A final do Euro-2024
O Euro-2024, termina amanhã. O meu prognóstico é antes do jogo: a selecção de Espanha, país do nosso querido Roberto Martinez, tem sido a melhor do campeonato. Surge mesmo como uma equipa invencível...
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O Euro-2024, termina amanhã. O meu prognóstico é antes do jogo: a selecção de Espanha, país do nosso querido Roberto Martinez, tem sido a melhor do campeonato. Surge mesmo como uma equipa invencível...
Nesta rubrica "blogue da semana" fujo à (saudável) regra e recomendo esta Kambaku - Notícias do Mundo Natural, uma belíssima página digital que (muito bem) corresponde ao seu título. Trata-se de uma plataforma noticiosa dedicada à informação e análise de conservação da biodiversidade, centrada em Moçambique mas bastante atenta a essas questões em África e, até, alhures.
O seu nome Kambaku (também usualmente grafado Cambaco) é o termo em língua changana para o velho e solitário elefante, irritável sempre dele se disse. E cheguei a esta tão interessante página através de uma chamada de atenção do Afonso Vaz Pinto, também veterano confrade bloguista no seu Mar me quer, e que desta Kambaku é um dos artífices.
O seu conteúdo é muito consistente, textos escorreitos, diria até "cirúrgicos". Mas isto sem minimamente se encerrar num "discurso especializado", pois ela funciona muito bem como divulgação para nós, vulgares amadores e amantes interessados, mesmo nos exaltando, devolvendo-nos esperanças, se se quiser. Tem uma secção de notícias sobre conservação e biodiversidade, outra sobre ciência e investigação - entusiasmante para um leigo como eu -, um outra, preciosa, dedicada à sustentabilidade, ou seja às dinâmicas da economia ecológica, e uma outra ainda sobre inovação tecnológica ligada à biodiversidade
E como exemplo de notícias que vão para além de Moçambique, e também alertando para o seu suporte audiovisual, deixo estas recentes abordagens à magnífica reintrodução de rinocerontes brancos no Kruger ou da corrente maior migração mundial de mamíferos terrestres no Sul do Sudão.
E tem também - como não podia deixar de ser - uma secção fotográfica, como exemplifica esta deliciosa imagem do regresso do xaréu gigante às águas moçambicanas:
Finalmente tem uma secção de entrevistas radiofónicas (hoje em dia chamadas podcast), conversas com cerca de uma hora tidas com verdadeiros especialistas da matéria em Moçambique. Ou seja, verdadeiramente preciosas para quem queira aperceber-se do "estado da arte" desta tão relevante matéria. Chamo a atenção para as que ouvi, uma com o justificadamente célebre escritor (e biólogo, veterano destas questões ambientais) Mia Couto. Uma outra com Pedro Muagura, reconhecido administrador do Parque Nacional da Gorongosa. E ainda uma com Alexandra Jorge, administradora da Biofund, organização não lucrativa que actua em cerca de 30 parques naturais no país.
Em suma, Kambaku é um local que muito merece ser visitado. E, também, divulgado. Que outros o possam fazer, se assim o entenderem.
Pois lá me tornei sexagenário. Antes de tudo, na possibilidade de a todos agradecer, repito, qual sublinhado, na possibilidade de a todos agradecer - o que eu me rio com os taralhoucos que vão para o Facebook dizer "na impossibilidade de agradecer a todos os parabéns que me endereçaram", como se fossem a Tylor Swift, com milhões de "fans". Um tipo pode não ter vagar ou paciência para responder a toda a gente, mas clamar "impossibilidade" disso é pateticamente ridículo. E o sentido do ridículo não é congénito, é apre(e)ndido. O problema é que ninguém avisa os pobres mortais que estão a ser ridículos, acham antipática essa generosidade até pedagógica ... - Enfim, dizia eu, na possibilidade de a todos agradecer os bons votos que me enviaram (FB ou telefone) assim o fiz - e noto, encantado, que ninguém me "parabenizou", parece-me que essa praga de cretinismo lexical se desvaneceu, qual covid... -, e fi-lo porque muito me acalentaram as mensagens, simpáticas, recebidas. Porventura sinal de degenerescência proto-senil, um tipo a sensibilizar-se em demasia, assim já de pingo no nariz, até lacrimejando, a anca a dar de si, varizes entumescidas, e todos os outros itens do vasto rol que aí virá...
