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Delito de Opinião

Enganados e mal pagos

Leonor Barros, 28.01.12

Acho uma certa piada à indignação que anda por aí porque Alberto João Jardim não se demitiu. Sócrates mentiu e não se demitiu, Pedro Passos Coelho mentiu e fez exactamente o que outros fizeram antes dele, não se demitiu. Não sei qual é a admiração. Neste país ninguém se demite por faltar à sua palavra e mentir vilmente aos portugueses. Deve ser o fado. Admitamos a nossa condição de enganados ou façamos como na Islândia e metamo-los dentro. Diz que o país prospera agora.

Superlativos

Leonor Barros, 16.01.12

Sempre me encanitou esta obsessão dos portugueses por bater records. Pais-natais, cachecóis, feijoadas, bolos-rei, paellas, narizes, sardinhadas, a lista é imensa e acredito que infindável. Portugal pode até candidatar-se para os mais peculiares ministros da Economia do mundo. O Pinho e o Álvaro são duas figuras impagáveis e não estivessem à frente do país, um tivesse estado, e ririamos desalmadamente, isto se fossem figuras dos Monty Python ou do Little Britain. No país do pastel de nata, supeita-se mais um recorde. Diz-se que este governo já fez mais nomeações do que o governo de Sócrates que, como se sabe, megalomania era 'cena que lhe assistia' e muito. E já que apelam tanto à contenção, austeridade, subtraem subsidios e feriados que o povo quer-se temente e disciplinado, não seria do mais elementar bom-senso ser mais contido também neste campo? Um bocadito de vergonha ou pejo? Respeito pelos portugueses? Ou fazem mesmo questão de inscrever o vosso nome do livro dos records? Grata pela atenção.

 

Actualização: contraditório do Governo a ler aqui.

 

Também aqui.

Nada como uma boa notícia para começar o ano

Leonor Barros, 09.01.12

Diz que afinal não é bem assim. Afinal vai haver medidas adicionais. Depois do rapinanço aos ordenados desde Janeiro do ano passado, dos subsídios de férias e de Natal, o aumento do IVA e de tudo o que é coisa que se possa comprar, não sei o que nos resta mais. O ar que respiramos talvez. Não param de me surpreender, senhores governantes, e não é pela positiva.

O que farei com estes 30 cêntimos?

Leonor Barros, 20.09.11

Ainda a saga dos manuais escolares: Para as famílias do escalão 1 do abono de família, a comparticipação sobe entre 30 e 50 cêntimos no 1.º ciclo; 1,5 euros no 2.ºciclo; dois euros no 3.º ciclo e 70 cêntimos no secundário.  Fiquei atónita com tamanha generosidade. Vejam lá, agora que estão cheios de dinheiro, não vão fazer férias para as Caraíbas.

Castos e pobrezinhos

Leonor Barros, 08.09.11

Começo a ter medo de viver neste país e isto porque tudo mas tudo, rigorosamente tudo, se não foi taxado com impostos, sobretaxas e tributos solidários, poderá vir a sê-lo e tudo o que se tinha como garantido pertence ao passado. Já aumentaram tudo o que podia ser aumentado, ou quase, e quando o povo, de pé ligeiro e estômago vazio, se preparava para esquecer as agruras e descarregar o stress numa sessão tórrida de sexo ou amor, meia hora de alienação total e entrega desalmada, corpos enleados na alcova da intimidade, eis que surge esta nova medida. Voltemos a medir temperaturas, contar dias e a cuscar viscosidades várias à procura da linguagem do corpo, entreguemo-nos à prática, que se não é milenar bem podia sê-lo, do coito interrompido. Quem está a esfregar as mãos de contente é a Igreja Católica. Este Governo vai fazer mais pelos pecadores do que cem homilias na Quaresma. Se não estivéssemos tão mal até julgaria que era um incentivo à maternidade. Já que mal nos deixam comer ao menos que nos deixassem entregarmo-nos a outros verbos acabados em –er. Mas não. Além de pobre e faminto, o povo quer-se bento e casto. Muito bem. Há que pôr o povo na linha, esses badalhocos.

