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Delito de Opinião

Quem responde?

Helena Sacadura Cabral, 17.07.17
Passa hoje um mês sobre a tragédia de Pedrogão. Outros incêndios se detectaram, entretanto. Agora foi em Alijó, onde mais uma vez o SIRESP não funcionou... Admite-se?
Entretanto e com tantas doações amealhadas, eu não consigo perceber bem quem é o fiel depositário do dinheiro que foi enviado. Mas algo parece evidente: é que ele não começou ainda a ser distribuído e aplicado. De que é que se está à espera, já que não é dinheiro público que está em causa, mas sim dinheiro que, solidariamente, os portugueses doaram aos que tanto sofreram e sofrem.
A União das Misericórdias depositou-o nalgum banco? Em qual? E em que conta? Era bom sabermos. Os sacrifícios daqueles que ajudaram merecem conhecer o destino dado àquilo que doaram!

 

Cerca de 9 anos e 2753 post´s

Helena Sacadura Cabral, 09.07.17
Hoje deu-me para ver "às quantas" ando. Ou melhor, "às quantas andei" neste último quarto de século. Não foi pouco o trabalho desenvolvido, sobretudo quando se olha para grande parte das mulheres da minha geração...

De facto, no Fio de Prumo, em oito anos e meio - 3102 dias -, publiquei 2753 post´s, o significa quer terei escrito quase todos os dias. No último quarto de século, os livros publicados foram 27. Radio e televisão já nem consigo contar, porque foram vários anos. No ensino universitário terão sido perto de uns milhares de aulas a tentar partilhar o que sabia.

E, se a isto juntar mais os 25 anos anteriores, em que apenas fui economista, confesso, creio ter dado à sociedade uma boa parte daquilo que dela recebi.

Além disso fui, cumulativamente, mulher e mãe, ao longo dos últimos sessenta anos. Como fui filha e sou avó, tentando dar o melhor de mim.

Se pensar nas oito décadas que levo de vida, talvez seja chegada a altura de começar a arrumar os equipamentos tecnológicos e passar a uma nova etapa, em que possa aproveitar melhor as companhias que me foram proporcionadas. Começou, acredito, o tempo de "savoir se retirer", como diria Aznavour. Ou seja, é chegada a hora de pensar em sair! Sem tristeza e com a plena sensação de um certo dever cumprido.

Simone Veil

Helena Sacadura Cabral, 30.06.17

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Tinha 89 anos e uma vida que poderia ter ficado pelos fogos crematórios de Auschwitz. Chamava-se Simone Veil e se a França está de luto em sua memória, muitos serão aqueles, fora do país, que, como eu, lamentam profundamente o seu desaparecimento. Devo a esta Mulher uma abertura de espírito que talvez não tivesse sem a sorte imensa de me ter cruzado com ela. 
A Europa também devia estar de luto. Mas, como a memória é cada vez mais curta, acredito que poucos a recordem hoje, pese embora tenham múltiplas razões para saberem de quem se trata. Podia, até, ter sido Presidente do seu país. Mas a sua obstinada independência sempre lhe limitou esse caminho e foi pelo seu pé que decidiu afastar-se, há alguns anos, da vida política e até da vida pública. 
Sobrevivente do Holocausto, foi a primeira mulher presidente do Parlamento Europeu e antiga ministra da Saúde francesa, é a ela que se deve a despenalização do aborto em 1975. Agora dá-se pouco valor a esse facto, porque, para o bem e para o mal, está tudo à nossa disposição...
Quem, como eu, teve a oportunidade de falar com ela, só pode recordá-la como uma das mais interessantes e extraordinárias mulheres do seu tempo. E estar-lhe profundamente grata pelo que ela conseguiu para todas nós.

Agora é sem limites e sem medos

Helena Sacadura Cabral, 25.06.17

Nas palavras dirigidas ao semanário Expresso, o Presidente da República pede que seja apurado "sem limites ou medos", tudo o que se passou no inferno dos fogos.

A expressão "sem limites" e "sem medos", agora usada por Marcelo, difere bem do seu assertivo e categórico  “era impossível ter feito mais”, usado há uma semana.

