimbra, reúne pergaminhos ideológicos mais que suficientes para representar aquele eleitorado na próxima corrida presidencial. Este Escorpião de 74 anos doutorado em Yale tem um respeitável currículo académico e eloquência que sobra para três ou quatro campanhas. Além disso, conta com uma legião de fiéis discípulos entrincheirados nas redes sociais, prontos para o combate de ideias. Com o Syriza a servir-lhes de modelo, na fortuna e na desgraça, até que o eventual default grego os separe.

 

Prós - Rivaliza com Arménio Carlos e Mário Nogueira em tempo de antena: é raro o dia em que falha a presença num órgão de informação. Até o prestigiado El País lhe concede honras de entrevista. Dispõe de popularidade imbatível no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. E não deixaria de receber o apoio do Bloco de Esquerda: afinal, em 2010, ele garantiu que o BE foi "uma das grandes inovações que a Europa teve desde o final da guerra". Nem Francisco Louçã ousou chegar tão longe.

 

Contras - Ainda com a Europa mergulhada em estado de choque devido ao morticínio de Janeiro em Paris, apressou-se a dizer que o Charlie Hebdo "estigmatizava o islão": foi, no pior momento, um tiro na direcção errada. Andou a flirtar durante muito tempo com a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro - hoje um dos piores cartões de visita que podem ser exibidos a nível mundial.

Presidenciáveis (37)

Pedro Correia, 16.04.15

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Luís Amado

 

Dizem vozes sábias que as presidenciais costumam ganhar-se ao centro. Ou seja, um candidato de esquerda tem de conseguir recolher também alguns votos à direita. E um candidato de direita precisa de atrair igualmente uma porção de votos oriundos da esquerda.

No campo socialista, poucos despertam tanto fervor eleitoral na direita como Luís Amado, 61 anos, signo Virgem. Num futuro cenário de bloco central, ninguém estaria tão autorizado a dar a táctica como este economista que até já partilhou chefe de gabinete com Passos Coelho.

Foi ministro durante seis anos (2005-2011), primeiro com a tutela da Defesa e depois com a pasta dos Negócios Estrangeiros, sem  nunca ter sido um incondicional do chefe do Governo: chegou a fazer furor um vídeo na Euronews em que o elegantíssimo José Sócrates o deixou de ficar de mão estendida, recusando cumprimentá-lo.

 

Prós - É um dos poucos socialistas que podem gabar-se de recolher apoios declarados no PSD. Dedica-se às artes, como escultor de pedras, facto que lhe basta para piscar o olho ao exigente mundo intelectual e talvez o faça recolher simpatias junto dos pedreiros-livres. E que melhor apelido do que o dele para lhe garantir, à partida, boas perspectivas nas intenções de voto?

 

Contras - A "verdadeira esquerda" ainda não lhe perdoa que tivesse cedido à tentação da banca, ascendendo à presidência do Conselho de Administração do Banif. Estar na calha para o Conselho Geral e de Supervisão da EDP também não o torna nada popular à esquerda do PS. O último Chefe do Estado português que usou barba foi Manuel Teixeira Gomes: rumou inesperadamente ao exílio, sem saudades de Belém. Já lá vão 90 anos.

Presidenciáveis (36)

Pedro Correia, 15.04.15

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José Ribeiro e Castro

 

É uma das vozes mais respeitáveis da Assembleia da República, embora olhado de soslaio por vários sectores do seu próprio partido. José Ribeiro e Castro, enquanto deputado do CDS, tem-se batido pelas causas em que acredita, à margem de orientações oficiais. Foi um crítico tenaz da abolição dos quatro feriados nacionais - com destaque para o 1º de Dezembro, dia da restauração da independência - e não esconde a sua oposição ao chamado "acordo ortográfico", aliás em consonância com a esmagadora maioria dos escritores e dos linguistas portugueses. Há dias, voltou a quebrar a ortodoxia partidária ao tornar-se o único deputado das bancadas da maioria a votar contra a lamentável "tróica linguística", que exclui o nosso idioma dos registos de patentes a nível comunitário.

Há quem pense que devia haver mais deputados como este jurista de 61 anos, signo Capricórnio - mais fiéis à vontade do eleitorado do que à disciplina interna dos partidos políticos. Naquela que promete ser a mais concorrida eleição de sempre para Belém, porque não também participar nela alguém que é de direita sem jurar que é do centro?

 

Prós - Pertence ao elenco de fundadores do CDS e foi colaborador directo daquele que hoje todos consideram a figura mais consensual da história do partido: Adelino Amaro da Costa. Tem um longo currículo político (iniciado como jovem deputado, em 1976) e não esconde o que pensa, atributo raro na vida pública portuguesa.

 

Contras - Liderou o CDS, entre 2005 e 2007, mas esse consulado no Caldas foi tão agitado como breve. Azul na política mas encarnado no futebol, assumiu funções de vice-presidente do Benfica, ainda por cima numa fase nada saudosa da vida do centenário clube, o que afugentará eleitores de outras simpatias clubísticas. 

Presidenciáveis (35)

Pedro Correia, 13.04.15

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Maria de Belém Roseira

 

Deverá o Palácio de Belém ser território exclusivo da "falocracia", para usar um palavrão posto a circular por algum feminismo mais assanhado? A resposta é negativa, obviamente. No instante em que Hillary Clinton anuncia que será candidata à Casa Branca, porque não haveremos também de ter a nossa "Hilária", emanada desse "paradigma da modernidade" (outro palavrão...) que é o PS?

Simpatia não lhe falta. Currículo, também não. Foi ministra da Saúde, deputada e até há pouco tempo - por indicação de António José Seguro - exerceu o cargo de presidente do Partido Socialista. E não confunde militância com seguidismo, como demonstrou numa  entrevista em que criticava António Guterres por "arrastar muito o processo de decisão" e José Sócrates por se "esquecer de ouvir".

Tem 65 anos, muito bem conservados. E não se iludam com a aparência frágil dela: é do signo Leão.

 

Prós - Ostenta um dos sorrisos mais simpáticos da política portuguesa. Conserva com orgulho o sotaque do seu Porto natal. Deu provas de integridade ao manter-se leal a Seguro na recente contenda interna no PS - ao contrário de outros, que trataram de mudar de campo mal sentiram o vento a mudar de direcção. E que melhor nome pode haver para uma senhora com aspirações presidenciais do que o dela -- Maria de Belém?

 

Contras - A simpatia, neste caso, pode confundir-se com falta de firmeza e algum défice no exercício da autoridade. Com a mudança de secretário-geral no PS, renunciou à presidência do partido, que António Costa logo confiou a Carlos César. Ana Gomes, provavelmente a figura menos consensual da política portuguesa, foi a primeira a lançar o nome dela para a Presidência da República.