Ao almoço, uma mulher pontificou sobre sexo. Ao jantar, um homem, numa situação diferente, mais formal, terminou a fazer o mesmo. Separa-os qualquer coisa como 15 ou 20 anos, não sei ao certo. Para a mulher, o sexo é uma necessidade, precisa de quem lhe toque. Para o homem, a poligamia é o que faz mais sentido. Tudo explicado com muitos pormenores, o número de amantes, as fantasias, as frustrações. As pessoas não falam abertamente sobre a sua sexualidade. A maioria tem receio ou pudor. Aqueles dois são, decerto, mais felizez. Ou talvez não.
Andréa, proprietária de um blogue chamado A Ponto, respondeu a sério ao meu semi-estapafúrdio (permitam-me alguma condescendência comigo mesmo) post anterior. Remetendo para um texto escrito em 2009, lembrou um estudo publicado na Visão, onde ficava evidente que, quando o tema é sexo, as mulheres portuguesas mentem tanto como os homens, só que em sentido inverso. E escreveu: Seremos tão mal vistas pela abstinência como pelo excesso, seja lá o que isso for. É esta frase que eu gostava de realçar porque Andréa tem toda a razão. Um homem sempre precisou de um currículo de experiências sexuais. E quanto mais preenchido estivesse, melhor. Por seu lado, até há poucas décadas as mulheres enfrentavam uma situação bastante diferente. Sexo com poucos homens era fundamental, sexo com muitos (sendo «muitos» um termo tão relativo que podia – e em alguns recantos deste belo planeta ainda pode – começar em um) transformava-as em meretrizes (que é uma maneira suave de dizer «putas»). Hoje, não sendo já estranho que uma mulher possua um historial de parceiros sexuais, ainda não é exactamente bem visto que ele seja demasiado longo. Mas (não quero fugir à dúvida da Andréa) o que é demasiado? Praticamente qualquer número desde que a avaliadora seja outra mulher, com razões (reais ou imaginadas) para não gostar da primeira, ou mais do que o parceiro do momento. (Quanto a este último ponto, gostaria de salientar algumas excepções; homens com tendência para o papel de «salvador», homens que apenas pretendem sexo, homens de uma incrível saúde mental, homens com cinquenta, sessenta ou setenta anos que querem provar ainda funcionarem tão bem como os de vinte e adolescentes em processo de iniciação sexual poderão não ligar a tais desequilíbrios.) Mais curioso do que este limite superior (as mentalidades alteram-se devagar) é verificar como, numa aproximação à lógica masculina, parece também ser hoje mal visto que uma mulher tenha ido para a cama com um número reduzido de parceiros – e a virgindade, então, passou a doença: pensemos no modo como olhamos para as jovens daqueles clubes em que se jura virgindade até ao casamento. Sinal dos tempos, da liberdade sexual feminina e talvez da enorme quantidade de séries televisivas que, na última década, década e meia, têm apresentado – e glorificado – mulheres sexualmente muito activas. Porém, tudo isto não deixa de configurar uma situação de relativa injustiça. Enquanto um homem tem que ir para a cama com umas quantas mulheres e depois o Céu é o limite (partindo do princípio de que os anjos não são afinal do sexo feminino), as mulheres parecem ter que se manter dentro de balizas mal definidas. Nem abstinência nem excesso, como a Andréa escreveu. A boa notícia é que a situação tende a corrigir-se e, em breve, também para as mulheres o Céu será o limite. Até porque nem elas nem os homens lá conseguirão entrar.
Adenda: O que isto tudo significa para as relações de longo termo – bom, essa é outra questão. Que o aumento da taxa de separações e a diminuição do número de partos talvez ajude a explicar. A liberdade também tem custos.
Nas cartas dirigidas a Flaubert, muitas delas de uma sã crueza de linguagem, Maupassant mostra-se orgulhoso da sua virilidade excepcional e chega a confessar-se farto de sodomizar judias!... A resposta foi simples: «experimenta pelo lado tradicional e pode ser que o teu tédio desapareça».
João Costa, no prefácio a As Sobrinhas da Viúva do Coronel, de Guy de Maupassant, Bertrand, 2007.
