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Delito de Opinião

Fábulas com gente dentro

Sérgio de Almeida Correia, 01.07.24

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Há dias tinha-vos referido que iria aqui trazer mais dois livros recentes que me chegaram às mãos. Hoje falar-vos-ei do segundo.

É de novo sobre os meandros do poder político numa França que ontem teve a primeira volta da suas inesperadas eleições legislativas, convocadas em consequência do terramoto político das eleições europeias de há um mês.

Ainda ninguém sabe o que se irá passar, que ilações irá o Presidente retirar dos resultados de ontem, e daqueles que forem conhecidos dentro de mais alguns dias em função das segundas-voltas. Nem o que daqui para a frente se irá passar naquela "monarquia republicana", tendo em vista as próximas eleições presidenciais, o crescimento da extrema-direita lepenista e os números já conhecidos, de onde ressalta a notável taxa de afluência às urnas, superior a 66 %, e que desde 1997 não atingia valores tão elevados, no que não poderá deixar de ser lido como um sinal da preocupação e do interesse com que os franceses olham para o futuro.   

Trata-se de um ensaio, ou novela ensaística, como admite o autor, de 1959 até 2023, sobre o relacionamento entre presidentes da República e primeiros-ministros em França. Uma espécie da história da coabitação dos casais executivos desde o nascimento da V República. Da relação entre De Gaulle e Michel Debré ao convívio entre Macron e Élisabeth Borne.

O autor, Patrice Duhamel, inspirou-se em Jean de La Fontaine e numa das suas fábulas, em razão de um diálogo entre Macron e Fabrice Lucchini por ocasião do quarto centenário do autor das histórias, para passá-las em revista e escolher uma fábula correspondente à relação pessoal e política entre os membros de cada um desses casais.

Oito presidentes, vinte e quatro primeiros-ministros que o autor conheceu e com quem conviveu nas mais diversas circunstâncias, em momentos mais oficiais, outros mais privados, e nos quais encontrou motivos para recordar as suas memórias e relatar episódios dignos de significado e dimensão política. De desencontros, inimizades, desconfianças, desilusões; de relações que se anteviam à partida cordiais e sem levantar grandes ondas, entretanto degeneradas em conflitos pessoais, mas igualmente de comédias, de relações de agilidade, de doçura, por vezes mesmo de amizade e empatia, e de laços sólidos e complementares, que a vida, e a política em particular, não se faz só de dramas.

No total são catorze capítulos numa escrita clara, elegante, pontuada pelo humor, recheada de episódios insólitos vividos por alguém que foi jornalista especializado em assuntos políticos, editor-chefe, director geral da Radio France e depois da France Télevisions, e que sozinho ou em co-autoria escreveu algumas das mais curiosas páginas sobre o que se passa no Eliseu e na vida política do seu país.

O livro de Duhamel, "Le Chat et Le Renard - Presidents er Premier ministres: deux ou trois choses que je sais d'eux..." foi editado pelas Éditions de l'Observatoire, tem cerca de 300 páginas e esta segunda edição datada de Fevereiro de 2024 custou-me 23 euros, numa livraria do Centro Comercial do Quartier des Jacobins, em Le Mans.

Sobre o naufrágio das elites políticas

Sérgio de Almeida Correia, 24.06.24

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“[À] force d’excès de transparence, de mandats rabotés, de rémunérations plafonnées et de prérogatives réduites, on ne trouvera bientôt en politique que des moines soldats prêts a tout à sacrificier pour le bien public ou des personnalités narcissiques en quête effrénée de pouvoir et reconnaissance.

Le centriste Hervé Marseille, président de l’Union des démocrates et indépendants (UDI) et pillier du Sénat, qui traine ses guêtres en politique depuis quatre décennies, caricature à peine : « Ce n’est plus la politique pour les nuls, c’est la politique par les nuls! »”.

 

Porque o tempo não é elástico e há razões que me ultrapassam, não pude aqui deixar um comentário, pequeno que fosse, ao que aconteceu nas eleições europeias, tanto em matéria de candidaturas como de resultados. Em todo o caso, não me passou despercebida a forma tão pouco razoável como Pedro Nuno Santos e o PS violaram o contrato com o eleitorado que nas legislativas de 10 de Março havia votado no partido, convencido de que Marta Temido, Francisco Assis e Ana Catarina Mendes iriam respeitar e cumprir o mandato para que haviam sido eleitos.

Se a ideia era candidatá-los nas eleições europeias, então para quê fazê-los eleger para a Assembleia da República? Para depois se fazerem substituir por nulidades que ninguém conhece? Como é possível gente séria e decente estar na política e prestar-se a isto?

