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Delito de Opinião

Não-assuntos

Ana Margarida Craveiro, 07.04.13

Noutros tempos, licenciaturas com fax e equivalências estranhas davam direito a gritaria, fecho de universidades e papéis a desaparecerem (ou a terem várias versões). Agora, um mesmo não-assunto deu direito a um processo, apresentado por um ministro do mesmo governo, e uma demissão. Podemos reclamar da crise, podemos reclamar dos orçamentos, podemos reclamar de muita coisa, mas que alguma dignidade está de volta, ai isso está. 

O Grandolismo

jpt, 22.02.13

(José Afonso, "Os Vampiros")

Regresso a casa e leio que em Portugal grassa uma onda ideológica, a do "grandolismo". A juventude universitária, prenha de hormonas esfuziantes (e catapultada por uma bem sucedida pateada ao ministro Miguel Relvas, a qual tem levado a reacções adversas exageradíssimas, que encontram um quasi-criminoso atentado no mero apupar de um ministro até que este desista de botar e se cale, um excesso de pruridos que me parece um bocado patético), alia-se à meia-idade universitária, esta no afã da reorgasmização da vidinha. E o amplexo assim constituído anda por aí a "grandolar" ministros e (presumo) afins.

José Afonso foi um enorme músico-compositor, o maior da sua geração, a qual marcou e nisso alimentou nomes queridos como o magnífico Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho e Fausto, estes que felizmente continuam connosco e como tal não precisam de adjectivos. Um pouco como Pedro Ayres de Magalhães (num registo menos heróico) na geração seguinte. Militante, radical, se estivesse vivo muito provavelmente concordaria com este ressurgimento reutilizador da sua "Grândola".

Mas ela, em boa medida, já não lhe pertence, como sempre acontece aos símbolos. Pertence a quem a utiliza, cada um à sua maneira, e nisso avaliado pela forma como o faz. A "Grândola" ficou como símbolo do 25 de Abril. Polissémico, como qualquer símbolo. Mas centrado no advento da liberdade, diz, pensa e acima de tudo sente, o discurso higiénico português. Esse que, bem na tradição colonialista da "esquerda", do "centro" e da "direita" portuguesa, esquece que ela é também (fundamentalmente?) o símbolo da paz, do fim do nacionalismo bacoco, serôdio, anacrónico, que se traduzia em práticas político-administrativas-económicas brutais e numa guerra violentíssima, prolongada, injusta. E ... inútil.

Assim sendo este "grandolismo", que o indignismo bloquista descobre e agita, não vem apenas retomar a usurpação do sentimento democrático. Subliminarmente (?) armando-se das polaridades de 1974, isso do "nós, democratas, que cantamos" vs "vocês, fascistas, que vão mudos", essa velha vontade monopolista (latifundiária) do pensar democraticamente (a qual que em outros tempos indignistas encheu o país de dísticos e pinturas intitulando de "fascistas" homens como António Barreto, Pezarat Correia ou Franco Charais, como exemplos hoje surpreendentes, mas que convém lembrar para entender o terrorismo intelectual de quem assim ia. E vai.). 

Na verdade este actual "grandolismo", agit-prop que quer associar o poder político actual à memória do pré-25 de Abril, promove (e disso se alimenta) o esbatimento das características estruturais políticas, repressivas e sociais desse período, para as poder imputar ao hoje. Essas características coloniais, como refiro, mas também as especificamente internas. É um espantalho, um instrumento de desconhecimento desse passado, como tal da actualidade, naquele constituída, daquele tão diversa. O festivo, até erótico, "grandolismo" é um desejado instrumento de desconhecimento, friso. 

Por isso mesmo, e por exemplo, um ícone como "Os Vampiros" - tão adequado a uma crítica cantada ao momento actual (concorde-se ou não com a crítica intentada) - não surge. Pois não é a crítica que se pretende, apenas a invectiva (bipolarizadora). E nisso se torna doloroso assistir à promoção disto por quem tem como função profissional investigar (aka, criticar) e ensinar (aka, criticar). Nessa pantomina a fazer-me lembrar Zeca Afonso, cantando magnificamente um obscuro poeta:

 

(José Afonso, "No Comboio Descendente")

A urgente revisão da oferta universitária

Rui Rocha, 21.07.11

Tomando o Porto como referência, concluiremos que existem, num raio de 100 quilómetros, cinco Universidades públicas: a do Porto, a de Coimbra, a de Aveiro, a do Minho e a de Trás-os-Montes e Alto Douro. As cidades onde estas Universidades se localizam estão ligadas entre si por auto-estrada. Para todas existe transporte em autocarro. E entre a maior parte delas existe uma rede de transporte ferroviário.

 

Se nos dermos ao trabalho de analisar a oferta de cursos dessas instituições, será fácil concluir que existem vários  que são leccionados em todas elas. E muitíssimos existem em, pelo menos, 3 ou 4 Universidades. Ou seja, não existe uma especialização de cada uma das Universidades numa determinada área. Pelo contrário, cada uma delas parece replicar a estrutura da oferta formativa que existe nas outras.

 

A sobreposição de ofertas formativas não tem, dada a proximidade geográfica entre as Universidades e os acessos existentes, qualquer justificação. E implica a duplicação de estruturas, de corpos docentes, de suportes administrativos e de custos. Pelo contrário, a especialização da oferta permitiria escolher, para cada Faculdade, professores bem preparados. E a concentração de meios em cada uma das áreas permitiria potenciar a constituição de núcleos de conhecimento mais próximos de uma ideia de excelência do ensino superior.

 

É claro que uma medida destas teria uma forte resistência dos diversos interesses instalados. Mas, o ensino universitário público não existe para servir essas clientelas. E, também neste caso, as circunstâncias do país impõem uma abordagem racional e uma visão integradora do papel de cada uma das partes no todo que é o sistema educativo.