Será possível acharmos que vivemos numa época especialmente sexual – isto é, em que se faz mais sexo do que noutros tempos e de formas mais criativas? A década de sessenta, com a libertação feminina, o amor livre, o make love not war e o sex, drugs and rock ‘n’ roll, bem como a representação cada vez mais displicente (e inconsequente) do acto sexual na televisão e no cinema terão provavelmente contribuído para tal sensação. Mas corresponderá ela à realidade? Infelizmente, sendo, por um lado, os inquéritos sobre a frequência e os hábitos sexuais o que eram nos séculos anteriores ao último (inexistentes talvez seja o termo que procuro) e, por outro, os humanos (especialmente se possuidores de um cromossoma Y) propensos a mentir quando questionados sobre estas matérias, não é fácil ter certezas. Mas julgo podermos afastar desde já a hipótese de sermos mais criativos. Se as confissões de Maupassant, afloradas acima (e confesso tê-las usado essencialmente para vos chamar a atenção), não constituem grande indicador, há milhares de outras fontes onde podemos constatar que, basicamente, nos limitámos a melhorar alguns acessórios recorrendo à electricidade, à injecção de plásticos e aos circuitos integrados. Mas e a questão da frequência? O mesmo Maupassant terá possuído numa só hora, perante uma testemunha, seis mulheres num bordel parisiense. Mas relações envolvendo troca de dinheiro dificilmente representam a realidade ou a sensibilidade de uma época. Por outro lado, convém evitar dar excessivo crédito a declarações de machos com tendência para o priapismo – ou para a gabarolice. É por esta razão que os relatos do divino Marquês de Sade também não nos servem para caracterizar o que quer que seja. Podíamos ainda recorrer à Bíblia, que nos fala de Sodoma e Gomorra, ou a relatos gregos e romanos mencionando bacanais mas continua a ser difícil fazer comparações com os tempos actuais (como determinar se Calígula participava em mais ou menos orgias do que José Castelo Branco?). De resto, talvez seja melhor atermo-nos aos tempos e às regiões de influência cristã. Então, como fazer? Eu digo-vos: buscando na ficção não erótica de diferentes épocas a ideia que os autores transmitem sobre o que representa ter muitas relações sexuais. Claro que não obteremos o número de relações em que uma pessoa média se envolvia mas pelo menos obteremos uma noção do que era considerado excessivo. Sendo isto um post de blogue (necessariamente curtinho e to the point), vou limitar-me a um par de exemplos totalmente aleatórios e, dessa forma, estou em crer que totalmente representativos.
Comecemos pela actualidade e por uma série televisiva intitulada How I Met Your Mother ou, na versão portuguesa, Foi Assim Que Aconteceu. Nesta série, Barney Stinson, um awesome (definição do próprio) jovem mulherengo nova-iorquino com cerca de trinta anos, tem relações sexuais com a duocentésima mulher diferente durante a quarta temporada. Já perto do final da quinta, refere que a contagem vai em quase duzentas e oitenta (o que revela um considerável aumento de ritmo). Temos então que, de acordo com a mentalidade actual, fazer sexo com quase trezentas mulheres é mais do que suficiente para que um tipo de trinta e tal anos possa considerar-se (e ser considerado) um engatatão de primeira classe. Se Barney tiver iniciado a vida sexual aos quinze, isto dá uma média de catorze ou quinze mulheres por ano. Razoável, de facto, pelo menos quando comparado com a minha estatística pessoal – mas eu tendo a esquecer-me das coisas.
Antes de recuarmos no tempo e colocarmos à prova as façanhas de Barney Stinson convém explicar que toda a lógica deste post se aplica aos homens. E não por uma questão de machismo, pelo menos da minha parte. Apenas porque, no que respeita às mulheres, não há qualquer dúvida. Convenhamos que discutir o número a partir do qual uma mulher era classificada como – er, conquistadora nem sequer é o termo, pois não?... promíscua, então? – há um par de séculos não é mais do que escolher entre os algarismos um, dois e três, consoante se tratasse de um mulher solteira, casada pela primeira vez ou casada pela segunda vez após morte do primeiro marido. Felizmente, hoje a situação é bastante diferente (felizmente também para os homens, que têm – dizem-me – menores dificuldades em arranjar sexo barato). Ainda assim, sinto-me forçado a salientar que, décadas depois da tal «revolução sexual» dos anos sessenta, continua a notar-se uma diferencita no valor considerado excessivo para homens e para mulheres. Lembram-se da cena, em Quatro Casamentos e Um Funeral (de 1994, mas creio que ainda razoavelmente representativo) na qual a personagem interpretada por Andie MacDowell enumerava os amantes que tivera? Ela apenas chegou a trinta e qualquer coisa mas terminou corada de vergonha e, diante dela, a personagem interpretada por Hugh Grant começava a entrar em estado de choque. Ou seja, trinta e qualquer coisa parceiros sexuais já são demasiados para uma mulher de trinta e qualquer coisa anos mas quase trezentas parceiras sexuais ainda não embaraçam um homem de trinta e qualquer coisa anos (pelo contrário, ele continua a sorrir, orgulhoso).
