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Delito de Opinião

Adeus

José Meireles Graça, 13.12.20

Ontem reuniu-se o Conselho Nacional do CDS e, soube-se ao fim do dia, o partido apoiará Marcelo nas próximas eleições presidenciais.

É um gravíssimo erro. Explico porquê:

O CDS chegou, por razões circunstanciais, tarde à distribuição de cargos no aparelho de Estado, incluindo autarquias, o que, num país clientelar como é o nosso (aliás crescentemente) explica, em conjunto com outras razões que não vou esmiuçar, a sua condição de parente pobre do poder democrático.

Durante muito tempo albergou toda a direita democrática. O PSD, que tem uma génese e uma história muito diferente, foi sempre um partido equívoco por em vários momentos ter encabeçado a reacção à estatização do país e aos sucessivos desastres da governação socialista, o que consolidou a ideia de se tratar de um partido de direita. Mas aprovou a Constituição, cripto-cubana na sua versão inicial, foi sempre ferozmente europeísta, ainda antes do estado de necessidade que tornou qualquer veleidade de condução dos destinos nacionais, em certos aspectos, uma quimera, e nunca pôs verdadeiramente em causa, salvo no consulado de Passos Coelho, a irreversibilidade da crença no papel central do Estado, que é o pano de fundo do inelutável deslizar do país para os últimos lugares do desenvolvimento. Servido embora de pessoal tecnicamente mais qualificado, e sem algumas das máculas que tornam o PS a mão negra que se abateu sobre o país, só por distorção de conceitos se pode considerar um partido de direita, ainda que tenha não poucos votantes e dirigentes que estariam igualmente bem, se não fosse o quererem atrelar-se a carros vencedores, no CDS.

Albergar toda a direita sempre quis dizer democratas-cristãos, liberais, nacionalistas e tutti quanti não fossem socialistas. Este era o cimento, e cada uma das capelas convivia com as outras com algum desconforto, vários próceres defendendo que o verdadeiro CDS era o da sua, e as outras equivocadas. Os sucessivos líderes, por sua vez, navegavam conforme podiam no meio das “sensibilidades” e tendiam a ter a autoridade que o seu perfil, e a percepção da aceitação pelo eleitorado, lhes permitia.

Este cimento abriu brechas com os novos partidos, um liberal e o outro troglodítico-oportunista (com perdão a muitos militantes que conheço, e que não cabem nessa qualificação). Nem um nem outro, porém, têm a curto-prazo mais aspiração (e se a tiverem estão a nanar) do que fazerem parte de uma futura solução encabeçada pelo PSD, no caso provável de o pavio do PS se extinguir.

Entram aqui os cálculos marcelófilos. Este é encarado como um facilitador de uma futura solução ao actual estado de coisas pantanoso.

Mal. Porque Marcelo não tem nem nunca teve nenhuma ideia para o país que fosse além da democracia, europeísmo e o resto da vulgata de ideias consensuais e pacíficas. Não tem estratégia, apenas táctica; não lidera a multidão, apenas quer saber para onde ela quer ir, para a encabeçar cavalgando num trote risonho e, com frequência, ridículo; diz todas  as verdades, se forem agradáveis; leu todos os livros, se tiverem sucesso; lisonjeia todas as costelas patrioteiras, se isso não implicar mais do que discursos de chacha e gestos vácuos; e, sobretudo, aprecia a estabilidade, que é invariavelmente a da sua permanência num poder fátuo com geral aprovação, sem jamais lhe ocorrer que ela só é útil ao serviço de políticas profícuas, que de toda a maneira não sabe quais são.

Pense-se o que se pensar sobre Costa (e eu devo ter escrito dispersamente um livro de dimensão média a execrar o homem), é inegável que é um sobrevivente, um mestre da propaganda e manipulação, e um escravo consistente de ideias deletérias, que são as da esquerda que sufoca o país. Pois Costa apoia Marcelo e os senhores 153 conselheiros do CDS acham que não sabe o que está a fazer – eles é que sabem e Costa, em devido tempo, descobrirá que enfiou um grande barrete.

Não enfiou. Porque Marcelo só não o recompensará se a relação de forças no país mudar e a opinião pública, e a comunicação social, deixarem de carregar o andor socialista.

Isso sucederá, dependendo do tempo que levarem os patrões europeus a quererem começar a puxar a brida da dívida. Mas, quando suceder, não é imaginável que o concurso de Marcelo, com os poderes limitadíssimos que tem, o seu característico conjunto de convicções de plasticina, que passa por habilidade florentina, e a sua obsessão com a popularidade, sejam verdadeiramente úteis.

De modo que vender a alma ao diabo, se é justificável em tempos de guerra ou perigos mortais, não o é agora; ajudar a ganhar uma batalha, que aliás já está ganha com ou sem CDS, não é a mesma coisa que ajudar a ganhar a guerra; uma futura coligação de direita far-se-á em torno de um menor denominador comum, mas os equívocos não ajudam; e o CDS que votou contra a Constituição ou tinha um candidato próprio para ser derrotado com honra ou não apoiava ninguém porque nenhum candidato merece o seu apoio.

