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Delito de Opinião

Guiné-Bissau: Segundas impressões

Paulo Gorjão, 03.04.10

Na troca de pontos de vista que tenho mantido com Luís Naves, basicamente tenho salientado duas coisas: a primeira é o nosso -- o meu, para ser mais correcto -- desconhecimento sobre o que se está a passar. Nós temos um conhecimento geral, grosso modo, mas não temos uma leitura mais fina dos factos. E isto remete-me para o segundo ponto e que é a explicação para o timing do golpe. Ainda não é claro a que se deve o timing imediato. Ainda que a título provisório, julgo que a resposta está na Reforma do Sector de Segurança (RSS) que, por ironia, visa precisamente acabar com as interferências dos militares na política. É o início da implementação da RSS que provavelmente origina o golpe.

Ontem, António Indjai explicou a deposição de José Zamora Induta alegando que o CEMGFA queria "formar um Exército privado". Ora, em visita a Lisboa, no passado dia 22 de Março, Induta anunciou que a implementação da RSS estava para breve. Um das consequências práticas da RSS é a redução do número de militares e, consequentemente, a escolha dos que ficam e dos que passam à reserva. Aparentemente, é aqui que está a explicação para o golpe. É público que Induta e Indjai não são próximos e, muito provavelmente, Induta preparava-se para privilegiar a manutenção de tropas que lhe são -- ou passariam a ser -- fiéis em detrimento dos restantes. Deve ser este o "Exército privado" a que Indjai se referia e foi contra a sua 'eliminação' como player que ele reagiu.

Chegados aqui, uma dúvida: a RSS ainda tem condições para continuar? É público que Indjai tinha reservas quanto à RSS. Sem Induta, em que pé fica a RSS? A meu ver, a RSS continuará, mas o empenho na sua implementação vai mudar. Mudam os vencedores e os vencidos, mas muda também o compromisso relativamente à RSS. Mas, repito, tudo isto não passa ainda de notas soltas a carecer ainda de maior amadurecimento.

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CPLP e Guiné Equatorial

Paulo Gorjão, 31.03.10

Quase tudo me separa de José Ribeiro e Castro. Não sou do CDS, não sou conservador, não sou da sua geração, enfim, podia continuar. Há, no entanto, alguns pontos de contacto. Um deles é que no panorama nacional, talvez em resultado da sua passagem pelo Parlamento Europeu, Ribeiro e Castro é um dos poucos deputados que toma posição sobre temas que envolvem a política externa portuguesa em particular, e a política internacional em geral. Aprecio esta sua faceta. Hoje, por exemplo, Ribeiro e Castro expressou a sua opinião pessoal -- concorde-se ou não -- sobre a eventual adesão da Guiné Equatorial à CPLP. É que, como diria Jorge Sampaio, há mais vida para além do PEC...

P.S. -- Sobre a eventual adesão da Guiné Equatorial à CPLP, ler Gerhard Seibert (página 7).