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Delito de Opinião

Ó glória de mandar, ó vã cobiça

Pedro Correia, 10.06.17
 

Ao tomar posse como primeiro-ministro do XVIII Governo Constitucional, em Outubro de 2009, José Sócrates retomou uma antiga tradição da política portuguesa citando um verso de Camões que andava um pouco esquecido: «Esta é a ditosa pátria minha amada.»

Vem n’ Os Lusíadas, um clássico que ainda seduz políticos contemporâneos da mesma forma que seduziu o Rei D. Sebastião quando, segundo se julga, Luís de Camões lho leu pela primeira vez, no início da década de 1570, no paço real. «Esta é a ditosa pátria minha amada, / À qual se o Céu me dá que eu sem perigo / Torne com esta empresa já acabada, / Acabe-se esta luz ali comigo», escreveu Camões no canto III, 21ª oitava, d’ Os Lusíadas. É uma das mais belas quadras desta obra matricial da língua portuguesa cujo grau de popularidade se afere bem pela presença de muitos dos seus versos na nossa linguagem de todos os dias.

Com efeito, é vulgar aludirmos à «ocidental praia lusitana»(canto I-1), àqueles que foram «dilatando a fé e o império» (I-2), aos que «se vão da lei da Morte libertando» (I-2), ao «engenho e arte» (I-2) ou ao «peito ilustre lusitano» (I-3). São igualmente familiares, até a quem não leu uma só linha do vasto poema, versos como estes: «Cesse tudo o que a Musa antiga canta, / Que outro valor mais alto se alevanta!» (I-3); «Vós, poderoso Rei, cujo alto Império / O Sol, logo em nascendo, vê primeiro» (I-8); «(...) julgareis qual é mais excelente, / Se ser do mundo rei, se de tal gente” (I-10); "Duma austera, apagada e vil tristeza» (canto X-145).

 

Os Lusíadas é uma obra marcante também pelas figuras que cria ou recria.

As Tágides («E vós, ó Tágides minhas, pois criado / Tendes em mim um novo engenho ardente», I-4); Vasco da Gama, o «forte capitão» (I-44); a deusa Vénus, defensora dos portugueses, que «novos mundos ao mundo irão mostrando» (canto II-45), pois «se mais mundo houvera, lá chegara» (canto VII-79); Inês de Castro, aquela «que depois de ser morta foi rainha» (III-118); o Velho do Restelo com as suas imprecações («Ó glória de mandar! Ó vã cobiça / Dessa vaidade a que chamamos fama», canto IV-95); ou o sinistro Adamastor («Cheios de terra e crespos os cabelos, / A boca negra, os dentes amarelos», canto V-39).

Já para não falar das incursões autobiográficas do autor no seu poema, como aquela em que se retrata como alguém que tem «numa mão sempre a espada e noutra a pena» (VII-79).

Ou quando, projectado em interposto navegador no célebre episódio da Ilha dos Amores, nos ensina que «Melhor é experimentá-lo que julgá-lo / Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo»(canto IX-83).

 

Camões foi um mestre na arte do aforismo em forma de verso, como Os Lusíadas bem testemunham.

Eis alguns desses aforismos: "É fraqueza entre ovelhas ser leão” (I-68)«Sempre por via irá direita / Quem do oportuno tempo se aproveita»(I-76); «Quanto mais pode a fé que a força humana» (III-111); «Um baixo amor os fortes enfraquece» (III-139); «É grande dos amantes a cegueira» (V-54); «Contra o Céu não valem mãos» (V-58); «Quem não sabe a arte, não na estima» (V-97); «Fraqueza é dar ajuda ao mais potente» (IX-80).

Não admira que o nosso maior poeta continue a seduzir políticos: foi ele quem ensinou que «toda a terra é pátria para o forte» (canto VIII-63). Foi ele que tão bem soube cantar essa «ínclita geração» (IV-50) que se aventurou no ponto exacto «onde a terra se acaba e o mar começa» (VIII-78).

Foi no entanto também Camões quem ensinou – aludindo a D. Fernando I – que «um fraco rei faz fraca a forte gente» (III-138).

Este é um verso que não imaginamos em nenhum discurso de posse. O que não quer dizer que não seja igualmente digno de reflexão.

