O caso Freeport
Hoje apetece-me sublinhar o óbvio. Aqui vai.
- O caso Freeport, envolvendo o nome de um primeiro-ministro em funções, tem o máximo interesse jornalístico em Portugal. Aliás, teria interesse jornalístico em qualquer parte do mundo. Refiro-me ao mundo democrático, como é evidente: em ditadura, só o fausto do ditador tem relevância noticiosa.
- O caso Freeport só ganhou relevância devido à investigação jornalística, que não acompanhou o ritmo da justiça. Se os órgãos de informação acompanhassem o ritmo da justiça, aliás, não haveria caso Freeport nenhum: a investigação esteve parada durante quatro anos por manifesto desinteresse do Ministério Público.
- O caso Freeport não se confina às fronteiras portuguesas: ganha uma dimensão internacional ao ser investigado em paralelo pelas autoridades judiciárias britânicas, que naturalmente não estão sujeitas a qualquer 'critério de conveniência' português, de índole política ou qualquer outra.
- O caso Freeport tem suscitado diversos outros casos, reveladores do estado da nossa justiça, nomeadamente quanto à suspeição sobre eventuais pressões do representante português no Eurojust sobre os dois procuradores responsáveis pela investigação. Se essas pressões se confirmarem, estaremos perante um facto de indiscutível gravidade e óbvia relevância jornalística.
- O caso Freeport não belisca a presunção de inocência de José Sócrates, aliás consagrada na Constituição da República. Mas exige um esclarecimento cabal do actual primeiro-ministro para que todas as dúvidas fiquem dissipadas. Assim o reclamam a lei, a ética política e os cidadãos portugueses, que num sistema democrático como o nosso têm o direito - e o acrescido dever - de exigir transparência aos titulares de cargos públicos.