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Delito de Opinião

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 11.06.25

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Hoje lemos Henry Morton Stanley: "How I Found Livingstone"

Passagem a L' Azular: "Eu teria corrido para ele, só que me acobardei na presença daquela multidão. Tê-lo-ia abraçado, mas não sabia como ele me receberia. Fiz então o que a cobardia moral e o falso orgulho sugeriram ser a melhor coisa a fazer — caminhei deliberadamente até ele, tirei o meu chapéu e disse: "DR. LIVINGSTONE, PRESUMO?"

Chegou-me esta passagem à ideia, quando a um conhecido, grande admirador de um político nacional e seguidor da sua entourage em campanha eleitoral sempre que acontecia passar perto de casa, aconteceu dar de caras com o candidato, num frente-a-frente praticamente chocante, e embevecido (creio eu), tirou o boné e estendeu a mão (que o outro apertou fortemente), dizendo: "É o Dr. V, creio. Boa sorte." Mais palavras não houve...

DELITO há cinco anos

Pedro Correia, 11.06.25

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Luís Naves: «O próximo ciclo político vai ter menos referências do jornalismo e mais aldrabices, com guerras de cultura mais aceleradas e incivilizadas. As redes sociais serão os palcos privilegiados da política, os campos de batalha que vão determinar quem passa ao nível seguinte. O caos económico global beneficia meia dúzia de homens já estupidamente ricos, como nunca houve em tempo algum, donos das empresas que venceram a grande ruptura digital. Cada um é génio ou filantropo e alguns têm dinheiro para ir à lua.»

A homenagem a Ramalho Eanes.

Luís Menezes Leitão, 10.06.25

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Não há português que mereça mais ser homenageado no 10 de Junho do que o General António Ramalho Eanes, hoje com 90 anos de idade de uma vida intensa ao serviço de Portugal.

Tendo feito o serviço militar em África, participou no 25 de Abril e foi o herói do 25 de Novembro, que terminou com as loucuras revolucionárias do PREC, permitindo a aprovação da Constituição por uma Constituinte várias vezes ameaçada pelos revolucionários da extrema-esquerda. Depois foi Presidente da República durante dez anos, sempre eleito com votações apoteóticas.

Mais recentemente recordo a sua entrevista à RTP em Abril de 2020, no período mais terrível da pandemia, onde, então com 85 anos, apelou a que em caso de necessidade não o colocassem num ventilador para permitir que o mesmo pudesse atribuído a um homem de 40 anos com mulher e filhos. A sua coragem serena e o seu exemplo de serviço público foram sempre essenciais para Portugal nas horas mais difíceis.

A Camões

Soneto de Manuel Bandeira

Pedro Correia, 10.06.25

 

Quando n'alma pesar de tua raça

A névoa da apagada e vil tristeza,

Busque ela sempre a glória que não passa,

Em teu poema de heroísmo e de beleza.

 

Génio purificado na desgraça,

Tu resumiste em ti toda a grandeza:

Poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça 

O amor da grande pátria portuguesa.

 

E enquanto o fero canto entoar na mente

Da estirpe que em perigos sublimado

Plantou a cruz em cada continente,

 

Não morrerá sem poetas nem soldados

A língua em que cantaste rudemente

As armas e os barões assinalados.

 

Do livro "A Cinza das Horas" (1917)

Hino, Camões, 10 de Junho

Pedro Correia, 10.06.25

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Penso há muito que o Hino Nacional devia ter versos de Luís de Camões. Sendo o Dia de Portugal assinalado a 10 de Junho, em evocação da data da morte do nosso maior poeta, faz todo o sentido.

Não desfazendo, claro, no vate Lopes de Mendonça, autor da letra do presente hino. Mas entre Camões e Mendonça, prefiro o primeiro.

A música de Alfredo Keil, naturalmente, deve manter-se.

DELITO há cinco anos

Pedro Correia, 10.06.25

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João André: «O objectivo declarado de Elon Musk, o principal responsável pela SpaceX (e várias outras empresas), é o de levar seres humanos a Marte e criar lá as primeiras colónias. É um objectivo admirável e que um dia será possível, mas quando penso nele a longo prazo, penso que há um erro de cálculo no conceito de Marte como "nova casa" para os seres humanos.»