A expressão hoje utilizada era a que eu esperava dele, nesse sábado, quando, pela primeira vez, se dirigiu aos portugueses.

Chegou a altura em que o Presidente enfatiza que é tempo de se apurar - estrutural ou conjunturalmente - o que possa ter causado ou tido influência no que aconteceu ou na resposta dada. É tardia a intervenção, mas correcta. 

É esta a atitude que todos esperamos dele. Como esperamos que ele seja o garante – já aqui o referi antes –, o atento observador de que nada disto terá sido em vão. Que esqueça, por momentos, os consensos impossíveis - ele conhece, melhor que ninguém, os partidos que temos - e “exija, lembre, insista”, que os mortos merecem ser honrados.

O Presidente da República não define prazos, mas pode e deve estar vigilante de que é preciso não deixar esvaziar o significado, ou retirar utilidade às conclusões. E, se o não fizer, se por momentos o descurar, creia que nada nem ninguém lho irá perdoar. Nem o seu crédito de afecto...

Quanto a António Costa exige-se-lhe que peça responsabilidades a quem as possa ter tido, atenta a hierarquia daqueles a quem o assunto respeita. Sem apelo nem agravo. Porque a morte é das poucas prerrogativas que, em política, pode ser tremendamente adversa.

 

E agora?

Helena Sacadura Cabral, 22.06.17
Terminaram os três dias de luto e o minuto de silêncio. Amanhã ou depois, os fogos terão eventualmente terminado. E ficará apenas a gente indispensável ao rescaldo dos mesmos. As televisões irão progressivamente voltando ao futebol e aos debates de arredonda mês. Por mais dois ou três dias ainda se citará o desastre.
Depois cada uma daquelas povoações ficará submergida num silêncio pesado, trágico, ensurdecedor. Os presidentes das câmaras virão a Lisboa tentar que se não esqueçam deles.
E no que resta de cada aldeia, algumas pessoas ficarão silenciosas à espera de que se lembrem delas. Outras irão, finalmente, cair em si e no drama de terem perdido tudo. Ficarão tristes e sem forças para reagir. Outras, ainda, irão para as Igrejas que restam, rezar ao Senhor.
E pouco mais se saberá desse pequeno mundo que, durante semana e meia, esteve sob os holofotes. Em compensação as "cabecinhas pensadoras", a elite que nos dirige, enfim, os especialistas, dedicar-se-ão a pensar o problema até ao próximo mês de Junho de 2018, porque há autárquicas e é preciso fechá-los num gabinete e calar o assunto.
E agora? Agora, é isto que se vai passar...

 

Custa a acreditar neste novo mundo!

Helena Sacadura Cabral, 07.06.17

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 "La donación de 320 millones de euros que anunció el pasado marzo la Fundación Amancio Ortega para la renovación de los equipos de diagnóstico y tratamiento del cáncer en los hospitales públicos españoles no se ve con buenos ojos desde muchas asociaciones de usuarios de la sanidad pública.

El lunes pasado la Asociación para la Defensa de la Sanidad Pública de Aragón mostró su rechazo a la donación de 10 millones que la Fundación Amancio Ortega acordó con la Comunidad Autónoma de Aragón. El colectivo explica que no es necesario "recurrir, aceptar, ni agradecer la generosidad, altruismo o caridad de ninguna persona o entidad".
"Aspiramos a una adecuada financiación de las necesidades mediante una fiscalidad progresiva que redistribuya recursos priorizando la sanidad pública", afirma el grupo.
Esta asociación no es la única que se ha opuesto a este donativo. La semana pasada se hizo pública la donación de 17 millones a la región de Canarias, y la Asociación para la Defensa de la Sanidad Pública de esta comunidad criticó la actuación."
 
