Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

O PS deve cinco Orçamentos ao PSD

Pedro Correia, 03.10.24

12.jpg

Quando Marcelo liderava o PSD, entre 1996 e 1999

 

O PSD aprovou cinco Orçamentos do Estado apresentados na Assembleia da República por executivos minoritários do PS. Aconteceu com os orçamentos de 1997, 1998 e 1999, viabilizados por decisão de Marcelo Rebelo de Sousa quando liderava os sociais-democratas como principal força da oposição. E com os orçamentos de 2010 e de 2011, quando José Sócrates chefiava o Governo e Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho ocupavam a presidência do partido laranja.

O contrário jamais sucedeu.

Não há memória de vermos a bancada parlamentar socialista contribuir, com a abstenção, para a passagem de um Orçamento do Estado submetido ao hemiciclo de São Bento por executivos minoritários do PSD.

Moral da história? O PS deve cinco Orçamentos ao PSD. Tão simples como isto.

Lisboa, tão minha e tão estranha

Ana CB, 03.10.24

Sou lisboeta. Talvez não de gema, porque os meus pais vieram de outras regiões do país; mas nem eles nem os meus avós tinham casas “na terra”, por isso criaram raízes na capital. Lisboa é a cidade onde tenho passado grande parte da minha vida e reclamo-a como minha, mesmo que sem exclusividade. Sou magnânima, não me importo de a partilhar com os outros.

A minha infância foi essencialmente passada num bairro periférico relativamente moderno para a época, onde os meus pais tinham uma loja de dimensão razoável com uma ampla zona privada, que nos permitia fazer ali a nossa vida diária e só regressarmos a casa, nos subúrbios, à noite. Estando na cidade, era quase como se vivesse numa aldeia em que todos se conheciam. O segundo pequeno-almoço era tomado sempre na mesma leitaria, os livros e as revistas comprados na única papelaria que existia naquela rua (ainda tenho exemplares da revista Tintin dessa época), o pão e os bolos na grande padaria com fabrico próprio quase ao lado da nossa loja, as fotografias tipo passe sempre tiradas pelo mesmo fotógrafo. Havia uma loja para cada coisa, e os donos e empregados eram uma espécie de círculo familiar alargado. E quando íamos à Baixa, ou a qualquer outro sítio que fosse mais no centro da cidade, dizíamos que íamos “a Lisboa”. Outros tempos e outros hábitos.

No final da minha pré-adolescência, a minha mãe decidiu regressar à sua profissão anterior e passou a trabalhar no centro de Lisboa. Também eu já mais autónoma, a minha área de vivência citadina começou a alargar-se: a Avenida da Liberdade era a meca dos cinemas, o Chiado (pré-incêndio) a zona preferida para as compras. Em São Bento visitava umas primas do lado materno, geralmente depois das aulas no Instituto Britânico. Cada ano e nova experiência acrescentaram bairros à minha vida lisboeta. Os cafés eram o ponto de encontro para os convívios, cada grupo de amigos tinha o seu local favorito. Vagueei do Calvário a Campo de Ourique, da Praça de Londres à de Alvalade, da Rua do Ouro às Avenidas Novas, da Cidade Universitária a Benfica, e mais tarde pela obrigatória vida nocturna do Bairro Alto – já então muito diferente do primeiro contacto que com ele tinha tido numa tarde de Verão, modorrento e intimidante, com personagens ocasionais que olhavam fixamente (ou assim me parecia) a adolescente meio perdida que ia fazer um exame ao Colégio dos Inglesinhos. Lisboa ia mudando aos poucos.

A vida profissional manteve-me em Lisboa, primeiro de forma intermitente, depois com constância. Aportei ao Chiado há mais de 20 anos, tempo suficiente para assistir à metamorfose contínua do bairro. Se um gato tem sete vidas, o Chiado faz-lhe concorrência, que eu já lhe conheço pelo menos três ou quatro. O Chiado dos meus tempos de adolescente tinha o Grandella e os Armazéns que davam nome ao bairro, com os seus elevadores emblemáticos, e a Jerónimo Martins ainda era só Casa, não Grupo. A loja da Ana Salazar era o supra-sumo da modernidade, com as suas montras minimalistas onde pairavam modelos sempre arrojados para a época. Na Brasileira ainda não havia a escultura do Pessoa. O poeta Chiado estava sozinho no meio do largo, sem a companhia da boca do Metro. Os carros passavam livremente pela Rua do Carmo, e o elevador de Santa Justa era operado pela Carris como qualquer outro equipamento – o passe era válido para subir e descer a qualquer hora, raramente havia filas, e qualquer um podia ir ver Lisboa da sua varanda. Era a maneira mais rápida e cómoda de ir da Baixa ao Largo do Carmo. Num dia de Agosto, ao passar de manhã a pé pela Rua da Prata, o fumo escurecia o céu. Só soube o que tinha sucedido quando cheguei ao escritório onde trabalhava na altura, na Praça da Figueira. Foi o início de um longo período negro para o Chiado, que ficou deserto durante anos. Por vezes passava por lá, a caminho de qualquer outro sítio, e era como se estivesse num filme pós-apocalíptico. O cenário era desolador: paredes negras, prédios vazios, lojas fechadas, apenas uma ou outra pessoa de passagem, como eu. Mesmo as áreas que tinham ficado a salvo do fogo se ressentiram. O bairro parecia ter perdido a sua alma: as pessoas em movimento.