Bem se pode vociferar contra o populismo e o cavalgar extremista das múltiplas ondas que vêm e vão, que será muito difícil, enquanto as actuais circunstâncias de exercício da política se mantiverem entre nós, conseguir quanto se perceba a razão que alguns têm. E recordo-me aqui de um dos últimos escritos da Ana Sá Lopes, do muito que o Pacheco Pereira, o António Barreto, o Manuel Carvalho e também a Maria João Marques, entre outros, que também têm escrito e analisado o estado de indigência política e cívica em que nos encontramos. De tal modo que já nem o Presidente da República ou a magistratura escapam ao escrutínio dilacerante da opinião popular, não pública, que faz as delícias do jornalismo trash.

 O livro que aqui vos trago – Les Naufrageurs – acabou de sair e faz parte de um conjunto de três que recentemente adquiri. Dos outros falarei a seu tempo. Foi escrito por uma conceituada jornalista e grande repórter do Point – Nathalie Schuck – que se deu ao trabalho de procurar investigar as causas deste estado de deserção cívica em que caiu a classe política francesa, dando a palavra, como ela escreve, aos “premiers acteurs de cette machine qui s’est dangereusement grippée: les responsables politiques”.

E nesse exercício, realizado numa França cada vez mais turbulenta e que vai de novo para eleições dentro de muito pouco tempo, escutou primeiros-ministros, uns mais recentes outros mais antigos, os conselheiros e pesos-pesados dos governos de Chirac, Sarkozy, Hollande e Macron, bem como presidentes de câmara, responsáveis partidários, aspirantes ao Eliseu, altos funcionários, membros do Conselho Constitucional e do Conselho de Estado.

Tem a chancela das Éditions Robert Laffont, custou-me 19 Euros e acabou de chegar às livrarias francesas.

Não perderão nada em lê-lo, creio, independentemente do posicionamento político-ideológico que cada um assuma.

O meu novo livro

Pedro Correia, 15.06.24

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Cá está ele. O meu novo livro, contra a chamada «cultura do cancelamento» ou da anulação. Contra o abstruso conceito de «apropriação cultural», forma insidiosa de racismo. Contra as brigadas da «correcção política», com as suas cartilhas e os seus dogmas.

Acabado de surgir, com chancela da Guerra & Paz. Numa colecção que inclui obras de Roger Scruton, Ayn Rand, Steven Koonin, Arlindo Oliveira e Paulo Nogueira, entre outros autores de várias épocas e diferentes latitudes.

Tudo é Tabu - Cem casos de novas censuras. Fala dos interditos que vão asfixiando a liberdade nas escolas, nas universidades, nas academias, nos órgãos de informação, nos museus, nas bibliotecas, nas séries televisivas, nos estúdios de Hollywood. Em nome do progresso, erguem-se novos pelourinhos, fomentam-se novas inquisições, decreta-se novo Índex em ampliação contínua. Não em regimes totalitários, mas nas democracias liberais. No chamado mundo livre. Portugal não é excepção.

Disponível a partir de agora nos circuitos de venda, em livrarias físicas ou digitais. Também hoje e amanhã na Feira do Livro de Lisboa. Já falei dele aqui, à conversa com o Fernando Alvim, na Prova Oral da Antena 3. 

Espero que o procurem. Espero que leiam. Espero que gostem.

 

ADENDA: Agradeço ao Manuel Fonseca, meu editor e bom amigo. E ao João Lisboa a referência que já fez ao livro.

Na Feira do Livro

jpt, 14.06.24

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A culpa foi do José Navarro de Andrade. O outro dia fui a uma cena dessas literárias, o que me é raríssimo. O tipo também comparecera, coisas de amizades lá dele. Enfim, fiz o que me cabia, sem murmúrios ouvi algumas palavras (auto)laudatórias e depois uns mui sentidos versos bem mortais. No final daquilo, e também para evitar uns apparatchikos PS (daqueles mesmo..) que por lá constavam, roliços ronronantes, vim para a rua fumar, e o Navarro também avançou. A gente vê-se (via-se, melhor dizendo) era na bola, ele levava-me a ver o Sporting, e também nos jantares de sportinguistas no Império. Mas ali não falámos de futebol, descaímos para livros. E não é que o Navarro me diz - ao fim destes anos todos - que tem este "Terra Firme", pequeno livro sobre a formação dos preços dos víveres, isso que nos esmaga. Narrou o ciclo, dos produtores até aos Pingos Doces da vida...

Enfim, fui agora à Feira do Livro, tendo jurado nada comprar, dadas as estantes atafulhadas e, acima de tudo, devido à... formação dos preços dos víveres, cruéis. Mas lembrei-me do livro do Navarro, e fui comprá-lo, até por ser bem barato. Mas foi o desastre, foi o ceder do dique moral. Malditas pechinchas!, as que logo se seguiram, que do Benoliel aos monos (e que belos monos) da Relógio D'Água já disparatei. E a culpa, repito, é do Navarro.