Texto reeditado

Sugestões para as comemorações do 10 de Junho.

Luís Menezes Leitão, 22.09.16

Leio aqui que o Presidente Marcelo promete comemorar o 10 de Junho fora do país "ano após ano". E que o Primeiro-Ministro António Costa naturalmente concorda com a iniciativa. Assim, depois de Paris ("teremos sempre Paris!"), deixo já aqui as minhas sugestões para os locais a escolher para as próximas comemorações do 10 de Junho:

2017: Las Vegas.

2018: Ilhas Maldivas.

2019: Bora-Bora.

2020: Ilhas Seychelles.

Justifica-se plenamente a escolha destes lugares para as comemorações do 10 de Junho, uma vez que haverá de certeza pelo menos um português em Junho em qualquer desses locais. E onde está um português está Portugal. Já se vê que vamos passar a ter uns 10 de Junho muito mais agradáveis.

O Senhor Contente e o Senhor Feliz

Helena Sacadura Cabral, 10.06.16
Em que país é possível encontrar a comandá-lo esta dupla? Em Portugal, claro. E onde poderia ser mais?
O país tem um PM contente, pese embora os índices que se conhecem não serem exactamente para isso. Esperam-nos surpresas na banca, o investimento não arranca, as importações aumentam e as exportações diminuem. Mas o turismo continua a deixar-nos dividendos apesar de Lisboa, em véspera de eleições, se ter transformado num estaleiro.
O país tem um PR que nasceu para o ser, que diariamente mostra a sua felicidade nas televisões nacionais, e, suprema misericórdia, nem o PC nem o Bloco o hostilizam. Já não há austeridade, apesar de não haver mais dinheiro e de ser novamente com o nosso que a banca se irá financiar. E se for só ela, já devemos dar graças.
Com a CGD, que vai precisar de 4 mil milhões, ninguém parece preocupar-se muito dado que até se encara aumentar o salário dos seus futuros administradores.
Com a emigração também se passam maravilhas. Antes insistia-se nos 500 mil que foram obrigados a sair, mas ultimamente só oiço falar de 250 mil. Não sei se os restantes já voltaram sem que tenhamos dado por isso...
Enfim, o país está sereno, o futebol anima as almas, o PM  está contente e o PR feliz. O que é que se pode desejar mais?!

E não é que eu estou de acordo

Sérgio de Almeida Correia, 20.04.16

1. É evidente que o Luís tem quase toda a razão. Quase toda, e não é má vontade minha, porque o amor ao "luxo" não é marca de um governo de esquerda. É mais de um governo de bimbos, novos-ricos ou deslumbrados, tanto mais que o uso de um Falcon para deslocações de trampa justifica-se plenamente durante a execução de um programa de austeridade. Bem mais, digo eu, do que depois de uma "saída limpa". E toda a gente sabe que a Atenas se chega mais depressa do que a Berlim, pelo que da próxima vez sugiro a António Costa que, em vez de partir da Portela, se meta ao caminho saindo da São Caetano à Lapa.  

 

2. E é igualmente evidente que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não anda a dormir na forma. Se for verdade o que o Diário de Notícias anunciou em matéria de atribuição de medalhas para o Dez de Junho, então só tenho mesmo que me congratular. Para quem nos últimos anos escreveu o que escreveu (Por alto, Um acto de Justiça, 40 anos de medalhas, ConfrangedorA propósito de uma condecoração, para só referir os textos mais recentes aqui no Delito de Opinião e num tempo em que já havia Internet), acabou o bodo indiscriminado a heróis, pobres, marretas e canalhas. A partir de agora, e até confirmação futura, passa a haver critério na forma e na substância: só para feitos excepcionais. Com "p", se não se importarem. 

Ó glória de mandar, ó vã cobiça

Pedro Correia, 10.06.14

Ao tomar posse como primeiro-ministro do XVIII Governo Constitucional, em Outubro de 2009, José Sócrates retomou uma antiga tradição da política portuguesa citando um verso de Camões que andava um pouco esquecido: “Esta é a ditosa pátria minha amada.” 