Anos e anos em obras que pareciam não ter fim, os edifícios esventrados do Chiado foram sendo recompostos a pouco e pouco. Mais modernaços, com um ar mais “clean”, e na sua maioria com outros negócios. Ainda assim, a vida demorou a voltar. Durante muito tempo, o Chiado foi quase só de quem lá trabalhava ou morava. Ao cair da noite esvaziava-se, ficava tranquilo; só no Natal, com as iluminações e os mirones, o sossego nocturno era quebrado. As lojas, as que já existiam e outras que foram abrindo, mantiveram-se inalteradas durante vários anos. Nessa altura deixei praticamente de ir fazer compras aos centros comerciais dos arredores. Não precisava, ali tinha quase tudo. À hora de almoço passeava, ia vendo as montras, entrava quando estava à procura de alguma coisa em concreto, comprava se fosse caso disso. Sem pressas. Nas ruas secundárias havia sempre algum prédio em obras, às vezes mais do que um, e era obrigada a percorrer a rua aos ziguezagues, atravessando de um passeio para o outro, como se sofresse de uma crónica indecisão de não saber para onde ir. Se fosse uma remodelação total, os andaimes e tapumes ficavam a fazer parte da paisagem durante largos meses, até anos. O Chiado era um microcosmos da transformação que se alastrava pela cidade.

Distraída na minha vida, demorou algum tempo até perceber que Lisboa estava a tornar-se numa Meca turística. Primeiro foram as hordas de espanhóis na altura da Páscoa; depois o aumento de gente em calções e sandálias assim que o tempo aquecia, e das palavras em línguas desconhecidas ditas por quem passava por mim na rua; até que comecei a ter dificuldade em andar nos passeios ao meu ritmo normal, travada por grupos de turistas caminhando a passo de caracol ou parados a tirar a obrigatória selfie. Esta popularidade súbita criou em mim sentimentos mistos: orgulhosa por perceber que a “minha” cidade (e Portugal, na generalidade) estava finalmente a ter o reconhecimento que merecia, e ao mesmo tempo irritada pela apropriação meio selvática que dela estava a ser feita.

Lisboa 01.jpeg

Há seis anos mudei-me para a “província”. São só 65 quilómetros de distância até Lisboa, 50 minutos em auto-estrada; mas neste nosso minúsculo rectângulo encaixado entre Espanha e o Atlântico isso é mais do que suficiente para ser considerado “província”. Continuei a trabalhar em Lisboa, para onde ia todos os dias até que a mudança de hábitos derivante da pandemia me permitiu trabalhar a partir de casa durante a maior parte do tempo. Se naqueles dois anos houve algum sossego na capital, para bem de uns e mal de muitos outros, o regresso à “normalidade” veio exacerbar a tendência pré-2020 de aumento do turismo. E as consequentes mudanças no ambiente da cidade. De repente, tudo me parece estranho. A proliferação de tuk-tuks e motoretas para entrega de comida, a música por todo o lado, as esplanadas cheias a qualquer hora do dia (e às vezes da noite), as ruas a abarrotar de gente, mesmo nos meses de Inverno, as filas intermináveis para as bilheteiras do metro e do comboio, o eléctrico 28 que agora virou coqueluche dos turistas e vai sempre apinhado, com tarifa de bordo a condizer. No Cais do Sodré já não ouço a chilreada dos estorninhos ao entardecer, não sei se por causa do aumento de outros ruídos, ou por terem debandado para algures, afugentados pela agitação humana. As obras “de fundo” multiplicam-se, todas para durarem anos, com tapumes brancos a estenderem-se aqui e acolá por centenas de metros, tapando indiferentemente o que é feio e também o que merece ser visto. As mudanças são tantas e tão rápidas que quando passo por algum sítio aonde já não ia há algum tempo, às vezes mal o reconheço. Habituada ao maior sossego de outras paragens, talvez a estranha agora seja eu.

Só que isto de amar uma cidade é um pouco como amar uma pessoa, com os seus encantos e os seus defeitos, nos dias bons e nos menos bons, quando nos faz feliz ou nos irrita, ou nos desilude. Quando vejo o roxo dos jacarandás em flor e sinto o seu perfume, e o céu se tinge de rosa e laranja ao fim da tarde, quando passo na Praça do Comércio de manhã cedo, ou desço uma rua e o azul brilhante do Tejo espreita lá ao fundo, entre as casas, a zanga esfuma-se e penso na sorte que tenho em estar ali, naquele instante. Lisboa continua a ser a “minha” cidade.

