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Delito de Opinião

Fast feelings

Teresa Ribeiro, 15.01.11

É tão frágil, tão vulnerável e tão doce que apetece proteger. Tão frágil, tão vulnerável e doce que se torna irresistível. Tão doce e frágil e vulnerável que não pode viver sem mim. Tão doce, tão doce. Tão vulnerável. E frágil. Que não pode viver sem mim, que neura. Que aperto. Tão vulnerável mas tão vulnerável que não se aguenta. Tão vulnerável e tão doce. Bye bye, que pena.

Fast Feelings

Teresa Ribeiro, 11.01.11

Qual a autenticidade daqueles sentimentos, tão inflamados? - pensa enquanto se detém, à saída do café, para apagar o sms que acaba de receber. Se tivesse sido outro, com a mesma arte, a chegar primeiro, seria esse o contemplado - conclui com azedume enquanto elide da mente as farpas que lhe mandaram via sms.

 Não, ele jamais se incomodava com o lastro de mágoa que deixava quando batia em retirada - ergue o queixo e foca os olhos no vácuo, prosseguindo o passeio solitário pela rua. Pena que não lhes pudesse explicar que não era por ele que choravam. Isso é que elas, sempre tão estereotipadas, pareciam incapazes de entender. Levanta a gola do casaco com um repelão e dirige-se ao cinema.

No fundo até gostava de as fazer sofrer - acelera o passo em direcção ao semáforo, já fechado para os peões e atravessa, desafiando o tráfego e o vento, que sopra de rajada. Era o castigo justo por cederem tão facilmente a um gajo qualquer, no caso o gajo irresistível que ele inventou, inspirado nos heróis de BD e nos galãs dos filmes, quando ainda nem tinha idade para fazer a barba. Entra e senta-se, após vistoria rápida à sala. I-rre-sis-tí-vel - soletra com um sorriso de orgulho. Qualquer uma lhe caía nos braços, bastava assim o desejar.

Áquela hora só estão seis pessoas. Três casais. Não teria dificuldade em arranjar companhia, se quisesse - apetece-lhe anunciar aos circunstantes. Era uma pessoa popular, tinha a agenda cheia de números de telemóvel. Mas a verdade é que não lhe apeteceu telefonar a ninguém.

Fast feelings

Teresa Ribeiro, 09.01.11

Da janela viu aproximar-se a carripana cujo ruído feria aquela serena manhã de domingo. Era uma moto com atrelado, como as que os vendedores ambulantes usam para vender fruta, o género de veículo que faz aquele barulho. Quem o conduzia era um homem ainda novo de boné de orelhas pendentes e roupa encardida. No atrelado vinha uma rapariguita que não tinha mais de doze anos. Seria a filha?

Pararam junto aos contentores do lixo e começaram, com um desembaraço profissional, a recolher coisas. O espectáculo colou-a, comovida, à vidraça. Por entre os sacos do lixo a mulher-menina, com as pernas mal tapadas por uma camisola que lhe servia de vestido, fazia o seu bailado. Seria a filha? Tinha as pernas bem feitas e esguias. Bem vestida e lavadinha ficaria linda. Seria a filha? Com esta gente tudo é possível.

O gato, que a rondava há uns minutos, roça-lhe as pernas. Sorri para a bola de pelo reluzente. Queres papa, fofo? O bichano, saracoteando-se, guia-lhe os passos, sem dificuldade, até ao armário onde ela guarda as latinhas de mousse de salmão e paté de caça para gatos esterilizados. Em fundo ouve a moto a afastar-se.

Fast feelings

Teresa Ribeiro, 04.01.11

Tentou concentrar-se no que ele dizia, mas o que ele dizia não era assim tão interessante. Além disso a voz não ajudava. Impaciente, mais com ela própria do que com ele, traçou as pernas, afivelou o seu melhor sorriso e esperou que a mímica a ajudasse a alinhar o seu espírito, sempre tão rebelde, pelas suas necessidades mais prementes. Procurou-lhe no rosto os traços que tanto a tinham interessado, meses antes, quando o conheceu no facebook. Os olhos a lembrar os do Ralph Fiennes, embora sem aquele magnetismo, a boca breve, como gostava nos homens. Duas características que durante muito tempo lhe chegaram para incendiar a imaginação, quando dele não tinha mais nada. O resto, que tanto desejara em tempos, estava ali. Mas o resto era tão dispensável que não conseguiu impedir-se de olhar para o relógio.

Bolas! Estava na hora de plantar as cenouras no Farmville. Tinha de arranjar uma boa desculpa. Tinha de arranjar uma desculpa e voar para casa.

Fast feelings

Teresa Ribeiro, 02.01.11

"És tão linda" - disse-lhe, sabendo que com o elogio tocava na tecla, sempre tão afinada, da vaidade feminina. Ela sorriu-lhe.

"Se não fosses tão bonita não gostava tanto de ti" - continuou, cuidando que ao insistir no elogio atearia ainda mais o seu sorriso. E ela, para não lhe defraudar as expectativas, segurou-o, mas com dificuldade. Porque afinal era de precaridade que ele lhe falava.