É certo que noutra maré o CDS se coligou com o PS, com a habitual retórica do interesse nacional e pé-ré-pé-pé – durou sete meses. Nessa época não era filiado, agora sou.

Sou mas vou deixar de ser. Nunca ninguém me censurou por pensar pela minha cabeça e dizer sempre o que me parece, e não estou certo de que seja apenas a minha irrelevância que sempre me protegeu – também a cultura partidária, de há muito habituada a conviver com vozes dissonantes.

Mas. Mas. Marcelo pode vir a fazer parte de uma solução para o país, se não houver outro remédio, mas não é por ser apoiado agora que se ganham créditos seja para o que for; não quero ser associado a soluções pastosas e oportunistas; não tenho nem nunca tive problemas em conviver com gente mais ou menos liberal do que eu, mais europeísta do que eu, mais ou menos nacionalista do que eu, até mesmo com quem julga que o manual para governar o país é a encíclica Rerum Novarum. Mas com nevoeiros onde difusamente se percebe o apelo do poder sem princípios, cálculos sem consistência e ambições sem tino – não.

Regressarei quando o tempo clarear.

A morte do CDS

jpt, 03.12.20

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Tenho alguns amigos simpatizantes, e até militantes, do CDS. Este postal é para lhes expressar solidariedade. A ligação é para um filme de 1 minuto, a reportagem da visita do presidente do CDS, Santos, aos grevistas de fome do sector de restauração. O comportamento dele é pungente, a coisa mais lamentável que já vi. Nem convoco a memória dos grandes políticos portugueses de antes, como Soares, Eanes, Sá Carneiro, Cunhal, Zenha. Nem a dos grandes vultos do CDS, Amaro da Costa, Adriano Moreira, Lucas Pires. Ou do habilíssimo Portas e do em tempos popular Freitas do Amaral. Pois não é preciso esse tipo de comparações para se aquilatar o que agora ali se passou, seria até cruel ... Um rapazola, apatetado, ali completamente humilhado, sem qualquer noção de si mesmo, do seu papel (para o qual concorreu). Sem qualquer auto-respeito e pelo que aparenta representar. Seria ridículo se não desse dó.

Este breve minuto televisivo seria, noutras eras, o fim de uma carreira política. Hoje em dia se calhar até não o será. O que é o pior de tudo, já ninguém liga ...
 
Mas que vergonha horrível. Uma vergonha pelo alheio.

O CDS

jpt, 02.02.20

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A primeira vez que li falar do novo presidente do CDS foi na sexta-feira véspera de congresso, no mural-FB de uma amiga (real) que é dirigente do partido. Demonstrando o seu apoio àquela candidatura. Por maioria de razão nunca ouvira falar do senhor que nesta fotografia está, com notório vigor, ao lado do novo líder. E só dele tenho eco nesta semana. Vejo que não se trata exactamente de um jovem, assim deduzindo que há meia dúzia de anos já não fosse um adolescente radicalizado semi-inconsciente.  Ou seja, é medianamente responsabilizável - como qualquer um de nós, "homens e as suas circunstâncias" - pelo que então dizia. Leio agora que este vigoroso político, eleito dirigente nacional daquele partido, é apreciador da "competência" da PIDE e nada aprecia a memória do "agiota" Sousa Mendes.

Interprete-se bem isto, não se trata de anti-semitismo (o enérgico político até lamenta a extorsão de que teriam sido alvos os judeus às mãos do diplomata português). A aversão a Sousa Mendes é um traço típico, houve e há quem assim pense, assente numa razão: o homem, por razões da sua consciência, violou as instruções de Salazar. Nem sequer discuto a pertinência da "razão de Estado" que conduziu o Estado Novo de então, a tudo fazer para que não fosse o país palco daquela guerra. E nem sequer apelo ao extenso rol de democracias instituídas que então tão pouco solidárias foram com o êxodo judeu. Apenas digo que o governo de Salazar não quis acolher fluxos de refugiados judeus - ainda que bastantes tenham chegado. E que Sousa Mendes recusou essas instruções. A "História" (ou seja, as sensibilidades actuais) deu razão a Sousa Mendes. Mas, para alguns, refutar - ainda que assim, naquela pungente realidade - as instruções de Salazar é ainda hoje motivo de menosprezo. De opróbrio. E de calúnia - aprecie-se ou não a acção de Sousa Mendes, parece claro que não actuou com objectivos económicos, não foi "agiota" como invectiva tão a posteriori o adulto vigoroso político.

Dito isto, ao ler que um homem destes está na actual direcção do CDS tive o reflexo normal num tipo medianamente informado e relativamente decente: o CDS está a cavalgar a vaga actual de reforço do populismo de direita, a "fascistar-se", a querer competir com o fenómeno venturista, e deitar mão do piorio que por aí há. Lamento, claro, que esse seja o rumo do partido de Lucas Pires, de Adriano Moreira, de alguns outros dirigentes históricos, de gente respeitável (como o é a minha amiga a que acima aludo). Sombrios sinais dos tempos.