Vem n’ Os Lusíadas, um clássico que ainda seduz políticos contemporâneos da mesma forma que seduziu o Rei D. Sebastião quando, segundo se julga, Luís de Camões lho leu pela primeira vez, no início da década de 1570, no paço real. "Esta é a ditosa pátria minha amada, / À qual se o Céu me dá que eu sem perigo / Torne com esta empresa já acabada, / Acabe-se esta luz ali comigo”, escreveu Camões no canto III, 21ª oitava, d’ Os Lusíadas. É uma das mais belas quadras desta obra matricial da língua portuguesa cujo grau de popularidade se afere bem pela presença de muitos dos seus versos na nossa linguagem de todos os dias.

Com efeito, é vulgar aludirmos à "ocidental praia lusitana” (canto I-1), àqueles que foram "dilatando a fé e o império” (I-2), aos que "se vão da lei da Morte libertando” (I-2), ao "engenho e arte(I-2) ou ao "peito ilustre lusitano (I-3). São igualmente familiares, até a quem não leu uma só linha do vasto poema, versos como estes: "Cesse tudo o que a Musa antiga canta, / Que outro valor mais alto se alevanta!” (I-3); "Vós, poderoso Rei, cujo alto Império / O Sol, logo em nascendo, vê primeiro” (I-8); "(...) julgareis qual é mais excelente, / Se ser do mundo rei, se de tal gente” (I-10); "Duma austera, apagada e vil tristeza” (canto X-145).

 

Os Lusíadas é uma obra marcante também pelas figuras que cria ou recria.

As Tágides ("E vós, ó Tágides minhas, pois criado / Tendes em mim um novo engenho ardente”, I-4); Vasco da Gama, o "forte capitão” (I-44); a deusa Vénus, defensora dos portugueses, que "novos mundos ao mundo irão mostrando” (canto II-45), pois "se mais mundo houvera, lá chegara” (canto VII-79); Inês de Castro, aquela "que depois de ser morta foi rainha” (III-118); o Velho do Restelo com as suas imprecações ("Ó glória de mandar! Ó vã cobiça / Dessa vaidade a que chamamos fama”, canto IV-95); ou o sinistro Adamastor ("Cheios de terra e crespos os cabelos, / A boca negra, os dentes amarelos”, canto V-39).

Já para não falar das incursões autobiográficas do autor no seu poema, como aquela em que se retrata como alguém que tem "numa mão sempre a espada e noutra a pena” (VII-79).

Ou quando, projectado em interposto navegador no célebre episódio da Ilha dos Amores, nos ensina que "Melhor é experimentá-lo que julgá-lo / Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo” (canto IX-83).

 

Camões foi um mestre na arte do aforismo em forma de verso, como Os Lusíadas bem testemunham.

Eis alguns desses aforismos: "É fraqueza entre ovelhas ser leão” (I-68)"Sempre por via irá direita / Quem do oportuno tempo se aproveita” (I-76); "Quanto mais pode a fé que a força humana” (III-111); "Um baixo amor os fortes enfraquece” (III-139); "É grande dos amantes a cegueira” (V-54); "Contra o Céu não valem mãos” (V-58); "Quem não sabe a arte, não na estima” (V-97); "Fraqueza é dar ajuda ao mais potente” (IX-80).

Não admira que o nosso maior poeta continue a seduzir políticos: foi ele quem ensinou que "toda a terra é pátria para o forte” (canto VIII-63). Foi ele que tão bem soube cantar essa "ínclita geração” (IV-50) que se aventurou no ponto exacto "onde a terra se acaba e o mar começa” (VIII-78)".

Foi no entanto também Camões quem ensinou – aludindo a D. Fernando – que "um fraco rei faz fraca a forte gente” (III-138).

Este é um verso que não imaginamos em nenhum discurso de posse. O que não quer dizer que não seja igualmente digno de reflexão.

Recuso-me a dizer qual seja, em 10 de Junho de 2014, o princípio fundamental do Estado de direito democrático

Sérgio de Almeida Correia, 10.06.14

"Na interpretação que têm feito da Constituição os juízes vêm modelando os princípios à la carte, em função das novas medidas. E vão encontrando novos princípios ou vão formulando novos condicionalismos";

 

"Alguns dos juízes cuja candidatura foi proposta por nós criaram a ilusão de que tinham uma visão filosófico-política que seria compatível com aquilo que é o projecto reformista que temos para Portugal no âmbito da integração na União Europeia";

 

"É verdade que foi revogado esse procedimento, isso não quer dizer que a aclaração não seja um princípio fundacional da ordem jurídica".