Lisboa 09.jpeg

Lisboa 08.jpg

O fosso

Cristina Torrão, 03.10.24

Dois livros, alguns excertos.

O primeiro livro:

“As crianças do 25 de Abril foram expostas à pornografia antes de saberem como se faziam bebés (…). A despontarem para a vida, viviam numa espécie de terra de ninguém, pela qual não se encontravam responsáveis. Pairavam no vazio formado entre o culto da liberdade sem limites e a crença salazarista mantida pelas mães e avós de que Portugal era um país mais temente a Deus, de melhores costumes, um oásis de santidade perante um estrangeiro devasso”.

“Ainda apática, saída de um mundo desprovido de sexo, um mundo em que os genitais eram porcos, males necessários para se expelirem os detritos do corpo, ela espantava-se com os cartazes e os títulos sugestivos das películas em cena no Sá da Bandeira, um verdadeiro templo da arte pornográfica, enquanto esperava pelo autocarro”.

“Sentindo-se impotentes perante o fenómeno e na sua tentativa desesperada de a manter agarrada às antigas convenções, os pais empurravam-na para uma dualidade de comportamentos, criavam a cultura do fingimento: a nossa casa é uma coisa e o mundo lá fora é outra. Dentro de casa, é feio falar de sexo; lá fora, o sexo é exibido em todo o lado. No meio, ficava o vazio, a tal terra de ninguém, (…) o fosso, que se cavava cada vez mais fundo”.

 

E o segundo livro:

“Nada, nem a inteligência, nem os estudos, nem a beleza, contava tanto como a reputação sexual de uma rapariga, o mesmo é dizer o seu valor no mercado de casamentos, onde as mães, seguindo o exemplo das suas próprias mães, se armavam em guardiãs".

“Ao sábado, em fila, casavam as raparigas de véu branco, que davam à luz seis meses mais tarde uns rapagões considerados prematuros. Presas entre a liberdade de Bardot, o gozo dos rapazes a dizer que ser virgem era doentio, as recomendações dos pais e da Igreja, não tínhamos escolha".

“Os discursos e as instituições estavam atrasados em relação aos nossos desejos, mas o fosso entre o dizível da sociedade e o nosso indizível parecia-nos normal e irremediável".

 

O primeiro livro é de minha autoria: A Revolução da Verónica. Nunca me tinha acontecido sentir tão grande afinidade com um escritor, ou escritora. O mais interessante é que, quando comecei a ler o livro alheio, não o achei muito promissor.

Não comparo a qualidade da escrita. Aí, sinto-me como São João Baptista: não sou digna de lhe apertar as sandálias. Está em causa a comunhão de pensamentos, a complementação de ideias. E a escolha de palavras. Como “o fosso”. “Cada vez mais fundo”, num caso; “normal e irremediável”, no outro. Encaixam como duas peças de Lego.

Os Anos.jpg

         

Nota: plágio de ideias (da minha parte, claro), está fora de questão. Comecei a ler Os Anos, de Annie Ernaux, pela primeira vez, há dias. Por seu lado, A Revolução da Verónica existia há muito tempo, na minha gaveta. Na verdade, tentei, sem sucesso, publicá-lo por ocasião do 40º aniversário da Revolução de Abril. Acabou por acontecer apenas dez anos mais tarde.

Ler (37)

Sabemos de onde partimos com um livro na mão sem imaginar aonde nos conduz

Pedro Correia, 03.10.24

aaaaaaa.jpg

São inúmeros os casos de livros que mudam uma vida.

Napoleão, ao que consta, nunca mais foi o mesmo depois de ler O Príncipe, de Maquiavel. Pessoa imitou um dos seus autores favoritos, Poe, em parte da obra e grande parte da vida. Marx influenciou as vidas de milhões de pessoas. E Nietzsche também -- dizem que até influenciou um certo cabo que combateu na I Guerra Mundial e usava um bigodinho ridículo. Ibsen influenciou legislação sobre os direitos das mulheres. Conan Doyle e Georges Simenon influenciaram tanto (e tantos) que personagens saídos da sua imaginação, como Sherlock Holmes e o comissário Maigret, se tornaram mais conhecidos do que os autores. Romeu e Julieta, figuras de papel, seduziram mais do que inúmeras pessoas de carne e osso.

E já nem falo dos mundos que se descobrem em cada livro da Bíblia...

Sabemos sempre de onde partimos com um livro na mão. Mas somos incapazes de imaginar até onde ele nos conduz. É também isto -- é sobretudo isto -- que faz o fascínio da literatura.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 03.10.24

21523202_SMAuI.jpeg

 

Francisca Prieto: «Para quem ainda não conhece a Matilde Campilho, faça-se o favor de a ouvir no seu desconcertante português, sempre dito à portuguesa,  mas temperado a gosto com vocábulos brasileiros. Joquéi, o seu livro de estreia saiu há um par de meses e cai fora de tudo o que se possa ter lido deste ou do outro lado do oceano. Tão bom, meu Deus.»

