TAP: evolução na continuidade
Que a TAP apresenta uma "situação financeira crítica" nada tem de novo, para lá da actualização dos números sobre o desastre do costume: no primeiro semestre deste ano, o grupo apresentava 247,2 milhões de euros negativos. Só que isto é bem mais do que os 171,7 milhões de euros negativos com que fechou 2008.
Ora, se esta é a sina da TAP que andamos todos a pagar, escusava de ser nossa sina ter de aturar aquilo a que, pelos vistos, ninguém hoje resiste: a terminologia dos exercícios literários desajustados que passaram a ser moda, só para dizer coisas que antigamente eram simples e formais. No caso, por exemplo, o relatório do semestre passado da Parpública (accionista única do Grupo TAP) diz que a situação crítica se mantém por causa do «resultado negativo apurado no semestre». M. de La Palisse cairia derrotado se lesse estes impagáveis nacos de prosa que passaram a ser norma entre nós.
Do mesmo relatório ressaltam coisas assim, vejam só:
– o segmento das "actividades aeronáuticas" «continua a ter um peso relativo extremamente expressivo no âmbito do Grupo» (pudera!);
– «neste segmento o capital próprio, que já era negativo no final de 2008, apresenta ainda uma redução de aproximadamente 77 milhões de euros, integralmente explicada pela evolução do Grupo TAP» (evolução!);
– «este prejuízo, embora bastante significativo, representa menos de metade do registado em igual período do ano anterior e está em linha com o orçamentado» (parabéns!);
– «há assim uma evolução positiva a qual se deve essencialmente aos resultados do negócio do transporte aéreo» (é a chamada evolução positiva dos resultados negativos do negócio que me cheira ser a vocação da TAP!).
Poupo-vos outras pérolas do mesmo quilate. E peço desculpa pelo desafio à vossa paciência, mas foi só para registar mais este ensaio literário que vem ajudar a arrumar na gaveta da História o tempo em que as coisas simples eram relatadas com simplicidade.