 

Senhor Presidente da República: Se não condecorou esta senhora, por favor, peço-lhe humildemente que o faça. Camões nunca compreenderia o esquecimento e a Nação jamais lhe perdoaria se esta distinta representante do regime ficasse de fora das quase 1000 medalhas e comendas que o seu mandato já fez sair do pesado bornal que consigo carrega.

Confrangedor

Sérgio de Almeida Correia, 07.06.14

 

(foto da Lusa)

 

Ano após ano, a lista repete-se com uma assustadora previsibilidade e um traço comum que é a desvalorização da noção de serviço à comunidade, à causa pública, numa repetição parola e cada vez mais pungente daquilo que devia ser o reconhecimento de uma cidadania de excepção. Ao invés, continua-se a valorizar a banalidade, a misturar o azeite mais puro com o detergente barato, a colocar no mesmo patamar a carreira construída a pulso, com trabalho e empenho, com a carreira construída à sombra da sorte, do favor político e empresarial, da porta que se abriu em nome do apelido ou da origem da casta. Como se a atribuição de medalhas a eito no Dia de Portugal devesse ser eternamente uma celebração barata e ordinária com ofertas de brindes, recepções e espectáculos anódinos para o povo ignorante se entreter antes de se entregar aos tendões de Cristiano Ronaldo. Como se o momento mais importante para a exaltação de uma cidadania de excepção, talhada no rigor, na seriedade intelectual, na força do carácter, pudesse ser tão recorrentemente desvirtuado perante a complacência e vacuidade dos frequentadores de salões, o silêncio dos partidos políticos e seus dirigentes e a acomodação dos espíritos livres.

Que me perdoe Eduardo Lourenço, mas quando um dia a República num acto de inteligência fizer a contabilidade das condecorações que os seus Presidentes atribuíram numa democracia adulta e consolidada, não será bonito de ver os nomes alinhados. E mais triste será ver os nomes de quem as atribuiu.

No dia em que o Dia de Portugal for celebrado por Portugal e pelos portugueses não haverá este espectáculo boçal e boçalizante das condecorações. E o Presidente da República será mais um no meio dos seus. E nesse dia, então, o cidadão número um será capaz de perceber por que razão um dia se fez Portugal e Portugal nunca se cumpriu. Só nesse dia a República atingirá a idade adulta. Portugal cumprir-se-á. E poderá, finalmente, sair da letargia em que vive há décadas controlada na sombra por meia dúzia de estupores. E levantará a cabeça para honrar os seus verdadeiros heróis, recordar a sua obra, recolher a sua lição e projectar um futuro que faça jus à dimensão do sonho camoniano.

A única e verdadeira medalha que enquanto portugueses estaremos em condições de poder receber, celebrar e honrar.

As comemorações do 10 de Junho em Maputo

jpt, 11.06.13

 

A última vez que compareci às comemorações oficiais do 10 de Junho em Maputo foi há 10 anos, e sei bem quando foi pois ainda vivia na F. Engels, ali vizinho da residência do embaixador. Cheguei bem tarde, vindo um trabalho entre Boane e Moamba, mas ainda lá fui como sempre o fazia nesta data. Quando cumprimentei o funcionário público que então ocupava as funções de representante, ele ficou a olhar insistentemente para a minha ausente gravata. Eu não lhe disse o impropério que ali mereceu - na época era cooperante, tive que aguentar - mas nunca mais lá voltei. Já agora, os últimos três embaixadores portugueses foram muito fraquinhos, e um tipo, ainda para mais tendo conhecido as verdadeiras excelências que os antecederam, perde a paciência para o mero aparelhismo, mesmo que doirado com o brilho do simbólico. E muito prejudicado com os tiques sociológicos de uma corporação profissional que a torna tendencialmente (muito) renitente à aprendizagem, auto-encerrada, numa "endogamia" intelectual medíocre e incompreendedora. É certo que ao longo dos anos conheci uma mão cheia de bons, até excelentes, diplomatas. Serão esses os que estão socialmente descansados e sociologicamente informados, nisso entendendo que uma república é uma mole de cidadãos e não uma hierarquia de estatutos ontológicos. Mas esses não são, infelizmente, a regra, e isso apouca as competências gerais. Enfim, diz-se que o homem que agora chegou a Maputo é de outro calibre, e ainda bem pois o momento histórico merece e exige. A ver vamos. Se suplanta o que se vem passando e a equipa que tem. 