 

José Meireles Graça: «Creio que foi vítima da anedota triste que entre nós circula com a lisonjeira designação de Justiça, e lembro-me de lhe ter deixado de ouvir a voz no espaço público por, entre nós, os acusados por crimes de colarinho branco terem direito a ser assados em lume brando, mas não a ser condenados ou absolvidos. Requiescat in pace.»

 

Luís Naves: «Sempre achei pouco credível o romance de Ray Bradbury Fahrenheit 451, uma distopia em que os livros foram banidos, são queimados e decorados por pessoas vivas. Observando o meu tempo, já não acho a ideia assim tão incrível. Em vários países cresce um movimento de contestação a figuras históricas e símbolos do passado. As estátuas são identificadas com tinta e segue-se um julgamento popular à maneira da revolução cultural. Depois, são derrubadas por uma turba feroz e qualquer tentativa de as repor será combatida com tumultos. Ao mesmo tempo, limita-se o acesso do público a obras de arte associadas a ideias que os manifestantes considerem perturbadoras. Pode ser uma pintura, um filme, um livro.»

 

Maria Dulce Fernandes: «A minha primeira impressão de Marrocos foi o cheiro. Era uma mescla de pó com suor, especiarias, curtumes e sebo. Ceuta - muita gente, muita confusão. Como em tudo o que é excursão organizada, tínhamos à nossa espera um guia e um autocarro. Tour pelos pontos turísticos mais importantes, as muralhas da cidade velha, casa dos dragões, Plaza de los Reyes, o tradicional souk, os camelos e as cobras para a fotografia, tudo isto sempre com um olho no camelo e o outro no menino.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Quero aproveitar esta oportunidade para alertar os nossos investigadores para a necessidade de se saber qual a contribuição que demos – todos, dos comerciantes e empresários aos magistrados, dos funcionários públicos aos jornalistas, dos advogados aos diplomatas, dos políticos aos militares – para a arquitectura do actual estado policial e para a preparação desta guarda pretoriana que na RAEM nos vigia e pastoreia nas ruas, nos escritórios e nas redes sociais.»

 

Eu: «Mais logo publicarei a última nota inserida na rubrica "Sugestão: um livro por dia". Faço-o após sete anos consecutivos, colocando assim um ponto final naquela que é, porventura, a mais antiga série ininterrupta de postais subordinada ao mesmo título e ao mesmo tema da blogosfera portuguesa. Desde Maio de 2013, trouxe aqui mais de 2500 pistas de leitura - dos mais diversos géneros, das mais diversas proveniências, dos mais diferentes autores. (...) Falta acrescentar que, dos títulos que aqui fui destacando ao longo de todo este tempo, só menos de 5% me chegaram às mãos por ofertas espontâneas de autores ou editoras. Nem nunca solicitei o envio de obra alguma - para reforçar a minha independência de critério e a minha integral liberdade de escolha.»

Os ataques dos ministros de António Costa a António José Seguro.

Luís Menezes Leitão, 09.06.25

Não há nada que mais me divirta do que assistir a antigos ministros de António Costa a atacar a candidatura presidencial de António José Seguro, precisamente o único socialista que até agora teve a coragem de assumir uma candidatura. Isto depois de os governos em que participaram terem conduzido o PS e o país ao abismo em apenas oito anos, enquanto que o seu líder partiu alegremente para um exílio dourado em Bruxelas, o que não o impede de querer condicionar por interpostas pessoas as escolhas do seu partido. É assim que primeiro surge Mariana Vieira da Silva a dizer que há dez anos que não se conhece uma ideia a António José Seguro. Depois vem o seu pai, José Vieira da Silva, a dizer que António José Seguro não tem o perfil desejável para ser apoiado pelo PS. Dá gosto ver uma tão grande convergências de posições entre pai e filha, apesar da diferença de gerações, o que talvez se possa explicar pelo facto de terem estado os dois ao mesmo tempo nos governos de António Costa, situação que causou perplexidade até no Parlamento Europeu. O que cabe perguntar é porque é que nenhum dos dois se candidata à presidência da república ou até a líder do partido, em vez de se manterem como treinadores de bancada. Enquanto o PS continuar neste estado não vai longe.