A insustentável lógica do Ministério da Educação

Leonor Barros, 21.06.11

Corria o mês de Março. Acabada de chegar de uma semana na Velha Albion com os meus alunos, o ambiente era mais uma vez de altercação entre o professorado aquém e além da sala de professores da minha escola azul-cueca. Desta vez não era a avaliação ou os titulares, ai as saudades que eu tenho de um ressabiamento à moda antiga, da malta a contar furiosamente pontos como quem os junta no cartão de grande superfície comercial. Nada disso, o povo até andava relativamente sereno quando o Ministério da Educação se lembrou de fazer acções de formação para classificadores de exames e o povo andava altercado, e muito bem, porque aparentemente teríamos de assinar um contrato de três anos, uma verborreia disparatada que se foi pelo seu próprio pé. Mas pormenores à parte e fora o dito contrato que acabou por nunca aparecer, a ideia nem me pareceu muito mal. Nunca é demais reflectir sobre essa tarefa hercúlea de classificar. O que me pareceu mesmo muito mal, mas mesmo muito mal, foi que com acções de formação em Lisboa eu tivesse sido destacada, convocada, simpaticamente obrigada para frequentar a acção como os mesmos formadores e sobre o mesmíssimo assunto em Coimbra. Não adianta fazer um exercício de lógica, aventar hipóteses, pensar e reflectir ou questionar Mas olha lá se havia uma turma em Lisboa porque é que foste parar a Coimbra? Ninguém sabe. Nem o próprio Ministério que pariu esta bela coisa. Ordeira e boa rapariga, ah como gosto de me sentir tão boazinha, lá dispus do meu fim-de-semana, do meu dinheiro, até hoje ainda ninguém se dignou a pagar as despesas da gasolina, portagens e pernoita, e rumei ao Centro. Linda menina, pois, a que frequentou uma Acção de Formação para classificadores de exames de Inglês. A mesma marmanja que hoje se dirigiu à sua escola azul-cueca, mais uma vez obediente e ordeira, para tomar conhecimento de que tinha sido convocada para classificar exames. E corria tudo bem, excepto a parte de não me pagarem que o povo é povo mas não vive do ar, quando os meus olhos aterraram num pormenor curioso. É que desengane-se quem acha que eu vou corrigir exames de Inglês, exames para os quais recebi formação paga pelo Ministério que ainda não pagou. Era lógica a mais. Vou classificar exames de Alemão. Não é lindo?

A tragédia da classe económica

Leonor Barros, 08.04.11

Raramente terei começado post algum com tanta vontade de escarrapachar nomes, assim uma espécie de anúncio à moda do Velho Oeste: WANTED mas hoje, ai hoje, logo hoje, passados uns meros dias sobre o anúncio fatídico da vinda desse tal FMI ou FEEF ou outra coisa qualquer que, surpreendam-se, vai ajudar a Banca, deu-me esta ímpeto. Foi logo pela fresca quando no meu mural facebookiano me anunciaram que nove dos nossos deputados europeus votaram contra uma proposta para que os voos com duração inferior a quatro horas passassem a ser em classe económica. E agora os nomes e os partidos, já agora: José Manuel Fernandes, Paulo Rangel, Regina Bastos, Carlos Coelho, Mário David, Maria do Céu Patrão Neves e Nuno Teixeira do PSD e Luís Manuel Capoulas Santos e António Fernando Correia de Campos do PS votaram contra. Numa altura em que são pedidos mais sacrifícios do que o conseguimos suportar não ficaria nada mal aos senhores doutores engenheiros arquitectos deputados, uma verdadeira realeza que não se pode sentir encunicada durante umas reles quatro horas e precisa desta afirmações bacocas de uma dignidade vã, dar o exemplo. Desengane-se quem acha que este país ainda tem viabilidade com gente desta. Não tem.