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Delito de Opinião

O novo PS

jpt, 09.01.24

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Nestes anos de após-socratismo - a que alguns chamam, por errado e preguiçoso comodismo, "costismo" - teve sucesso mediático o deputado Sousa Pinto. Justiça lhe seja feita, é homem dotado de excelente verve, timbre algo desalinhado e pensamento notoriamente articulado, e em assim sendo Sérgio Pinto grassou na comunicação social como "comentador político". E nisso teve momentos excelentes, até antológicos - como aquando daquela monumental arrochada na criatura do LIVRE, convocando a memória do tempo em que esse Tavares (bem como a "simpática" Matias) eram coordenados por um antigo STASI. E quem viu a cena lembrar-se-á do ar estuporado do tal Tavares, o então já antigo inventor da deputada Moreira, tornando o episódio uma verdadeira delícia. Mas o sucesso e apreço colhido por Sousa Pinto junto de um eleitorado sito à direita do PS não veio apenas do garbo das suas "performances", mas sim da referida aparência algo desalinhada, do tom crítico, às vezes até altaneiro, para com o seu próprio partido e respectivos governos. Coisa rara nos tempos que correm, em particular no PS, em que década após década se veio instalando um crescente "centralismo democrático" na expressão pública dos seus militantes. Assim Pinto instaurou-se, talvez até apesar de si-mesmo, como um símbolo não apenas de uma consciência crítica no PS mas também como da expectativa de haver possibilidade de um diálogo, confrontacional que seja, com um partido que no restante é feito de avençados e de intelectuais "orgânicos", de gentes quais os Morgado Fernandes (o gajo do "Super-Marta") e Santos Silva (o "parolo" da AR, não o amigo do antigamente...).

Sempre sorri um bocado diante dessas expectativas, pois apesar do prazer tido com algumas das suas airosas e até pertinentes saídas, fui-me lembrando ser ele "em tempos o agitado inventor das “causas fracturantes” agora tornado xuxu dos salões do centro bem-pensante, encantados com a verve do homem em avatar crítico". Ainda assim, e para evitar desesperanças extremas quanto ao futuro do maior partido português, esse que governou o último quarto de século, fui ouvindo de quando em vez o que o homem dizia. E quando Sérgio Almeida Correia aqui publicou um louvor a uma sua recente apresentação na Associação Comercial do Porto fui ouvi-la por inteiro. E saudei as declarações, tendo até comentado o meu agrado com um socialista que disse "não sendo um liberal tenho de fazer um caminho comum com os liberais", um pouco como penso, pois não sendo um furioso liberal (económico) julgo relevante um olhar liberal para a nossa sociedade, e saudável ouvir isso de alguém de um partido em que tantos preferem "caminho comum" com os "amigos e camaradas" estatistas-marxistas. 

Passados estes meses o PS atrapalhou-se com mais um ciclo de histórias provenientes do seu âmago socratista. E escolhem o patético (e estatista) Pedro Santos como líder. O antigo jovem das "causas fracturantes", de que Soares tanto gostava? O tal xuxu socialista do tal eleitorado "centrista"? Está vigoroso adepto de Pedro Santos. Com as suas propostas económicas e a sua praxis governativa.

Este é o novo PS que vamos ter. Espero que pelo menos as audiências televisivas dos painéis de comentário político baixem... Pois não há mesmo nada a esperar destes tipos.

De regresso à Terra

Pedro Correia, 07.01.24

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Foto: Nuno Ferreira Santos / Público

 

«Portugal não pode esperar», disse hoje, de regresso à Terra, o sucessor de António Costa no posto de secretário-geral do PS. Com estas e outras palavras no mesmo discurso de encerramento do congresso socialista comprovou-se que, ao contrário do que supúnhamos, Pedro Nuno Santos não participou em sete dos oito mais recentes anos de governação.

Nem podia, pois estava a bordo da nave espacial.