Bom, mas então como era no passado? E a quem recorrer para obtermos uma ideia digna de crédito? Não existindo televisão nem cinema, resta-nos a literatura, o teatro e a ópera. Mantenhamo-nos nas artes performativas e usemos a última. Em Don Giovanni (parcialmente uma comédia, como How I Met Your Mother) Lorenzo da Ponte, o librettista que trabalhou com Mozart no mais famoso trio de óperas do pequeno génio austríaco, fez Leporello, o servo de Don Giovanni, explicar a D. Elvira, através da famosa ária do catálogo (ver abaixo Kyle Ketelsen como Leporello e Joyce DiDonato como D. Elvira na excelente produção da Royal Opera House de 2008, disponível em DVD e Blu-ray), que as conquistas do patrão ascendiam a:
In Italia seicento e quaranta;
In Alemagna duecento trentuna;
Cento in Francia, in Turchia novantuna;
Ma in Ispagna son già mille e tre.
Passando sobre a desfeita de Don Giovanni ter ignorado as mulheres portuguesas (porquê, João, porquê?), somem os números e chegarão a – prontos? – duas mil e sessenta e cinco conquistas sexuais. Ora Don Giovanni teria apenas vinte e dois anos de idade. Considerando uma vida sexual de sete anos, obtém-se a astronómica média de duzentas e noventa e cinco mulheres diferentes por ano. O que são, comparadas com isto, as catorze de Barney Stinson? A conclusão é dolorosa mas inevitável: a menos que na televisão actual se exagere afinal muito pouco, vai-se a ver e ainda temos muito que... muito que… ainda temos muito sexo a fazer.
E eu, confesso, mesmo tendo em atenção os costumes e tradições do país, sinto-me muito desconfortável com a ideia de que uma mulher nobelizada possa fazer tal afirmação. Aqui está um caso em que mais valia estar calada!
Desde que oficializaram o amor romântico a sociedade desintegrou-se...
Mas lembra a alguém fazer depender a propagação da raça (e a sua sólida agregação num grupo estável) de fenómenos tão caprichosos como os efeitos do estrogénio e da testosterona? E dos célebres neurotransmissores de nome vampiresco como a norepinefrina (que nos excita), a serotonina (que nos descontrola), a dopamina (que nos faz sentir felizes) e uma tal de feniletilamina, que comanda todas as anteriores e que foi, aliás, maldosamente injectada numa droga irresponsavelmente legalizada no mercado, de seu nome chocolate?
Amanhem-se com esta, não há volta a dar! Na era da racionalidade, nós, homens e mulheres, não escolhemos com a cabeça.
A coisa não tem que saber, não há como lutar: é puraquímica. Essa coisa maravilhosa que é o coração acelerado, as mãos suadas, a respiração difícil, as borboletas no estômago e o cérebro turvado, totalmente incapaz de discernir com clareza (quando caimos na fase do desejo). E que depois evolui para a etapa seguinte, a da atracção fatal, que não nos deixa dormir, nem comer, nem pensar em rigorosamente mais nada, olhos de carneiro mal morto e sorriso aparvalhado. Para, finalmente, e se não encalharmos na fase anterior (como encalham os típicos infiéis viciados nestes turbilhões voláteis e avassaladores, assim condenados ao terrível e compreensível martírio da cama incerta), acabarmos na ligação: o tempo do amor sóbrio, dos laços e do pleno reinado da oxitocina (a hormona do carinho) e da vasopressina (a hormona da fidelidade...)