E para quem tenha curiosidade aqui discorro sobre o tal primeiro dia sexagenário. Uma querida amiga mimou-me, nisso providenciando-me o primeiro café. Após o qual assomei a esplanada vizinha onde camarada amigo me proporcionou parelha de "bicas", e partilhámos um queque como matabicho - sim, eu sei que assim dito parece um bocado gay, dois maduros a dividirem o bolito matinal, mas é no bairro, conhecem-nos, só dirão que são aqueles dois simpáticos sexagenários (pois, a partir de agora será assim...), meio desasados... Depois cruzei o dia em casa, fingindo escrever ("acaba lá isso tudo, a ver se se publica um livro", desafiou-me uma bela amiga, intelectual) enquanto ia atendendo o frenético telefone, um rosário de solidários amigos no "vais ver que não custa nada", clamando que se é jovem aos 60 e até aos 70 (é o que eu digo no primeiro parágrafo, as pessoas não têm a a noção do ridículo, e ninguém as ensina...). Consegui escapar-me a vários desafios para almoço, jantar ou convívios - tenho lá eu dinheiro para festas de aniversário ou meras rodadas que sejam...
Ao fim da tarde fui até ao Saldanha, à livraria Almedina, para o lançamento deste livro do amigo Pedro Correia, o comandante do blog Delito de Opinião, o "Tudo é Tabu", editado pela Guerra e Paz, no qual ele vergasta estes esquerdalhos identitários, também ditos "wokistas". O livro é recomendável... Lá assomei, pude conhecer um co-bloguista (emérito) no Delito De Opinião, e reencontrar um antigo co-bloguista do sportinguista És a Nossa Fé. Mas a sala estava composta, e constatei o que esperava, isso de não haver chamuças (ou croquetes, como no Rock in Rio) ou algumas bebidas espirituosas. Mas os comparecidos, de aparência elegante, não estavam com isso nada esmorecidos, e compravam o livro com afinco. Assim, percebendo-me ali inútil e até porque descobrira ter uma notória nódoa nas calças (será do óleo Fula, que agora me substitui o azeite e que tanto espirra?), abraço autoral já recebido, fugi dali, escapando-me às doutas palavras que iriam ser proferidas - privilégio dos sexagenários, isto de fugirem às "doutas palavras", não porque delas desnecessitem mas porque já não as retêm.
Lá regressei na "linha vermelha", bebi uma imperial em esplanada olivalense, no remanso da companhia de um livro do Javier Marias. E depois fui até à Casa de Frangos de Moscavide, ali ao Largo do Ferrador. E seguiu-se jantar com a minha filha e seu gentleman, o dito frango, batatas fritas, um naco de azeitonas temperadas, um vinho tinto barato e uma cerveja de litro. Eles seguiram e eu voltei à minha rotina, em espiral repetitiva disto:
Nick Cave & The Bad Seeds - More News From Nowhere [OFFICIAL VIDEO]
A vida continua, more news from ... Nenhures.
Lembra-Me Um Sonho Lindo
A morte de Fausto (Fausto Bordalo Dias, como depois veio a ser conhecido) faz-me recuar até aos anos 80 mas também me ancora no presente. Logo me lembro, como a tantos acontecerá, deste "Por Este Rio Acima", um disco magnífico. E uma surpresa na época - pois para além do íntrinseco autoral era muito bem produzido, muitíssimo melhor produto do que era a norma de então, e em especial nos muito básicos oriundos da chamada "canção de intervenção", "cantautores" vieram depois a ser ditos. A indústria musical portuguesa não era tão má, tecnologicamente, como a cinematográfica (esta era verdadeiramente uma desgraça), mas era deficitária. "Por Este Rio Acima" mudou isso. O sucesso, comercial e de reconhecimento, foi enorme. Lembro-me - mas lamentavelmente não encontro via motores de busca - de uma deliciosa primeira página de jornal que dizia "Fausto, o Chalana da Música", noticiando um novo - e bem abonado - contrato com empresa discográfica do músico (que me diziam ser um tipo profissionalmente muito difícil, exigentíssimo, até em demasia), fazendo-o equivaler ao grande ídolo da bola de então...
