De Rui Daniel a 13.09.2009 às 01:51
Caro Pedro
Claro que é sempre tentador darmos a nossa modesta opinião (é modesta porque vale tanto como a nossa pessoa a dividir pelo universo dos restantes votantes) sobre quem ganhou o debate. Nunca conseguiremos saber isso, até porque os próprios inquéritos à opinião pública, só são verdadeiramente moderados pelos 60 cêntimos do valor acrescentado do custo de cada chamada. Posto isso, podemos tirar algumas ilações sobre quem não perdeu o debate, e a quem interessava tê-lo ganho: parece-me que Sócrates não perdeu, e a MFL era fundamental, do ponto de vista do ranking dos debates, e não mais que isso, tê-lo ganho.
É que, como já antes escrevi, aparentemente é fácil dizer-se cobras e lagartos de um governo, porque basta enumerar de forma clara tudo aquilo que é, unanimemente, considerado mau, repeti-lo à exaustão, e esperar que o efeito de mossa se repercuta na opinião pública com evidente desgaste do adversário. Portas, quanto a mim de forma mais eficaz que Louçã, sabe identificar estes pontos frágeis da governação, e depois gere esse efeito de apropriação do que está mau, e de como faria melhor, e pelos menos, para os mais incautos, aquilo passa do ponto de vista da mensagem e do seu efeito pretendido.
Com MFL a mensagem não passa, até porque facilmente as gafes se sobrepõem aos pontos marcados na baliza do adversário.
Daí, que mais do que valorizar o aspecto de quem ganhou, e situando-nos apenas ao nível do verdadeiro alcance destes debates em termos eleitorais, me parece que Sócrates conseguiu o que se esperava dele. E não vale a pena dizer que é porque MFL é uma política de outro campeonato. Em política não há ingenuidades, e seria, isso sim, pura ficção especulativa, afirmar que o resultado seria outro com um diferente líder do PSD.
Donde, e concluo, que o mérito é inegavelmente do candidato do PS, por essa simples, mas inefável realidade, que é o facto de ele ser melhor que a sua mais directa adversária.
Se isso faz ganhar eleições, ou não, também não me atrevo a especular.
Que esta é a melhor forma de trabalhar para tal, disso não tenho a mais pequena dúvida. Mas isso, também, só vale aquela ínfima percentagem que referi logo no início.
Um abraço
Rui
Caro Rui,
É sempre bom ver-te por cá.
Sócrates, quanto a mim, ganhou claramente o debate, que correspondia ao seguinte objectivo estratégico: sustentar a queda abrupta ocorrida nas europeias, não deixar fugir votos do seu campo para um PSD subitamente 'centrista' (receio não confirmado), trocar a maioria absoluta inalcancável por uma maioria simples relativamente confortável. Quanto a este último, tal como tu, não tenho maneira de saber. Quanto ao resto, parece-me óbvio que conseguiu. Mas MFL facilitou-lhe a tarefa em larga medida ao deixar-se condicionar durante quase todo o debate pela manobra táctica de Sócrates, que desviou a conversa do campo que menos lhe convinha (a análise dos quatro anos e meio de governação) para o que mais lhe interessava (as debilidades do programa social-democrata e as contradições de MFL).
Nem queria acreditar quando comecei a ouvir alguns 'analistas', em vários canais, dizer que o debate tinha terminado 'empatado' ou até com a vitória de Ferreira Leite...