O novo secretário-geral do PS

jpt, 18.12.23

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Logo após a eleição para secretário-geral do atrapalhado antigo ministro Pedro Nuno Santos, recebi no telefone esta brincadeira... Partilhei-a no meu mural de Facebook, como o faço a algumas das pilhérias que me enviam,  numa minha rubrica a que chamei "whatsappening". Logo um amigo real comentou, em modo letal, "este jovem é o Chicão do PS"...

Não faz a menor ideia

Pedro Correia, 12.12.23

Este homem ambiciona suceder a António Costa. Anda em campanha interna no PS para atingir dois objectivos: liderar os socialistas já este mês e tornar-se primeiro-ministro a partir de Março.

Ontem, numa entrevista à Rádio Observador, o jornalista Rui Pedro Antunes fez-lhe esta pergunta muito simples: «Tem a noção de qual é hoje o salário mínimo nacional e o indexante dos apoios sociais?»

Pergunta a que o entrevistado foi incapaz de responder. Como se pode verificar a partir do minuto 20.45. Gaguejou e acabou por meter a viola no saco.

Repito: este homem quer chefiar o Governo português. Foi ministro das Infraestruturas e Habitação durante quatro anos (2019-2023), antes tinha sido secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (2015-2019) e é hoje deputado do PS, além de economista de formação. Não faz a menor ideia do valor actual do salário mínimo nem do indexante para apoios sociais em Portugal. 

Pedro Nuno Santos fica definitivamente apresentado. Para quem ainda não o conhecia.

Pedro Nuno Santos esteve bem

Paulo Sousa, 28.11.23

Segundo o Correio da Manhã, Pedro Nuno Santos vendeu um apartamento a um casal de chineses por 485 mil euros. Segundo a mesma notícia, este venda ter-lhe-á gerado uma mais-valia de 205 mil euros. Pelo que li, não consegui saber se este casal beneficiou ou não dos vistos gold, mas independentemente disso deixo aqui o meu aplauso ao candidato à liderança do PS e do futuro governo. Se fosse do meu círculo pessoal, tinha de pagar um jantar.

Sensível ao quadrante político com se identifica, PNS ter-se-á inspirado nas sábias palavras do líder chinês Deng Xiaoping, quando afirmou que enriquecer é glorioso.

Sobre a forma simplista e bipolar como vê socialismo, em permante combate com o capitalismo, assim como sobre a coerência da imagem que pretende transmitir, que o terá até obrigado a vender um Porsche por não ser compatível com a "mensagem" socialista, cada um pode tirar as suas conclusões.

Eu, como disse, aplaudo-o pelo negócio imobiliário que conseguiu fazer.

Um futuro sem história

Sérgio de Almeida Correia, 21.11.23

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(créditos: Leonardo Negrão/Global Imagens/DN)

Com directas marcadas para Dezembro, congresso para Janeiro e eleições legislativas em Março de 2024, toda a casta de dependentes do patriarcado socialista começou a movimentar-se para segurar o melhor lugar junto às diversas manjedouras que os senhores do Largo do Rato têm espalhadas pelo país.

É isso que neste momento justifica a corrida desenfreada do eterno jovem fedayin, Pedro Nuno Santos, e da sua trupe, perante a perspectiva de faltarem acólitos, de os fiéis necessários ainda não estarem garantidos, e a tão desejada entronização acabar num rodízio para sambistas de fio dental.

O andor não saiu da igreja para chegar ao adro e o candidato a papa da seita já envergou o pluvial e saiu porta fora para ver quantos são os fiéis que aguardam a passagem do cortejo.

Foi por essa razão que o ouvimos dizer, naquele estilo que o tornou célebre de terrorista a ameaçar banqueiros, ter num curto espaço de tempo reunido o apoio de “199 coordenadores concelhios socialistas em território continental, num total de 277, o que representa cerca de 77%”. Notável.

Para quem a arrumação das contas sempre foi uma versão do inferno, uma coisa que só atrapalha a acção da comissão de festas e a organização do arraial dos santos populares, não deixa de ser curiosa a sua recente preocupação com os números

Ao invocá-los, Pedro Nuno Santos (PNS), que na verdade aspira a ser o novo Kim Jong-un do socratismo kimilsunguista, mais não está do que a apelar às células prenhes de gula de alguns camaradas que ainda com o prato cheio de lentilhas se apressam a ver como hão-de garantir a próxima ração, não vá antes sair-lhes um carneiro na rifa que lhes dê cabo do pasto.