                                                      in El Mundo
 
Nem me dei ao trabalho de traduzir, porque se lê e se compreende. O que não se compreende é a recusa elitista da Associação para a Defesa da Saúde Pública de Aragão em aceitar dinheiro, cuja a finalidade se destinava à melhoria do sistema de saúde publico espanhol, no tratamento do cancro.
O que pensarão desta recusa todos aqueles doentes oncológicos a quem a referida doação poderia mitigar o seu sofrimento? Inacreditável, de facto, até onde a ideologia pode levar certas pessoas...
Amancio Ortega, filho de um ferroviário, começou a trabalhar aos 14 anos. Hoje é o dono da Inditex que possui marcas como a Zara, Massimo Dutti, Oysho, Zara Home, Kiddy's Class, Tempe, Stradivarius, Pull and Bear, Bershka e foi considerado pela Forbes o homem mais rico da Europa e um dos homens mais ricos do mundo.
Se o mundo não está louco, decerto que para lá caminha...

 

Um novo truque...

Helena Sacadura Cabral, 28.05.17

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Existe um novo meio - inteligente - especial para assaltar e roubar mulheres. Começou nas garagens dos Centros Comerciais, mas está a alastrar a outro género de locais. 

De que se trata, então? Uma rapariga gira e educada aproxima-se de si com um papelinho impregnado com o último perfume X, ou lança na sua mão umas gotas do dito. 

O aroma até parece agradável, mas é por segundos. A droga colocada no mesmo e aspirada põe qualquer um sem reacção e à mercê do que lhe possam querer fazer...
Não sei se há homens a prestar o mesmo serviço. Mas eles são pouco dados a este tipo de experiências. De qualquer modo aqui fica o alerta a quem possa interessar!

O blog da semana

Helena Sacadura Cabral, 27.05.17

O meu blog da semana chama-se Nascer na Praia e encontra-se em http://nascernapraia.blogspot.pt/. Porquê este? Porque me surpreende sempre, o que confesso já não é facil. E eu gosto de ser surpreendida. Cada vez mais.

Já não tenho paciência para o expectável, como acontece sempre com tantos blogs em que a matéria (prima) é a política ou o futebol. O mundo existe para além destes temas e parece que ninguém dá por isso. O Nascer na Praia foge ao estereotipo!

Hei-de perguntar à Lisete, amanhã...

Helena Sacadura Cabral, 10.05.17

A rotina era sempre a mesma. Saía de casa mal amanhado e ia para o jardim do Principe Real. Agora nem isso, aquilo estava transformado num pandemónio, nem o seu banco lhe deixaram, tão atafulhado aquilo estava. Nem sei porque é que para aqui venho pensava enquanto apertava a banda do casaco, que a manhã estava fria. Era a Lisete que o levava ali. A Lisete quando era viva, pois fora naquele banco de jardim que a conhecera. Ela tinha-lhe sorrido e foi esse sorriso que os havia de juntar. Tanto amor. E o José era a prova, não se lembrava de quando é que o vira, mas sabia que ele estava bem, porque senão alguém havia de lhe dizer que ele estava mal. 

A tosse, esta maldita tosse, que viera com o fim do tabaco, mas ao preço a que ele estava, como não deixar de fumar? Fora isso que o médico do Centro de Saude lhe tinha dito, que não havia dinheiro para vícios. 

Lá estava o banco cheio de embrulhos, paciência, ia-se sentar no da frente. A Lisete havia de gostar de saber que ele continuava a ir ao jardim dela. Mas este banco apanhava sol e ele queria mesmo era sombra. Sombra? Sombra que bastasse tinha ele lá no quartito onde vivia. Apesar disso, não se mexeu. 

Para quê mexer se daqui a bocado o sol vira sombra, era o que lhe diria a Lisete que já explicara isso ao filho. Será que o Zé também terá explicado o mesmo ao filho dele? Como é que o miúdo se chamava? Parece que era Bernardo, mas que nome mais esquisito. Mas ele não conhecia o garoto, por isso não tinha que o chamar. Se a Lisete fosse viva havia de saber chamá-lo, mas talvez esteja enganado. Hei-de perguntar à Lisete, amanhã...

Animais de estimação

Helena Sacadura Cabral, 27.04.17

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Nunca tive animais de estimação. Nem mesmo cães, esses que se consideram os melhores amigos do homem. Mas os telejornais de ontem não só deram conhecimento de que essa amizade por vezes se torna raiva, como lembraram o longo historial da série de acidentes havidos recentemente por investidas de cães contra adultos crianças.