Estamos ao serviço do estado a que isto chegou

Paulo Sousa, 09.06.25

A história começa na vila medieval de Aljubarrota. As suas ruas estreitas e tortuosas são delimitadas por casas que ali foram construídas há muitos e muitos anos, algumas serão até anteriores à nacionalidade. Dizer que aquelas casas, por serem anteriores ao Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU) instituído em 1951, estão dispensadas de licença de utilização, não explica quão antigas são.

É bastante provável que quando foram lavradas as inscrições no registo predial os nomes que identificavam as ruas não fossem unânimes ou oficiais e isso explica que a Certidão Predial de uma delas, a que nos traz aqui, a identifique como estando localizada na Vila Lado Sul. O número de polícia é uma outra modernidade, pelo que o que ali conta é a descrição dos confinantes.

Avançando umas boas décadas, a voluntariosa Junta de Freguesia (que até à agregação de 2013 eram duas) quis mostrar trabalho e decidiu que aquela rua deveria passar a ser conhecida por Rua Mosteiro de Alcobaça. Ao contrário do que o nome possa indicar, a rua é curta e esconsa, onde mal caberia um dos lados do Claustro do Silêncio. Mas isso não conta para o caso.

Saltando vários detalhes alheios ao propósito deste texto, num certo dia este vosso escriba dirigiu-se ao serviço de águas do Município de Alcobaça para pedir a ligação à rede e a instalação do respectivo contador. A zelosa funcionária avaliou compenetradamente os documentos que identificavam o imóvel. Subiu os cantos da boca e esboçou um sorriso torcido.

- Olhe que este prédio não existe.

- Como?

- Não tenho aqui no computador nenhuma Rua Vila Lado Sul.

- Sim, a rua agora chama-se Rua Mosteiro de Alcobaça.

- Pois pode ser, mas esta Certidão descreve um imóvel localizado numa rua que não existe.

- Eu sabia! - disse eu num rasgado sorriso.

- Sabia? Sabia o quê?

- Sabia que não ia conseguir resolver o assunto à primeira! Nos serviços públicos, há sempre uma alínea, um capítulo ou um compêndio contra mim.

Rir dos percalços com que se tem de lidar nos serviços públicos é uma maneira de tentar salvaguardar alguma sanidade mental. Pelo que tenho visto, sorrir, ou mesmo gargalhar, nestas horas gera sempre alguma surpresa aos funcionários, que estão muito mais habituados a lidar com resmungos e palavrões. 

- Pois não é preciso ficar assim! Até pode ser que esteja enganado e eu consiga resolver o assunto! - respondeu quase despeitada.

- Sim. Realmente se sair daqui com o contrato da água assinado, estava eu enganado e a senhora certa.

Sem mais conversa a zelosa funcionária pegou no telefone. Poucos minutos e duas chamadas depois, desligou.

- Está com sorte que já consegui confirmar com os serviços técnicos. A rua é a mesma e podemos fazer o contrato.

- Epá! Com essa é que eu não contava! E eu a pensar que era só em casa que eu nunca tinha razão.

Avançou-se então para as normais formalidades do contrato de fornecimento de água que foram despachadas em poucos minutos.

- Agora vai fazer assim: vai aos serviços técnicos e pede uma certidão de localização do imóvel. Quando lha entregarem, passa cá para eu tirar uma cópia e juntar a este processo que fica aqui a aguardar. Vai precisar dessa certidão também para ir à conservatória para actualizar a descrição do registo. Está a ver que isto até é simples!

- Realmente tem razão. Passe bem e obrigado.

Pensei para mim que a psicologia invertida não funciona apenas com os adolescentes.

Menos de duas horas depois, e já aliviado de 20 euros pela dita certidão de localização, dei mais um assunto por iniciado. Garantiram-me que em menos de um mês iria ser avisado de que já podia ir levantar o documento. A futura alteração da descrição do imóvel na Conservatória iria acarretar mais esperas e custos. Nada que não me leve a voltar a rir, quiçá a bandeiras despregadas, em frente a um ou mais funcionários.