Mas a memória deste disco também me traz para o presente. Pois em alguma imprensa e na na academia de algumas ciências sociais (nisso também na antropologia) vem vigorando um discurso - dito "pócolonial" ou "decolonial" -, militante de uma simplificação demagógica do passado recente e da actualidade. O seu cerne é a afirmação da inexistência de uma "descolonização" intelectual no país, da total perenidade da mundividência colonial, imperial, saudosista, após-1974. Há até textos (o jargão chama-lhes "papers") publicados nos locais "da especialidade", botados por estrangeiros (brasileiros de preferência) ou lusos empenhados, que consagram essa perenidade. Sobrevoam, apressados, o "campo literário", desatentam a (sofrível, repito-me) cinematografia. E aguçam-se, vampirescos, sobre o mundo da música popular, neste último clamando a representatividade, como se universal, daqueles obscuros festivaleiros Da Vinci. E, mais ainda, reproduzindo uma interpretação abjecta de básica desse fenómeno pop que foram os Heróis do Mar. Esses mariolas, sempre avessos à rugosidade do real, sua complexidade e multiplicidade, a tudo o que não lhes convém às "causas" (e aos subsídios) esquecem, não só a existência como a real influência de objectos que marcaram o país, suas gentes, as mundividências. Lembro a magistral peça "Fernão, Mentes?" da Barraca, logo no início da década de 1980. E nesse já tão recuado 1984 o monumento - tão influente - que foi este "Por Este Rio Acima". Nem tantas outras coisas, as produzidas e as formas da sua recepção pública.
E continuam "por esses rios abaixo" os tais intelectuais. E nós-outros, os avessos à aldrabice "póscolonial", deveras embrenhados no encapelado da realidade, continuaremos a entoar - e mais agora na morte de Fausto -, "Quem conquista sempre rouba / quem cobiça nunca dá / quem oprime tiraniza / naufraga mil vezes ... Já vou de grilhões nos pés / já vou de algemas nas mãos / de colares ao pescoço / perdido e achado / vendido em leilão / eu já fui mercadoria / lá na praia do Mocá...". Tudo isto, complexo, que não lhes cabe na ladainha, com a qual vão ganhando a vidinha, videirinhos que seguem.
Bob Dylan - Simple Twist of Fate (Official Audio)
Robert Plant_Song To The Siren
Morreu o Manel Fernandes, o nosso eterno capitão. (Aqui no seu cromo da Futebol 77, já depois de ter vindo da CUF). O Manel era a "bola", o verdadeiro futebol. E o Sporting.
Aplausos. Em ovação.
*****
A colecção "Futebol 77" (os cromos da época 1976/1977) nas páginas centrais da caderneta tinha esta hipótese, o coleccionador arvorar-se em selecionador por um jogo. A minha equipa para o jogo contra a Polónia (a então poderosa de Lato), em 16.10.1976, era esta, claro que com o Manel Fernandes a titular:
Damas, Artur, Laranjeira, José Mendes, Pietra; Octávio, Alves, Fraguito; Manel Fernandes, Nené, Chalana.
Tem sido noticiado que os tribunais sancionaram o anterior seleccionador nacional devido à modalidade contratual que teve com Federação Portuguesa de Futebol, uma instituição de utilidade pública. Algo que terá lesado o Estado em alguns milhões de euros, através de um meio artificial e abusivo. Dada a importância do posto de trabalho e o elevado montante envolvido, será preciso um enorme grau de candura para se pensar que o presidente da FPF não teria conhecimento da situação.
Dito isto, e num país onde os habitantes estão sobrecarregados de impostos, directos e indirectos, é de perguntar a que propósito é que o novo Primeiro-Ministro confraterniza com quem compactuou (ou até mesmo mais) com tal "meio artificial e abusivo" de escapar ao fisco. Importa mais "ir à bola" e aparecer a comentar o jogo da "selecção das quinas"? Fica assim a (sustentada) percepção de que, afinal, este é mais do mesmo.
A culpa foi do José Navarro de Andrade. O outro dia fui a uma cena dessas literárias, o que me é raríssimo. O tipo também comparecera, coisas de amizades lá dele. Enfim, fiz o que me cabia, sem murmúrios ouvi algumas palavras (auto)laudatórias e depois uns mui sentidos versos bem mortais. No final daquilo, e também para evitar uns apparatchikos PS (daqueles mesmo..) que por lá constavam, roliços ronronantes, vim para a rua fumar, e o Navarro também avançou. A gente vê-se (via-se, melhor dizendo) era na bola, ele levava-me a ver o Sporting, e também nos jantares de sportinguistas no Império. Mas ali não falámos de futebol, descaímos para livros. E não é que o Navarro me diz - ao fim destes anos todos - que tem este "Terra Firme", pequeno livro sobre a formação dos preços dos víveres, isso que nos esmaga. Narrou o ciclo, dos produtores até aos Pingos Doces da vida...