 

José Gomes André: «A minha cidade alemã preferida? O Reno. Se há ainda na Europa um lugar que seja o espelho da civitas romana – o espaço onde os cidadãos se encontravam e praticavam a sua condição de habitantes do Império – esse lugar é o Reno, onde conflui todo o complexo tecido histórico, cultural e social que caracteriza a Alemanha. (....) Os castelos que se erguem nas suas margens transportam-nos para antigos romances de cavalaria, com nobres príncipes, belas duquesas e perigosos dragões. Sabemos que Lohengrin nos aguarda, que Rolando chorou aqui, e receamos ainda o poder sedutor do Lorelei.»

 

Luís Naves: «No memorando de entendimento com a troika, que já nos parece do tempo da peste negra, eram exigidas reformas estruturais que os credores consideravam inadiáveis: justiça, leis laborais e redução das rendas excessivas nas PPP’s, medicamentos e energia. Ao contrário do mito, o governo da coligação nunca teve de proceder à reforma do Estado, pois nesse ponto o objectivo era mesmo cortar despesa e lançar as bases de uma reforma futura, o que aliás foi feito, com a redução de 10% no número de funcionários públicos. O País embarca agora numa nova fase: a inversão do que foi realizado.»

Entre os mais comentados

Pedro Correia, 02.10.24

Nos 21 destaques feitos pelo SAPO em Setembro, entre segunda e sexta-feira, para assinalar os dez blogues nesses dias mais comentados nesta plataforma, o DELITO DE OPINIÃO recebeu 21 menções ao longo do mês. Fazendo o pleno, portanto.

Incluindo um texto na primeira posição do pódio, doze na segunda e quatro na terceira.

 

Os 21 postais foram estes, por ordem cronológica:

 

Pensamento da semana (68 comentários, segundo mais comentado do dia) 

Poupar na beleza? (41 comentários, segundo mais comentado do dia)   

Regresso ao passado na Turíngia (58 comentários, segundo mais comentado do dia)   

Sinónimos de dinheiro (128 comentários, o mais comentado do dia)   

Cinquenta mil (60 comentários, segundo mais comentado do fim-de-semana)  

Aprender até morrer (66 comentários, segundo comentário do dia)  

Da velhice (1) (22 comentários)  

Pedro (72 comentários, segundo mais comentado do dia)   

Ler (36) (38 comentários)  

Convém levar Putin a sério e ouvir Trump (70 comentários, segundo mais comentado do fim-de-semana)    

A viagem do Lancia Dedra (1) (61 comentários, segundo mais comentado do dia)  

O pesadelo (54 comentários, terceiro mais comentado do dia)  

Obviamente (42 comentários, terceiro mais comentado do dia)  

O grotesco municipal (65 comentários, segundo mais comentado do dia)   

Pela liberdade, contra a ditadura (46 comentários, terceiro mais comentado do fim-de-semana) 

Pensamento da semana (56 comentários, terceiro mais comentado do dia)  

Progresso, palavra traída e pervertida (52 comentários) 

Lápis L-Azuli (50 comentários, segundo mais comentado do dia)  

Penso rápido (107) (90 comentários, segundo mais comentado do dia)    

Lápis L-Azuli (74 comentários, segundo mais comentado do dia)  

Pensamento da semana (22 comentários)  

 

Com um total de 1235 comentários nestes textos. Da Maria Dulce Fernandes, da Cristina Torrão, do Paulo Sousa, do José Pimentel Teixeira e de mim próprio.

Fica o agradecimento aos leitores que nos dão a honra de visitar e comentar.

Reflexão do dia

Pedro Correia, 02.10.24

«Não nos podemos só deter na visão antidemocrática de Pedro Nuno Santos, tentando impor as suas políticas independentemente dos resultados eleitorais. Assim, o PS governa quando ganha; governa quando não ganha mas há maioria de esquerda no Parlamento; e também governa (ora, queriam alternância democrática como nas democracias saudáveis?) quando não ganha nem há maioria de esquerda. 

Igualmente não se esgota no abandono interesseiro da tão propagada necessidade de compromissos entre os partidos democráticos do centro para afastar a extrema-direita da governação ou, até, da influência governativa. O PS (mais uma vez, explorando este filão) prefere dar ao Chega a capacidade de influenciar a política se tal acesso representar eventuais ganhos eleitorais futuros para o PS. O cinismo é avassalador. A forma escancarada como ponderam destruir consensos democráticos se o PS disso beneficiar é mais um sintoma: o PS já deixou de ser um partido centrista.

Nem termina com a inacreditável declaração de Pedro Nuno Santos de preferir perder as eleições a abandonar as convicções. Entrámos no domínio da egomania política. Claro que é ridículo, vindo do ministro que aceitou a humilhação por António Costa para continuar a ser ministro aquando do episódio da localização do aeroporto.»

