O novo PS
Nestes anos de após-socratismo - a que alguns chamam, por errado e preguiçoso comodismo, "costismo" - teve sucesso mediático o deputado Sousa Pinto. Justiça lhe seja feita, é homem dotado de excelente verve, timbre algo desalinhado e pensamento notoriamente articulado, e em assim sendo Sérgio Pinto grassou na comunicação social como "comentador político". E nisso teve momentos excelentes, até antológicos - como aquando daquela monumental arrochada na criatura do LIVRE, convocando a memória do tempo em que esse Tavares (bem como a "simpática" Matias) eram coordenados por um antigo STASI. E quem viu a cena lembrar-se-á do ar estuporado do tal Tavares, o então já antigo inventor da deputada Moreira, tornando o episódio uma verdadeira delícia. Mas o sucesso e apreço colhido por Sousa Pinto junto de um eleitorado sito à direita do PS não veio apenas do garbo das suas "performances", mas sim da referida aparência algo desalinhada, do tom crítico, às vezes até altaneiro, para com o seu próprio partido e respectivos governos. Coisa rara nos tempos que correm, em particular no PS, em que década após década se veio instalando um crescente "centralismo democrático" na expressão pública dos seus militantes. Assim Pinto instaurou-se, talvez até apesar de si-mesmo, como um símbolo não apenas de uma consciência crítica no PS mas também como da expectativa de haver possibilidade de um diálogo, confrontacional que seja, com um partido que no restante é feito de avençados e de intelectuais "orgânicos", de gentes quais os Morgado Fernandes (o gajo do "Super-Marta") e Santos Silva (o "parolo" da AR, não o amigo do antigamente...).
Sempre sorri um bocado diante dessas expectativas, pois apesar do prazer tido com algumas das suas airosas e até pertinentes saídas, fui-me lembrando ser ele "em tempos o agitado inventor das “causas fracturantes” agora tornado xuxu dos salões do centro bem-pensante, encantados com a verve do homem em avatar crítico". Ainda assim, e para evitar desesperanças extremas quanto ao futuro do maior partido português, esse que governou o último quarto de século, fui ouvindo de quando em vez o que o homem dizia. E quando Sérgio Almeida Correia aqui publicou um louvor a uma sua recente apresentação na Associação Comercial do Porto fui ouvi-la por inteiro. E saudei as declarações, tendo até comentado o meu agrado com um socialista que disse "não sendo um liberal tenho de fazer um caminho comum com os liberais", um pouco como penso, pois não sendo um furioso liberal (económico) julgo relevante um olhar liberal para a nossa sociedade, e saudável ouvir isso de alguém de um partido em que tantos preferem "caminho comum" com os "amigos e camaradas" estatistas-marxistas.
Passados estes meses o PS atrapalhou-se com mais um ciclo de histórias provenientes do seu âmago socratista. E escolhem o patético (e estatista) Pedro Santos como líder. O antigo jovem das "causas fracturantes", de que Soares tanto gostava? O tal xuxu socialista do tal eleitorado "centrista"? Está vigoroso adepto de Pedro Santos. Com as suas propostas económicas e a sua praxis governativa.
Este é o novo PS que vamos ter. Espero que pelo menos as audiências televisivas dos painéis de comentário político baixem... Pois não há mesmo nada a esperar destes tipos.