Bayete Catamo

jpt, 07.04.24

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Em finais de 2021 eu - como se comprova, sendo um muito competente "olheiro" (os patetas ignorantes agora falam de "scouting") - saudava a chegada do jovem moçambicano Catamo ao plantel do Sporting, augurando-lhe grande futuro. E ao assunto voltei no início desta época, exigindo também no Delito de Opinião a sua manutenção no plantel.
 
Assim sendo, creio que vos será possível imaginar o sorriso gigantesco com que ontem me deitei. Um cúmulo: estivera desde o fim da tarde no recomendável Roda Viva, restaurante moçambicano em Alfama. Ali organizara o "lançamento" do meu livro "Torna-Viagem" - que é louvado mas não tanto comprado... Apareceu um largo punhado de amigos - alguns vindos de bem longe, outros vindos de eras muito recuadas... E até família - a minha irmã, comparecida para evitar que eu dissesse palavrões, e cunhados, a apoiá-la na nobre e pedagógica missão.
 
Encheram-se as duas salas e a viela, enquanto se comiam as prometidas (e devidas) badjias e chamuças. Depois do cerimonial livresco - no qual falou o Fernando Florêncio e perorei eu - e do animado convívio avulso, umas quatro dezenas de presentes decidiram jantar ali mesmo, tendo tecido loas ao repasto. Enquanto eu cirandava de mesa em mesa foram-me informando da evolução do resultado. Houve júbilo no final do jogo, ali em Alfama.
 
Pela 1 da madrugada recolhi a casa, tão contente que quase feliz. E vi a gravação do jogo. Só então percebi que fora a noite de glória do Catamo! Neste meu dia não podia ter sido melhor!!! Bayete Catamo!!!,* disse ali no seu segundo golo, mesmo no final - na sequência de um inenarrável roubo do árbitro, a querer levar o Benfica ao título, uma escandaleira.
 
Ao acordar leio uma mensagem, amigo moçambicano desde Maputo, dizendo-me que ao ver o jogo do Geny se tinha lembrado daquele meu já antigo postal sobre o rapaz. Profético, profético... Enfim, apenas posso dizer, modesto: "sublinhem as minhas palavras!".
 
* Bayete - saudação destinada a um Chefe relevante no universo linguístico tsonga.

Lost in Fuseta soma e segue

Cristina Torrão, 07.04.24

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Esta saga delituosa começou a 6 de Julho de 2019, quando escrevi sobre policiais alemães, tendo Portugal como cenário (os chamados Portugal-Krimis). Entre eles, estava Lost in Fuseta, de autoria de Gil Ribeiro, sobre o comissário alemão Leander Lost, que vai parar a Fuseta, num qualquer intercâmbio. Com a síndrome de Asperger, Leander Lost possui uma memória fotográfica e não compreende o ilógico. Além de ser incapaz de mentir, não reconhece a ironia, criando situações hilariantes.

Passado três anos, o postal teve direito a mais um comentário. Paula Bonifácio Vilas referiu que a televisão alemã ia passar o filme Lost in Fuseta, a 10 de Setembro de 2022. De facto, o ARD transmitiu dois episódios seguidos (de hora e meia cada), referentes à chegada de Leander Lost ao Algarve e ao seu primeiro caso. Esta foi, por assim dizer, a primeira temporada da série. Passado quase mais um ano, o intrigante comissário alemão chegava à televisão portuguesa. Através da comentadora Manuela Regueiras, ficámos a saber a RTP 2 haver transmitido esses episódios no fim-de-semana de 12 e 13 de Agosto de 2023.

Mas o Leander Lost veio para ficar (pelos vistos, também aqui no Delito). Tendo aquela primeira experiência resultado em boas audiências, o ARD decidiu dar seguimento à série (na versão livro, já vai em seis volumes). Foi transmitida mais uma temporada, de igualmente dois episódios, desta vez, em separado: o primeiro, na passada quinta-feira, e o segundo ontem, dia 6.

Enfim, não admira que o 1.º canal alemão aposte neste policial. O autor dos livros, que se “esconde” por trás do pseudónimo Gil Ribeiro, é, na verdade, um conhecido guionista de telefilmes e séries, vencedor de vários prémios, de sua graça, Holger Karsten Schmidt. A ele é dedicada a pequena caixa, à direita, intitulada “FilmInfo”, acompanhando o anúncio de transmissão do episódio de quinta-feira:

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Escusado será dizer que o próprio Holger Karsten Schmidt escreve os guiões para as filmagens dos livros do seu próprio pseudónimo.