Enfim, fui agora à Feira do Livro, tendo jurado nada comprar, dadas as estantes atafulhadas e, acima de tudo, devido à... formação dos preços dos víveres, cruéis. Mas lembrei-me do livro do Navarro, e fui comprá-lo, até por ser bem barato. Mas foi o desastre, foi o ceder do dique moral. Malditas pechinchas!, as que logo se seguiram, que do Benoliel aos monos (e que belos monos) da Relógio D'Água já disparatei. E a culpa, repito, é do Navarro.
O PS clama vitória, e a sua cabecilha Marta Temida surgiu esfuziante, ombreando com o secretário-geral Santos. O PS teve mais 160 mil votos do que nas eleições de 2019, e isso decerto que potencia a sua alegria. É certo que a abstenção baixou e por isso o PS teve menos 1,3% na sua percentagem do total de votos, mas isso em nada lhe atrapalha a alegria. O PS perdeu um deputado, o que não lhe amansa o entusiástico sorriso e o vigoroso esbracejar de punho erguido. Os outros partidos de "esquerda" perderam 3 deputados e, ainda assim, o PS ... perdeu o tal deputado, mas a "Super-Marta" surge entusiástica entre os seus a comemorar a vitória. Enfim, o PS teve uma bela vitória, sorri a "Super-Marta". Trigo Limpo, Farinha Amparo?!
A Camarada Catarina Martins foi eleita, clama pela paz, entoa Palestina Livre - que é a guerra que ocorre na Europa -, a seu lado a Coordenadora Mortágua secunda-a (sem repetir que a Rússia tem direito a defender o seu "espaço vital", a hitleriana ideia que ecoou no início da "operação militar especial" na Ucrânia). A assistente turba de "activistas" delira. São pela "paz"... Trigo Limpo, Farinha Amparo?
O Camarada Oliveira também foi eleito. Está bem-disposto no seu discurso (é mais um comunista "boa pessoa") e também se lembra de clamar pela "paz". Urge, não conclui, que a Ucrânia se renda para que haja paz na Europa. Neste caso é mesmo Trigo Limpo, Farinha Amparo, sem interrogações.
O "nosso embaixador" (e cônsul em Goa, já agora, para quem se tenha esquecido...) Tânger também foi eleito. Parece que não falou - ou terei sido eu que não o ouvi? Uma pena, assim nada pode dizer em abono da Rússia. Nem contra os judeus, uns mariolas dados às conspirações... Mas, vá lá, o Almeida Leite não foi eleito, ao menos isso, que isto de termos um ex-Secretário de Estado da Cooperação (e depois tendo sido o tipo dos financiamentos à Ajuda Pública do Desenvolvimento) plantado no CHEGA é mesmo sinal do triste estado a que isto chegou, e desde há muito. É mesmo caso para dizer Joio Sujo, Farinha Amparo...
Fui votar de manhã (e votei bem). Como desta vez se pode fazê-lo em qualquer lugar, em vez de ir até às traseiras de casa, como sempre, fui até ali à frente, à Biblioteca dos Olivais. Foi forma de matar saudades pois a Biblioteca está fechada há mais de três anos (há quem afiance que há já 4...), devido a umas obras superficiais que a Junta de Freguesia tem descurado de modo escandaloso (dizem-me que até foram financiadas duas vezes mas não posso afiançar). O que é engraçado é que indo à página da Junta vê-se como Rute Lima (a presidente em part-time) e seus correligionários PS anunciam os trabalhos sobre um novo jardim que vão instalar em homenagem ao Zé Pedro. Mas nada sobre a reabertura da biblioteca. O que muito me faz lembrar aquilo dos "coronéis" brasileiros do Jorge Amado, que se limitavam a ajardinar para legitimar as malandrices....
Enfim, é o PS nos Olivais, em Lisboa. E Portugal. A "esquerda", dizem, avessa ao "obscurantismo", gabavam-se. E nós, que não gostamos de duplos financiamentos para obras públicas e até vamos às bibliotecas, somos ... "neoliberais", "reaccionários". De "direita"....
1º de Agosto - Xutos e Pontapés
É sexta-feira, já este longo fim de tarde de Junho, subo do Camões ao Príncipe Real, rumo a casa de amigo. Na aproximação ao célebre "Sinal Vermelho" uma beldade chama-me num "Zé!" sonoro, eu semicerro os olhos e pergunto-lhe - ela entre o seu grupo comensal, ali ainda esperando mesa - "nós conhecemo-nos?", responde-me sorridente "sim, andei ao teu colo!", "e gostaste?" digo-lhe, marialva, "muito", afiança. E beijamo-nos efusivos, nas liberdades que o nosso elo avuncular permite. Diz-me estar eu com bom aspecto, sorrio-lhe anuindo, e dispara, até sondando, "parece que estiveste com o amor da tua vida...!" Rio-me e riposto, "náda!" (isso já não, claro) "estou com amor pela vida", coisa bem diferente, escassa também, pelo menos se tanta que afivelada na carantonha, como ali aparece evidente.
