Faltou a picareta de Trotsky
Domingos Lopes, antigo secretário de Álvaro Cunhal, ex-responsável pelas relações internacionais do PCP e ex-membro do Comité Central, decidiu desfiliar-se do partido alegando a invasão da Checoslováquia, em 20 de Agosto de 1968, pelas tropas dos países membros do Pacto de Varsóvia - incluindo a URSS - que não mereceu a condenação dos comunistas portugueses.
Considerando que:
a) O Pacto de Varsóvia foi dissolvido em 31 de Março de 1991;
b) A URSS terminou em 31 de Dezembro de 1991;
c) A Checoslováquia se desmembrou em dois países (República Checa e Eslováquia) em 1 de Janeiro de 1993;
Conclui-se que a decisão de Domingos Lopes, agora confirmada em carta endereçada à direcção comunista, chega com um mínimo de 16 anos e oito meses de atraso. Julgo saber entretanto, em abono do ex-dirigente agora de saída, que a carta não expressa todos os motivos que o terão levado a abandonar o PCP. Faltaram pelo menos três outras razões: as execuções de Zinoviev e Kamenev (1936), o pacto germano-soviético (1939) e o assassínio de Trotsky a golpes de picareta (foi-se em 1940). Não sei mesmo se a deposição do czar Nicolau II não terá também contribuído para esta decisão, longamente ponderada e amadurecida como é de timbre entre os verdadeiros revolucionários.