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Delito de Opinião

Blogue da Semana

Ana Cláudia Vicente, 28.12.13

 [FLS, MAFLS]

 

Antes de mais, e já que ainda vos apanho na oitava natalícia, faço votos para que (trabalhando ou feriando) continuem a celebrar a quadra com ternura e boa disposição.

Gostava de vos recomendar nesta semana um blogue cuja minúcia e detalhe vão bem a par da sua matéria: chama-se Memórias e Arquivos da Fábrica de Loicas de Sacavém. Através da exposição das razões e inspiração inscritas em cada objecto, o seu autor - que não consegui identificar- torna possível sabermos um pouco mais sobre o nosso país na época da sua produção. Para mais, o dito autor/a parece tão ou mais recomendável que a obra: uma busca no Sapo permite intuir um daqueles polígrafos inspirados e curiosos que as novas plataformas de publicação em rede têm trazido ao conhecimento público. Um caso a seguir.

Um museu a visitar

Ana Lima, 06.08.11

Não há descrições da região do Douro que não falem da dureza do trabalho que teve que ser levado a cabo para construir uma paisagem como a que vemos quando percorremos as margens do rio. Miguel Torga escrevia, num dos textos mais conhecidos: “No Portugal telúrico e fluvial não conheço outro drama assim, feito de carne e de sangue…”. Não que seja sequer comparável mas, até para percorrermos os caminhos, feitos de subidas  e descidas, curvas e curvas e mais curvas precisamos de travar uma batalha, nós que estamos agora habituados às auto-estradas e vias rápidas. Mas, chegados ao nosso destino, sentimos que naquela batalha não houve vencidos pois se é o rio que impõe o seu ritmo ao viajante é este que se sente como se fizesse já parte daquela paisagem.

  

 

Foi essa sensação de pertença àquele lugar que, tenho a certeza, os arquitectos do museu do Côa (Tiago Pimentel e Camilo Rebelo) sentiram quando visitaram o lugar onde se construiria depois o edifício que actualmente se ergue não muito longe da foz do rio com o mesmo nome. A interferência humana na paisagem está ali bem presente mas é respeitadora  da organização que a natureza impôs e, no seu exterior, é possível observá-la em toda a sua beleza.

 

 

E depois há o interior onde podemos aprender muito sobre a ocupação do vale ao longo da história; sobre as gravuras; ver materiais recolhidos e réplicas magníficas; perceber as fundamentações das várias teorias; conhecer os aspectos mais técnicos do trabalho desenvolvido até agora.

 

 

Por todas estas razões é um local a não perder antes ou depois da visita aos núcleos das gravuras propriamente ditas. E nem é preciso estar de férias. Um fim de semana é suficiente. Além disso é uma oportunidade para percebermos que valeu a pena preservar aquele património que, desde 1998, é de toda a humanidade.

Museus

Ana Lima, 19.05.11

Nesta quarta-feira, dia 18, comemorou-se o Dia Internacional dos Museus. Quase todos, gratuitamente, permitiram a entrada nas suas exposições. Apesar de este ano não ter aproveitado esta situação partilho aqui algumas reflexões acerca da função e actualidade dos museus.

Partindo de uma atitude de simples acumulação de objectos os museus nasceram com o objectivo de classificar esses mesmos objectos dando-lhes uma ordem, protegendo-os e valorizando-os. Mas só após a Revolução Francesa e o desenvolvimento dos nacionalismos se passa da ideia de colecção à de património contribuindo para reforçar as identidades colectivas em formação (não podemos esquecer as campanhas de Napoleão que encheram os museus franceses de peças “do império”). Mas, apesar dessa vocação democrática, de abertura ao povo, os museus apresentam-se em grandes palácios com escadarias monumentais que impressionam e restringem o acesso. Só bem mais tarde, já no séc. XX, se abandona a noção do museu como um templo ou um instrumento de educação e cultura ao serviço do poder instituído para se pôr ao serviço da sociedade, através, por exemplo, da participação da comunidade mais próxima, abrindo-o a exposições temporárias que reflectem a visão de determinados grupos unidos por questões profissionais, de idade, de interesses.

O museu, hoje em dia, já não é o local onde se vai em dias de chuva, quando não há nada mais interessante para fazer, espreitar para vitrines cheias de pó e onde não se pode tocar, falar, rir; mas um espaço apelativo que oferece múltiplas escolhas e que está ao serviço do público.

Mas para que esta situação seja real, o que vemos num museu tem que ser apresentado de modo claro e não hermético, articulando os objectos uns com os outros e com os contextos que os tornam perceptíveis.

Mas, sendo assim, quais os critérios para a escolha dos objectos que são dignos de serem conservados e expostos? Sobretudo numa altura em que a noção de património se alargou a quase tudo, da obra de arte reconhecida até aos objectos do quotidiano doméstico, até às memórias pessoais. E as formas podem ir da pintura e escultura clássicas ao património musical, às tradições orais de determinada comunidade, do material ao imaterial. Ora se tudo é património onde se poderá conservá-lo, exibi-lo? Numa altura em que o número de museus continua a aumentar a discussão de questões como estas parece importante. Não se estará com este alargamento a contribuir para o desaparecimento dos próprios museus, pelo menos da forma como têm sido entendidos até aqui?