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Delito de Opinião

TGV: vamos ser sérios?

João Carvalho, 17.09.09

Está provadíssimo que Manuela Ferreira Leite tem imensa dificuldade, no que toca a fazer-se entender. Ora porque as ideias lhe saem atabalhoadas, ora porque as palavras se soltam entarameladas, ora porque as ironias lhe escapam sem graça, o certo é que abundam as intervenções infelizes. O que permite uma utilização ora escusadamente abusiva, ora intencionalmente distorcida, por parte dos adversários.

Como Pacheco Pereira e outros conselheiros-gurus (?) parece que não andam a ajudar muito, vou ensaiar aqui a recolocação nos trilhos de um assunto que me interessa especialmente: o TGV. Mas aviso já que só o faço porque:

– o PSD e a sua líder não me pagam e esta ajudinha não terá continuidade;

– não sou advogado de defesa de um nem de outra, que nem sabem que estou a dar-lhes uma mãozinha;

– mantenho todas as reservas que já aqui trouxe mais do que uma vez sobre o TGV (v. «Qual TGV, qual quê!?»);

– não estou necessariamente de acordo com a actual posição do PSD e da sua líder sobre o TGV;

– fico estarrecido com a facilidade que algumas máquinas de propaganda profissionais revelam no aproveitamento de declarações pouco ou nada felizes através de interpretações pouco ou nada sérias.

Posto isto, vamos ao assunto, para ver se nos entendemos e deixamos de ser enrolados.

Com um discurso mais claro ou menos claro, Manuela Ferreira Leite disse que Espanha era parte interessada na criação da alta velocidade ferroviária em Portugal. Foi isto que ela disse, porque eu ouvi. E mais disse que achava que Portugal não está (pelo menos, por agora) em condições de pôr o projecto a andar, face ao agravamento inerente da nossa dívida externa.

Resumida e bem situada (creio eu) essa posição, independentemente do que cada um pensa sobre isso, não vejo qualquer motivo para o chinfrim que vai por aí. Porque:

– toda a gente sabe que os espanhóis estão interessados no nosso TGV com ligações à fronteira comum, por causa dos fundos europeus disponíveis para o efeito (e não só);

– é razoável alterar decisões, se as condições reais o aconselharem ou forem alteradas no tempo.

Quem ainda insiste na falta de coerência implícita a este último ponto pode estar a ser sério (eu próprio fico na retranca). Mas também há quem o use para agitar as hostes e manter o sururu na agenda, o que já não é sério. José Sócrates e os seus seguidores sabem bem do que estou a falar, porque:

– a promessa de não subir os impostos não foi cumprida;

– a promessa de referendar o tratado europeu não foi cumprida;

– a promessa de fazer crescer a economia não foi cumprida;

– a promessa de criar 150 mil novos postos de trabalho não foi cumprida;

– a promessa de controlar as contas públicas não foi cumprida;

– a promessa de encarar os "estudos de viabilidade" do TGV não foi cumprida;

– a promessa de regularizar a situação dos que trabalham para o Estado em regime precário irregular não foi cumprida;

– etc. (não fui exaustivo).

É grave? Há quem diga que sim. Pode ser. Não sei. Quero crer que o rol de promessas que Sócrates não cumpriu tem uma justificação séria: as condições reais não o aconselharam ou foram alteradas no tempo. Não? Se estiver enganado, peço desculpa.

2 comentários

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    João Carvalho 19.09.2009

    «Falta dizer...»? Falta quem dizer a quem?
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