Depois, ontem, li um excerto citado no FB de um artigo de Rui Ramos. Afinal o tal fascistóide ("prontos", o Estado Novo não  era o ideal tipo de "fascismo", fascismo só há um, e foi aquele,  etc. e tal, dizem os intelectuais dos comentários do Delito de Opinião) já estava na Comissão Política anterior, de Cristas, e ninguém, no seu partido, na imprensa, no "redessocialismo" global, se importava. Entenda-se, o vigoroso membro da Comissão Política do CDS entretinha-se com loas (que agora foi apagar) à PIDE e a Salazar.

Bem antes de Ventura, bem antes da propalada "vaga populista" (de direita). Afinal, é apenas o CDS. Este lixo.

 

A "direita" a medir pilinhas

Pedro Correia, 28.01.20

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Transição acelerada em marcha-atrás: depois de ter sido liderado pela primeira vez por uma mulher, Assunção Cristas, o CDS acaba de afugentá-las dos seus órgãos directivos. No congresso de Aveiro, imperou a tendência testicular: um presidente, sete vice-presidentes, um secretário-geral e um coordenador-autárquico. Todos homens. Na Comissão Política Nacional, com 59 membros, só seis mulheres. Eis como as aparências iludem: mal se começa a raspar o verniz da novidade, algo muito velho surge à tona.

Este CDS insuflado de androfilia pode regredir em ritmo ainda mais acelerado: basta que o novo líder, Francisco Rodrigues dos Santos, ceda à tentação de empurrar para fora da Assembleia da República a actual líder parlamentar, Cecília Meireles, para ascender ele próprio - ex-número dois da lista do Porto, encabeçada por Cecília nas legislativas - à condição de deputado. Se assim acontecer, o Largo do Caldas amanhecerá travestido de Clube do Bolinha, entre hossanas ao marialvismo mais serôdio.

Rio, Ventura, Cotrim e o recém-surgido Chicão vão passar os próximos dois anos a medir pilinhas, evitando perturbar o sossego do Governo. António Costa descontrai e boceja: Assunção Cristas, única dirigente da oposição que o irritava até às entranhas, saiu de cena e já não lhe causa incómodo. A chamada "recomposição da direita" produz nele um efeito conjugado de valeriana com camomila. Nada mais relaxante para um socialista.

De Amaro da Costa a Chicão

Pedro Correia, 26.01.20

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Adelino Amaro da Costa, 1980

 

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Francisco Rodrigues dos Santos, dito Chicão, 2020

 

Quarenta anos de história do partido que já foi "rigorosamente ao centro" (com Freitas do Amaral) e liberal (com Lucas Pires) e democrata-cristão (com Adriano Moreira) e eurocéptico (com Manuel Monteiro) e eurófilo (com Paulo Portas) e conservador (com Ribeiro e Castro) e de centro-direita (com Assunção Cristas) e agora é... mal se sabe o quê.

Duas fotografias que, só por si, explicam a profunda crise que grassa hoje no território político situado à direita do PS em Portugal.

O melhor candidato do CDS

Pedro Correia, 25.01.20

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Menciono-o com declaração de interesses: sou amigo dele. Para mim, o melhor candidato à sucessão de Assunção Cristas seria ele, o Adolfo Mesquita Nunes. Capaz de alargar as fronteiras do partido, hoje muito estreitas. De lhe dar consistência ideológica, sem rumo errante. E de começar a construir uma verdadeira alternativa de futuro na área política não-socialista e não-comunista em Portugal. Fazendo uma oposição firme, fundamentada e frontal ao Executivo pós-geringonça.

Infelizmente, há cinco candidatos à presidência do CDS - tantos como os deputados que lhe restam na Assembleia da República - mas o Adolfo não é um deles. O que diz muito sobre o rumo do partido no momento actual.

Ao fundo da sala, cada vez mais satisfeito com esta falta de alternativa à sua direita, António Costa continua a sorrir.

CDS e PSD foram ao tapete

Pedro Correia, 08.10.19

Uma boa análise da jornalista Helena Pereira, na edição do Público de hoje, elucida-nos sobre diversos aspectos da eleição legislativa de domingo.

Eis, com a devida vénia, alguns dos aspectos mais relevantes.

 

O PSD tem menos de 20% em 72 concelhos do País.

A lista inclui várias zonas urbanas, designadamente no litoral, com muitos eleitores. Exemplos: Almada, Amadora, Barreiro, Loures, Marinha Grande, Seixal, Setúbal, Sintra, Vila Franca de Xira.

 

Onde o PSD mais perde.

Eis os quatro distritos onde o partido laranja recua em maior extensão: Aveiro, Leiria, Lisboa e Viseu.

 

Quanto é que o PSD perde.