 

Maria João Marques, no Público

O comentário da semana

«A mensagem do cristianismo foi a revolução mais revolucionária de todas»

Pedro Correia, 02.10.24

crucificacao-branca-capa-1122472.jpg

Crucificação Branca, de Marc Chagall (1933), um libelo anti-totalitário

 

«Nem engenharia social inflamada por cartilhas ideológicas nem por cartilha de espécie nenhuma: bem pregou Cristo a evidente lógica da irmandade básica dos homens e da impossibilidade de servir ao mesmo tempo o deus dinheiro e o deus amor ao próximo, fazendo mesmo milagres para não ser apenas mais um profeta na sua terra, que ninguém escuta; bem se esforçou Paulo por explicar, com absoluta clareza, que não há diferença entre judeu e gentio, escravo ou senhor, homem ou mulher, pois todos são um em Cristo.

A mensagem de Cristo foi sem dúvida escutada e compreendida, pois que resistiu até hoje. Mas, logo desde o início, inquinada pelo tal "cerne da natureza humana", que a impediu, e continua a impedir, de florescer como a Verdade anunciada.

Uma mensagem que constituiu, na minha opinião, a revolução mais revolucionária de todas, e cujos valores, de forma manifesta, vieram fundamentando o progresso humano. Há que distinguir os valores cristãos em sentido absoluto da religião que, bem de acordo com a "natureza humana", se impôs num papel de intermediário ritualista, de que nunca mais saiu. É como a "ditadura do proletariado" do marxismo: de fase transitória, passou a ser o fim em si mesmo da revolução.

E Cristo não é a Inquisição ou os orfanatos de má memória: Cristo é a fraternidade, solidariedade e igualdade que as outras revoluções iriam apresentar como suas. Mas não são os anões que trepam aos ombros dos gigantes outra conhecida característica da "natureza humana"?

 

De qualquer maneira, estou em crer que é às revoluções de índole humanista, começando pela do cristianismo, que devemos o progresso que, apesar de tudo, conseguimos ir alcançando. Muito devagar, estupidamente devagar, com legiões de sacrificados, estupidamente sacrificados, mas avançando: se não tivéssemos progredido em termos de fraternidade, solidariedade e igualdade, nem saberíamos falar de direitos, liberdades e garantias, que estão normalizados no nosso quotidiano de "ocidentais"- apesar de termos que os defender com unhas e dentes, se quisermos mantê-los e desenvolvê-los. A "natureza humana" é, por definição, contra-revolucionária, no sentido de egoísta, belicosa e anti-progressista. Por mais que tenha, nunca nada lhe chega e tudo lhe é devido.

Cada revolução teve o seu papel nesse lento progresso, sempre alguma coisa útil deixou na História comum, apesar das tragédias dos povos e das distorções das ideologias originais, de que se destaca a inicial, a do cristianismo. E terá sido esta, gigante a cujos ombros as outras treparam, a ideologia revolucionária que deixou as marcas, os valores, que continuam a orientar-nos, por imperfeitamente praticados que (ainda) sejam.

 

Da nossa leitora Gracinha. A propósito deste meu texto.

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 02.10.24

1507-1-1.jpg

Hoje lemos: Freida McFadden, "O Escritório".

Passagem a L-Azular: “Expliquei detalhadamente como quanto mais se envelhece, as probabilidades de se casar diminuem significativamente. Porque à medida que mais pessoas da sua faixa etária se casam, o número de encontros diminui, pelo que as suas hipóteses de encontrar alguém adequado para casar continuam a diminuir.”

Hoje em dia não existe essa coisa de "encontrar alguém adequado para casar", porque o casamento é uma instituição que tende mais e mais a não acontecer. O primeiro passo é brincar às casinhas durante um tempo. Aluga-se ou compra-se casa e conforta-se-la de acordo com as exigências e a disponibilidade financeira de cada dois. É com o passar do tempo que se descobre se o viver juntos é viável e pode partir-se ou não para o casamento, que é cada vez mais uma formalidade anacrónica na vida de um casal.  Os casamentos são a festa da celebração do sentimento mútuo de duas pessoas, na qual se juntam os amigos e a família, para com ambos oficializarem e jubilarem a relação. Os casamentos são caros e nem sempre se conseguem pagar com os "envelopes" dos convidados. E no final muda o quê? Provavelmente a conta bancária que emagrece e o guarda-roupa que engorda com trajes de uso único. Nem altera em termos de impostos, já que a união de facto obedece às mesmas legislações. E é então que se decidem tomar a decisão mais importante das suas vidas: ter filhos. Esta decisão, que não pode ser tomada de ânimo leve, deveria ter acontecido antes de tudo o mais, porque não se cria futuro sem condições nem horizontes de futuridade.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 02.10.24

21523202_SMAuI.jpeg

 

José António Abreu: «Os U2 levaram-me a instalar o iTunes. Parece que muitos dos 500 milhões de utilizadores ficaram pouco satisfeitos ao descobrirem um álbum do quarteto irlandês na sua colecção; eu, refractário à instalação de software de utilidade duvidosa (devo ser das pessoas com menos apps no telemóvel), tratei ainda assim de instalar o programa para o obter (a Apple já pode anunciar que tem 500 milhões e um utilizadores). Por muito que os U2 sejam hoje vistos como irrelevantes, impõem-se gestos mínimos de respeito.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Quando não me lembrar de nada lembrar-me-ei de ti.»