 

Este ano fui à recepção comemorativa. O novo embaixador fez um bom discurso, para além do protocolar. Sublinhou que os portugueses residentes, 23 000 (?, sempre julguei que um pouco mais), constituem um contingente relativamente diminuto se comparado com os emigrantes portugueses em tantos outros países. Certo que o impacto migratório não é apenas estatístico, mas  é avisado recordar isso para obstar à ideia da "vaga" de portugueses num país com 23 milhões de habitantes. E deixou dois pontos importantes a reter, quais recados para nós outros, portugueses: a) estamos cá a trabalhar, a ganhar a vida, com o apoio local. No respeito das leis - necessário sublinhar, num contexto em que muito patrício julga que vem gingar diante dos regulamentos. É uma trabalheira, e conspurca a imagem de quantos por cá não o fazem; b) a comunidade portuguesa deixa a política moçambicana para os moçambicanos. Conveniente de lembrar num momento antecessor de um ciclo eleitoral, para acalmar alguns hipotéticos excitados.

 

A festividade em si própria foi interessante. Para mim, a permitir-me rever conhecidos, já raro convívio dado o meu ensimesmamento e o nosso envelhecimento. E continuo a espantar-me com isto de ver os patrícios, quando em algo oficial, a vestirem-se todos com fatos azuis. Qua aquele velho "azul Carris", o dos uniformes dos motoristas e revisores de autocarros. Acham que vão finos, assim. Não vão. Mas enfim, é o que conseguem. E se se esforçam é de louvar. Mas não deixa de ser um uniforme. E isso não é lá muito bom, que a cidadania não se uniformiza. Tornando o cada um como cada qual num cada todo como cada quais. E isso não é bom, principalmente hoje, a precisar de mais cores.

 

Para o ano há mais. E até lá há muito para percorrer. Muito mesmo.

Vistas curtas

Sérgio de Almeida Correia, 20.07.11

De um Presidente da República que se diz de todos os portugueses mas que só sabe condecorar e nomear amigos, acarinhar gente das suas relações e membros do seu partido, fora outros juízos, dir-se-á que tem vistas curtas. Mas não deixa de ser notável que depois da atribuição da condecoração do 10 de Junho, pelos extraordinários serviços que o País ainda espera que ele dê a conhecer, a rifa voltasse a sair à Dr.ª Manuela Ferreira Leite, agora feita chanceler das ordens nacionais em substituição de Mota Amaral.

Sem emenda e sem perdão

Sérgio de Almeida Correia, 09.06.11

 

O que então pensava mantém-se, sem tirar nem pôr.

 

A Dr.ª Manuela também não tem qualquer culpa que a grã-cruz da Ordem Militar de Cristo e as demais distinções sejam atribuídas no mero cumprimento de um ritual, que já tem tanto de pacóvio quanto de banal de cada vez que chegamos a Junho. E se ele próprio, Cavaco Silva, a recebeu, bem como Carlos Carvalhas, Rocha Vieira ou Ana Gomes, não vejo por que motivo a senhora não poderia recebê-la. Será mais uma. Mas ao menos seria bom que se esclarecesse aos portugueses quais os "destacados serviços" que merecem ser "especialmente distinguidos".

 

Quem faz da cidadania e do serviço aos outros o seu lema de vida só pode ficar deprimido quando chega o 10 de Junho e olha para as listas de condecorados do regime.

 

A cidadania não pode continuar a ser paga. Muito menos a políticos e dessa forma espúria e tão pouco camoniana. Por isso mesmo é tempo dos verdadeiros cidadãos recusarem tais "distinções", em nome de Portugal, sob pena de ficarem comprometidos com a forma nada republicana e assaz medíocre como este regime e os seus mais altos responsáveis entenderam prestigiar-se.