Nada sei da psicologia dos canídeos. Apenas lembro que a minha querida amiga Madalena Fragoso, foi gravemente ferida por uma cão que estimava há já vários anos. E o dela não era de uma raça potencialmente assassina.
Agora que temos um deputado que defende a natureza e os animais talvez fosse ajuizado pedir-lhe que se ocupe de propor legislação que presida à defesa não só destes últimos, mas, sobretudo, à defesa daqueles que, sem qualquer responsabilidade, se vêem num hospital, em consequência deste tipo de agressões, que se está a tornar cada vez mais frequente.

 

O Blog da Semana

Helena Sacadura Cabral, 07.01.17

Desta vez a minha escolha vai para o Pedro Rolo Duarte e o seu blog em http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt/.

É muito difícil explicar qual a razão que nos leva, numa determinada semana, a escolher um blog e não outro, dos vários dos quais gostamos. Por isso não explico a opção. O blog do Pedro exemplifica muito bem a forma como ele olha o mundo que o rodeia e nos rodeia, sem grandes complacências e procurando sempre ser imparcial na leitura que faz dos acontecimentos. Eu gosto muito e conheço-o há mais de 30 anos! 

Aos meus amigos neste Natal

Helena Sacadura Cabral, 21.12.16

Contei meus anos

E descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente

Do que já vivi até agora

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.

As primeiras ele chupou displicente,

mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,

Cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis,

para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias

que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas

que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigam pelo

Majestoso cargo de secretário geral do coral.

As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,

Minha alma tem pressa...

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,

Muito humana; que sabe rir de seus tropeços,

não se encanta com triunfos,

não se considera eleita antes da hora,

não foge da sua mortalidade.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

"AMIGOS NÃO SE DESPEDEM,MARCAM UM NOVO ENCONTRO"

(Poema de Mario de Andrade)

Surpreendente mundo este!

Helena Sacadura Cabral, 05.12.16
A política na Europa tornou-se imprevisível. Espanha, Áustria, Inglaterra, Itália e em breve a  França deram cabo de todas as sondagens feitas para eventos políticos eleitorais. O que mostra uma de duas: ou as agências não percebem nada do que fazem, ou a realidade ultrapassa, em muito, as bases em que aquelas assentam. De facto, o desacerto tem sido excessivo.

Parando um pouco para olhar o mundo, vemos que a América não vai melhor e o Oriente é um potencial foco de infecção. Isto para não falar já das complicações de Moçambique, do anúncio  da retirada de José Eduardo dos Santos em Angola, do Brasil ou de Cuba.

Levámos oito dias a acompanhar a subida aos céus de Fidel de Castro, com votos de louvor na Assembleia da Republica, cujos deputados, dada a sua tenra idade, não devem perceber bem que Fidel teria todo o direito a estas homenagens se tem morrido em 1959. Mas como faleceu em 2016, nem sei como as classificar... É este o surpreendente mundo novo em que vivemos!

So long, Leonard

Helena Sacadura Cabral, 12.11.16

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Ando deliberadamente em época de más noticias. Leonard Cohen foi o meu companheiro de momentos menos felizes em que só ouvir a sua voz me tirava de amarguras. E foi também companheiro fiel das musicas que, ao som da sua voz, dancei nos braços de quem amava.

Só isto bastaria para sentir a sua partida. Acresce que gostava e gosto do que escreveu. Às vezes e sem sabermos bem porquê há almas que tocam a nossa e ficam para sempre ligadas às recordações que não queremos esquecer.
Com Cohen, como com Aznavour, a idade não conta, porque aquilo que nos toca é intemporal. Vou, por isso, ter muitas saudades deste velho canadiano, que foi jovem ao mesmo tempo que eu.

Mas afinal o que é que o homem tem?!

Helena Sacadura Cabral, 08.11.16

A.jpegNão sou muito de me interessar pela vida alheia. Acho a minha muito mais interessante e chega-me perfeitamente. Acontece que a telenovela da CGD atingiu tais proporções, que hoje dei comigo a aventar que tipo de segredos esconderá a vida daquele Conselho de Administração, para se terem deixado extremar de tal modo as posições daqueles homens? Sim, porque nesta salgalhada não há elementos do género feminino.