O candidato PNS está convencido de que é por reunir muitos apoios fora do templo e nos seus anexos que vai ser o sacerdote-mor, esquecendo-se de que Sócrates em 2004 conseguiu quase 80% dos votos, em 2006 foi reeleito com 95%, quando nem adversários tinha nas Federações, em 2009 obteve 96,43%, sendo de novo reeleito em 2011 com 93,3%, isto exactamente antes de lhe oferecerem um ábaco, o fulano ficar sem rebanho, se dedicar à ciência, começar a encomendar teses e a pedir que lhe esgotassem os livros nos escaparates.

Esses apoios são, aliás, muito enganadores, bastando para tal ouvir o pregador Assis e recuperarmos, igualmente, o que aconteceu com Vítor Constâncio, eleito com 83% dos votos, e com Seguro, de quem diziam ter o apoio da maioria das distritais e se fez eleger com 70% dos votos dos militantes. De que lhes serviu? Veja-se o que fizeram com tanto apoio, como fizeram, e o que no fim lhes fizeram os apoios dos gangues que os rodeavam.

O jovem fedayin estará, apesar disso, ignorando a história a que apela para reerguer o templo e dar asas à imaginação, entusiasmado como está a iniciar a sua subida vertiginosa debaixo de tanto holofote, empurrado por milhares de cavalos, não tanto por uma rampa em cujo cimo encontrará um olimpo recheado com dezenas de virgens à espera de uma boleia na desengonçada traquitana a vapor em que se faz transportar, e com que se propõe reformar a geringonça do antecessor e assim dar boleia aos pastores reconvertidos de outras seitas que o aguardam na berma da estrada, à sua esquerda, mas para o inevitável espalhanço que se segue a quem vai atestar o depósito e, à semelhança de um genial Bava, se esquece de engatar a máquina e puxar o travão de mão enquanto vai receber a comenda que ostentará na descida.

É, pois, verdade ser ainda muito cedo para se perceber quem no fim rirá melhor, qual dos candidatos chegará ao altar com as vestes inteiras.

Mas de uma coisa, estou já convencido, poder-se-á PNS com razão orgulhar na contabilidade que faz: é que em matéria de sacristãos, vendilhões e arguidos, se a minha contagem não estiver errada, pelo menos em relação aos que recusando de Conrado o prudente silêncio, entretanto, se manifestaram em praça pública, é ele quem segue à frente. Muito à frente.

E isto não é de todo despiciendo – para quem torce o nariz às contas – na hora de se preparar o orçamento para a forragem que o Presidente Marcelo quer que se distribua antes do final do Inverno.

Nessa altura ainda os prados não terão voltado a estar verdes, floridos e cheirosos, com pasto suficiente para todo o gado que haverá que alimentar e que, com IVA, sem IVA, com caixas de vinho cheias de notas, às cavalitas do Moedas ou à pendura do Mais Habitação e das argoladas dos videntes do Ministério Público, vem a reboque da traquitana.

Parece que foi combinado...

Pedro Correia, 11.10.23

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... mas garanto que não foi. Isabel Moreira, insuspeita de ser hostil para Pedro Nuno Santos, seu companheiro de bancada parlamentar, também se espantava ontem numa rede social - tal como eu aqui - contra esta moda, inaugurada na SIC Notícias, de ter em estúdio comentadores encarregados de comentar outros comentadores da mesma estação. Dividindo-os assim entre comentadores de primeira (os que são comentados) e os de segunda ou quinta categoria (quem não usufrui desse insólito privilégio).

Muito endogâmico: a bolha dentro da bolha dentro da bolha. Tal como se comprova igualmente no facto de agora quase todos se tratarem por tu durante a palração televisiva: formam a selecta irmandade da pantalha. 

Quanto mais íntimos parecem, mais põem os telespectadores à distância. Depois não se queixem das fracas audiências. Nada disso acontece por acaso.

