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Delito de Opinião

Debates na TV: com ou sem caroço?

Carlos Barbosa de Oliveira, 27.08.09

Parece que este ano não haverá debates televisivos durante a campanha eleitoral. Estou convencido que a maioria dos portugueses reage com indiferença à notícia, alguns até respirarão de alívio e só uma minoria lamenta não ter oportunidade de assistir aos confrontos entre candidatos. O tema servirá para  troca de acusações mútuas durante a campanha e nenhum dos líderes dos principais partidos deixará de acusar Sócrates de fugir ao debate. Com razão. Embora a posição de Sócrates não seja inovadora (Cavaco também recusou debates quando era PM) não deixa de ser uma prova de  fraqueza e falta de espírito democrático - o que não constitui novidade.
Ao dizer que apenas aceita fazer dois debates com MFL, Sócrates demonstra desrespeito por toda a oposição e procura reforçar a ideia de que a vitória nas eleições se irá discutir apenas entre PS e PSD. Embora seja verdade, a realização dos debates com todos os partidos poderia levar muitos eleitores a optar por outros partidos, retirando a hegemonia ao Centrão. Sócrates sabe que  um confronto directo com os líderes dos  outros partidos  prejudicaria o PS e beneficiaria o PSD.  Compreende-se – mas em democracia não se pode aceitar – esta posição.
A posição de Sócrates traduz, também, a fórmula do seu governo. Apenas vai à luta com quem sabe que é mais fraco. Contrariando as promessas da campanha eleitoral de 2005, Sócrates nada fez para combater os grandes lobbies que gravitam em torno do poder. Bem pelo contrário. Cedeu em quase tudo, como é bem visível no caso das farmácias, dos bancos ou dos juízes. A aprovação do Código do Trabalho, o aumento da idade da reforma e redução da retribuição, a esterilização das entidades reguladoras, a redução de várias regalias sociais ou  a alteração do vínculo dos funcionários públicos são apenas alguns exemplos que permitem ver de que lado está Sócrates. Os debates com líderes dos partidos à esquerda e à direita seriam autênticos massacres, que lhe fariam perder muitos votos.  Ao contrário, dois debates com MFL ser-lhe-iam muito favoráveis. A líder do PSD não consegue articular duas frases sem se contradizer, não tem estaleca para o confronto, porque não tem bases que sustentem a vacuidade das suas ideias. Sócrates poderia ainda invocar, durante os debates, os elogios que MFL  fez ao seu governo antes de ser presidente do PSD e não perderia a oportunidade de lembrar aos portugueses o seu desempenho enquanto ministra das finanças de Durão Barroso. No final, com duas vitórias KO, talvez até pudesse aspirar à renovação da maioria absoluta.
Compreende-se, por isso, a posição de Sócrates. Mas não se aceita. Como também não se aceita a posição de MFL. Fingindo ser democrata, diz que só debaterá com Sócrates se ele aceitar debates com os líderes dos outros partidos. Fá-lo porque sabe que do debate entre Sócrates e os outros partidos o PSD pode recolher dividendos que compensem as perdas resultantes dos debates que ela própria travaria com Sócrates. Ou seja: MFL, incapaz de enfrentar Sócrates  em termos programáticos e obrigada a recorrer constantemente ao insulto, não desdenharia chegar ao poder à custa do esforço dos outros partidos, inaugurando assim o vampirismo como novo método para ganhar eleições.
MFL e Sócrates estão bem um para o outro. Caberá aos eleitores dizer se estão fartos destes figurões ou pretendem entregar o seu voto a novos figurantes. No meio de tudo isto, os debates televisivos acabam por ser apenas um pormenor.

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