Confesso-vos que comecei a seriar razões plausíveis que pudessem explicar a situação e não descortino nada que nos não tenha já acontecido. Por isso, se o Correio da Manhã ainda não descobriu, é porque se trata de algo que nem passa pela minha cabeça. Na qual, é sabido, se passa muita coisa. O resultado é que agora sou eu eu que, pela primeira vez, gostava de saber aquilo que António Domingues e os seus muchachos tanto tentam esconder!

Por onde é que anda o nosso prestigiado "jornalismo de investigação"? Porque será que estão tão caladinhos?! Mas afinal o que é que queles homens têm de tão especial ou tão grave que justififique esta luta intestina?

Cartas de amor

Helena Sacadura Cabral, 31.10.16
Acabei hoje de ler as cartas de Mitterrand a Anne Pingeot, mãe da sua filha Mazzarine, agora uma mulher de 41 anos. São centenas de epístolas que revelam o lado mais privado do homem que ocupou o mais alto cargo político na França.

A intimidade, quando revelada, tem sempre o duplo efeito de nos fazer participar de algo que não vivemos. E se, neste caso, isso pode ter um lado algo perverso, visto que se trata de um triângulo amoroso, noutras circunstâncias pode ajudar a compreender melhor alguém de quem só conhecemos o lado público.

Anne Pingeot e François Mitterrand apaixonaram-se no começo dos anos sessenta. Nessa altura o político francês tinha 46 anos, era casado e pai de dois filhos, e ela tinha 19. Anne tornar-se-ia - nas próprias palavras de François - não apenas a sua amante, mas a mulher da sua vida. 

Esta relação intensa e de enorme cumplicidade só se tornou pública em 1994, quando a revista Paris Match publicou fotografias do então Presidente da República a sair de um restaurante parisiense com a filha de ambos, Mazarine, nessa altura com 20 anos. Este “escândalo mediático” para a época foi, até então, bem protegido pela comunicação social que o conhecia desde há muito.

E se é verdade que Pingeot terá sofrido pelo silêncio que a rodeou e à sua filha, seguramente que a mulher oficial, Danielle, e os outros filhos não terão sofrido menos, já que chegaram a habitar em lados opostos no Eliseu.

O livro "Lettres à Anne", que saiu há cerca de quinze dias em França, deixou-me uma sensação estranha, que pouco tem que ver com conceitos morais – embora eles existam – mas que tem mais a ver com o homem e o conceito de família que estão por detrás daquelas cartas.

De facto, se esta mulher era assim tão importante, porque é que ele se não divorciou da primeira? Se esta filha foi o fruto desse imenso amor, porquê esconde-la tanto tempo dos olhares públicos? E porque é que todas estas personagens aceitaram desempenhar um papel que apenas Mitterrand impunha? Finalmente, o que leva Anne Pingeot a publicar agora estas missivas, quando o seu amor morreu há vinte anos e a sua rival há cinco?

Estas são para mim as perguntas mais inquietantes. Da resposta a qualquer delas depende, afinal, a ideia que façamos dos diversos intervenientes nesta história.

Que foi uma impressionante história de amor, parece evidente. Mas que tipo de poder tinha este homem para que ela se tenha desenrolado deste modo?!

Auto promoção

Helena Sacadura Cabral, 26.09.16

 

