Delito de Opinião

- Viste a acta das eleições em Angola?

- Vi a ata. 

- Estás a fazer confusão: lá é acta. Em Angola recusaram o "acordo" que pretendia "unificar" a ortografia e afinal não ata: só desata.

- Foi um longo trajeto até chegares aqui?

- Mais curto do que esperava.

- Alto e para o baile!

- Mas já estamos cá...

- Batista!!!

- Sim, senhora?

- Finalmente. Que se passa consigo hoje? É a quinta vez que o chamo. Foi preciso gritar para você aparecer!

- Perdão, senhora. Não percebi que me estava a chamar...

- Todos os meus heróis têm assento garantido na História. E os teus?

- Os meus herois não têm acento.

- Isto parece-te correto?

- Não.

- Como achas que vai jogar a seleção?

- Desfalcada.

- Papá, os habitantes do Egito são egícios?

- Sim, filho. E vivem em irâmides.

- Aconteceu o que eu temia: entrámos em rutura.

- O que é que aconteceu?

- Ruptura perdeu o P.

- E se ela nos deteta?

- Eu cá não me importava nada.

- Pratica contraceção?

- Nunca. Cumpro sempre o Código da Estrada.

- Mas tu há um ano estavas cheio de dinheiro! Até compravas ações.

- Pois, vê lá. Agora até já tive de mandar descontar uma letra.

- A nossa fação já foi mais numerosa.

- Tens razão. Diminuiu.

- Onde vais com tanta pressa?

- Fui chamado à receção.

- Não te apresses. Toda a gente diz que a recessão veio para ficar.

- Agora, com a crise, já não se fazem auto-estradas.

- Pois, o dinheiro mal chega para semirretas.

- O rei conseguiu erguer o cetro.

- Com aquela idade?!

- Ele não se retrata depois do disparate que fez?

- Como é que podia? Ele não sabe tirar fotografias.

- Nós concordamos com tudo até agora.

- Concordávamos, mas agora já não concordamos.

- Eu não disse que concordamos. Disse que concordamos.

- O corretor reclama um corretor. Trata disso?

- Vou tentar. Mas não percebo.

- Não percebe o quê?

- Eu sou do departamento técnico. Não deviam ser os recursos humanos a tratar disso?

- Como é a atriz ali atrás?

- Atroz.