Em relação às legislativas de 2011, anterior escrutínio para a Assembleia da República em que tinha concorrido isolado, o PSD perde agora mais de 700 mil votos (concretamente, 739.189, mas ainda faltam apurar os resultados dos círculos da emigração).

 

CDS abaixo dos 3% em 73 concelhos.

A hecatombe eleitoral não ocorreu apenas nas zonas onde este partido nunca teve verdadeira implantação, nomeadamente no Alentejo. Também aconteceu em grandes municípios, como Amadora, Gondomar, Loures, Maia, Matosinhos e Odivelas. Mesmo em Coimbra, Leiria e Porto fica abaixo dos 4%. O CDS vale hoje apenas cerca de um terço do que valia eleitoralmente em 2011.

Fora da caixa (6)

Pedro Correia, 11.09.19

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«Nós agora propomos passar para um ano a licença de parentalidade.»

Assunção Cristas, em entrevista à TSF/DN (27 de Julho)

 

O CDS apresenta nesta campanha legislativa, entre outras medidas emblemáticas, o alargamento para doze meses da licença parental, podendo até ser extensiva a partir de certa altura aos avós. Isto porque, segundo Assunção Cristas, «é o que acontece nos países nórdicos, é o que acontece nos países com melhores índices de fecundidade».

Parece uma proposta meritória. E um louvável acto de contrição do CDS, que noutros tempos remou na direcção contrária, opondo-se à introdução desta medida num pacote de alterações à legislação laboral anunciado pelo Executivo de José Sócrates.

«Estender a licença até aos 12 meses pode causar algum susto aos empregadores, que podem retrair-se de contratar jovens em idade de ser pais. Por outro lado, penaliza os trabalhadores no sentido em que dificulta a sua progressão na carreira», objectou o deputado centrista Mota Soares, em declarações à agência Lusa, a 22 de Abril de 2008.

O que diriam então esses próceres do CDS da proposta que o próprio partido agora anuncia? Teriam talvez um «enorme susto», para utilizar um léxico hoje fora de moda no Largo do Caldas. Mudam os ventos, mudam as promessas. Ainda que alguns dirigentes do partido sejam os mesmos onze anos depois.

O que se passa com o centro-direita em Portugal?

Luís Menezes Leitão, 30.07.19

Se há coisa que caracteriza uma doutrina de centro-direita é defender o reconhecimento a quem tem mérito. No acesso ao ensino superior público isso expressa-se precisamente pelo facto de as vagas na universidade serem preenchidas pelos alunos com melhores classificações. Admitir que um aluno possa pagar para entrar numa universidade pública, ficando assim beneficiado face a colegas com classificações mais elevadas é estabelecer uma diferenciação no acesso ao ensino superior público com base na condição social. Tal não só seria claramente inconstitucional como seria contra os mais elementares princípios de justiça. Sinceramente estou muito preocupado com o estado actual do centro-direita em Portugal.

Europeias (8)

Pedro Correia, 18.05.19

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CENTRO DEMOCRÁTICO SOCIAL: TRÊS PROPOSTAS

 

  • Reforço dos recursos e do investimento em medidas de cibersegurança no âmbito da luta contra o terrorismo à escala europeia.
  • Captação de verbas para o incentivo à economia azul, relacionada com o mar, que constitui prioridade estratégica para Portugal.
  • Apoio à criação de um mecanismo europeu de protecção civil para auxiliar países afectados por inundações, incêndios, sismos ou epidemias.

 

Do manifesto eleitoral, Mais Europa, Menos Bruxelas

A política não é para aprendizes

Pedro Correia, 05.05.19

Os partidos da oposição - com destaque para o PSD - acabam de oferecer a António Costa o melhor dos troféus: o da responsabilidade orçamental, demarcando-o da esquerda que ainda não aprendeu a fazer contas.

No actual contexto de campanha eleitoral para as europeias, confrontado com sondagens pouco animadoras, Costa precisava com urgência de surgir aos olhos dos portugueses como um dirigente moderado e "centrista". PSD e CDS fizeram-lhe a vontade numa farsa em dois tempos com epicentro na Assembleia da República: na sexta-feira, uniram-se à esquerda radical na questão da contagem do tempo de serviço dos professores; ontem e hoje, acossados por Costa e certamente pressionados pelo Presidente da República, saltaram dessa carruagem, desautorizando os seus deputados e dando de si próprios uma imagem de penosa incompetência. Enquanto Pires de Lima, ex-braço direito de Paulo Portas no CDS, se atira a Assunção Cristas, personalidades do PSD como Pedro Duarte e Luís Montenegro não poupam nas justas críticas a Rui Rio. E Marques Mendes, na SIC, acaba de reconhecer o óbvio: «António Costa teve talvez a melhor prestação desde que é primeiro-ministro.»

A política não é para meninos. Nem para aprendizes.