Está tudo estudado, meus amigos. As próprias mágicas e poderosas endorfinas só foram descobertas em 1975, sabiam? Eu bem desconfiava que algo de novo e profundo me acontecera depois do vinte cinco do quatro de setenta e quatro... Eram elas, as endorfinas, escusavam de me ter massacrado tanto, ó parentela ignorante!
Somos meros repositórios de determinismos biológicos e por isso, das duas, uma: ou nos portamos bem e somos estóicos; ou nos portamos mal e nos divertimos à brava.
Mon Dieu, si ce n'est pas la décadence, c'est quand même une sacrée séance...
"Os portugueses são os maiores. Segundo um estudo conjunto da Sociedade Portuguesa de Andrologia, Associação Portuguesa de Urologia e Lilly Portugal, 68% dos inquiridos nacionais têm sexo pelo menos duas vezes por semana. O nosso país surge assim acima da média dos restantes treze países inquiridos que também participaram deste tipo de estudo".
Está aqui, nesta intensa actividade corporal, uma das razões da nossa baixa produtividade. Estafamo-nos em casa e, claro, rendemos menos no trabalho...
A Literary Review deu justa fama aos Bad Sex in Fiction Awards, que testam anualmente a benevolência dos notáveis — em 2010 Jonathan Franzen integrava a shortlist, e em 2009 o prémio foi concedido a Jonathan Littell. Não sei se algum deles reconheceu com brio a ambígua distinção.
Até hoje não vi explicado porque é que os bons escritores enchem parágrafos atrás de parágrafos com falos erectos e entumescidos. Arrisco pensar que talvez os homens se concentrem demais na mecânica do acto sexual. Ou talvez o seu talento seja perturbado por uma rejeição ansiosa da pornografia. Ou então existe uma incompatibilidade entre os centros nervosos responsáveis pela estética e os que se encarregam de desembaraçar a líbido.
Agora, por um motivo desconhecido, pensei noutra coisa: que o mau sexo, na literatura, provém de um conhecimento prático mas irreflectido do desejo. Qualquer palerma se deixa seduzir por uma adolescente de mamas grandes, e nenhuma cabeleireira resiste a um macho alfa com boa estrutura óssea. Mas Anita Brookner descreve-nos, num dos seus livros, uma mulher que olha para o espelho e se espanta por ter ainda admiradores. A imagem que ela vê é a de um corpo desmaiado, que ficaria melhor numa revista de medicina do que num boudoir. Eppur si muove.
Ou seja, o que falta à má literatura sobre sexo não é estilo, é insight e reflexão.
Este amor, este amor mortal, foram eles que o criaram, algo que nós não planeámos, previmos ou sancionámos. Como é que não haveria de nos fascinar? Demos-lhes aquela irresistível compulsão no baixo-ventre – Eros e Ananké trabalhando de mãos dadas –, só para que eles superassem a sua repulsa pela carne do outro e se unissem de bom grado, mais do que de bom grado, no acto de procriação, já que, uma vez que os criámos, detestámos a ideia de os deixar perecer, sendo eles, no fim de contas, a nossa obra, para o bem e para o mal, ou, como é muitas vezes o caso, para o mal. Mas, olhem!, vejam o que eles fizeram desta trapalhada do esfreganço. É como se alguém tivesse dado a uma criança birrenta umas quantas aparas de madeira e um balde de lama para ela ficar sossegada e, de imediato, ela tivesse erguido uma catedral, com direito a baptistério, campanário, cata-vento e tudo. No recinto desta consagrada casa, oferecem-se uns aos outros refúgio, desculpam uns aos outros as suas falhas, suores e cheiros, as suas mentiras e subterfúgios e, acima de tudo, a sua inextirpável auto-obsessão. É isto que nos desconcerta, a maneira como fugiram ao nosso controlo e, de alguma maneira, se tornaram livres de se perdoar uns aos outros por tudo aquilo que não são.
