Parabéns Adolfo!
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José Maria Barbosa du Bocage nasceu há 250 anos, em Setúbal, a 15 de Setembro de 1765. Viajou muito, fez tremer corações. O seu pai foi mandado prender por Pomba, mais tarde Bocage foi preso por Pina Manique. a acusação era quase a mesma, a desordem, o atentado aos costumes. Extraordinário, com aventuras dignas de qualquer romance do século XVIII, Bocage é hoje recordado na terra que o viu nascer e pouco mais. Sobre ele, escreveu, no seu jeito, Ary dos Santos:
Fazes falta ao Rossio. Falta ao Nicola.
Lisboa é uma sarjeta. É um vazio.
E é raro o poeta que entre nós faz escola.
Mastigam ruminando o desafio.
São uns merdosos que nos pedem esmola.
Aos vinte anos cheiram a bafio
têm joanetes culturais na tola.
Que diria Camões nosso padrinho
ou o Primo Fernando que acarinho
como Pessoa viva à cabeceira?
O que me vale é que não estou sozinho
ainda se encontram alguns pés de linho
crescendo não sei como na estrume!
Estou certa de que o poeta teria agradecido com uma vénia, teria rido e quem sabe? nasceria uma bela amizade, se o tempo não os tivesse separado. Deixo-vos - roubado indecentemente ao mural do FB de uma grande amiga, Helena Vasconcelos - uma fábula do aniversariante, na esperança de que o recordem, na esperança de que mais se escreva sobre a sua vida e obra.
O Leão e o Porco
O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.
Bocage, in 'Fábulas'
Não é difícil figurar a ocasião: apeada em Katowice como correspondente do Daily Telegraph, uma rapariga de quase vinte oito anos cumpria os primeiros dias da tarimba jornalística. O Verão de 1939 não iria durar. Hospedada pelo cônsul britânico, seu patrício, a dita rapariga haveria de ganhar à-vontade suficiente para pedir um dos automóveis do serviço diplomático (dos poucos que ainda tinham direito de passagem entre a fronteira germano-polaca) para uma caça à notícia e avio de víveres. Do lado de lá traria velas, vinho, muitos rolos para a máquina e aquele que estava destinado a ser o primeiro dos 'furos' da sua vida: o avistamento de um aparato militar massivo no sentido polaco, sinal claro de uma manobra de invasão em curso. De volta a Katowice, conseguiria horas depois linha para a embaixada em Varsóvia de maneira a reportar o que vira. Sabemos hoje que começou por não ser levada a sério: ninguém - nenhuma autoridade militar ou diplomática - tinha ainda relatado tal iminência. Mas o tempo tinha passado, por isso Clare percebeu que restava esticar a corda, ou melhor, o fio do telefone até à janela - a ocupação já estava a acontecer. Em menos de quarenta e oito horas o Reino Unido e a França entrariam no conflito. O resto é História.
Ms. Hollingworth saiu ilesa desse e vários outros palcos de guerra, continuando a trabalhar até muito recentemente; reformou-se lá pelos oitenta, e só porque os olhos lhe começaram a falhar. E qualquer perfil biográfico é pródigo em mostrar o quanto fez após aquele primeiro scoop. Cem vezes parabéns, Clare Hollingworth.
Agustina Bessa-Luís, que nasceu velha e morrerá criança, como dia, faz anos hoje. "O medo faz as pessoas extravagantes, mas não as faz originais," escreveu em tempos e ainda "Uma nação não nasce duma ideia. Nasce dum contrato de homens livres que se inspiram nas insubmissões necessárias ao ministério dos povos sobre os seus infortúnios".
68 estouvadas, delirantes, desmioladas e pujantes primaveras.
Aguenta firme, miúdo. É só rock n'roll mas nós gostamos.
I learned that courage was not the absence of fear,
but the triumph over it.
The brave man is not he who does not feel afraid,
but he who conquers that fear.
Nelson Mandela
Nos 92 anos de Nelson Mandela. Um homem ímpar.