Modo errático

Pedro Correia, 05.05.19

Com três ou quatro frases a ameaçar trovoada, António Costa "suspendeu" a campanha europeia, que lhe estava a ser adversa, pôs parte da oposição em sentido, já confrontada com críticas internas, e a outra parte a correr atrás do prejuízo. Sobretudo o PSD de Rui Rio, que passou a reunir em local secreto, foge dos jornalistas, anula a anunciada participação do líder num evento partidário e mergulha num constrangedor silêncio que dura há 48 horas no momento em que escrevo.

Entrando em modo errático. Mais ainda do que já estava.

O Brasil, a igreja católica (e os opinadores portugueses)

jpt, 28.10.18

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Bolsonaro é apoiado por várias igrejas evangélicas - sobre cujas dimensões mariolas e comerciais poucas dúvidas haverá. E é certo que IURD e afins já apoiaram o PT (business as usual ...). Mas agora bolsonarizam. Que diz a igreja católica, tradicionalmente menos explícita nos seus apoios? Consulto o insuspeito Vatican News e noto que o Conselho Nacional dos Bispos do Brasil já apelara, em Abril, à participação dos católicos nas eleições, para isso evocando considerações do actual Papa e fundando-se nas perspectivas de Bento XVI. E encontro o texto produzido na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, desta semana (23 e 24 de Outubro): "Nota da CNBB por ocasião do segundo turno das eleições de 2018". 

 

O documento é interpretável, claro. E, assim sendo, cada um o lerá segundo a sua ... decisão prévia. Está acessível na ligação que incluí mas copio a sua conclusão: "Exortamos a que se deponham armas de ódio e de vingança que têm gerado um clima de violência, estimulado por notícias falsas, discursos e posturas radicais, que colocam em risco as bases democráticas da sociedade brasileira. Toda atitude que incita à divisão, à discriminação, à intolerância e à violência, deve ser superada. Revistamo-nos, portanto, do amor e da reconciliação, e trilhemos o caminho da paz!". Cada um que tire as suas conclusões, segundo a sua ... decisão prévia. Mas, caramba, é difícil não encontrar aqui uma elíptica alusão, como é tão habitual na igreja católica, à retórica (e às intenções proclamadas) do capitão Bolsonaro.

 

Interessam-me as reacções portuguesas ao caso bolsonar. A simpatia para com ele, óbvia ainda que implícita - pois explicitá-la ainda tem custos sociais -, na comunicação social e na política. Jornalistas e bloguistas, "comunicadores" como agora se diz, e políticos que se situam na direita elaboram-se com enleios de neutralidade. Esta tendência anuncia o que um ambiente sociocultural e profissional lisboeta está pronto para acolher, caso surja a hipótese (muito implausível em Portugal, ainda assim). Dessa retórica "neutralidade" é exemplo o que li ontem de um conhecido e veterano bloguista: é "paternalismo" botar opinião sobre as eleições brasileiras! 15 anos depois do advento dos blogs, onde participou e onde nos seus blogs e em tantos interactuantes imensa opinião se botou sobre as várias eleições americanas, francesas, russas, a "hermana" Espanha, angolanas, Tsipras e Varoufakis, se calhar até brasileiras, brexits, autonomias, etc. Mas agora? É paternalismo opinar. 

 

É interessante pois este é um meio, político, social e cultural, que usualmente se revê no CDS, com mais ou menos flutuações. Partido que se reclama (ou reclamou) da democracia-cristã, da doutrina social da igreja e com ligações, muito legítimas, ao mundo eclesiástico.  Ora muito dos agora "neoneutrais", simpatizantes, militantes (e até presidentes, como Cristas, a quem referi ontem), fazem "orelhas moucas" ao (elíptico) parecer eclesiástico. 

 

Deixemo-nos de subterfúgios, a democracia-cristã portuguesa morreu. E esta direita "neoneutral" anseia por um "movimento de capitães". Deste tipo bolsonar. A igreja? Serve para a pompa do casamento dos filhos, enterrar os conhecidos, quiçá a missa do galo, para alguns só alguns ainda para um convívio dominical. Eu, ateu e nem baptizado, conheço mal a Bíblia. Mas tenho a ideia de lá ter lido "bem-aventurados os hipócritas, porque eles serão fartos" (Mateus 5: 3-9). 

Cristas e o Brasil

jpt, 26.10.18

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"J'ai vu des démocraties intervenir contre à peu près tout, sauf contre les fascismes" é daquelas frases de Malraux que vingaram na Readers Digest de hoje, a wikipedia (e aviso já que não aceitarei comentários invectivando Malraux por não ter criticado Chavez e Maduro).

 

Cristas anuncia qual seria o seu voto no Brasil. Uma inutilidade, poderia ter-se escudado na não ingerência. Mas opinou, igualando as candidaturas, como se se filiando na crescente simpatia pelo bolsonarismo entre locutores da direita portuguesa. Fez mal. É certo que a sua opinião é irrelevante naquelas eleições (que aparentam estar já decididas - ilustra-o o já velho Chico Buarque terminando em lágrimas o seu discurso num recente comício da candidatura de Haddad). Mas falhou a oportunidade para explicitar o conteúdo exigível ao arco do poder.