Palminhas do PCP à ditadura chinesa

Pedro Correia, 01.10.24

xi.jpg

Xi Jinping, o ditador de Pequim, promete fazer a China «grande outra vez»

 

A República Popular da China é governada desde 1 de Outubro de 1949, com mão de ferro, pelo partido único. 

Imaginemos Portugal ser governado nestes últimos 75 anos pela União Nacional, fundada por Salazar.

Em 1949, precisamente, Salazar governava Portugal. E a UN/ANP geriu o país durante mais 25 anos. Até 1974.

Somados a estes, outro meio século desde o 25 de Abril.

Imaginemos 75 anos de ditadura contínua em Portugal durante todo este tempo.

Pois os chineses continentais suportam a ditadura comunista - hoje comunocapitalista - há precisamente três quartos de século.

 

As frases que se seguem caracterizam a tirania de Pequim, sob o signo da foice e do martelo.

Partidos proibidos.

Eleições proibidas.

Imprensa livre proibida.

Sindicatos livres proibidos.

Greves proibidas.

Manifestações proibidas.

Trabalho escravo autorizado.

Trabalho infantil autorizado.

Liberdades amordaçadas - desde logo em Hong Kong, onde foram traídas as promessas feitas à população do território que em 1997 reverteu do Reino Unido para a soberania de Pequim.

 

hong kong.png

Movimento democrático esmagado em Hong Kong: promessas de liberdade foram traídas

 

Perante tudo isto, como reage o PCP? Bate palminhas ao comunocapitalismo selvagem chinês.

Basta ler o artigo do histórico Albano Nunes publicado na última edição do Avante!, sob o título "No 75.º aniversário da revolução chinesa".

Alguns excertos (com sublinhados meus):

«O PCP tem para Por­tugal a sua pró­pria con­cepção de so­ci­a­lismo, mas pro­cura aprender com a ex­pe­ri­ência de ou­tros par­tidos e é com o maior in­te­resse e es­pí­rito so­li­dário que acom­panha um em­pre­en­di­mento cujo su­cesso é da maior im­por­tância para as forças do pro­gresso so­cial, da paz e do so­ci­a­lismo.»

«"Servir o povo" foi e con­tinua a ser o lema que guiou o PCC à vi­tória no longo per­curso que passou por grandes lutas da classe ope­rária de Xangai, Cantão e ou­tras ci­dades.»

«O que glo­bal­mente ca­rac­te­riza a evo­lução da Re­pú­blica Po­pular da China, mesmo re­co­nhe­cendo de­sa­fios, pro­blemas e con­tra­di­ções que é ne­ces­sário vencer e su­perar, são os seus ex­tra­or­di­ná­rios avanços e re­a­li­za­ções

«Um sis­tema que, pas­sando por di­fe­rentes fases, co­nheceu um ex­tra­or­di­nário de­sen­vol­vi­mento das forças pro­du­tivas e está hoje na di­an­teira em nu­me­rosos ramos ci­en­tí­ficos e tec­no­ló­gicos, o que in­quieta so­bre­ma­neira o im­pe­ri­a­lismo.»

«O PCP acom­panha com o maior in­te­resse e es­pí­rito so­li­dário a acção dos ca­ma­radas chi­neses para a con­cre­ti­zação dos ele­vados ideais da sua re­vo­lução li­ber­ta­dora e a sua con­tri­buição para a causa do pro­gresso so­cial, da paz e do so­ci­a­lismo.»

 

Screen+Shot+2020-10-08+at+6.29.35+PM.png

Brutal repressão durante a "Revolução Cultural" provocou mais de um milhão de mortos

 

Conclusão: os comunistas portugueses adoram ditaduras.

Entoam-lhes hossanas e loas sem a mais remota dúvida, sem o menor sobressalto de consciência.

Está tudo bem, desde que sejam as ditaduras do bando deles.

Happy birthday, Mr. President

Jimmy Carter, nascido em 1 de Outubro de 1924, é hoje centenário

Pedro Correia, 01.10.24

aaa.webp

 

James Earl Carter Jr. - popularizado como Jimmy Carter quando foi governador da Geórgia, antes de chegar à Casa Branca - festeja hoje cem anos. É o primeiro antigo chefe do Executivo norte-americano a atingir tão bonita idade. Até agora os mais idosos tinham sido George Bush, falecido em 2018 aos 94 anos, Gerald Ford, falecido em 2006 aos 93, e Ronald Reagan, também desaparecido aos 93 anos, em 2004. Todos estes, curiosamente, do Partido Republicano - ao contrário de Carter, personalidade eminente do Partido Democrata.