O grão-vizir que sonha ser califa

Pedro Correia, 10.10.23

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Diz-se que este senhor «faz tremer a direita». É um manifesto exagero. Parece que se estreou ontem como comentador da SIC Notícias sem fazer tremer ninguém - nem sequer de frio, com estas temperaturas quase de Verão. 

«Fazer tremer» é, aliás, uma frase a que deviam evitar associá-lo. Evoca de imediato aquele dia de 2011 em que o próprio, enquanto vice-presidente da bancada parlamentar do PS, proferiu esta bravata: «Estou marimbando-me para os bancos alemães que nos emprestaram dinheiro nas condições em que nos emprestaram. Estou marimbando-me que nos chamem irresponsáveis. Nós temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. "Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida." Se o fizermos, as pernas dos banqueiros alemães até tremem.»

Não consta que nenhum banqueiro germânico tenha tremido - ou que tenha sequer tomado nota de tais declarações, mais próprias de algum membro de associação de estudantes do que de um deputado e futuro ministro da nação.

Quem certamente tremeu, mas de indignação, foi António Costa a 30 de Junho de 2022, quando lhe revogou um despacho sobre o plano de ampliação do aeroporto de Lisboa que apenas vigorou por 24 horas. Fazendo perder a face ao então titular das Infraestruturas. Que não tardou a perder também o posto governativo: durou só mais seis meses no lugar. Como activo tóxico do Executivo socialista.

Não vi a prestação televisiva do grão-vizir que sonha ser califa do PS nesta sua estreia como residente na pantalha. Dizem-me que, depois da homilia, logo várias sumidades surgiram em antena a perorar sobre o que ele pregara. Extraordinária endogamia televisiva: comentadores a comentarem o comentador.

Ponham-se finos, senão ele zanga-se. Parece que tem frequentes crises de mau humor. Como o outro, que se dizia «animal feroz».

Leitura recomendada

Pedro Correia, 08.07.23

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Foto: Lusa

 

«Hoje, o futuro é um vento que sopra a uma velocidade que o primeiro-ministro não controla. A seu favor ou contra a sua vontade, as suas criações têm vida própria, autonomia, ambições, força. (...) Pedro Nuno Santos e Marta Temido só têm tudo isso porque António Costa criou, inadvertidamente ou não, um ambiente onde a ressurreição é inevitável porque a morte política nunca é definitiva.

Temido deixou o Ministério da Saúde com o maior crescimento de mortalidade na União Europeia entre o pré-pandemia e o pós-pandemia ‒ 24% ‒ e o SNS com a maior dependência de sempre do setor privado. Pedro Nuno Santos indemnizou uma administradora de forma ilegal, nomeou-a para uma empresa pública de forma igualmente ilegal, nada disse ao vê-la tornar-se secretária de Estado do Tesouro, nada disse sobre lembrar-se ou não da indemnização, esqueceu-se de ter aprovado o valor da mesma, recordou-se ao dar milagrosamente com uma conversa eletrónica e demitiu-se. Mas nada disso importa ‒ ou importou ‒ e do relatório preliminar da comissão de inquérito à TAP ao ânimo do grupo parlamentar do PS quase dá ideia de que bom, bom, bom era o dr. João Galamba ser amanhã substituído pelo seu antecessor na pasta.»

 

Sebastião Bugalho, aqui.

Em dia de Santo António, recordemos o seu sermão aos peixes

Paulo Sousa, 13.06.23

Há dias ouvimos o ex-ministro Pedro Nuno Santos num fugaz regresso aos palcos da política, onde, julgará ele, exibiu a sua grandeza. Neste dia de Santo António, lembrei-me do seu sermão aos peixes, magistralmente escrito pelo Padre António Vieira.

Este notável clérigo, pregador e escritor, no seu mais famoso sermão, comparou os políticos, e os corruptos, a diversos tipos de peixe. Os tubarões são os predadores gananciosos. Sentem-se confortáveis nas água profundas e turvas onde as regras lhes permitem atacarem pela calada.