E do princípio ao fim, a coisa não passa de uma fantasia auto-induzida. O que o meu pai, ansiando pela amor delas, não vê e não admite que lhe digam é que aquilo que o amor ama é precisamente a representação, pois a representação é a única coisa que o amor conhece. Ou nem sequer tanto. Mostrem-me um par em pleno acto e eu mostro-vos dois espelhos, rosados, lisonjeiramente distorcidos, presos num abraço de incompreensão mútua. Eles amam para poderem ver o seus eus em piruetas maravilhosamente reflectidos nos olhos do amado. É a imortalidade que buscam – sim, aquilo de que gostaríamos de nos livrar, eles almejam, ou pelo menos, desejam a ilusão de imortalidade, a sensação de viver para sempre num instante de paixão. Donde as suas cerimónias de entrega e voracidade. Ágape?... Sim, nesse festim eles comem-se uns aos outros, devorando-se mutuamente. E isso, isso é o que grande Zeus cobiça, os seus pequeninos arroubos manufacturados dos quais ele se vê excluído.
John Banville, Os Infinitos. Edição Asa, tradução de Tânia Ganho.
Se percebi bem, apesar do alarido, a posição da Igreja em matéria de preservativo continua a ser… a do missionário. Ao que parece, o uso foi admitido pelo Papa apenas para determinadas finalidades muito restritas. Imagino que estarão incluídas as gastronómicas (dizem-me que os há com sabor a morango e a pau de canela), as decorativas (em 2011 estarão na moda as cores do Vaticano?), as lúdicas (tal e qual os balões, os sacanas dos látexes!) e as de agasalho (dá muito jeito, com o frio que está). Agora, quando se trata de amandar o gato às filhoses… o bichano que encolha os bigodes: ah, coiso e tal que não pode ser. É isto, não é?
PS (sem ofensa aos eleitores portugueses): tendo em conta que a (o)posição não é muito clara, talvez fosse inspiração do Altíssimo criar um serviço de helpdesk no Vaticano com atendimento 24/24 horas. Não vá dar-se o caso de andar por aí alguma mocidade em pecado por desconhecimento ou dúvida na interpretação da doutrina da Santa Madre Igreja.
Fico sem saber se está previsto que as Conservatórias de Registo Civil passem a ter nos seus quadros especialistas em anatomia. Mas fico a saber que o PS, quando lhe dá para trabalhar, põe-se a trabalhar em trabalhos que o BE já acabou de trabalhar e que o PS sabe que o BE já trabalhou.
O PS está a ficar parecido com o Herman José e vai esgotar-se onde este se esgotou: com tanto para fazer, só pega no que lhe cheira a sexo. Que tal se deixassem esta obsessão doentia e fossem trabalhar, mas trabalhar mesmo?
"O sexo não é suficiente para definir se alguém é homem ou mulher, por isso adoptámos o conceito do género." Esta arrisca-se a ser uma das frases da legislatura. Foi hoje pronunciada por um deputado socialista. No sítio do costume, onde quase tudo se discute. Com destaque para o sexo dos anjos.
A cineasta Raquel Freire concede hoje, ao semanário Sol, a mais hilariante entrevista que tenho lido na imprensa portuguesa de há muitos dias para cá. Fazendo um rasgado elogio dos "sistemas marxistas", onde "havia mais piscinas" do que no capitalismo, a realizadora de Rasganço compara os dois modelos alternativos de sociedade, centrando-se com nostalgia na Alemanha da era do Muro de Belim. E parece ver vantagens óbvias no comunismo: "O sexo na Alemanha comunista durava mais tempo e era melhor. As mulheres, como adoptavam as doutrinas feministas, achavam que também tinham que ter orgasmos, que não eram só os homens. Já as mulheres da Alemanha Ocidental faziam um bocado o papel de bonecas insufláveis, como as nossas mães e as nossas avós. Na Alemanha comunista usavam-se métodos contraceptivos e estava muito mais presente a ideia do sexo pelo prazer e não apenas com o objectivo da reprodução."
Certamente tão espantado como eu com esta torrencial associação entre sexo e ditadura comunista, o entrevistador, José Fialho Gouveia, pergunta-lhe: "O comunismo combate a ejaculação precoce?"
Raquel não se atrapalha: admite logo que sim. "Provavelmente, mesmo que os homens ejaculassem depressa eram obrigados a continuar a relação e a dar prazer às mulheres." Lembrei-me então daquelas célebres fotos dos beijos na boca entre Brejnev e Honecker - dois símbolos do anacrónico mundo comunista - destinados a selar a "solidariedade internacionalista" sob a foice e o martelo.
Nada melhor, com efeito, para combater a ejaculação precoce...