 
Sairá para as livrarias, no próximo dia 4 de Outubro, o meu primeiro livro de Memórias. O subtítulo de "uma vida consentida" tem um duplo significado. Foi a vida que eu consenti e foi, também, creio hoje, uma vida com sentido.
Explico na introdução o que me levou a escrever sobre mim e sobre uma parte importante da minha existência. É que, afinal, foi ela que permitiu que eu me transformasse na mulher que sou hoje e que, com alguma ousadia, confesso, está bem próxima daquela que eu gostaria de ser.
Foram estes anos que determinaram que se operasse em mim uma verdadeira revolução relativamente à mulher que fui há três décadas. São memórias muito vivas das tristezas e alegrias por que passei e das razões que me fizeram escolher o meu caminho, depois de um divórcio que, tendo-me deixado devastada, acabou por ser determinante para a minha percepção daquilo que eu não queria jamais ser.
Quando o Miguel morreu pensei muito na catarse que então poderia ter sido escrevê-lo. Não o fiz, porque não era essa a minha intenção. Quatro anos passados sobre o seu desaparecimento e com o meu outro filho já fora da política, senti que talvez fosse chegada a altura de dar a conhecer aos que me são próximos - filho, netos, irmãos e amigos - o meu olhar, o meu sentir sobre o valor que atribuo àqueles anos. É que, muito possivelmente, qualquer deles, ao ver-me agora, dificilmente admitiria a mudança radical pela qual passei.
Se este livro permitir que uma pessoa compreenda e acredite que sobre os destroços de uma vida que apenas se consentiu se pode construir uma outra, essa sim, consentida e com sentido, eu já me sinto gratificada. 
Não sei se escreverei um outro sobre o que vivi quando já era dona de mim própria. Acredito que talvez venha a fazê-lo, porque os anos que se seguiram tiveram momentos de uma enorme e inesperada felicidade. Será, no fundo, contar a história de uma mulher cuja verdadeira vida se descobre e inicia pelos quarenta anos. E essa história é, felizmente, completamente diferente da que acabo de escrever. Na forma e no conteúdo. Enfim, na vida vivida.
É que, até àquela idade, limitei-me a aprender a viver e a escolher, com algum sacrifício próprio, o que me parecia ser melhor para aqueles que me rodeavam. A partir dela o processo altera-se, e eu escolho não só ditar a minha própria vida como procurar, acima de tudo, ser feliz.  Não tenho de que me queixar porque os anos que desde então vivi superaram em muito os anteriores e, sobretudo os que, por via deles, me poderiam estar naturalmente destinados...
Nota: o livro já se encontra em pré-venda.
Na Wook: 
Na Bertrand: 
Na Fnac:

Do princípio ao fim (2)

Helena Sacadura Cabral, 24.09.16

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“Na Primavera dos seus vinte e dois anos, Sumire apaixonou-se pela primeira vez na vida. Foi um amor intenso como um tornado abatendo-se sobre uma vasta planície -, capaz de tudo arrasar à sua passagem, atirando com todas as coisas ao ar no seu turbilhão, fazendo-as em pequenos pedaços, esmagando-as por completo. Com uma violência que nem por um momento dava sinal de abrandar, o tornado soprou através dos oceanos, arrasando sem misericórdia o templo de Angkor Vat, reduzindo a cinzas a selva indiana, tigres e tudo, para depois em pleno deserto pérsico dar lugar a uma tempestade capaz de sepultar sob um mar de areia toda uma exótica cidade fortificada. Em suma, um amor de proporções verdadeiramente monumentais. A pessoa por quem Sumire se apaixonou, além de ser casada tinha mais dezassete anos que ela. E, devo acrescentar, era uma mulher. Foi a partir daqui que tudo começou, e foi a partir daqui que ( quase ) tudo acabou.”

 

       In “SPUTNIK, meu Amor”, de Haruki Murakami

 

Considero que muito pouco se poderá acrescentar à descrição feita pelo autor do que seja uma paixão. Quem a tenha alguma vez vivido, saberá disso. 

É assim que o livro abre. Depois, e num só parágrafo, Murakami abalará, em duas linhas, vários tabus da sociedade vigente: o amor entre duas mulheres, o adultério e até a diferença de idades entre duas pessoas que se amam.

Dificilmente alguém, em tão poucas linhas, conseguiria despertar a curiosidade dos leitores para a leitura de uma obra que, numa narrativa on the road constitui, afinal, uma espécie de introdução a um ensaio sobre o desejo humano e à especulação acerca do destino de cada um.

Sou, simultaneamente, uma admiradora do Japão e deste autor. O parágrafo escolhido, julgo, pode ser bastante revelador da alma e do espírito de um povo, cuja literatura só tardiamente tivemos conhecimento.