Existem também os sapos e rãs, anfíbios com óptimas capacidades de se camuflarem e de se adaptarem a ambientes diversos. Os mestres na fuga às responsabilidades, plenos de habilidades e astúcia, são comparados às enguias.

A partir desta breve descrição, e para cada um dos casos, é muito fácil nos lembrarmos de diversas figuras da nossa praça que correspondem fielmente à imagem.

Não duvido que o mais talentoso dos políticos não hesitaria em garantir que o seu aparente desapego aos escrúpulos e à vergonha, não resultam da verdadeira essência do seu carácter, mas da reverência e admiração que nutrem pela obra de Padre António Vieira. Fazem o que fazem, apenas para o homenagear. Os palermas do costume aplaudiriam de imediato. Uns poucos por entenderam a frase e os demais por imitação.

Mas para trazer o excelso PNS para as metáforas inspiradas no Sermão de Santo António aos peixes, teremos de recorrer ao peixe-voador. Vieira lembra que esta capacidade, a de um pequeno peixe realizar pequenos voos, simboliza a ostentação, a vaidade e a busca pelo reconhecimento superficial. O espalhafato do ego do bicho leva-o a querer levantar voo, para logo depois ter de regressar à água. PNS também levantou voo, concordando com a privatização da TAP (quando o PS assinou o memorando com a Troika) para depois mergulhar na necessidade de salvar as caravelas do século XXI. Num espasmo incontrolável, lá levantou voo novamente e agora diz que já é para privatizar. Ele, e os demais seres escamosos que se encontram nos conselhos de ministros, em vez de governarem o país, entretêm-se neste “olha para mim a fazer habilidades” colocando-nos a todos a pagar pelos seus caprichos nada aerodinâmicos.

Como que fazendo um esforço para se afastar destas metáforas piscícolas, quando PNS baixou à Comissão de Economia, armou-se num Rei Midas dos pobres. Quis exibir lucros, onde só se vê miséria. Não falou dos neoliberais cortes de salários em vigor, nem nas manobras fiscais e muito menos na impossibilidade de em Portugal se conseguir andar de comboio. Nada disso conta, porque o que vale é o “olhem para mim, que até vos tremem as pernas”.

Num arremesso de vaidade, confesso, atrevo-me apenas a acrescentar outro bicho oceânico a esta caldeirada. Tivesse o Padre António Vieira conhecido o partido que nos governou em 18 dos últimos 23 anos, e que explica o fedor das águas chocas em que vivemos, teria de acrescentar a caravela portuguesa ao seu sermão. Este bicho, que nem é bem um animal, mas uma colónia de organismos geneticamente diferentes e altamente especializados em defender os seus interesses, só aparentemente é uma criatura. Os tentáculos são muitos extensos e invisíveis à superfície. É bem conhecido pela tremenda urticária que causa, e essa já todos a sentimos.

Elogio da desfaçatez

jpt, 21.01.23

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Todos os regimes políticos têm problemas e crises, advindas de um feixe de causas variadas - não vou arengar sobre isso. Mas uma das causas independe de dinâmicas culturais vigentes, de factores sociológicos ou de impactos económicos. Trata-se da influência dos indivíduos na história (pequena ou Grande, pouco importa).  Neste caso de agora refiro-me à prevalência da desfaçatez, a profunda, despudorada, desfaçatez de Pedro Nuno Santos - que vem agora dizer que afinal sabia... o que evidentemente sabia e evidentemente tinha de saber.

E o doloroso é perceber que há imensos adeptos do PS que se enrolam em torno deste homem - que como ministro chegou a humilhar-se e que segue agora nesta postura invertebrada.  Mais do que as não tão grandes diferenças ideológicas entre os partidos dominantes no país o que torpedeia o nosso rumo é esta gente, estes "pedros nunos"...

Medina & Pedro Nuno

jpt, 29.12.22

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Já leio por aí encómios à "dignidade" de Pedro Nuno Santos, por ter assumido uma tal de "responsabilidade política" - nisso comparável e comparado ao falecido Jorge Coelho -, saudando-o por ter sido a real argamassa de uma saudável "geringonça", homem de até ímpar sensibilidade social, patrióticos desígnios e nisto tudo augurando-lhe um futuro radioso quando regressado à ribalta do poder.