«Jimmy Who?», titulou um influente diário no final de 1974, quando este filho de um cultivador de amendoins anunciou a intenção de concorrer à presidência. Dele se diz ter sido um dos piores presidentes dos EUA no século XX. Devido a factos tão diversos como a espiral da inflação, a grave crise energética, o acidente na central nuclear de Three Mile Island e o assalto de extremistas islâmicos à embaixada dos EUA em Teerão, fazendo 53 reféns num humilhante cativeiro que durou 444 dias.

 

Iniciou funções em Janeiro de 1977, mas ficou excluído de um segundo mandato. Sofreu derrota esmagadora contra Reagan na eleição de Novembro de 1980: só obteve 49 votos no colégio eleitoral, contra 489 do seu concorrente. O republicano sagrou-se vencedor em 44 estados, enquanto Carter apenas triunfou em seis, além do distrito federal. 

O melhor na sua carreira política aconteceu após sair da Casa Branca. Com as iniciativas que promoveu em prol dos direitos humanos, da educação, da justiça social, do desenvolvimento económico e do combate às doenças endémicas um pouco por todo o mundo. Sob o lema «Aliviar o sofrimento».

Em 1982 fundou o Centro Carter, respeitado organismo não-governamental que tem acompanhado diversos processos eleitorais - e que recentemente denunciou a vergonhosa fraude eleitoral na Venezuela

 

Em 2002 foi justamente galardoado com o Nobel da Paz. O mesmo que em 1978 havia distinguido Anwar Sadat e Menachem Begin pelos Acordos de Camp David que selaram o estabelecimento de relações diplomáticas entre Israel e o Egipto, velhos inimigos, abrindo uma luz de esperança no Médio Oriente. 

Marco histórico que hoje nos parece sem paralelo, face aos tristes acontecimentos registados em 2024. Carter foi o grande promotor deste processo de paz. Também se destacou pelo histórico tratado assinado em 1977 com o Panamá que determinou a devolução a este país da plena soberania do canal do mesmo nome, então sob domínio norte-americano.

Já figura histórica ainda em vida. Facto raro, que merece ser assinalado. Como cantava Marilyn Monroe, Happy birthday, Mr, President.

 

ADENDA

Jimmy Carter: a vida em imagens. Excelente desfile de fotografias editadas pela CNN.

Octobres ou Outubro, o oitavo mês que é o décimo

Revisões e matéria

Maria Dulce Fernandes, 01.10.24

octo.jpeg

Outubro chegou e, no Hemisfério Norte, isso geralmente significa que os dias estão cheios de folhas a cair, tempo frio e uma crescente expectativa pela época festiva.

Estamos em Outubro, o 10.º mês do ano. Outubro era na realidade o oitavo mês do ano no antigo calendário romano. O seu nome vem do latim “octo”, que significa “oito”.

O calendário romano era originalmente lunar e baseado nas fases da lua. Tinha só 10 meses e o ano totalizava apenas 304 dias. Os romanos tinham de ajustar regularmente o seu calendário para se manterem sincronizados com as estações do ano e ao longo dos séculos o calendário tornou-se seriamente confuso. Por volta de 47 a.C., estava um caos total, 67 dias à frente do ano verdadeiro. Júlio César usou a sua autoridade como ditador do Império Romano para fazer a necessária correcção.

Embora fosse estudante de astronomia, César dificilmente estava à altura da tarefa de rever o calendário. Visitou uma pessoa que hoje está praticamente esquecida: um astrónomo chamado Sosígenes. Pouco foi preservado na história sobre Sosígenes – excepto que era um grego alexandrino. Foi ele quem criou o calendário que ainda é a base do que usamos hoje. Tinha 365 dias, com um dia adicionado a cada quatro anos, em Fevereiro. Os meses alternados — Janeiro, Março, Maio, Julho, Setembro e Dezembro — tinham 31 dias; os meses intermédios tiveram 30 dias cada, excepto Fevereiro, com apenas 28 e, nos anos bissextos, 29 dias.

A cronologia teve de ser sincronizada com as estações do ano. César decretou que o ano 46 a.C. teria 445 dias. Em todo o Império Romano foi chamado o ano da confusão. O novo calendário reorganizou também a ordem estabelecida dos meses. Em vez de começar em Março, com o início da Primavera, como acontecia no antigo calendário romano, Sosígenes começou o seu a 1 de Janeiro. É por isso que o nono mês, Setembro, recebe o nome do número sete, depois Outubro o do número oito, Novembro o do número nove e Dezembro o do número dez.

E, claro, Júlio César recebeu todo o crédito pela renovação, de tal modo que o calendário ainda tem o seu nome – calendário juliano. Assunto fascinante, a medição do tempo. O tempo é a nossa janela para o mundo; usamo-lo para criar ordem e moldar o mundo em que vivemos. Usamos o tempo para medir coisas grandes, como a ascensão e queda de civilizações, e coisas pequenas, como o crescimento das nossas vidas individuais.