No anúncio do episódio transmitido ontem, a caixa “FilmInfo” serve para sugerir Fuseta como destino de férias. Pois, atenção: Fuseta não é fruto da imaginação de Gil Ribeiro/Holger Karsten Schmidt, existe realmente! Acrescenta-se, no entanto, duvidar-se que uma localidade de apenas 2000 habitantes dê tanto trabalho à Polícia Judiciária. É verdade. Mas que temos nós contra um famoso guionista alemão, que adoptou um pseudónimo português e leva Fuseta e Faro como cenário de policiais de bastante sucesso aos leitores e espectadores alemães?

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Por vezes, não me é claro se o cenário é a capital algarvia, ou a terra da “tia Anica”. Sou uma nulidade nessa matéria, só estive duas vezes no Algarve e uma única em Faro. Mas, enfim, para os alemães é igual ao litro. Além disso, a trama é cheia de suspense, mesmo que, para isso, sejamos levados a fechar os olhos a algumas incongruências. Desta vez, a origem dos crimes estava num complô angolano e, apesar de dois dos protagonistas pertencerem aos Serviços Secretos desse país desde antes da sua independência, não pareciam muito velhos. Enfim, a um deles, poderíamos, com muito boa vontade, dar-lhe setenta e poucos anos, mas ao outro, diria que, no máximo, cinquenta.

Mas para que havemos de ser esquisitos? Leander Lost é bem capaz de levar ainda mais turistas ao Algarve (Fuseta que se prepare, pois tornou-se “location” a visitar). E não é todos os dias que vemos uma produção televisiva alemã, transmitida em “prime-time”, cheia de expressões portuguesas. Além dos clássicos “olá”, “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, “como está”, pode-se ouvir, por exemplo, “polícia judiciária”, expressões culinárias e, claro, uma catrefada de nomes. Em relação a um deles e respectivo diminutivo, Holger Karsten Schmidt permite-se mesmo uma piada alusiva à sua frequência: “Qual Toninho? O filho do padeiro ou do carteiro?”; “Penso que nenhum desses dois”.

O meu livro Torna-Viagem

jpt, 01.04.24

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Torna-Viagem, de José Pimentel Teixeira (ligação com acesso ao livro no "sítio" de aquisição)
 

Escrevo em blogs há 20 anos - antes no ma-schamba e no Olivesaria, este um colectivo dedicado ao historial do meu bairro Olivais, depois também no sportinguista És a Nossa Fé. E agora no meu Nenhures e no colectivo Delito de Opinião. A um passo dos 60 anos, decidi publicar umas "memórias". "Presunção e água benta, cada um toma a que quer", e eu tomei a da ideia de talvez interessar a outros o que escrevi sobre o que vivi.

Retoquei uma centena de crónicas (de viagens e paragens), dois terços delas escritas em Moçambique, algumas sobre outros países onde trabalhei, o restante em Portugal no meu retorno após duas décadas de ausência. É uma espécie de "prova de vida"... Ao volume chamei-lhe "Torna-Viagem" e (auto)publico-o agora através da plataforma editorial Bookmundo. 

A impressão do livro é feita apenas por encomenda, tal como a sua venda. A quem tenha interesse bastar-lhe-á "clicar" nesta ligação directa ao livro, colocada no nome, e encomendar o Torna-Viagem

Os que quiserem "folhear" o livro poderão fazê-lo na minha conta na rede Academia.edu:  aqui, onde deixei capa, índice e os três primeiros textos.

Depois, como será óbvio, seguir-se-á o envio postal do(s) exemplar(es) comprado(s), processo que demorará alguns, poucos, dias. Ou seja, o livro não estará disponível nas livrarias físicas. Nem haverá futuros monos, sobras destinadas à célebre guilhotina de livros.

Finalmente, aqui replico a sinopse que apus no livro: Chegando agora aos sessenta anos deixo neste "Torna-Viagem" algo como se uma autobiografia. Faço-o através de uma centena de crónicas escritas durante as duas últimas décadas. Sessenta dessas agreguei-as na primeira parte do livro, à qual chamei "A Oeste do Canal", pois escritas sobre Moçambique, nelas ecoando viagens por aquele país afora, alguns pequenos episódios — trechos do real — que senti denotativos das transformações ali acontecidas, e memórias de personalidades que conheci durante os meus dezoito anos de permanência. Em algumas outras recordo momentos vividos em países onde trabalhei. E as restantes três dezenas formam a segunda parte do livro, na qual deixo excertos deste "Ocaso Boreal", a minha actual aventura de retornado pós-colonial defronte à "pátria amada".