 

Será muito difícil a uma líder democrata-cristã sentir, e expressar, simpatia por uma candidatura conjunta de um socialista (de ala esquerda?) e de uma comunista (uma comunista latino-americana, decerto mais castrista do que berlingueriana, isto usando imagens para gente mais idosa do que Cristas). Mas três aspectos poderia considerar:

 

1. o primeiro é interno ao Brasil. O PT dominou o XXI daquele país, ganhando várias eleições presidenciais. Por criticável que seja a sua governação, por evidente que seja a sua degenerescência, por problemático que seja o seu programa actual, nesse período não usou o poder para terminar o regime democrático (para o minar?, porventura; para o terminar?, não.) e não tem uma maioria no fragmentado sistema parlamentar que lhe permita hipotéticas (reais?) veleidades de lhe subverter as características essenciais. Já Bolsonaro vem anunciando, até mesmo agora, uma semana antes, um conjunto de propósitos à total revelia da democracia (prisões, expulsões, "nomeem que mais ...").

 

2. o segundo é global, a questão ecológica. Nos avessos a Bolsonaro isto nunca surge, poluída que está a "mente colectiva" pelas agendas neocomunistas, as do altergender vs cisgender, do racialismo e - neste caso em particular - do mulherismo. Se a ecologia não foi verdadeira prioridade do PT, Bolsonaro anuncia-se como campeão do seu desrespeito, em modalidades irreparáveis (direitos individuais e colectivos podem-se repor, a demência omnívora face à natureza é irreparável). Ora esta temática é hoje colossal. Apesar de grande silêncio no debate português, o que bem mostra o atraso cultural do país (ainda que os Erasmus já sejam geração de poder). É o equivalente ao debate nuclear (guerra atómica, energia nuclear) nos anos 70s e 80s, o ocaso da Guerra Fria. Ou até mais relevante, pois menos polarizado quanto a centros de decisão.

 

3. o terceiro é político, principalmente europeu. O pós-guerra deu-nos este sistema democrático ao qual os comunistas (nas suas diferentes versões) pertencem. Pode ser um oxímoro, podemos considerar que eles estão de corpo mas não de alma dentro da democracia. Mas em sendo-o é um oxímoro funcional, estruturante do sistema político com melhores resultados económicos e sociais - não será um "fim da história" mas é um belo momento da história. Em Portugal os anteriores a Cristas lembrarão Melo Antunes a cercear o extremismo anti-comunista considerando-os integrantes da democracia portuguesa e os mais lúcidos saudarão também a democraticidade do general Eanes, nesse mesmo sentido. Mas será de lembrar que nessa mesma era a DC italiana (uma das matrizes do CDS) teve a grandeza estratégica de fazer um "compromisso histórico" com o PC. E foi este regime europeu englobante que trouxe para as interacções democráticas os grandes PCs europeus (Berlinguer, Marchais, Carrillo - o tal de "eurocomunismo"), e foi integrando os maoístas, enverhoxistas e 68ístas nos PS locais e nos ecologistas. Ora deste sistema amplo, deste "arco do poder" representativo consagrado no pós-guerra não constam, por definição, os fascismos. Exigem-se "cordões sanitários" em seu torno, para preservar os regimes democráticos. Há excepções, e fala-se de Finni, integrado nessa primeira bolha populista moderna, mas esse mau sinal estava subordinado ao peculiar (mas não fascista) Berlusconi e correlacionou-se à desagregação do sistema partidário italiano. E falarão do partido da Liberdade holandês ou do Interesse Flamengo, mas esses são muito mais movimentos soberanistas (e independentista no caso belga) do que fascizantes. E mesmo assim são integrados nestes peculiares regimes de coligações governamentais que são verdadeiros estudos de caso de concatenação política. De facto, os fascismos mais ou menos explícitos são ostracizados, como o foi Haider pela comunidade da Europa e pela sua Comunidade Europeia. Tal como esta coisa bolsonara de agora o parece dever ser ... Fernando Henrique Cardoso, sábio e conhecedor como nenhum de nós, di-la outra coisa que não fascismo, fruto desta nova era, um "transfascismo" se se quiser. Porventura será, mas tem todas as características que extravasam o primado do estado de direito e a democracia liberal. 

 

Nesta declaração de neutralidade, desnecessária ainda por cima, Cristas mostra que nada disto apanha ou considera. Mostra-se sensível aos discursos de direita assanhada que já por ali pululam - muito pela analogia que se faz entre o podre PT e o degenerado PS socrático do qual este costismo recusou apartar-se (Augusto Santos Silva na tétrica declaração de que não faz "julgamentos éticos" quando é de avaliações políticas que o seu partido, e o país, necessita; um governo actual onde as pastas estratégicas estão nas mãos de gente que foi dos governos socratistas ou de seus admiradores ferrenhos). Mas essa analogia, que é grosseira, e mesmo que não o fosse, não é o fundamental. Cristas foi incapaz de dizer "não" a essa extrema-direita (ainda para mais agora que tanto se frisa que "um não é um não") e deixou-se, em ademane de "coquette", dizer-se namorável, se com melhores modos alheios.