No caminho para casa, dei por mim a pensar que se naquela rua existissem 10 prédios com 10 fracções cada, este processo iria ser repetido 100 vezes e os serviços municipais iriam arrecadar 2000 euros em certidões de localização. Mais tarde seriam efectuadas 100 alterações às respectivas descrições no Registo Predial.

Veio-me este episódio à memória após as garantias de reforma do estado dadas por Luís Montenegro na sua tomada de posse.

Os serviços do estado exigem aos cidadãos documentos que são emitidos pelo próprio estado. Na sua labuta entre repartições e postos de atendimento, é banal ter de ir ao estado pagar por certidões e comprovativos, para então as levar a outro departamento do mesmo estado. Quando um cidadão recorre aos serviços públicos, sem dar por isso, torna-se num carteiro que, em vez de auferir de um salário, oferece o seu tempo e ainda tem de pagar pelas mensagens. Há uns tempos, um Einstein da burocracia inventou as mensagens temporárias. A validade dos códigos de acesso às várias certidões, que só para respirar é que ainda não são obrigatórias, foi um rasgo de genialidade. Quem teve a ideia deveria receber o prémio Nobel da Infâmia Burocrática. O cheque de 10 milhões de Coroas Suecas, que normalmente acompanha esse galardão, deveria ser substituído por 10 milhões de insultos, repetidos em 10 em 10 minutos.

Ofereço uma ideia. Em vez de digitalizar a burocracia, o estado devia recorrer àquela coisa chamada rede informática. Dizem-me que o blockchain garante a segurança e permitiria poupar anos de vida aos portugueses. Mas sabemos que existe demasiada gente a viver destes expedientes e por isso é impossível que o Governo tenha condições para um 25 de Abril deste calibre. Resta-me recordar Ruben A, quando disse que "em Portugal o óbvio é que é difícil". Eu, estóico, cumprirei com empenho a sentença de me rir às gargalhadas de cada vez que tenho de me armar em carteiro.

DELITO há cinco anos

Pedro Correia, 09.06.25

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Eu: «Para Portugal, a boa notícia é que caímos quatro lugares, de 12.º para 16.º. À nossa frente figuram agora também Equador, Luxemburgo, Brasil e Peru. A má notícia é que ainda integramos este triste top ten da União Europeia. Com cerca do dobro de óbitos ocorridos em países como Áustria e Roménia. Ou cerca do triplo registado em nações como Estónia, Eslovénia e Noruega. E quase cinco vezes mais do que na Polónia ou na República Checa. E cerca de nove vezes mais do que na Grécia.»

Reflexão do dia

Pedro Correia, 08.06.25

«Em  2017, segundo o Eurostat, Portugal contava com 3,6% de cidadãos estrangeiros. No final de 2023 esta percentagem ia em 9,83%, também segundo o Eurostat. Mas quando a AIMA actualizou estes dados para 2024 chegámos a 15% da população imigrante. Se isto não é uma reforma estrutural o que será então uma reforma estrutural?»

Helena Matos, no Observador

DELITO há cinco anos

Pedro Correia, 08.06.25

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Maria Dulce Fernandes: «É imperativo combater a violência. É necessário combater todo o tipo de violência, porque há violências bem mais violentas do que a violência física,  passe o pleonasmo. É importante a manifestação e o protesto. Mas também é importante não desrespeitar as fracas leis com que a sociedade dos homens se cose.»

 

Eu: «Já houve vários presidentes da Câmara de Lisboa sócios do Sporting. Nas últimas três décadas, lembro-me de Jorge Sampaio, Pedro Santana Lopes e António Carmona Rodrigues. Imaginem a gritaria que não haveria, lá mais para Norte, se o presidente da Câmara de Lisboa, estando no exercício destas funções, aceitasse encabeçar uma lista concorrente a um órgão social do Sporting. Não faltaria gente a rasgar as vestes, urrando contra a "promiscuidade entre a política e o futebol", exigindo imediata separação de águas. Pois isso mesmo acaba de acontecer no FC Porto, com o actual alcaide da Invicta a encabeçar a lista para o Conselho Superior da agremiação azul e branca, sem que isso pareça perturbar as boas almas que reclamam linhas divisórias entre bola e política.»