Quanto aos elogios subjectivos cada um fará os seus juízos. Mas há os objectivos: quando há 20 anos caiu a ponte de Entre-Rios, causando dezenas de mortos e uma comoção nacional, Jorge Coelho demitiu-se na hora, assumindo a tal "responsabilidade política" - a qual não era, evidentemente, pessoal ou executiva. Gostasse-se ou não do então ministro, foi um acto digno e, acima de tudo, Político (com maiúscula) - tão diferente do abjecto "não me faça rir" proferido por Costa quando, após dezenas de mortos nos incêndios de 2017 na sequência de inúmeras alterações no modus operandi do combate ao fogo florestal, lhe perguntaram se haveria responsabilidade política do governo naquela desgraça. Declarações que a amnésia da "bolha político-mediática" faz por enterrar bem fundo...

Enfim, o relevante agora é lembrar que Coelho reagiu de imediato sobre algo que, de facto, não tinha responsabilidades pessoais, apenas a tutela sobre os serviços de manutenção de infraestruturas rodoviárias. Já este "Pedro Nuno" não só tem efectivas responsabilidades executivas sobre a TAP, como as fez por engrandecer, tanto desabaratando os fundos públicos para isso. Como ficou dias após as notícias, esperando para onde iriam os ventos... Não há neste caso qualquer "dignidade" que possa vir a ser convocada num futuro, próximo ou distante. Foi um mau ministro, acumulou dislates, até pungentes, e compactuou com este regime de "castas", "endogâmico" dizem-no, em que uma elite partidário-administrativa subdesenvolve o país e se apropria dos seus recursos. Aliás, é desse sistema "endogâmico" importante agente, propalado "homem do aparelho" do PS que o dizem... Portanto, este paleio da esquerda (o PS-MES e as franjas geringoncicas) que de imediato irrompe em sua defesa é apenas vil.

Mas de tudo isto sobra - já o dizem os comentadores - o triunfo do seu rival Medina, neste sprint de meio-fundo de delfins. Que parece querer sair incólume desta trapalhada. Não era ministro quando a senhora administradora (por sete meses) da TAP rescindiu com meio milhão no bolso, defende-se ele. E faz ainda frisar que a sua mulher, importante membro do gabinete jurídico da TAP, estava então em licença de parto nessa época, mais se defende ele...

Isto é espantoso, uma lenda para contar ao povo: a mulher de Medina é quadro jurídico relevante da TAP. Regressa ao trabalho após a sua licença de parto. De lá saíra há pouco uma administradora com a qual tem relações pessoais, e com uma forte indemnização - e decerto que devido a processos internos de confrontação (repito-me, para que se perceba, após sete meros meses de trabalho). Mas a Senhora Dra. Medina não toma conhecimento disso. Talvez seja verdade, mas é estranho sob o ponto de vista de competência profissional, pois nisso se denotando algo arredia aos assuntos da empresa... Passados meses o seu marido - que, tendo perdido o posto que lhe permitia denunciar militantes palestinos ou russos às autoridades israelitas e russas, passara a ministro - acolhe como sua secretária de Estado a tal amiga ex-administradora. E a mulher do ministro continuou sem saber de nada do que se passou e passa na sua empresa (estranho, sob o ponto de vista profissional) ou sem nada dizer ao marido ministro (estranhíssimo sob o ponto de vista pessoal).

Enfim, o que me parece é que há problemas de diálogo no casal. É uma coisa muito comum, dificuldades conjugais são quase universais. Algo que se não é combatido pode originar divórcios, desnecessários quantas vezes, dolorosos até. E prejudicando as crianças, em especial quando tão pequenas...

Contraste

Pedro Correia, 07.09.22

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Na pantomima propagandística de ontem, com vários ministros enviados especiais às televisões debitando torrentes de palavras inúteis para preencher tempo de antena absoluto, destacaram-se dois. Não por acaso, apontados ambos como putativos candidatos à sucessão de António Costa. Não por acaso, sentados lado a lado - como peças de um puzzle muito especial do primeiro-ministro, que adora este passatempo.