 

O que lhe faltou, e assim sendo o que lhe falta, é a densidade de estadista. De perceber o que está em causa e ver lá à frente. Afirmar-se, e aos seus, como um motor de consenso democrático em torno de um modelo de regime. Aquilo que o socialista (de facto socialista, e isto vai sem acinte) Rui Tavares recordou há dias "No imediato, é preciso que a esquerda, centro e direita democráticas se unam contra os fascistas - chamem-lhes o que chamarem.".  É difícil isso, por muitas razões. Uma das quais é porque todos nós, avessos ao patrimonialismo socialista ou ao credo estatizante ou às agendas políticas pós-modernas/coloniais temos sido neste XXI constantemente "fascistizados" (homofobizados, racistalizados, lusotropicalizados, etc.). No mesmo processo de abaixamento intelectual que se vê agora na direita soberanista, apelidando os europeístas, as instituições democráticas e democratizadoras (por mais criticáveis que sejam) de "Bruxelas" como "estalinistas". Este tipo de radicalismo invectivador deixa máculas, dificulta articulações. E, como é óbvio, gasta as palavras - se quase todos nós fomos ou somos "fascistas" por uma qualquer razão como reforçar posições comuns contra outros "fascistas"? Mais, como delimitar esses ("trans)fascistas" de hoje?

 

Nada disto interessará a Cristas. Talvez mais preocupada com um ou outro deputado que poderá subtrair a um centro desnorteado, como o que vai agora. Incapaz de perceber que é agora o momento de afirmar o seu partido como trave. Até aproveitando os ventos deste tempo, sabendo-os depurar da pestilência que também transportam. 

 

E tudo isto, para além de Cristas, mostra também o final das "internacionais". Há algumas décadas as articulações partidárias internacionais tinham vozes mais ou menos comuns sobre os temas cruciais. Hoje estarão mais centradas na agenda parlamentar comum. Que nos dizem elas (quem são os seus presidentes? que relevância têm?) sobre tudo isto? Como articulam os seus partidos-membros e respectivos líderes? Que resta das ideologias? 

 

Adenda: no último fim-de-semana foi divulgado este filme com declarações de Bolsonaro. A uma semana das eleições, nas quais será vencedor promete colocar os apoiantes de Haddad ("petralhada") na "ponta da praia". Julguei que tal significasse expulsão (tipo "devolver às naus") mas nada disso: amiga, portuguesa mulher de direita, avisa-me que "ponta da praia" significa a base militar da Marinha na Restinga de Marambaia, em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, um presídio de tortura e abate durante o regime militar brasileiro.

Negar a diferença, pelo menos de grau, entre este energúmeno e os malfeitores do PT e associados torna-se um bocado difícil. Que pensará a hierarquia católica portuguesa da líder do partido democrata-cristão que se demonstra relativamente neutral a este tipo de declarações?

 

 

 

 

Ventania

jpt, 14.10.18

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A ventania que remodelou o governo PS é muito mau sinal. Com o PSD igual ao Sporting pós-Alcochete, Cristas encantada com o pseudo-sucesso lisboeta e o CDS incapaz de por Mesquita Nunes onde já devia estar, o BE roblesado e o PCP no respeitável mas doloroso e inimputável estado mental em que tantos dos nossos queridos mais-velhos vão ficando, o vice de Sócrates reforça-se bem. A senhora da Cultura é competente (também quem lá estava era péssimo, fácil de substituir). E Cravinho é muito bom, cumpriu bem como presidente da cooperação e foi excelente como secretário de estado. Está na óbvia rota para futuro MNE. E o Matos Fernandes, tão resguardado que nunca chamuscado nos terríveis fogos e nas coisas do petróleo, vai-se alargando. "Marquem as minhas palavras", querem alguém do Porto no poder?, esperem-pouco e olhem para ali.

Contornar estes baixios vai ser muito difícil. Mas, como em tempos se disse, navegar é preciso, viver (a vida videirinha, funcionária/avençada) não é preciso ...

Sobre a "peça", suspensórios e a História

João Villalobos, 23.03.18

É óbvio que Adolfo Mesquita Nunes só poderia responder com a ironia e o savoir-faire que se lhe conhece à inanidade proferida por Fernando Rosas. Rosas é um cromo perigoso. À medida em que outros melhores do que ele foram falecendo, tornou-se - através de um caminho das pedras mediático - porta-voz de uma pseudo-realidade passada que nunca aconteceu. O PC despreza-o. Perdeu inúmeros compagnons de route pelo caminho que o abandonaram, em particular entre os anos 70 e 80, e tornou-se um divulgador de fake news sobre o que passou quando era novo e já poucos se recordam. Agora, decidiu falar de modernidade e criticar um político que assumiu a sua opção sexual. Ele - Fernando - lá saberá o que faz, porque o faz e etc. Quanto a mim, o Adolfo tem toda a razão. Não fazendo subir o senhor Rosas até ao palanque do debate inteligente, foquemo-nos nos suspensórios. E, já agora, também no título que acompanha este cartaz; "As peças que acompanham a História". A peça já é conhecida. Se ele a acompanha, à História? Tenho sérias dúvidas. Quanto a que contributos deu, dará ou tira a essa "História", isso, um dia, ainda será objecto de tese. 