Temos muitos métodos para medir as coisas, mas só um sistema para medir o tempo. As “ferramentas” que utilizamos são o relógio e o calendário. Analógicos ou digitais, os relógios estão sempre no “presente”, avisando-nos que o tempo está a passar. Os calendários são lineares, compostos por caixas que contêm tudo o que acontece num dia. Quando o dia terminar, esta caixa estará pronta. 

Os calendários baseiam-se em três ciclos astronómicos: O dia, que é o tempo que a Terra demora a executar um giro completo em volta do seu eixo imaginário – cerca de 24 horas - e que dá origem aos dias e às noites; o mês, que é uma órbita completa da Lua em torno da Terra, dura 29,53 dias; e o ano, que é uma órbita completa da Terra em torno do Sol, é de 365,24 dias.

A duração do ano e do mês são médias. A duração real de um ano varia vários minutos devido à influência da gravidade do Sol e de todos os outros planetas do nosso sistema solar. Devido a estas constantes mudanças, os calendários sempre foram imperfeitos e dentro de alguns anos podem ficar dessincronizados com as estações do ano.

O único problema real do calendário juliano era o tratamento dos anos bissextos. Com o passar dos séculos, tornou-se cada vez mais impreciso no que diz respeito às estações do ano. Isto foi especialmente preocupante para a Igreja Católica porque afectou a determinação da data da Páscoa, que, por volta de 1500, estava a caminho de entrar no Verão.

As nações ocidentais mediram o tempo através do calendário juliano até 1582, quando o Papa Gregório XIII autorizou uma correcção no calendário que se aproximava mais do tempo real que a Terra demora a completar uma órbita em torno do sol. O novo calendário resultante recebeu o nome do Papa Gregório e é o que usamos hoje. Este calendário tem ainda um factor de erro de três dias a cada 10 mil anos, pelo que eventualmente terá de ser feita uma correcção.

E o que tem tudo isto a ver com Outubro? Foi a 4 de Outubro de 1582 que o calendário gregoriano entrou em vigor nos países católicos, quando o Papa Gregório XIII emitiu um decreto declarando que o dia seguinte a quinta-feira, 4 de Outubro de 1582, seria sexta-feira, 15 de Outubro de 1582, corrigindo um erro de 10 dias acumulado pelo calendário juliano. Mas a maioria dos países protestantes só adoptou o calendário gregoriano muito depois. A Grã-Bretanha esperou 200 anos. A Inglaterra e as Américas só o adoptariam em 1752.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 01.10.24

21523202_SMAuI.jpeg

 

Ana Lima: «António Costa já tinha tido uma ideia semelhante para Lisboa mas, inspirado no seu estilo de vida espartano, a sua proposta ia no sentido de oferecer trabalho em troca de um copinho de ginjinha, mortalhas e alguns filtros. Quanto à remuneração, estudava-se a hipótese de pagar despesas de representação (umas t-shirts ou uns bonés das novas juntas de freguesia, por exemplo).»

 

Luís Naves: «No século XVI, um dos maiores prémios da exploração asiática era o controlo das ilhas Molucas, onde se produziam algumas especiarias importantes. Aquele arquipélago (na actual Indonésia e que surge muitas vezes escrito como Ilhas Malucas) era distante e sobre ele pouco se sabia na Europa, como pouco se sabia sobre a Ásia e o Índico, o que explica o enorme interesse no Tratado dos Descobrimentos, livro escrito pelo português António Galvão e publicado em 1563, já depois da morte do autor. A obra, a primeira do seu género, tornou-se muito famosa no século XVII e foi traduzida para inglês em 1601, quando as outras potências europeias começavam a interessar-se em estabelecer os seus próprios impérios.»

 

Eu: «Releio o fabuloso livro de memórias de Stefan Zweig, intitulado O Mundo de Ontem. Foi, dramaticamente, um livro-testamento: o célebre escritor judeu austríaco, refugiado no Brasil, suicidou-se em Janeiro de 1942 logo após a conclusão deste manuscrito. Retenho, em particular, o capítulo em que Zweig nos descreve a atmosfera europeia nas semanas que antecederam a I Guerra Mundial. (...) Um testemunho dilacerante. E cheio de lições para os dias de hoje: a paz é a mais frágil conquista das civilizações contemporâneas. E nunca está plenamente garantida: é um erro profundo pensar o contrário.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 30.09.24

21523202_SMAuI.jpeg

 

Luís Naves: «Francisco Seixas da Costa sublinha a forte legitimidade do novo líder do PS, que é superior à que teria numa vitória em congresso. Isto representa um capital político inestimável. Também há textos como este, de Isabel Moreira, publicado em Aspirina B antes da votação nas primárias. A prosa sugere que o PS sai da crise (ou transição) com feridas profundas. As clivagens são entre os que querem uma coligação mais à esquerda, que nos levaria a uma possível ruptura europeia, e os moderados que julgam inevitável um bloco central que prossiga as reformas estruturais.»