Já muita gente escreveu no DELITO DE OPINIÃO. Confesso não ter o inventário completo, mas foram seguramente mais de três centenas de pessoas - entre autores permanentes, escribas ocasionais, comentadores com textos destacados ou convidados em algum momento.
Um dia farei essa contabilidade, fica prometido.
Para já, queria destacar o seguinte: entre aqueles que passaram por aqui inclui-se o actual ministro da Cultura. Pedro Adão e Silva estreou-se neste blogue com um texto intitulado "A pobreza da opinião", a 5 de Maio de 2011. Estávamos muito longe de imaginar que onze anos depois teria assento no Conselho de Ministros, como titular da pasta da Cultura, a convite de António Costa.
Como curiosidade, destaco nos parágrafos seguintes algumas frases desse texto, que Adão e Silva simpaticamente nos enviou para publicação, correspondendo a solicitação nossa, enquanto autor do blogue Léxico Familiar. Sujeitando-se, naturalmente, ao contraditório que os leitores entenderam estabelecer na respectiva caixa de comentários.
«Tendo vivido em Inglaterra e em Itália, nunca como agora que estou nos EUA senti tanta diferença entre o que leio cá e o que leio de Portugal. Como é natural, as diferenças são evidentes nos artigos sobre política internacional ou até no menor número de notícias tratadas nos noticiários televisivos (mas, também, cada uma delas mais aprofundadas). Mas onde encontro maiores diferenças é na opinião.»
.........
«Em Portugal, as colunas de opinião ou assentam na ideia estrambólica de que quem escreve opinião tem de ter rasgo literário (o que explica a sobrevivência de colunistas onde o brilhantismo estilístico serve para esconder a preguiça intelectual) ou limitam-se a um conjunto de afirmações que dispensam sustentação ou, pior ainda, dependem de um par de trocadilhos combinados com uma ou duas frases de belo efeito, preferivelmente no registo engraçadinho que tem feito escola.»
.........
«Da esquerda à direita, nos EUA é possível ler todos os dias artigos que (...) mostram as vantagens de opinar sobre o que se conhece de facto (bem sei, uma impossibilidade nos media portugueses, onde os recursos são escassos e todos os dias cresce a importância do jornalismo de secretária, baseado em dois ou três telefonemas para politólogos, feitos por jornalistas com salários abaixo dos mil euros).»
.........
«Para quem se alimenta da curiosidade intelectual há uma diferença entre aprender com a opinião, principalmente com aquela de que se discorda, como me acontece aqui nos EUA, e todos os dias, quando leio na net os jornais portugueses, ficar entristecido com a pobreza intelectual do debate no espaço público em Portugal.»
.........
«O espaço público em Portugal não beneficiou da influência anglo-saxónica e da cultura analítica que lhe está associada. Há também um problema de escala (somos demasiado pequenos) que se traduz em limitações materiais: não há recursos para investir na profissionalização do jornalismo, quanto mais da opinião.»
Reflexões que não perderam validade, em grande parte. E ganham novo alcance sabendo-se que um dos pelouros de Pedro Adão e Silva é hoje precisamente o da Comunicação Social.
A política dá muitas voltas, algumas bem curiosas. Talvez isto faça parte do encanto que muitos vêem nela.