 

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Não, o PSD não pode dormir descansado.

Luís Menezes Leitão, 07.03.18

Estou no essencial de acordo com esta análise de Miguel Pinheiro. Estou, porém, frontalmente em desacordo com a sua conclusão. É verdade que o CDS desde sempre viveu num grande equívoco, que é o facto de o partido ter uma base eleitoral colocada claramente à direita, mas ter dirigentes que nunca assumiram esse cariz ideológico e, ou passaram a vida a lutar contra ele, como foi o caso de Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, ou rapidamente o abandonaram, como foi o caso de Lucas Pires. O CDS viveu sempre com o problema de os seus dirigentes não gostarem do seu eleitorado, e até quererem mudar de eleitorado. Já os eleitores gostavam dos seus dirigentes, mas não percebiam o seu posicionamento político.

 

Foi assim com Freitas do Amaral e Amaro da Costa, que nunca quiseram ligar o CDS à herança do antigo regime, impedindo-o de ter o papel que a Aliança Popular, e depois o PP, teve em Espanha. O CDS apenas assumiu esse papel uma vez, quando votou contra a constituição marxista, o que de facto lhe valeu uma enorme subida eleitoral, mas rapidamente abandonou esse posicionamento, fazendo uma coligação com o PS, coisa que os eleitores de ambos os partidos acharam absolutamente incompreensível. Hoje a história oficial do CDS renega Freitas do Amaral e louva Amaro da Costa, mas a verdade é que o posicionamento dos dois não era distinto, tendo sido até Amaro da Costa o artífice da coligação PS/CDS. Aliás o sonho do CDS na altura, com a denominada teoria das duas bossas, era partir o PSD em dois ou mais partidos, fazendo do CDS e do PS os dois esteios do regime. Isso nunca viria a concretizar-se em virtude de os ministros do CDS terem percebido que era insustentável governarem com o PS e de Sá Carneiro ter conseguido resolver a cisão dos inadiáveis. Foi assim que se formou a AD, como uma coligação de direita reformista, transmitindo uma mensagem clara em que todo o eleitorado do CDS se reviu com entusiasmo. O colapso da AD, com o abandono de Freitas do Amaral, gerou uma surpresa, com a vitória do nacionalismo liberal de Lucas Pires, quando toda a gente esperava a eleição de Luís Barbosa, mais de acordo com a linha tradicional do CDS. Lucas Pires, no entanto, seria derrotado por Cavaco Silva e demitir-se-ia, transitando do nacionalismo liberal para o europeísmo mais convicto. Chegou Adriano Moreira, mas foi incapaz de impedir a maioria de Cavaco Silva, que transformou o CDS no partido do táxi.

 

O CDS entrou então na fase de O Independente, caso em que pela primeira vez um jornal tomou conta de um partido, primeiro com a candidatura presidencial de Basílio Horta, e depois com o lançamento de Manuel Monteiro, em ambos os casos com Paulo Portas na sombra. O CDS assumiu então uma vertente populista e eurocéptica, tendo até mudado de nome para PP, posição que lhe rendeu muitos votos, mas a incapacidade de Manuel Monteiro em gerir o ascendente de Paulo Portas no partido ditou a sua queda. Não deixando de manter algum populismo, Portas fez passar o CDS de eurocéptico a eurocalmo, o que lhe permitiu ascender duas vezes ao governo em coligação com o PSD, com o interregno de Ribeiro e Castro. Hoje já ninguém se lembra do acrescento PP. Mas Portas teve a inteligência de se ir embora, após a formação da geringonça, apostando numa renovação com Assunção Cristas, ao contrário do que erradamente Passos Coelho fez.

 

Assunção Cristas não tem uma posição ideologicamente marcada, tendo sido a meu ver até a Ministra mais à esquerda do governo de Passos Coelho. Isso, porém, não significa que não dê ao eleitorado do PSD um voto de refúgio, em caso de escolhas desastradas de candidatos, como se viu em Lisboa, onde obteve 20% dos votos, o que foi decisivo para a desistência de Passos Coelho. Com isto Assunção Cristas mostrou que a regra de que o CDS não consegue crescer eleitoralmente à custa do PSD já não está em vigor. E por isso, ou o PSD apresenta uma proposta eleitoral clara, e com candidatos credíveis, ou pode obter mais uma derrota. Deixar Cristas a fazer oposição sozinha é um erro que se vai pagar muito caro.