Fernando Medina e Pedro Nuno Santos. Em evidente contraste.

 

O primeiro falando em voz segura e pausada, pronunciando bem as sílabas e martelando vezes sem fim o mote «contas certas» que o especialista-mor em comunicação do Governo lhe terá sugerido para evidenciar "sentido de Estado".

O segundo parecendo estar ali a debitar uma ladainha apressada, de cabeça baixa, olhar errante e tristonho. Como se aquilo fosse um velório em vez de uma sessão de propaganda governamental para acenar aos compatriotas com "dinheirinho". Quando a inflação em Portugal ultrapassa 9% apenas cinco meses depois de o Governo ter apresentado um Orçamento do Estado em que previa uma suave espiral inflacionária de 3,6%.

O mesmo governo que agora fala até à náusea em "contas certas". A nova designação da famigerada austeridade.

 

Medina a correr para o posto máximo pós-Costa, cenário que tenderá a repetir no Partido Socialista o que aconteceu na Câmara Municipal de Lisboa. Pedro Nuno Santos com ar de "tirem-me daqui": percebe-se que ainda não recuperou da humilhação pública a que foi sujeito em Julho pelo primeiro-ministro. No elenco ministerial ainda em funções, talvez só Marta Temido exiba um ar ainda mais acabrunhado.

Costa, que monopolizara a propaganda na noite de véspera, deve ter sorrido ao ver aqueles dois - tanto o que já ele elegeu como delfim como o que ele detestaria ver um dia no seu lugar. Tal como sorriu há um ano, ao entregar o cartão de militante do PS à "super-Marta" agora caída em desgraça, insinuando com um brilho de gozo nos olhos que até ela poderia suceder-lhe no posto máximo do partido.

Continua a ter um sentido lúdico da política, actividade que exerce em exclusivo há 40 anos. Mesmo que ninguém o acompanhe nos sorrisos, estando as coisas como estão.

À dentada

Paulo Sousa, 01.08.22

Existe uma faixa da população, daqueles que se podem designar como “os sem voz” que por inerência da designação não têm como ascenderem aos cinco minutos de fama que o Andy Warhol profetizou. É certo que não são poucas as azeiteiras que nos dias de hoje tentam rentabilizar as respectivas amolgadelas perante uma horda de seguidores no Instagram. Não sendo isso mais do que a confirmação da visão da estrela maior da pop art, ainda assim os "sem voz" continuam a existir fora do clarão dos holofotes e continuarão a andar por aí a espernear.

Quis o destino que numa paragem entre duas estafadelas, passasse uns minutos ao lado de um contentor disfarçado de refeitório de uma obra, estacionado sob o abrasador sol de Julho.

Um dos trolhas mais novos que, por entre os demais, por ali espairecia, exibia o incrível super-poder de conseguir abrir garrafas de cerveja com os dentes. Aquilo é uma coisa bonita de se ver. As tampas das garrafas pareciam feitas de folha de alumínio, daquela que uso no forno para resguardar a carne de borrego. É inegável que aquela capacidade lhe garante uma incrível popularidade por entre os iguais. O brilho nos olhos dos seus pares, quase emocionados, só fazia lembrar aquele sketch do Herman em que alguém dizia “este homem é do nuorte, carago!

Apesar do efeito estético no instante imediato, todos sabemos que aquelas habilidades vão desembocar num tipo, com mau hálito, e de boca aberta a fazer um molde para uma prótese dentária. Mas isso agora não interessa para nada. Hoje é hoje e a mensagem de força que se transmite é que conta.

Quando abandonei aquelas belas companhias, lembrei-me do episódio do anúncio do ex-futuro novo aeroporto pelo ministro Pedro Nuno Santos e achei que aquele miúdo de dentes aparentemente poderosos era o PNS dos trolhas. Os dois confundem a força de vontade com a capacidade.

Vamos ver qual dos dois vai ser o primeiro a ficar sem a cremalheira bocal.