E a ela me explico: chegámos a este Junho, e como sempre começam a aportar a Lisboa os amigos feitos em Moçambique, alguns de lá, outros ainda por lá, outros já alhures. Reencontros calorosos, memórias e novidades saudosas nada saudosistas. E estou ali a concluir um dia peculiar, inesperado reencontro, sequencial, com três queridíssimas amigas, a uma não via há 28 anos (!), a outra há 2, e uma outra que, vá lá, vou reencontrando semestralmente. Com as quais percorri um pouco da Lisboa antiga, turista em casa própria... E estou ali, neste rumo (repito) a um uísquezito em casa de velho amigo, de "alma cheia" como se diz. E se o bornal espiritual está assim atafulhado o outro carrega estas ofertas deliciosas, mel (caseiro) de Trondheim, castanha de cajú de Inhambane...
Dias passados, mais sossegado, rotineiro nesta minha nova faceta de vendilhão, ocorre-me (até porque há já um mês - fui confirmar - que não falo do assunto) que, nesta época, aos amigos acorridos a visitarem o rincão devo insistir em impingir o meu "Torna-Viagem" (o qual se pode encomendar através desta ligação colocada no título), pois por cá poderão recebê-lo com muito menos preocupações e gastos postais.
(Agradeço à equipa da SAPO o destaque dado a este postal).
(Este postal ficou mais de um mês resguardado em "rascunho" para o apartar de qualquer associação, implícita que fosse, à execrável acusação a Marcelo Rebelo de Sousa de "traição à pátria", levantada pelo partido CHEGA)
"Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos" (Capitão Salgueiro Maia, no discurso mobilizador às suas tropas na partida para a revolução de 25 de Abril de 1974)
Nestes anos da sua presidência tem sido reduzida a crítica a Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), algo notório face às constantes invectivas aos outros agentes políticos, tantas vezes abrasivas. Mesmo quando se debatem algumas das suas decisões - as recentes dissoluções da assembleia ou posições avulsas sobre medidas legislativas, para exemplos maiores -, isso advém da elite política e surge sempre num cuidadoso registo plácido, denotando a quase intocabilidade de MRS. A qual muito ultrapassa o tradicional respeito pelo estatuto simbólico da presidência, o que é visível se comparando com o crivo crítico que recaía sobre todos os seus antecessores presidenciais. E diante da sua frenética actuação, esse corropio flanante e palavroso sobre o país, reina a "distracção" pública, restam apenas alguns dichotes, quantos deles em registo complacente... Até nos casos, recorrentes, que denotam alguma sua descompensação, a qual é apenas referida em surdina e/ou em tom de jocosa simpatia - como, para exemplos, os seus comentários a um decote ou, ainda pior, o já recuado, e absurdo, episódio durante a vigência da "distância social" no COVID, quando se deixou partilhar bocados de bolos com as crianças circundantes (compare-se a acrimónia com que, décadas passadas, tantos ainda referem o episódio em que Cavaco Silva comeu atabalhoadamente uma fatia de bolo-rei com o silêncio amnésico sobre este gritante disparate político comensal). Em suma, MRS tem "boa imprensa" e grande popularidade, esta constantemente visível.
O relevante é entender como pôde um homem com as suas características pessoais e o seu percurso político assumir tamanha relevância e captar tanto apreço, este que o vem blindando às críticas. Ou seja, como as representações e os anseios que a população tem sobre política e políticos coincidiram, casaram até, com a arquitectura que Rebelo de Sousa fez de si mesmo. Dito de outro modo, "Marcelo" reflecte "o estado a que isto chegou", o presente do regime.
É certo que o trabalho diplomático tende a ser discreto. Mas é de sublinhar o relevante feito da diplomacia portuguesa, agora comandada pelo ministro Rangel. Pois há poucos dias o deputado Ventura, líder do importante partido CHEGA, vituperara os turcos de incompetentes preguiçosos, assim maculando a nossa imagem entre aquele povo e nisso atentando contra (traindo até) os interesses nacionais na sua interacção com aquele nosso poderoso aliado. Mas hoje mesmo o desagradável incidente - para não lhe chamar pior - foi ultrapassado, devido ao extraordinário sucesso tido pelo enviado especial português a Istambul, o plenipotenciário Mourinho.